Igreja Evangélica
Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Jo 9.1-7,13-17,34-39 –
4º dom. na Quaresma A 2014
Jesus é a nossa luz
v. 39: “Prosseguiu
Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os
que veem se tornem cegos”.
Certamente uma das
dádivas mais preciosas que Deus deu ao ser humano é a visão. Poder enxergar se
algo está no caminho, o que acontece à nossa volta. Poder dirigir, ler, estudar
e tantas outras coisas que sem a visão seriam, no mínimo, bem mais difíceis.
Hoje queremos refletir
em um dos textos onde Jesus se apresenta como a luz do mundo. Não só a luz em
si, mas também aquele que traz a luz ao mundo e que é ele que faz com que as
pessoas enxerguem essa sua luz.
Jesus e os discípulos
estavam caminhando quando viram um homem que era cego de nascença. Jamais havia
visto a luz do dia. Como pessoas assim eram muito desprezadas, pois eram
consideradas pecadoras, sendo que o defeito físico era visto como castigo de
Deus, os discípulos fizeram uma pergunta a Jesus: “Mestre, quem pecou, este ou
seus pais, para que nascesse cego”?
Quantas são às vezes
em que nós também somos tentados a fazer a mesma pergunta? Ao nos depararmos
com alguém que sofre por alguma razão, seja ela física, emocional ou mesmo
espiritual, somos tentados a ver isso como castigos de Deus. Ficamos, então, a
nos perguntar o que será ele ou ela fez para que Deus a castigasse com essa
dificuldade, com essa doença ou seja lá o que for.
Exatamente como fizeram
os amigos de Jó, que ao verem o seu sofrimento e a sua desgraça queriam de
todas as formas forçar Jó a confessar um pecado do qual nem ele se lembrava. E
automaticamente, no momento em que julgamos alguém pecador e o colocamos para
baixo, nos consideramos mais justos e também superiores.
Nada muito diferente
de quando o problema é com a gente mesmo. Então também começo a questionar a
Deus: quais foram os meus pecados? O que eu fiz para merecer isso? De jeito
nenhum queremos aceitar que o sofrimento possa vir de graça, como foi com Jó. Como
foi com aquele cego. Ou eu cometi um pecado e Deus está me castigando, ou eu
não fiz nada e Deus está sendo injusto.
É a esses nossos
dilemas que Jesus responde quando responde aos discípulos: “Nem ele pecou, nem
seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”. Mas como isso
acontece? Como as obras de Deus se manifestam no sofrimento das pessoas? E que
obras Deus quer manifestar?
Nós temos duas
respostas a essa questão. A primeira é a mais óbvia, que é a cura daquele
homem. Quando Jesus cura o cego de nascença, trazendo luz aos seus olhos, o
poder de Deus se manifesta pelo milagre de Jesus.
E, de fato, não só
nesse texto, mas em muitos outros também, os milagres de Jesus sempre causaram
admiração nas pessoas. De modo que elas sempre chegavam à mesma conclusão: Este
homem não pode ser só um homem. Ele tem que ser mais do que isso.
Então, com a cura do
cego, uma das obras de Deus se manifesta: o cuidado de Deus, a preocupação de
Deus, a providência divina. Deus não apenas curou aquele homem, mas até hoje
continua cuidando de cada um de nós, nos dando saúde, disposição, alegria,
família, bens e uma quantia incontável de bênçãos que podemos perceber até de
olhos fechados.
O problema é que o
pecado que há em nós não nos permite enxergarmos as bênçãos de Deus. Por mais
que estejam bem na nossa frente, não enxergamos. E ainda como não bastasse não
enxergar nem agradecer por essas bênçãos, nos achamos, muitas vezes, no direito
de reclamar quando as coisas não acontecem como nós gostaríamos.
Mas, irmãos, o que é
uma doença perto da condenação? O que é uma crise (conjugal, familiar,
financeira) perto da condenação? Jesus, com a sua morte, nos livrou de uma
coisa tão horrível, mas tão terrível que por nada nesse mundo nós temos o
direito de reclamar ou exigir algo de Deus. Por mais difícil que seja. Por mais
amargo, dolorido que seja. Nada se compara ao que nós realmente merecemos por
causa dos nossos pecados que é a condenação.
E Deus faz a coisa
assim de tal forma que em tudo, na alegria ou na tristeza, a Deus demos glória
e louvor. Porque na dificuldade e no sofrimento, Deus não quer o nosso mal, mas
quer nos chamar para perto dele a fim de que busquemos nele todo o auxílio que
precisamos. E não no que nós somos ou possuímos.
Não nas bênçãos. Não
no dinheiro, nos bens, na força. Porque tudo isso de uma hora para outra acaba,
como aconteceu com o nosso irmão Jó. Mas, pelo menos, nesses momentos, em que
percebemos que não há onde se agarrar, em que percebemos que tudo é passageiro,
Deus nos acolhe em seus braços e diz: se agarra em mim.
Portanto, deveríamos
dar graças a Deus pelas dificuldades na nossa vida. Não estou dizendo que somos
capazes disso, mas assim deveria ser. Porque assim somos lembrados que ainda
não estamos no céu. E que, por isso, vale todo o esforço necessário para
estarmos sempre juntos do Pai celeste.
Juntos desse Deus que
nos ama tanto ao ponto de, apesar da nossa ingratidão, das nossas muitas
reclamações, se coloca do nosso lado, nos abraça, nos ajuda. E, em Jesus, faz
até mais do que isso: Sente a nossa dor. Sente o nosso sofrer. E ainda sente
prazer em ouvir os nossos gemidos e lamentações. Por isso, na alegria ou na
tristeza, se olharmos bem, só o que podemos encontrar é o amor de Deus.
E a segunda resposta à
questão sobre as obras de Deus e como elas se manifestam nós encontramos na
incredulidade do perverso e na sua conversão. Jesus não quer apenas dar luz aos
cegos, levantar aleijados, alimentar multidões. Na verdade, isso é o de menos.
Jesus quer nos dar algo muito maior. E é isso que ele quer nos dar em primeiro
lugar.
Diante das obras de
Deus muitos creem, muitos não. E com o incrédulo Deus quer nos lembrar a nossa
verdadeira natureza. Uma natureza que é inimiga de Deus. Uma natureza que não
crê em Deus e nem pode crer assim. Muito menos chegar à fé de que Deus quer dar
a salvação de graça entregando o seu Filho à morte em nosso lugar.
Somos todos incapazes
de ir até Deus e ver em Jesus o nosso salvador. Somos todos espiritualmente
cegos. Não conseguimos enxergar a maravilhosa luz de Cristo. E se não fosse
pela infinita misericórdia de Deus em Cristo, continuaríamos nessa mesma
condição. Com os olhos da fé completamente escuros.
Graças a Deus que o
que ele quer nos dar não serve apenas para esta vida, mas para toda a
eternidade. Por isso Jesus continua todos os dias a lavar os nossos olhos para
que possamos continuar enxergando as obras de Deus todos os dias.
No que depende de nós,
continuaríamos nas trevas do pecado, destinados à condenação. Mas Jesus fez e
faz brilhar sobre nós a sua luz e, assim, ilumina os nossos passos com a sua
palavra para que, diferente de quem tateia no escuro, saibamos exatamente para
onde estamos caminhando.
Jesus disse: “Enquanto
estou no mundo, sou a luz do mundo”. Assim também nós, enquanto estamos no
mundo, estamos para iluminar. Não com a nossa luz buscando a nossa glória. Mas
com a luz de Cristo para que as pessoas vejam as nossas boas obras e glorifiquem
ao Pai que está nos céus.
Só Jesus pode trazer a
luz aos que estão cegos espiritualmente. Só ele pode trazer a luz da salvação.
Por isso ele continua, pela sua Palavra e pela sua Igreja, fazendo brilhar a
sua luz. Luz de perdão, de orientação e de salvação. Amém.