The Lutheran Church Missouri Synod – Journal of Lutheran Mission
Martírio Cristão: Algumas Reflexões
Por
William Weinrich
De acordo com Jo 15.20,
no cenáculo Jesus disse aos seus discípulos: “não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros”. Nestas
palavras, nosso Senhor nos prediz e adverte que vivemos nos últimos dias. Mais
adiante, no Evangelho de João, é-nos dito que quando Jesus tomou o vinagre, ele
disse “está consumado”, e rendeu seu santo Espírito (Jo 19.30). Os últimos dias
começaram com a morte de Jesus, o que significa dizer que os últimos dias (sub cruce) têm como marca essencial a
confrontação da fé cristã com o mundo. Em sua primeira epístola, o apóstolo
Pedro coloca esse ponto bem explicitamente: “Amados, não estranheis o fogo
ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma cousa
extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pe 4.12). Alguém que é batizado em Cristo
deve esperar o destino de Cristo. O Evangelho de João não nos permite atenuar
esse ponto. Em seu Evangelho, o evangelista une o dom do Espírito e a história
de Tomé. Pela ordem do Jesus ressurreto para tocar em seu lado e em suas mãos,
Tomé reconhece Jesus como seu Senhor e seu Deus (Jo 20.24-29). Isso é
distintivamente um momento martirológico: Comunhão na Paixão de Jesus, ao mesmo
tempo, carrega junto a confissão de Jesus como Senhor e Deus. Os últimos dias
demandam tal comunhão e tal confissão. Aqui, nós podemos assinalar que a ideia
de “os últimos dias” não é tanto uma realidade cronológica quanto é uma
realidade da cruz no mundo. Quando o mundo não é confrontado pela cruz, ele não
experimenta a plenitude dos “últimos dias”.
Cristãos constantemente
têm se deparado com hostilidade e rejeição em algum tempo e/ou lugar desde a
fundação da Igreja. Ainda elementos especiais, novos para nossa experiência,
podem ser mencionados que fazem o tema da perseguição e martírio compreensível
e pastoralmente necessário no tempo presente. Uma recente reportagem do
Vaticano sobre a perseguição de cristãos pelo mundo faz menção especialmente de
dois desses elementos. Em suma, a reportagem diz o seguinte: “Verossímil
pesquisa tem alcançado a chocante conclusão que um estimado de mais de 100.000
cristãos são violentamente mortos todos os anos por alguma razão relacionada à
sua fé. Outros cristãos e fiéis são sujeitados a forçado debandar, para a
destruição de seus locais de culto, violação e abdução de seus líderes... Além
disso, em alguns países ocidentais onde historicamente a presença cristã tem
sido uma parte integral da sociedade, emerge uma tendência que intenta
marginalizar a cristandade na vida pública, ignorar as contribuições históricas
e sociais e até restringir a possibilidade das comunidades cristãs de executar
serviços de assistência social”.
Grupos como
Persecution.org concordam com essas conclusões. Segundo o grupo, uns “duzentos
milhões de cristãos atualmente sofrem perseguição”. E o número é crescente.
Referente à perseguição ativa de cristãos, Persecution.org menciona
especialmente lugares como África e Oriente Médio. No Egito, os antigos e tradicionais
cristãos Coptas encaram crescente hostilidade, e de acordo com um observador, “o
que tem acontecido no Iraque e Síria é de fato um genocídio de cristãos” (Neil
Hicks of Human Rights First).
Há duas grandes ameaças
no mundo às igrejas luteranas: o surgimento de um expansionista, Jihadist
Islam, o qual reluta em ceder espaço às comunidades cristãs, e o crescente
domínio do igualitarismo secular ocidental, que afirma que o pensamento
tradicional cristão e seus hábitos são intolerantes e discriminatórios, e assim
também secularistas são relutantes para tolerar a influência cristã na esfera
pública. Cristãos que vivem na Europa ocidental ou nos Estados Unidos estão
igualmente cientes das forças sociais e até legais que intentam definir a fé
cristã como mera opinião privada e impedir toda e qualquer participação
legítima, seja pública ou social. Isto é, indubitavelmente, um novo fenômeno, e
nosso povo está amplamente mal preparado para este emergente desafio. Desde o
tempo de Constantino, perspectivas e compreensões bíblicas têm determinado os
hábitos sociais do mundo ocidental, que em troca tem sido mais ou menos
consagrado pelo costume e pela lei. Embora nossa teologia possa nos ensinar que
estamos a viver a teologia da cruz, nossa experiência de ser cristão no mundo
tem, por muito tempo, sido incontestada e não tem sofrido sérios problemas
públicos (pelo menos isso é verdade na Europa ocidental e nos EUA). Não é mais
o caso. Convicções cristãs representam cada vez mais a visão da minoria, e diminuem
as tradicionais proteções sociais e legais.
Hoje, ser um cristão no
mundo é ser controvertido e enfrentar sérios desafios – em alguns lugares com consequências
fatais. Isso permite a todos nós perceber como podemos melhor preparar a nós
mesmos e nossa gente a conhecer esse desafio existencial. Eu gostaria de trazer
algumas reflexões com base nos primórdios do martírio cristão como narrados nos
textos dos primeiros mártires. É claramente evidente que os primeiros cristãos
estavam cientes da realidade de martírio como uma realidade cristã e
conscientemente se preparavam para essa eventualidade. Sem dúvida, nossa
primeira evidência de um culto mártir deixa isso claro. No Martírio de
Policarpo (aprox. 157), é-nos dito sobre a morte de Policarpo que os cristãos
reuniram seus ossos e os enterraram “em um lugar adequado”. O que fazia o local
“adequado” é assim descrito: “Reunidos aqui, como podemos, em júbilo e alegria,
o Senhor nos permitirá celebrar o aniversário de seu martírio, ambos como um
memorial daqueles que já lutaram e para o exercício e preparação daqueles que
vão [no futuro lutar]” (Martyrdom of Polycarp, 18).[1]
A linguagem sugere que na data de aniversário do martírio de Policarpo, a
comunidade cristã se reuniu no lugar de seu sepultamento e lá comemoraram a
morte dos mártires do passado (provavelmente com a leitura de relatos dos
mártires), e pela oração e exortação preparavam seu viver para futuro
sofrimento. Ademais, a linguagem sugere que isso ocorreu no âmbito, ou em
conjunção com, um serviço eucarístico. Isso é instrutivo para notar que a
Eucaristia era considerada como um momento apropriado para reflexão
martirológica. Comungar com o corpo e sangue de Cristo visava estar vinculado
com ele que foi propriamente a “Fiel Testemunha” (Ap 1.5) e recebeu a coroa da
vida: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). União com o corpo
e sangue de Cristo une o fiel ao objetivo e destino da fé cristã, a saber, aquela
perfeição na qual a confissão da boca é fundamentada pelo sacrifício de uma
vida para a verdadeira confissão. A morte do mártir era por si mesma
“testemunha” e “demonstração” de que em Cristo Deus subjugou a morte pela nova
criação da ressurreição.[2]
Participação na Ceia do Senhor, portanto, carrega em si o destino de martírio –
se assim estiver de acordo com o desejo e o propósito de Deus.[3]
Como nós pensamos sobre as presentes circunstâncias de nossas igrejas luteranas
no mundo e sobre como melhor preparar nosso povo para futuro sofrimento, não
devemos esquecer o grande recurso que nós temos no Sacramento do Altar. Porque
isso não é meramente o que “fortalece” a fé, mas é em si a realidade da vida
sobre a morte: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.54).
O entendimento dos
primeiros cristãos sobre martírio não surgiu de noções gerais de corajosa
convicção e morte heroica. Mesmo que alguém possa encontrar referências a clássicos
heróis em antigas exortações sobre martírio (p. ex. Tertuliano, Ad martyras),
estes não providenciaram a substância da teologia martirológica da igreja
antiga. Por isso, o protótipo era claro; a Paixão e morte de Jesus foram o
paradigma proeminente. Nem mesmo sua morte foi levada em conta em termos
gerais. Fosse esse o caso, sua morte não possuiria nenhum significado
martirológico importante. Não havia nada de natural na morte de um mártir; mais
do que isso, era um conflito com os poderes do mal onde o mártir luta
precisamente em humilde submissão a tais poderes. Considerando a Paixão e morte
de Jesus como um paradigma, certas características são importantes.
Em sua breve exortação
aos mártires, Tertuliano interpreta Ef 4.30 como um texto martirológico: “E não
entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da
redenção”. Tertuliano então conecta a realidade do batismo com as dificuldades
da perseguição e martírio. No caso dos mártires, o Espírito que os selou no
batismo os tem também guiado aos seus momentos de sofrimento como mártires.
Agora, em vista desses sofrimentos, os mártires são exortados a não entristecer
o Espírito de Deus pelo negar de Cristo e apostasia. Se eles negassem a Cristo,
estariam assim afastando deles o Espírito. O pensamento por detrás desta
pequena exortação requer mais alguns comentários.
O Novo Testamento fala
do batismo como um engendramento do alto (Jo 3.3) ou uma “nova criação” (2Co
5.17). Através do batismo, portanto, o pecador recebeu uma nova identidade, uma
nova pessoalidade que é marcada por um novo arranjo de relacionamentos e
deveres. Essa nova identidade não é natural, nem da carne. É do Espírito, essa
nova identidade é fundamentada em Deus e é direcionada para a ressurreição dos
mortos. Paulo fala de sua nova identidade outorgada no batismo: “Mas recebestes
o espírito de adoção, baseados no qual [Espírito] clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15;
também Gl 4.5-7). A identidade do batizado é aquela de criança/filho do Pai
celeste. Há nessa convicção um aspecto distintamente acético, transcendental,
que deixa todo relacionamento terrestre, natural, carnal radicalmente em
penúltimo lugar. Nos primeiros textos martirológicos, isso é especialmente expresso
em relação aos laços familiares terrenos e às reivindicações de autoridade
imperial e poder. Nesse contexto, é importante lembrar que a fé cristã não pode
ser reduzida à opinião privada. A verdade cristã não pode ser entendida como
sendo uma opinião que pode ser adicionada a ou subtraída do depósito de outras
opiniões. Enraizada no batismo, a fé cristã reivindica concernente ao
fundamental, irredutível realidade da pessoa humana. Por conseguinte, a comum,
recorrente confissão do mártir cristão: sum
christianus; “Eu sou um cristão”. Fazer tal reivindicação não era apenas
afirmar que alguém cria que fulano de tal era verdadeiro. Era uma reivindicação
de identidade pessoal que reclamava pelos direitos básicos sociais, familiares
e políticos. Martírio cristão, portanto, era intrinsecamente uma declaração que
tinha implicações sociais, familiares e políticas. Martírio cristão não era um
ato de heroísmo pessoal ou individual. Era, isso sim, essencialmente um ato
público que coloca em questão qualquer crença, um transcendente acessório ante
aquilo que não era Deus. O que caracteriza toda a história dos mártires são os
relatórios dos julgamentos e espetáculos públicos. O mártir fica diante de
todos e dá testemunho, primeiro com a boca, depois com a morte. Aí está porque
o martírio deve ser considerado como um ato essencialmente eclesiástico.[4]
Em sua morte, o mártir demonstra claramente que nenhum apego terreno – nem a
família, nem a nação ou governante – era um bem definitivo (optimum bonum). Aquilo que por si só
era, em última análise, verdadeiro e bom era a confissão de fé, “eu sou um
cristão”.[5]
Alguns exemplos serão suficientes.
No segundo século, Atos
dos Mártires de Scillitan, o procônsul, Saturninus, demanda que os cristãos
honrem o imperador com juramento e oração: “Nós [romanos] somos um povo
religioso, e nossa religião é simples: nós juramos pelo gênio de nosso senhor,
o imperador, e oferecemos orações por sua saúde... Juramos pelo gênio de nosso
senhor, o imperador”.[6]
Claramente o procônsul pensa que os cristãos devem ao imperador um juramento de
fidelidade. Ele é “nosso senhor” (noster
dominus). Que tal juramento sugere uma lealdade definitiva está claro pelo
fato de que a punição por não juramento pelo gênio do imperador é a morte.
Viver requer lealdade ao poder terreno, político. Em resposta ao litígio do
procônsul, o cristão Speratus replica: “Eu não reconheço o Estado (império)
deste mundo. E mais, eu sirvo aquele Deus que nenhum homem vê ou pode ver com
esses olhos”. Outro cristão, Cittinus, diz: “Nós não tememos ninguém exceto
nosso Senhor (domnum nostrum), Deus,
que está nos céus”. A isso Donata acrescenta: “Honramos a César como César,
todavia, tememos a Deus”. Logo a seguir,
vários cristãos disseram: “Eu sou cristão”, e Speratus também disse: Eu sou
cristão”, e, somos informados que “todos concordaram com ele”.[7]
Nesse simples e antigo texto martirológico nós vemos bem claramente que a
questão em jogo é esta: Quem é o verdadeiro Senhor no mundo? A confissão “eu
sou cristão” é nada mais que a reivindicação de que todos os poderes terrenos
são penúltimos, ou seja, não podem legitimamente reivindicar lealdade última.
Essa é uma ideia central no entendimento martirológico antigo, e nós devemos
voltar logo a esse aspecto da martirologia cristã antiga.
Mas não somente questões
políticas eram relegadas a segundo plano ou penúltimo lugar nos antigos textos
martirológicos. Outrossim, os laços familiares são relegados e separados
completamente. Talvez o exemplo mais mordaz disso pode ser encontrado na Paixão
de Perpetua (aprox. 202). Quando Perpetua, uma jovem, mulher nobre, é acusada
diante do magistrado Romano, seu pai aparece e implora a ela que não desonre
sua família e traga má reputação e desgraça social: “Não me abandones para o
opróbrio dos homens. Pensa em teus irmãos, em tua mãe, em tua tia; considera
também tua criança... Desista do teu orgulho! Tu destruirás a todos nós”.
Depois, quando os cristãos foram levados à audiência pública no fórum, Perpetua
é novamente confrontada por seu pai que trazia consigo sua pequena criança. Ele
diz a ela: “Sacrifício – tenha misericórdia de seu infante”. Impelida pelo
governador que tivesse piedade de seu pai e da criança, Perpetua é oficialmente
questionada: “Tu és cristã”? E ela diz: “Christiana
sum”.[8]
A alegação da identidade cristã carrega consigo a reivindicação de que todos os
laços familiares, associações e obrigações são temporais, penúltimos e não
podem comprometer nossas mais profundas lealdades. Na confissão de Perpetua,
“eu sou cristã”, ela incorpora as palavras de Jesus: “Quem ama seu pai ou sua
mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais
do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não
é digno de mim” (Mt 10.37-38).
Vamos agora voltar ao
que é assunto central em todos os antigos relatos martirológicos, e este é a
questão da idolatria.
Nós já fizemos
referência às palavras de Speratus nos Atos dos Mártires de Scillitan: “Eu não
reconheço o Estado (império) deste mundo. E mais, eu sirvo aquele Deus que
nenhum homem vê ou pode ver com esses olhos”. É um fato interessante que nos
antigos textos cristãos martirológicos a confissão primária do mártir não é,
como nós poderíamos esperar, crer em Jesus e a ressurreição dos mortos. A
confissão central é de Deus como o Criador de todas as coisas. O Martírio de Apollonius
ao final do segundo século (aprox. 180) dá um bom exemplo disso. Quando Apollonius
é trazido ante a coorte, o procônsul, Perennis, pergunta-lhe: “Apollonius, tu
és um cristão”? A este inquérito Apollonius responde: “Sim, eu sou um cristão,
e por esta razão eu adoro e temo o Deus que fez céus e terra, e mar, e tudo o
que neles há”.[9] A
confissão de Apolônio não é explicitamente do segundo artigo do credo, nem do
terceiro artigo. É uma confissão do primeiro artigo: “Eu creio em Deus, o
Criador”.[10]
No contexto de martírio
isso não pode ser uma alegação abstrata tal como “eu creio que Deus criou o
mundo”. A explanação de Lutero sobre o
primeiro artigo vai direto ao ponto: “Creio que Deus me criou a mim e a todas
as criaturas”. Vamos enfatizar novamente: A confissão de um mártir, christianus sum, não era apenas uma
declaração de filiação em um determinado grupo religioso. A confissão christianus sum era uma confissão de
identidade pessoal; expressava que alguém não era meramente o que acreditava
ser verdade. Esse é o fato que fez a questão da idolatria tão mordaz, pois a
questão central em todas as histórias dos mártires e esta: Quem é este que possui
o poder para matar e dar vida? A reivindicação concernente à identidade do
mártir é ao mesmo tempo uma reivindicação concernente ao Deus verdadeiro!
As narrativas de
martírio dos primeiros cristãos são histórias de conflito. Em tais histórias
não há terreno neutro.[11]
O cristão ou está a sacrificar aos deuses ou não está; ele está ou a confessar
ou a negar; a viver ou a morrer. Dentro desse momento existencial do mártir
reside o conflito entre Deus e os falsos deuses. Vamos ver mais alguns exemplos
de interrogatórios por oficiais romanos e as respostas dos mártires cristãos.
Segundo o Martírio de Policarpo, é ordenado ao mártir: “Jura [aos deuses] e
deixo-te ir. Amaldiçoa Cristo”. Ao que Policarpo responde: “Por 86 anos eu
tenho sido seu servo, e ele nenhum mal me tem feito. Como posso eu blasfemar
contra meu Rei e Salvador”?[12]
No Martírio de Apollonius ordena-se ao mártir sacrificar aos deuses e à imagem
do imperador Commodus. Quando Apollonius recusa, o procônsul diz: “Eu devo
conceder-te o prazo de um dia, para que penses um pouco sobre tua vida”. Em
vista da contínua recusa de Apollonius, o procônsul insiste: “Aconselho-te a
mudares de ideia e venerares e adorares os deuses, os quais nós todos veneramos
e adoramos, e continuares a viver entre nós”. A isto Apollonius diz: “É o Deus
dos céus que eu cultuo, e só a ele venero, que soprou em todos os homens viva
alma e diariamente dá vida a todos”.[13]
Finalmente, mencionamos um terceiro exemplo. De acordo com o Martírio de
Pionius, o presbítero Pionius é preso e lembrado do édito imperial que todos
deveriam “sacrificar aos deuses”. A isto Pionius replica: “Nós estamos cientes
do mandamento de Deus ordenando-nos a adorar a ele somente”. A esta resposta de
Pionius, Sabina e Asclepiades adicionam suas vozes: “Nós obedecemos ao Deus
vivo”.
Fica claro a partir
desses diálogos que a questão em jogo é esta: Quem tem o poder para dar e tirar
a vida? Os magistrados romanos creem que tal poder está em suas mãos. Eles
podem suspender a execução dos cristãos e livrá-los ou exigir a pena de morte.
O que creem os cristãos? No momento da decisão/confissão, o cristão deve
declarar o que realmente crê. A fé é dirigida ou aos deuses, ou ao Deus
Criador. Recusando oferecer sacrifício aos deuses, o mártir rejeita a alegação
dos magistrados de que eles possuem o poder para dar vida. Além disso,
recusando viver nos termos da coorte, o mártir confessa que é Deus o Criador, e
Ele somente, que possui o poder para dar e tirar a vida.[14]
A vida que o magistrado oferece em troca de sacrifício aos deuses é um
veredicto de morte, porque aqueles deuses não são deuses e não há vida neles.
Os deuses, e deveras todo poder terreno, são intrinsicamente fúteis e vazios
quando colocados em oposição a Ele que é o Criador de todas as coisas.
Destarte, quando ordenado a negar a Deus e desobedecer Sua vontade para que possa
reivindicar os poderes de futilidade, a única resposta de alguém que é cristão
é o conhecimento de sua liberdade de tais não-entidades e sua livre lealdade ao
verdadeiro Deus que existe eternamente. Portanto, quando o procônsul romano exige
de Apollonius que sacrifique aos deuses para que possa continuar vivo,
Apollonius responde: “Tornei-me um homem que teme a Deus de modo que não posso
reverenciar ídolos feitos por mãos. Por isso, eu não me curvarei a ouro ou
prata, bronze ou ferro, ou ante falsos deuses feitos de pedra ou madeira, que não
podem ver nem ouvir; pois esses são trabalhos de artesãos, gente que trabalha
com ouro e bronze; eles são esculturas de homens e não têm vida alguma em si
mesmos”.[15]
Similarmente, quando Carpus é ordenado sacrificar aos deuses, ele responde:
“Podem ser destruídos os deuses que não fizeram os céus e a terra”. Após nova
pressão para que sacrificasse, ele diz: “Os vivos não podem oferecer sacrifício
aos mortos”.[16]
Idolatria é uma forma
que o poder da morte assume, e adorar ídolos mortos não é viver, mas sucumbir
ao poder da morte. Quando, portanto, o mártir voluntariamente recebe o
julgamento de morte pelas mãos do poder terreno e coloca este julgamento sobre
si mesmo em martírio, ele confessa que o único, verdadeiro Deus é o Criador que
tem dado a ele vida e deseja dar-lhe vida novamente na ressurreição dos mortos.
Esse é o profundo paradoxo, a profunda verdade do martírio de que nele a real e
própria relação entre Deus e o mundo é revelada. A morte do mártir testemunha o fato de que a
única fonte da vida humana e da esperança é o próprio Deus. Por conseguinte,
martírio, para aqueles que veem, revela o Deus vivo. No Martírio de Fructuosus,
é relatado que depois do seu martírio, os céus foram abertos, revelando o bispo
com seus diáconos “ascendendo coroados aos céus, com as estacas nas quais
tinham sido presos ainda intactas”. O cônsul romano, Aemilianus, foi chamado
para ver aquilo: “Venha e veja como aqueles a quem tu condenaste à morte hoje
foram restabelecidos aos céus e às suas esperanças”. Entretanto, é-nos dito:
“Quando Aemilianus veio, ele não foi digno de vê-los”.[17]
Segundo
Persecution.org, o bispo Thomas da Igreja Copta recentemente disse referente ao
período contemporâneo no Egito: “Nós estamos atravessando um escuro túnel de
violência, sentindo a aflição da morte e da injustiça. Contudo, estamos
comprometidos ao amor que nunca falha. Somos duramente oprimidos de todos os
lados, porém não esmagados”. Esta última sentença ecoa o sentimento do apóstolo
Paulo concernente aos seus próprios sofrimentos apostólicos:
“Em tudo somos
atribulados, porém não angustiados” (2Co 4.8). No Novo Testamento o tema da
imitação de Cristo em seu sofrimento e morte está conectado ao sofrimento sob
poderes terrenos e oposição humana. 1Pedro 2.21 é clássico: “Porquanto para
isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar,
deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”. Em nenhum lugar no Novo
Testamento há esta ideia mais vívida do que nas reflexões de Paulo sobre seu
próprio apostolado. Precisamente porque ele era um apóstolo sua vida era um
ícone de sua pregação. Quando Paulo afirma “nós pregamos a Cristo crucificado...
poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.23-24), ele declara que sua vida se
encontra sob esta proclamação e adquire forma a partir dela. Assim, quando
contra certos detratores, Paulo deve defender seu apostolado, e ele assim o faz
referenciando seus sofrimentos por Cristo. Considera estas marcantes afirmações
de Paulo (2Co 4.9-11): “Perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém
não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a
sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivermos, somos sempre
entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se
manifeste em nossa carne mortal”.
Paulo direciona nossos
olhos para sua carne/corpo. Ver ali as marcas de seu sofrimento é reconhecê-lo
como um apóstolo que, por esta razão, é uma imagem da vida de Cristo.[18]
Realmente, para falar de seus sofrimentos como um apóstolo, Paulo, por vezes,
adota a linguagem da Paixão de Jesus. Em 2Co 12.7-10, Paulo se refere a seus
sofrimentos apostólicos como “um espinho na carne”. Como fez Jesus no Jardim do
Getsêmani, Paulo pediu três vezes que esses sofrimentos fossem removidos dele.
A isto o Senhor disse: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza”. Por trás de tais colocações repousa a convicção de Paulo de que a
cruz de Jesus é o molde da vida apostólica. Sofrer por Jesus não é meramente
resultado de um destino adverso ou da circunstância azarada de estar no lugar
errado na hora errada. É o chamado do apóstolo para ser a imagem do Crucificado
no mundo (At 9.16). Quando, portanto, a Igreja se confessa “apostólica”, ela
reconhece esse fato como verdade, também como sua permanência temporária no
mundo. Se a Igreja é apostólica, então ela também é martirológica.[19]
Evidentemente, isso não
significa que todo cristão sofrerá rejeição, perseguição ou martírio. No
entanto, isso não nos dá o direito de amenizar a necessidade de ser batizado na
morte e ressurreição de Cristo. Talvez nenhum pensador luterano refletiu mais
profundamente na condescendência de Cristo do que Hermann Bezzel, o sucessor de
Wihelm Loehe no instituto diaconal em Neuendettelsau. Para Bezzel, as palavras
do Senhor a Paulo, “o poder se aperfeiçoa na fraqueza”, não foi somente uma
perspectiva hermenêutica para interpretar o todo das Escrituras. Foi também uma
sentença para o serviço ao qual todos os cristãos são chamados. “Esta
[passagem] é realmente a rubrica na qual se firma a vida de Jesus”. Expressa o
mistério de Sua pessoa por meio do que o Onipotente O faz conhecido e dá a si
mesmo como alguém que é fraco e humilde. “Aquilo que é pequeno em poder, aquele
poder que se aperfeiçoa na fraqueza, não é um poder em ou de si mesmo; não é um
poder que é deliberadamente um poder. E mais, tal poder alcança algo
tão-somente se Deus o adota como seu próprio”.[20]
Quando Jesus, profundamente triste até à morte, ora a seu Pai para passar dele
o cálice de sofrimento, ele ainda assim se coloca debaixo da vontade do Pai:
“Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39). O Evangelho
de João nos apresenta Jesus como aquele que recebeu a resposta do Pai, e então
se coloca a fazer a vontade do Pai: “Agora está angustiada a minha alma, e que
direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim
para esta hora. Pai, glorifica o teu nome” (Jo 12.27-28). Viver a partir da
cruz é fazer a vontade do Pai. Na oração do nosso Senhor nós somos ensinados a
orar: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Quando, no alto
da cruz, Jesus diz “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23.46), ele
revela que a vontade de Deus está feita: “Fé – confiar a própria vida a Deus –
fazer a vontade de Deus”. Essas são maneiras diferentes de dizer a mesma coisa.
Por isso, em sua primeira epístola o apóstolo Pedro adota essas palavras de
Jesus a fim de exortar cristãos sob coação à fidelidade e vida santificada:
“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma
ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pe 4.19). Fé cristã é essencialmente
ascética. Sabe que as coisas deste mundo são temporárias e fugazes. Colocar a
esperança nelas é perder de vista aquilo que é permanente. Assim, a totalidade
da vida cristã é para ser, como era, um martírio sem derramamento de sangue, fé
vivida pela esperança que repousa em Deus.
Os simples cristãos de
Scilla sofreram no segundo século. Ainda assim, a pregação cristã os guardou em
memória. No início do quinto século, Santo Agostinho pregou no aniversário
deles. Mas de que relevância foi a história ao seu público? Agostinho sabia que
o tempo de evidente perseguição era no passado. O Império Romano no qual sua
congregação vivia era agora cristão em convicção e hábito: “Não há mais furiosa
perseguição, nenhum saqueador de despojo, nenhum torturador vos afligindo”.
Além disso, diz Agostinho, muitos estão seguindo as necessidades da vida bem
como as superficialidades da vida como seus perseguidores: “Quantas maldades
são cometidas como que por razões de necessidades, por comida, por roupas, por
saúde, por um amigo; e todas essas coisas que são desejadas são efetivamente
perdidas. Se tu fizeres pouco caso dessas coisas no presente, Deus as dará a ti
por toda a eternidade. Não estima tanto a vida, tu terás imortalidade; não te
preocupa com a morte, tu terás vida; faze pouco caso de honra, tu terás uma
coroa; não te deleita na amizade do homem, tu terás a amizade de Deus”. Como os
santos mártires “preferiram viver morrendo, a fim de não morrer por viver”,
como os santos mártires “desprezaram a vida por amor à vida”, assim o cristão
em sua vida diária deve viver a vida de Cristo pelo desprezar as coisas do
mundo: “Tu sentes bem-estar? Faze pouco caso disto, e tu haverás de tê-lo. Tu
negas a Cristo, com medo de estragar tua amizade com os homens; confessa
Cristo, e desfrutarás a amizade da cidade dos anjos, a cidade dos patriarcas, a
cidade dos profetas, a cidade dos apóstolos, a cidade de todos os mártires, a
cidade de todos os crentes fiéis. O próprio Cristo estabeleceu isso para
sempre” (Ps. 48:8).[21]
Agostinho usou a
autonegação do mártir cristão como um paradigma para a vida diária de todos os
cristãos. Martírio é, em primeiro lugar, não um evento, mas um habitus espiritual. É uma postura diante
do mundo como aquilo que é temporário e secundário e diante de Deus como Ele
que é Senhor e Salvador. Dentro deste habitus
se encontra a confissão: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da
terra”. Indubitavelmente, este habitus espiritual
é em si a instanciação da confissão: “Deus me criou”. Para preparar nosso povo
para a luta vindoura, nós devemos ensiná-los a ser cristãos para que possam,
com robusta fé e em vívida esperança, confessar e dizer: “Christianus sum”.
O Rev. Dr. William Weinrich
é professor de Teologia Histórica e ex-reitor acadêmico no Concordia
Theological Seminary, Fort Wayne, Ind.
Tradução:
Rev. Edenilson Gass
[1]
“O aniversário de seu martírio” – uma expressão impressionante, porém bastante
típica do pensamento primitivo sobre martírio: a morte dos mártires era, de
fato, sua entrada na vida.
[2]
Isso pode ser útil aqui para relembrar-nos que o termo “mártir” não designava
alguém que tinha apenas dado um testemunho oral ante um público incrédulo. O
termo se referia exclusivamente àqueles que foram mortos, e em sua morte foram
“mártires”. O testemunho do mártir era a própria morte. Alguém que deu um
testemunho oral, mas ainda assim não sofreu a morte por tal testemunho, era
chamado de “confessor”.
[3]
No Evangelho de João, Jesus fala do futuro sofrimento de seus seguidores no
discurso do cenáculo. Os evangelhos sinóticos não têm tal discurso, enquanto
João o tem, mas não há narrativa explícita de instituição. Pode-se
perfeitamente interpretar João 13-17 como uma catequese.
[4]
No tratado Sobre as Igrejas e Concílios Lutero lista martírio como uma das
marcas (notae) da Igreja.
[5]
Desta perspectiva nós podemos entender porque o mártir era um especial objeto
de honra e veneração. Por sua voluntária, inabalável morte ele dava forma ao
primeiro mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu entendimento”. (Mt 22.37)
[6] Todas as citações são de Herbert
Musurillo, The Acts of the Christian Martyrs (Oxford Early Christian Texts;
Oxford: Clarendon Press, 1972). Aqui, Atos dos Mártires de Scillitan 3-5
(Musurillo, 86/87), sobre as implicações da coparticipação na Ceia, da vida
recebida e então vivida. Inácio de Antioquia fornece uma antiga tradição de uma
conversa entre Jesus ressuscitado e seus discípulos: Jesus ordena que eles o
toquem e vejam que ele não é um “espírito incorpóreo”. “E imediatamente eles o
tocaram e creram, estando intimamente unidos à sua carne e sangue. Por essa
razão eles desprezaram a morte, de fato foram encontrados superiores à morte”
(Smyrn. 3.2). Na minha opinião, as duas últimas sentenças falam dos discípulos
compartilhando da Eucaristia e então, e por aquela razão, provando serem “superiores
à morte” em suas várias corajosas confissões e também no martírio.
[7] Acts of the Scillitan Martyrs 6-10
(Musurillo, 86/87-88/89).
[8] Passion of Perpetua and Felicitas
5-6 (Musurillo, 112/13-114/15).
[9]
Martyrdom of Apollonius 2 (Musurillo, 91).
[10]
Esta confissão de Deus como Criador ocorre frequentemente. Veja Martyrdom of Justin 2.5 (Musurillo, 43);
Martyrdom of Carpus 10 (Musurillo, 23); Martyrdom of Pionius 8 (Musurillo,
147); Acts of Cyprian 1 (Musurillo, 169); Martyrdom of Fructuosus 2 (Musurillo,
179).
[11] Para uma abordagem mais completa do
assunto, confira William C. Weinrich, “Death and Martyrdom: An Important Aspect
of Early Christian Eschatology”, Concordia Theological Quarterly 66.4 (2002):
32-38.
[12] Martyrdom of Policarp 9 (Musurillo,
9).
[13] Martyrdom of Apollonius 10-13
(Musurillo, 93, 95).
[14]
De tempos em tempos o mártir relembrará o juiz humano que sua autoridade é
derivada de Deus em cujas mãos reside todo o poder. O juiz, independente do seu
veredicto, é um servo de Deus, e por esta razão, como pode dispor de sua
autoridade e poder tornar-se-á um assunto no seu próprio julgamento no último
dia.
[15]
Martyrdom of Apollonius 14 (Musurillo, 94-95). A tradução desta passagem por
Musurillo é inadequada: “Eu sou um homem piedoso, e não posso adorar ídolos
artificiais. Por isso não me curvo diante do ouro”. Podemos parafrasear o
significado como segue: Através do batismo vim a ser um homem que venera o Deus
verdadeiro. Que me libertou da falsa reverência aos deuses feitos por mãos, e
assim, por nenhuma razão estarei eu agora curvando-me a tais divindades mortas,
como tu me ordenas fazer. O tempo futuro com dupla negação é a maneira mais
intensa para expressar negação no texto grego: “De modo algum me curvarei”.
[16] Martyrdom of Carpus 10-12
(Musurillo, 22-23, 24-25).
[17]
Martyrdom of Fructuosus 5 (Musurillo, 183). O paradoxo do martírio que quando
alguém morre, de fato recebeu a vitória e agora vive é graficamente ilustrado
em Passion of Perpetua 10 (Musurillo, 118/19). Em uma visão Perpetua vê seu
próprio martírio iminente. Ela está lutando com um egípcio enorme (o diabo).
Pouco depois, “Eu [i.e. Perpetua] coloco minhas duas mãos juntas vinculando os
dedos de uma mão com os da outra e então eu segurei sua cabeça. Ele caiu de
bruços sobre a face e eu pisei na sua cabeça. A multidão começou a gritar e
meus assistentes começaram a cantar salmos. Então me aproximei do treinador e
tomei o ramo de vencedor. Ele me beijou e disse ‘Paz seja contigo, minha
filha!’ Comecei a caminhar triunfante em direção ao Portão da Vida (Porta
Sanavivaria)”. Embora retratado como um triunfo, isso é evidentemente um conto
da morte de Perpetua. Ela pisa sobre a cabeça do egípcio, um sinal da morte
dele e seu triunfo. Todavia, na realidade do seu martírio é ela que é morta.
Seu caminhar em direção à Porta Sanavivarium imita o caminhar daqueles
gladiadores que têm sobrevivido a suas lutas. Porém na realidade do seu
martírio ela não caminha para o Portão da Vida na arena e sim ao Portão da Vida
nos céus.
[18]
Em 2Co 1.23-33 Paulo lista seu sofrimento nas mãos de seus perseguidores.
Interessante que a forma literária que ele adota para isso é aquela das res gestae que eram comumente usadas
para louvar as vitórias de um rei ou imperador. Assim, os vários sofrimentos de
Paulo são (paradoxalmente) interpretados como sua vitória! Na literatura do
martírio cristão frequentemente se via nos sofrimentos de um mártir a imagem da
cruz ou de Cristo. Na Carta dos Mártires de Lyon, santa Blandina “foi pendurada
num poste e exposta como isca para os animais selvagens que foram soltos a ela.
Ela parecia suspensa lá na forma de uma cruz”. Eusebius, Hist. Eccl. 5.1.41
[Musurillo, 74-75].
[19]
Aqui é bom lembrar que cristologia, apostolado e eclesiologia são mutuamente
inerentes. O apóstolo era uma imagem de Cristo, e a Igreja é uma imagem do
apóstolo (ver 1Ts 1.5-10).
[20]
Essas são palavras de Manfred Seitz interpretando Bezzel (Hermann Bezzel:
Theologie-Darstellung-Form seiner Verkündigung [München: Chr. Kaiser Verlag,
1960], 161 (tradução do autor). Este livro é uma excelente introdução e
apresentação da teologia de Bezzel.
[21]
Agostinho, sermão 299D “Sobre o Aniversário dos Santos Mártires de Scilla” (WSA III/8:256-262).
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