Páginas

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mensagem 16º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 25.1-10; Ez 18.1-4,25-32; Fp 2.1-18; Mt 21.23-32 – 16º dom. após Pentecostes A 2014
Deus traz arrependimento, fé e mudança
v. 31: “Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus”.
O que foi que eu fiz? Onde eu estava com a cabeça? Como eu pude ser tão idiota? Quando bate o arrependimento, essas são algumas frases que nos vêm à cabeça. Uma palavra, uma atitude, um gesto indevidos e mais tarde, refletindo sobre aquilo, percebemos: – Puxa, eu não devia ter dito aquilo; eu não devia ter feito aquilo.
O tema desse culto, a partir das leituras bíblicas, claramente, é o arrependimento. Vimos no salmo a oração de Davi pedindo que Deus o guiasse pelos seus caminhos. Só pode orar assim alguém que se arrependeu de ter andado pelos próprios caminhos.
Em Ezequiel aprendemos que o arrependimento é coisa que faz parte da vida cristã. O arrependimento e a confiança no perdão de Deus. Também quando Paulo nos ensina em Filipenses a termos uma vida de humildade e gratidão. Isso não é coisa que vem de nós, mas do arrependimento e da fé.
Enquanto isso, Jesus, no evangelho de Mateus prefere nos ensinar com um exemplo prático do dia-a-dia e que, com certeza, é coisa que já aconteceu na experiência de muitos pais.
Nessa parábola, Jesus fala de um pai de dois filhos que pediu a eles que lhe ajudassem no trabalho da vinha. Um disse que ia, mas não foi. Já o outro disse “não, eu não quero”, mas depois se arrependeu e foi. E aí vem a pergunta de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai”, o que prontamente disse “sim, eu vou”, mas depois deixou o pai esperando ou o que primeiramente não queria, mas depois acabou indo?
A resposta, na verdade, é tão óbvia que os líderes religiosos responderam imediatamente: “o segundo”. E com isso fica bem claro o seguinte: Deus, o nosso Pai, não espera que o cristão acerte sempre, fazendo sempre a coisa certa. Isso é impossível para nós. Mas que, quando arrependido, procure mudar suas atitudes e fazer o que é certo.
Por isso a pergunta que fazemos é: O que é arrependimento? Será que o arrependimento é a mudança de vida? Muita gente pensa desta maneira: Que só quando o fulano mudar de vida é que nós vamos ter certeza que ele se arrependeu.
Interessante que, no texto de hoje, Jesus fala de João Batista. Porque a mensagem de João Batista era exatamente esta: Arrependam-se dos seus pecados. E depois, para aqueles que se encontravam arrependidos, dava o batismo como uma certificação de que Deus os havia perdoado.
Por outro lado, para os líderes religiosos, o que João dizia? – Produzam frutos dignos do arrependimento. Sim, João Batista também pregava a mudança de vida. Porém esta vem como consequência; o arrependimento vem antes.
Quando a pessoa chega a uma conclusão, quando ela tem consciência de que certas coisas em sua vida não estão corretas, não condizem com o ensino da Palavra de Deus, não são favoráveis para um bom testemunho cristão, ali há arrependimento. Tão logo o cristão se dá conta dos seus erros e pecados e os reconhece como erros e pecados, e não como coisas sem importância, ali há arrependimento.
Ah, mas então não precisa mudar de vida. Claro que precisa! Quem disse que não? João pregava o arrependimento, ou seja, o reconhecimento dos pecados; anunciava o perdão; e depois a mudança de vida. Também Tiago lembra a importância dessa mudança quando pergunta: De que adianta uma fé sem obras? Uma fé que não se mostra numa vida condizente com a Palavra de Deus. Uma fé assim está morta.
Por isso Lutero ensina no catecismo que, desde o batismo, o cristão entra numa luta contra a sua própria natureza. E, portanto, por contrição e arrependimento diários o cristão vive na busca de uma melhora de vida.
Um grande auxílio para essa melhora de vida começa num exame de consciência. Uma coisa tão simples de fazer. No momento da sua oração, pense nos dez mandamentos e vai passando por cada um deles. Quais são aqueles que eu não estou dando muita atenção? Quais são aqueles contra os quais eu peco mais constantemente? E dessa maneira, você vai poder pedir a Deus exatamente aquilo que precisa. – Deus, me dá mais força neste mandamento. Porque aqui eu estou me desviando do teu ensino.
Essa é a oração de Davi. E é e só com sincero arrependimento que podemos orar como ele e pedir que Deus nos guie pelos seus caminhos, realmente desejando que ele nos guie e não só, assim, da boca para fora.
É só com sincero arrependimento que vamos levar a sério a nossa vida cristã e cuidar tanto quanto possível com o que falamos, com o que fazemos. E isso não só por Deus, mas também pelo nosso próximo. Para que ele não se escandalize, não caia da fé ou mesmo que um descrente não chegue à fé por algum mau exemplo nosso. E acreditem: Cuidando, nós ainda vamos fazer muita bobagem. Imagem se não levarmos a sério a nossa vida cristã.
Por isso a parábola de Jesus é tão importante para nós. Como lembrete e advertência, Jesus lembra que a luta contra o velho homem começa cedo, já no batismo, e dura a vida toda. O problema é quando essa luta não existe mais. Quando nos acostumamos com os nossos pecados e nos acomodamos com uma vida de poucos bons exemplos.
Por outro lado, também, Jesus nos faz olhar para aquilo que nos motiva a essa melhora de vida. A saber, o perdão que o Pai jamais nega. Por mais que tantas e tantas vezes somos vencidos pela nossa natureza pecaminosa e caímos em tentação, Deus está sempre disposto a perdoar os nossos pecados e, assim, nos dar uma nova chance.
Para Deus, quem faz a sua vontade não é o que diz que faz ou pensa que faz. Mas o que, arrependido, reconhece os seus pecados. E ali, naturalmente, Deus vai nos encaminhar em uma nova vida. Uma vida que seja agradável a ele e que possibilite a mais pessoas o interesse em conhecer o que há de tão bom em ser cristão.
Pecadores todos somos. E precisamos reconhecer isso. No entanto, também precisamos reconhecer que a graça de Deus excede até mesmo a nossa confiança no perdão dos pecados.
Quanta gente ainda sofre amargamente por alguma coisa que fez ou deixou de fazer e depois percebeu que errou? Pessoas que carregam diariamente o peso da culpa pelo seu pecado porque não conseguem crer que para elas também há perdão.
Essas pessoas – talvez muitos de nós – precisam saber que em Cristo todo pecado tem perdão. Porque é daí que vem a nossa alegria: do perdão de Deus. Do conhecimento de um Deus que prefere se sujar com o nosso pecado do que abandonar o pecador.
Deus não é deus de cobrança. Deus não é deus de vingança. Deus não é deus de barganha. Deus é aquele que nos leva ao arrependimento, perdoa o nosso pecado e nos guia conforme a sua vontade. E, ao contrário do que nós fazemos, Deus não espera provas de arrependimento, porque ele conhece o nosso coração. E do perdão recebido é que vem também a motivação para um viver cristão.
Não precisamos mais olhar para o passado e ficar lamentando disso ou daquilo. O que precisamos é confiar que mesmo aquilo do que hoje nos arrependemos Deus utilizou para cumprir com os seus propósitos. Ele já nos perdoou e agora podemos viver felizes na alegria da salvação. Amém.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mensagem 15º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 27.1-9; Is 55.6-9; Fp 1.12-14,19-30; Mt 20.1-16 – 15º dom. após Pentecostes A 2014
Deus retribui consoante a sua Graça
v. 4: “Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo”.
Muitos países no mundo têm uma distribuição de renda considerada desigual. O Brasil, neste ranking, fica em, no máximo, terceiro lugar. Naturalmente que, em realidades assim, uns acabam passando mais dificuldades do que outros. E quando alguém quer alguma coisa, normalmente é preciso se esforçar mais do que o normal.
Para muitos, essa desigualdade acaba sendo algo justo. Afinal, quem se esforça mais merece receber mais. Já para outros essa lógica não funciona.
Mas o que nós queremos agora não é resolver essa questão. O que acontece é que, na parábola de hoje, nós temos um problema com a distribuição de renda. Na hora do acerto de contas, uns viram justiça, outros, injustiça.
Mas antes de entrarmos no texto, é importante que nós levemos em conta o contexto em que Jesus conta essa parábola. No capítulo anterior, o 19, Jesus teve aquela conversa com o jovem rico. E a gente sabe que essa conversa acabou mal para aquele jovem. E quando ele saiu triste dali, Jesus falou do perigo das riquezas, porque as pessoas se agarram tanto no que têm que esquecem do reino de Deus. E aí Jesus vai dizer que, por essa razão, é muito difícil um rico entrar no céu.
Bom, quando ele diz isso, os discípulos quase têm um “treco”. – Se um rico pode não entrar no céu, então quem vai entrar? E a resposta de Jesus é: Para os homens, rico ou pobre, é impossível entrar no céu; mas para Deus tudo é possível.
Só que Pedro, parece que não entendeu o recado. E aí ele comete um erro gravíssimo ao pensar que entrar no céu tem a ver ou até depende daquilo que nós fazemos. Ele olha para ele mesmo, olha para os discípulos e faz uma pergunta a Jesus: E nós que deixamos tudo para trás para te seguir, o que será de nós?
É nesse contexto que Jesus conta a parábola dos trabalhadores da vinha, onde ele fala de um homem que precisava de gente para trabalhar na sua vinha. Saindo cedo, ele encontrou alguns homens e combinou com eles o pagamento de um denário – pagamento normal daquela época.
Três horas depois, lá pelas nove da manhã, ele já sai de novo e vai até a praça da cidade, onde encontra alguns homens desocupados e os manda trabalhar na vinha também prometendo um valor justo. E assim o dono da vinha saiu de novo ao meio-dia, às três da tarde e ainda às cinco da tarde, faltando apenas uma hora para encerrar o expediente.
O que também é importante para nós, aqui, é onde o dono da vinha vai procurar pessoas e quem ele contrata. Quanto ao lugar, o texto diz que ele ia na praça. E quanto aos trabalhadores, se dividirmos os trabalhadores em classes, aqueles que se encontravam lá, com certeza eram os da classe mais baixa. Não no sentido de que eram homens maus. Mas o que acontece é o seguinte: muita gente tinha um trabalho fixo e chegavam a ganhar muito dinheiro. Os publicanos, por exemplo. Outros eram diaristas e recebiam só nos dias que trabalhavam. Mas normalmente eles conseguiam trabalhar quase todos os dias. Até aí nós temos pessoas com alguma dignidade, digamos assim. Já os que ficavam na praça, eram pessoas que não tinham opção. Não tinham méritos. Eles dependiam exclusivamente que alguém os contratasse.
Assim também Cristo, quando vai buscar trabalhadores para a sua vinha, não escolhe de acordo com as qualidades que eles têm. Ele não olha se fala bem, se tem desenvoltura, se tem muitos dons, se tem grande conhecimento. Ele escolhe quem ele quer. E depois ele prepara e ensina esses trabalhadores.
É só olhar para os discípulos. Jesus escolheu doze homens que não sabiam fazer nada além do seu próprio trabalho. Se um empresário fosse julgar a escolha de Jesus, com certeza ele diria que Jesus escolheu das piores opções que tinha. Homens incultos, sem conhecimento. Só que isso para Jesus não era problema.
Justamente os trabalhadores que Jesus não quer são aqueles que confiam em si próprios. Na sua desenvoltura, nos seus dons, no seu conhecimento, nas suas posses, nos seus méritos. Jesus quer gente disposta a aprender com ele. Por isso ninguém que foi chamado por Jesus pode dizer que não pode trabalhar na sua vinha.
E tem muita gente que faz isso. A pessoa que olha só para o que os outros fazem e acaba se sentido inútil, incapaz de ajudar. Quando o correto é que ela simplesmente olhe para o que Deus espera que seja feito e então reflita: O que eu posso fazer para também contribuir na vinha do Senhor? Essa é a pergunta que precisamos fazer.
Depois do trabalho, chegando a hora do acerto de contas, o dono da vinha manda chamar os trabalhadores. É hora da distribuição de renda. A expectativa, com certeza, era grande para saber o que cada um iria receber. Afinal, alguns trabalharam doze horas, outros, nove, outros seis, outros três e alguns, ainda, uma hora.
A expectativa ficou maior ainda quando começaram o pagamento pelos últimos que receberam um denário cada. – Bom, então o que nós vamos receber? Um denário por hora, quem sabe. Nas palavras de Pedro, a pergunta seria: O que será de nós?
No entanto, à medida em que os pagamentos eram feitos, eles perceberam que todos estavam recebendo o mesmo salário. E é claro que, com isso, alguns já começaram a reclamar: Isto não é justo! Nós trabalhamos mais, merecemos mais!
É muito triste quando isso acontece dentro da igreja também. Quando aqueles que, por maior oportunidade ou vontade de trabalhar, olham para os demais de cima para baixo. Como se fossem melhores. Como se merecessem mais do que eles. Ai de Deus se colocar uma cruz sobre mim e não colocar sobre eles. Olha tudo que eu faço. Por outro lado, o que eles fazem?
Claro que não é certo estar dentro da vinha e continuar como se estivesse no banco da praça. Aquela pessoa que apenas se filia a uma igreja, mas não participa, não oferta, não testemunha. Mesmo assim, aqueles que têm mais oportunidade e desejo de servir a Deus, deveriam simplesmente agradecer a Deus pelo privilégio de fazer parte da sua vinha e pelo desejo de trabalhar nela.
E com esse mesmo espírito é que devemos agir com aqueles que chegam depois. Não vamos ser indiferentes ou nos sentirmos melhores, vamos acolhê-los na alegria de Deus ter trazido mais trabalhadores para a sua vinha.
Por isso essa parábola é o mais puro Evangelho. Aqui todos são consolados. Os que chegaram antes, pelo privilégio de poder servir a Deus por mais tempo; e os que chegaram depois, pelo privilégio de Deus não os ter deixado no banco da praça, mas tê-los chamado e ainda dado a eles a mesma graça da salvação.
Percebem o que Jesus faz aqui? Parece que ele traz Pedro para dentro da parábola – tanto que em determinado momento da parábola o dono da vinha fala diretamente a um dos trabalhadores – e responde à sua pergunta com a própria parábola. E assim faz ele perceber que entrar no céu não tem nada a ver com o nosso trabalho. Primeiro Deus nos chama, ali já entramos no seu Reino. Depois nós vamos trabalhar. Afinal, serviço é o que não falta.
Mas ainda antes de ser lugar de trabalho, a vinha do Senhor é lugar de acolhimento. É para onde Deus nos chama. É onde ele nos acolhe. É onde ele espera que nós acolhamos uns aos outros.
E, voltando àquela questão sobre distribuição de renda, independentemente do que pensamos sobre isso, o que consideramos justo ou não, no reino dos céus a coisa funciona assim – e isso nós precisamos ter bem claro: Deus é bom! Ele veio até nós e nos chamou e porque ele é bom e, nesse chamado, ele quer dar a todos a mesma graça da salvação. Amém.

domingo, 14 de setembro de 2014

Mensagem 14º dom. após Pentecostes A 2014

Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 103.1-12; Gn 50.15-21; Rm 14.1-12; Mt 18.21-35 – 14º dom. após Pentecostes A 2014
O reflexo do perdão divino
v. 27: “E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida”.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Assim Jesus nos ensina a orar no Pai Nosso. Naturalmente, tem gente que não gosta muito desta petição. Outros simplesmente a recitam da boca para fora, sem qualquer reflexão sobre o que estão dizendo. Mas também há aqueles que fazem esta petição a Deus do fundo do coração, refletindo em cada palavra, desejando sinceramente que assim aconteça.
Por que isso é assim? Isso é assim porque as pessoas entendem o perdão de formas diferentes. A parábola do credor incompassivo mostra isso. E por entenderem o perdão de formas diferentes, também agem, vivem de maneiras diferentes.
Jesus já vinha falando sobre o perdão, como vimos na semana passada no início do capítulo 18. Graças a Pedro, Jesus fala mais um pouquinho. Só para relembrar, Jesus falava sobre como devemos agir diante de alguém que peca contra nós. Que devemos falar com essa pessoa para ver se ela se arrepende. E para isso é claro que primeiro precisamos perdoar aquela pessoa.
E aí Pedro faz uma pergunta a Jesus: Quantas vezes devo perdoar alguém? A pergunta já vem até com uma sugestão de resposta: sete vezes?
Uma das coisas que mais chama a atenção aqui, quando Jesus fala do perdão, são os exageros que ele faz. Por isso quando Pedro sugere sete vezes, já imaginando ser este um número generoso, Jesus responde: setenta e sete vezes.
Claro que com isso Jesus não está querendo definir um número de vezes que devemos perdoar alguém e, passando disso, então não há mais perdão. Jesus simplesmente aproveita a sugestão de Pedro, “sete vezes”, e coloca um “setenta vezes” na frente. Evidentemente para mostrar que não há limites para o perdão. E para exemplificar isso, Jesus conta uma parábola.
Certo rei resolveu fazer um acerto de contas com os seus súditos e chamou um deles que lhe devia dez mil talentos. Aqui temos mais um exagero de Jesus. Para vocês terem uma ideia, um talento equivale a seis mil dias de trabalho. A dívida daquele homem era de dez mil talentos.
O que Jesus queria mostrar com isso? Com certeza ele queria mostrar que nem que aquele homem trabalhasse a vida toda, ainda assim não conseguiria pagar a sua dívida. A sua dívida era simplesmente impagável. Não havia nada que ele pudesse fazer para pagar o que devia ao seu rei.
Ao rei só restava duas saídas: condenar o homem – o que, aliás, parece mais justo, afinal, se ele está em dívida a culpa é dele – ou perdoar toda aquela dívida e fazer de conta que aquele homem não devia mais nada. E aí vem a grande surpresa da história: o rei, contra todas as expectativas, escolhe a segunda opção.
Queridos irmãos em Cristo, a primeira coisa para entendermos a grandiosidade e a maravilha do perdão é reconhecermos que esta é a nossa situação diante de Deus: Nós temos uma dívida com ele; uma dívida impagável; uma dívida que nem trabalhando a vida toda não conseguiríamos pagar.
Você pode viver dentro da igreja, ofertar tudo o que tem, fazer promessas, fazer jejum, subir escada de joelhos. Nada disso vai pagar nem ajudar a pagar a sua dívida. A sua dívida, como de todos nós, é impagável. A nós só resta uma saída que em nada depende de nós: que Deus seja gracioso e perdoe, esqueça a nossa dívida.
Que bom que o nosso Deus é gracioso. E, apesar de não merecermos nada além da condenação, ele perdoa as nossas dívidas. E junto com o perdão também nos dá a salvação. Ele próprio, em Cristo, pagou a nossa dívida. Quando conseguimos enxergar isso, só assim é que conseguimos entender a grandiosidade e a maravilha que é o perdão.
Quando reconhecemos que não merecemos nada de Deus e Deus, de graça, nos dá tudo o que ele pode dar – a vida eterna com ele no céu – então entendemos o que é o perdão. E na alegria desse perdão recebido, passamos a viver o perdão e perdoar os nossos devedores.
Mas olhando para a parábola, parece que as coisas nem sempre são assim. Aquele homem perdoado, ao encontrar na rua um conservo que lhe devia cem denários – o que equivale a cem dias de trabalho – o lança na cadeia por não pagar a sua dívida.
Aqui Jesus mostra muito bem o que é o ser humano ou mesmo o cristão que não entendeu o perdão. Ele quer o perdão de Deus e implora por esse perdão, mas na hora de perdoar o seu próximo, aí não. Ser perdoado é bom, perdoar já é outra história.
Na verdade, nós só podemos viver em dois caminhos: o do Evangelho, da graça, do perdão; ou da Lei, da dívida, da cobrança. E da maneira como vivemos, assim também Deus lida com a gente. Aquele que entendeu o perdão, conhece o Evangelho, vive o perdão e Deus o tratará com perdão; enquanto aquele que não entendeu o perdão, vive na Lei e Deus lidará com ele no sistema da cobrança.
Em outras palavras, a nossa vida de perdão apenas reflete o que entendemos do perdão de Deus. O mal daquele homem foi sair da presença do rei como se a sua dívida não fosse tão grande assim. Como se o rei não tivesse feito grande coisa em perdoar a sua dívida. E, por isso, não procedeu da mesma maneira com o seu conservo.
No entanto, a parábola não acaba aí. Sabendo da atitude daquele súdito, o rei manda chama-lo de novo. Como assim? Eu te perdoo uma dívida impagável e tu não perdoas uma dívida tão pequena? Já que aquele homem queria viver no sistema da cobrança, o rei tratou com ele no sistema da cobrança e a consequência é que o homem foi condenado.
E aí Jesus faz a conclusão: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada uma seu irmão”.
Muitas vezes nós é que tornamos grande a dívida do nosso próximo. Fazemos isso quando olhamos mais para a dívida dele do que para a nossa e esquecemos que a nossa dívida é infinitamente maior.
Pode até ser que essa dívida seja mesmo grande, mas nenhuma dívida chega perto daquilo que nós devemos a Deus. Por isso para perdoar pecados, primeiro precisamos reconhecer o nosso pecado.
O que Jesus ensina nesta parábola, na verdade é muito claro: Se Deus perdoa o imperdoável, o impagável, então nós não temos escolha. Nós não temos o direito de escolher entre perdoar ou não perdoar. O reflexo natural do perdão é o perdão.
Além disso, não perdoar é a pior coisa que alguém pode fazer. Não adianta nada, não resolve o problema e a pessoa ainda fica se corroendo por dentro, se maltratando por uma coisa que já foi.
Não perdoar é uma coisa tão idiota que alguém já disse o seguinte: Não perdoar é o mesmo que tomar veneno e esperar que o outro morra. Você não perdoa só para ver o outro sofrer, quando na verdade o outro não está nem aí para você e você é quem fica sofrendo à toa.
Use do perdão de Deus. Perdoe! E faça isso sempre lembrando do que Deus fez por nós. De que dívida Deus nos perdoou sem pedir nada em troca e sem guardar ressentimentos. Essa é a grande mensagem desse texto: De um Deus que perdoa multidão de pecados. E por mais que o nosso perdoar não seja perfeito, em Cristo Deus aceita o nosso perdoar. Porque em Cristo todo perdão sempre é completo.
É por essa razão que todos nós podemos orar com humildade, sinceridade e confiança: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Amém.

domingo, 7 de setembro de 2014

Mensagem 13º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 32.1-7; Ez 33.7-9; Rm 13.1-10; Mt 18.1-20 – 13º dom. após Pentecostes A 2014
O perdão divino e sua dimensão
v. 18: “Em verdade vos digo em tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus”.
Na instrução de confirmandos todos aprendemos o chamado Ofício das Chaves. Inclusive um dos textos que estudamos é este que foi destacado. Então aprendemos sobre o anúncio do perdão que acontece a cada culto e que quando o pastor anuncia a absolvição devemos crer no perdão dos pecados como se o próprio Cristo tratasse pessoalmente conosco.
Mas e no dia-a-dia, como nós vivemos o Ofício das Chaves? Para refletir sobre isso, nós vamos trabalhar sobre três questões: Reconhecemos e confiamos no perdão de Deus? A partir desse perdão, procuramos corrigir os nossos erros e pecados? Dispomo-nos também a perdoar aqueles que pecam?
Vamos começar do começo. A primeira coisa de que precisamos estar convictos é que não há nada em nós que nos faça merecer o perdão e o favor de Deus. O perdão não é uma coisa que Deus oferece como recompensa por algo que nós tenhamos feito ou vamos fazer.
O perdão nunca é algo que se barganha. Não é condicional. Não é uma troca. – Eu te perdoo, desde que você faça tal coisa (como nós costumamos fazer). Deus não faz isso. O perdão de Deus é sempre gratuito. Deus nos perdoa por nenhuma outra razão senão porque ele nos ama e quer nos salvar.
E quanto melhor entendermos a profundidade das palavras “eu, pobre e miserável pecador”, tanto melhor vamos enxergar o amor e a misericórdia de Deus quando nos estende o seu perdão. Seja através do pastor, seja através da Palavra ou de um irmão na fé.
E justamente por não depender de nós que Deus nos perdoe é que podemos crer com toda a confiança que Deus nos perdoa todo e qualquer pecado pelo qual estejamos arrependidos. O perdão é promessa de Deus. É dádiva de Deus. E o apóstolo Paulo lembra que onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus.
João também lembra que se dissermos que não temos pecado, somos mentirosos; mas se confessarmos os nossos pecados, Deus sempre estará pronto para nos perdoar. Se, de coração contrito, confessamos os nossos pecados, jamais desconfiemos do perdão de Deus.
Em segundo lugar, o perdão de Deus não é algo que nos mantém frios e indiferentes. O perdão divino é coisa que tem poder, que mexe com o nosso ser e nos move a cada vez mais procurarmos viver como filhos de Deus.
A pessoa que reconhece que não merece o perdão de Deus, mas mesmo assim confia que recebeu esse perdão pela graça de Deus, automaticamente vai procurar corrigir a sua vida pecaminosa. Vai procurar viver de acordo com a vontade de Deus como uma forma de gratidão pelo perdão recebido.
Já a pessoa que se aproveita do perdão para voltar a cometer os mesmos pecados está assinando a sua condenação. Porque isso é um desprezo à obra de Cristo. Jesus tomou sobre si todos os nossos pecados justamente para não vivermos neles. Para que não fôssemos mais escravos do pecado, mas livres para servir a Deus.
Vocês conhecem as epístolas de Pedro onde fala do cão que volta ao próprio vômito e a porca que volta ao lamaçal. Pois assim é o pecador que, tendo recebido o perdão de Deus, volta a se revolver nos seus pecados.
Não estamos aqui dizendo que cristão não peca e que se pecar já está condenado. Não é nada disso. Mas o próprio Deus luta por nós contra o pecado, de maneira que, se propositalmente, insistimos nos nossos pecados, é o mesmo que dizer: Deus, eu não quero o teu perdão. Eu quero viver do meu jeito. E nessa forma de abuso da graça de Deus, muitos rejeitam a graça e caminham para a condenação.
O apóstolo Paulo também lembra: “Aquele que está de pé, veja que não caia”. Se estamos de pé, se ainda cremos, não significa que a luta já terminou. E o diabo, como um “leão que ruge procurando alguém para devorar” está sempre na volta para nos tentar de todas as formas.
Ah, hoje eu não estou a fim de ir ao culto. É sinal de alerta. Como assim o cristão não vai ter vontade de ir à Casa de Deus? O pecado já não me dói tanto no coração, parece até que estou me acostumando com ele. É sinal de alerta. Não sinto necessidade de orar nem fome e sede da Santa Ceia. É sinal de alerta.
Precisamos estar atentos e levar a sério esses e outros sinais e não nos deixarmos vencer por aquilo que, muitas vezes, é mais cômodo. Não simplesmente viver como quer a nossa vontade, mas analisarmos se essa é ou não a vontade de Deus.
Será que Deus quer que recusemos o seu convite ao culto? Será que Deus quer que não lutemos contra os nossos pecados? Ou que não falemos com ele em oração nem recebamos o corpo e sangue de Cristo na Santa Ceia? Com certeza isso não é a vontade Deus.
Por último, nos falta lembrar que o perdão de Deus se reflete na vida do cristão não só na sua melhora de vida, na santificação como vimos agora, mas também no estender o perdão. Aquele que recebeu o perdão de Cristo, reconhecendo quão imerecido foi esse perdão, também estará disposto a perdoar o seu próximo.
Deus dá o seu perdão em tão grande medida que sobra perdão. E já que sobra, nós não guardamos, e sim damos. O cristão perdoado também perdoa. Mesmo que às vezes seja difícil. Mesmo que às vezes demore muito. Mais cedo ou mais tarde, ele vai perdoar.
E perdoar implica duas coisas: Primeiro: esquecer. Nossa mente não vai esquecer o que muitas pessoas fizeram contra nós. Mas vamos pensar assim: Ficou para trás; não importa mais. Dizem que quem vive de passado é museu. Se é assim, tem muito cristão que é museu. Fica guardando mágoas e rancor. Mas não deveria.
Em segundo lugar, perdoar implica esconder. Como assim esconder? O salmista explica: “Bem-aventurado aquele... cujo pecado é coberto”. Ou seja, não é só esquecer, deixar para trás, como também fazer de conta de não aconteceu. Ninguém precisa saber dos pecados que fulano de tal cometeu.
Jesus diz que se alguém pecar, vai e fala com ele, não com os outros. Se não adiantar, então chama uma ou duas pessoas, no máximo três, mas não para oprimir a pessoa e sim para ver se assim ela se arrepende. Se não se arrepender, então diga a mais alguns. Mas, ainda assim, não com a intenção de espalhar o pecado, mas para que a igreja vá ao encontro do pecador procurando que ele se arrependa. E, caso se arrepender, assunto encerrado.
Contudo, precisamos sempre viver o perdão firmados na base, que é o que Deus fez e faz por nós. Antes mesmo de que pudéssemos confiar no perdão de Deus, esse perdão já existia e já era oferecido a nós. Nossa melhora de vida não é algo que parte de nós, mas Deus age em nós pelo seu Espírito Santo e nos faz viver como filhos de Deus. E se podemos perdoar o nosso próximo, é porque Deus já nos perdoou.
E nisso tudo, Deus mostra o seu amor e a sua misericórdia. Ele não deseja a condenação de ninguém e por isso estende a todos o seu perdão. Deus também santifica nossa vida. Não como se ele precisasse das nossas obras, mas para que nós, em uma vida cristã dedicada, não nos desviemos do caminho da salvação.
E, por fim, ele nos leva a perdoar para que, através de nós, as pessoas venham a conhecer o perdão divino. E já não vivam mais nos seus pecados, mas sejam convertidos pela Palavra de Deus e também vivam no caminho que leva ao céu.
O culto, sem dúvida, é um momento todo especial em que recebemos a absolvição do próprio Cristo por meio dos seus representantes. Mas o Ofício das Chaves se vive todos os dias na luta contra o pecado, no perdoar o nosso próximo, e sempre firmados no mais importante: Que Deus, por sua graça e só por ela, já perdoou todos os nossos pecados e nos deu vida e salvação. Pois como já disse Lutero (também no catecismo), onde há remissão dos pecados, há também vida e salvação. Amém.