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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Mensagem Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 139.1-16; Ez 37.1-14; At 2.1-21; Jo 15.26-27;16.4b-15 – Pentecostes B 2015
O Espírito Santo convence da verdade
v. 8: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”.
Vivemos em um mundo relativista. Tudo é relativo, inclusive a verdade. O que você entende por verdade pode ser bem diferente do que eu entendo, mas mesmo assim a gente pode conviver numa boa. Ou, quem sabe, podemos até misturar as nossas verdades e chegar a um consenso, afinal, tudo é relativo, tudo é duvidoso, ninguém pode ter certeza daquilo que crê.
Por isso chama a atenção no texto do evangelho de hoje que Jesus chama o Espírito Santo de Espírito da verdade. E já que ele é o Espírito da verdade, ele viria (e vem) para anunciar a verdade. Só que não é uma verdade, é a verdade.
No versículo lido há pouco, Jesus diz assim: “Quando ele vier, convencerá o mundo...”. Quando é que você precisa convencer alguém de alguma coisa? Normalmente quando a pessoa tem uma ideia errada sobre aquilo. E esse é o sentido aqui. O Espírito Santo vem para mostrar que o mundo tem uma ideia errada sobre as coisas de Deus.
E o erro consiste basicamente em três conceitos: No conceito de pecado, justiça e juízo. E esses são conceitos básicos para a fé cristã. Se não tivermos clareza sobre essas coisas provavelmente estaremos caminhando em uma direção que não é nada segura. Então vamos lá!
Em primeiro lugar, o Espírito da verdade nos convence do pecado. As pessoas são muito criativas e conseguem criar inúmeros conceitos sobre o que é pecado. Seja como for, o conceito mais geral é aquele que se refere às nossas atitudes. A grande maioria das pessoas entende que sempre que alguém quebra uma lei de Deus ela está cometendo pecado.
Então, pecadores são aqueles que cometem pecados. O assassino, o infiel, o ladrão, o mentiroso. Esses são pecadores. Os outros têm lá seus pecadinhos, mas esses nem contam. O importante é que todo mundo tem condições de escolher se quer ser uma pessoa boa ou uma pessoa má. E quando Deus vier para o acerto de contas, é claro que ele vai levar em conta o número de pecados e o número de boas ações. Certo? Tudo errado.
Quebrar os mandamentos de Deus é pecado e todo aquele que se diz cristão deveria fazer de tudo para guardar esses mandamentos. Infelizmente, o que a gente vê é que muita gente nem mesmo conhece os mandamentos. Mesmo assim essa é uma visão muito superficial do pecado. Pecado não é só aquilo que nós fazemos, pecado é o que nós somos.
Quando o pecado entrou no mundo, ele passou a fazer parte da natureza humana. Todo ser humano, sem exceção, é completamente pecador porque o pecado faz parte dele. Nossa natureza é totalmente corrupta. Não existe nada de bom dentro de nós. É só maldade, pecado e ódio a Deus e ao próximo.
E por causa disso, tudo o que nós fazemos é pecado. Não só as coisas ruins e maldosas, mas também as nossas boas obras. Por melhor que seja a aparência das coisas que fazemos, elas estão contaminadas de pecado. Pense, por exemplo, num daqueles pratos de encher os olhos, e se eu disser que esse prato está envenenado. O veneno não aparece, a aparência é boa, mas não serve para nada.
Esse é o conceito de pecado que levou o grande teólogo Martinho Lutero a dizer que não passava de um saco de vermes. Esse é o conceito que levou o grande apóstolo Paulo a se considerar o pior dos pecadores. E essa é a nossa realidade, uma realidade que nós não conseguimos perceber por nós mesmos, dependemos da ação do Espírito Santo.
E é importante notar também que Jesus aqui relaciona o pecado com o fato das pessoas não crerem nele. Em última análise o grande pecado é a incredulidade. A fé em Jesus é o fator decisivo na nossa relação com Deus. Se não cremos, não importa o quanto nos esforcemos, não vamos ser aceitos por Deus. Mas se cremos, também não importa o quanto nos esforcemos porque continuamos a ser o mesmo saco de vermes de sempre. Só que com uma grande diferença: Agora Deus gosta deste saco de vermes.
E isso nos leva ao que vem em segundo lugar: o Espírito da verdade nos convence da justiça. Aqui a pergunta é: o que é justo quando o assunto é salvação? Será que é justo que alguém que viveu uma vida toda em pecado e só chegou à fé no final da vida seja salvo? Bem, se você pensa que alguns anos de vida piedosa não podem compensar uma vida inteira de maldades, então você também precisa dizer que Jesus cometeu uma grande injustiça quando salvou o malfeitor que estava ao seu lado na cruz.
O que acontece é que o nosso conceito de justiça funciona na forma de retribuição. Nunca é justo ganhar alguma coisa de graça, a não ser que seja um presente. Caso contrário, se você quer alguma coisa precisa fazer por merecer. Não é de se espantar que quando se trata de salvação, a pergunta é sempre igual à do jovem rico que foi falar com Jesus: Mestre, o que eu preciso fazer para ser salvo?
E é aí que o Espírito Santo entra em cena para nos convencer de que o nosso conceito de justiça está errado porque a justiça de Deus é bem diferente. Quando Deus encontra o ser humano caído em pecado, ele não passa a mão na nossa cabeça e diz “não tem problema”. Tem problema sim! E um problema grave. Tão grave que alguém vai ter que pagar por isso.
Só que a loucura da decisão de Deus é que ele escolhe a si mesmo para pagar pelo nosso pecado. Por amor a nós, Deus abre mão do que tem de mais precioso e envia o seu Filho unigênito para sofrer e morrer o sofrimento e a morte que nós merecemos para o perdão dos nossos pecados. E a todos os que creem nisso de todo o coração, Deus concede o seu perdão, aceita como seus filhos e dá de presente a salvação.
Cristo é a nossa justiça diante de Deus de modo que não há pecado mais grave do que negar a graça de Deus em Cristo. E fazemos isso quando não confiamos que a Paixão e morte de Jesus por nós já pagou toda a nossa dívida e queremos realizar ou inventar coisas que nós podemos fazer para merecer a vida eterna. Ou, pelo menos, para ajudar na nossa salvação como se o que Jesus fez não fosse o suficiente.
Somos completamente dependentes da ação do Espírito Santo para podermos crer em uma coisa assim que, do ponto de vista humano, não faz nenhum sentido. Não é à toa que frequentemente você encontra pessoas que cresceram dentro da igreja, estudaram as doutrinas bíblicas, dizem crer em Jesus, mas quando a gente pergunta “por que você tem certeza da salvação?” a resposta normalmente é: porque eu não faço mal para ninguém, porque eu procuro ser uma pessoa boa e por aí vai. Realmente, sem o Espírito Santo, nunca poderíamos entender as coisas de Deus.
E em terceiro lugar, o Espírito da verdade nos convence do juízo. Quando a gente ouve esta palavra, imediatamente a gente pensa no juízo final. Mas aqui Jesus está falando de um juízo que já aconteceu. Ele diz: “porque o príncipe deste mundo já está julgado”. E é claro que Jesus está do diabo.
Quando Jesus ressuscita dos mortos, ele acaba de uma vez por todas com o poder do diabo. O diabo não tem mais poder sobre aqueles que creem em Jesus. E se o diabo não tem mais poder sobre nós, então o pecado também não tem e aqui se cumpre o que o apóstolo Paulo escreve aos romanos que não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.
E agora, livres desses poderes somos livres para servir ao nosso salvador Jesus Cristo com alegria e gratidão em nosso coração. – Mas espera aí pastor, você acabou de dizer que eu preciso fazer nada! Sim, eu disse que você não precisa fazer nada, não que você não vai fazer nada.
Para a nossa salvação, o que precisava ser feito Jesus já fez. E ele fez tudo de forma tão perfeita que a nós basta simplesmente crer no perdão que ele conquistou por nós. Mas o fato de que um dia nós seremos julgados, o fato de Deus ter nos ensinado a sua vontade na Bíblia, o fato de que Deus tem propósitos para nós cristãos, tudo isso mostra que a fé em Jesus não pode ficar ociosa. Além do mais, quão ingratos e egoístas nós seríamos se não quiséssemos servir àquele que morreu por nós e nos deu gratuitamente a salvação. De modo que onde habita o Espírito Santo, ali a fé não fica de braços cruzados.
Vivemos num mundo relativista onde a verdade é constantemente questionada. O que fazer? O caminho parece ser este: Nas coisas deste mundo, nas opiniões sobre política, futebol, administração se o outro quiser pensar diferente não tem problema. Nós mesmos podemos estar constantemente aprendendo uns com os outros ou misturando as “verdades”. Mas quando se trata da nossa salvação só existe uma verdade que é aquela revelada pelo Espírito Santo ao nosso coração que Jesus é o único e suficiente salvador. Desta verdade nós podemos ter certeza. Que o Espírito Santo nos mantenha nesta verdade. Amém.
Oração:

Onipotente Deus, Pai misericordioso, que criaste a tudo e a todos de forma tão maravilhosa. O teu povo canta louvores a ti. Louvores que brotam de corações agradecidos pela salvação que vem de ti. Enviaste teu Filho ao mundo para fazer o que nós não poderíamos fazer. Nele, trouxeste salvação a todos os que creem no perdão dos pecados. Envia teu santo Espírito sobre a tua Igreja na terra para que cada cristão alcance o pleno conhecimento do teu amor e misericórdia e sinta desejo e alegria de servir ao salvador Jesus Cristo em casa, na igreja e na sociedade. Que cada um, conforme a sua vocação e dons graciosamente recebidos, possa se colocar ao dispor daquele que por todos nós morreu e ressuscitou. Assim, que o teu nome seja honrado, engrandecido e proclamado sob a reta orientação do Espírito da verdade. Em nome daquele que é a nossa justiça diante de ti, Jesus Cristo, nosso amado salvador. Amém.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mensagem Ascensão do Senhor 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 47; At 1.1-11; Ef 1.15-23; Lc 24.44-53 – Ascensão do Senhor 2015
O grande Rei ascende aos céus
v. 51: “Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu”.
Depois de um ano letivo, seja na escola ou na faculdade, nada como um período de férias. Ainda mais em nível superior porque, para muitos, é um período onde se trabalha de dia, vai à faculdade à noite e estuda de madrugada. Mas não há dúvidas de que vale a pena. E para quem se esforça as férias vem como um merecido descanso.
Os alunos de Jesus parecem estar entrando de férias depois de três anos consecutivos de aulas teóricas e práticas com o seu grande mestre. Mas agora Jesus está se despedindo deles. Mesmo assim, será que isso significa férias?
Na última quinta-feira, dez dias antes do Pentecostes, foi o dia da Ascensão e é isso que nós estamos comemorando hoje. É uma pena, mas a Ascensão é uma daquelas festas que várias vezes passa despercebida pelos cristãos.
Isso, talvez, em grande parte porque não se entende exatamente qual é o significado da Ascensão. E é por isso que você ouve falar em despedida, como se esse fosse o único significado; outros simplesmente fazem de conta que a ascensão de Jesus não tem importância e já pulam direto para o Pentecostes, dizendo que Ascensão já é o envio para anunciar o Evangelho.
É verdade que não podemos tirar a Ascensão do seu contexto que são os cinquenta dias entre a Páscoa e o Pentecostes. Existe um relação muito importante entre os três: Na Páscoa Jesus mostrou a sua vitória sobre a morte; a subida de Jesus aos céus reforça mais uma vez o fato de que a sua obra em favor da humanidade foi totalmente completada; e a descida do Espírito Santo era decisiva para que a mensagem da Páscoa, da Ascensão, enfim, que toda a mensagem do Evangelho fosse anunciada.
Isso nos dá uma visão mais geral da Ascensão e agora podemos observá-la mais de perto. Quando Jesus é elevado aos céus bem diante dos discípulos é porque ele tinha concluído totalmente a sua tarefa aqui no mundo. Lembremos que esses quarenta dias em que Jesus ficou no mundo depois da sua ressurreição também tinham um propósito e esse propósito era aparecer a muitas pessoas que seriam testemunhas da sua ressurreição.
Tendo feito isso, Jesus ascende aos céus. O que Jesus faz não é nada mais do que voltar ao seu lugar de direito. Ele veio de lá ao mundo com um propósito, e esse propósito agora estava cumprido.
O que Jesus faz aqui é aquilo que nós professamos todos os domingos que ele subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. Jesus volta a fazer o uso completo do seu poder. Ele subiu de volta aos céus para de lá reinar, governar e dominar sobre tudo e sobre todos – e notem bem: não só sobre os cristãos.
Como lemos hoje no texto de Efésios, ele está acima de todos os domínios e poderes. E não há nada que aconteça neste mundo sem a providência ou a permissão de Jesus. Lembrando um versículo bíblico: Nem um só fio de cabelo cai da nossa cabeça se não for da vontade de Deus.
E é exatamente aí que começam os problemas. Porque o nosso grande mal, o nosso pior pecado é quando não confiamos na providência e no cuidado de Deus. Mesmo sabendo que ele é o Deus Todo-poderoso, Criador dos céus e da terra, ainda assim queremos nós ter nas mãos as rédeas da nossa vida.
Queremos decidir, providenciar, suprir, guardar, crescer como se tudo dependesse da nossa dedicação e do nosso trabalho. Vivemos ansiosos, agitados de um lado para o outro, sempre preocupados com o dia de amanhã e esse dia pode nem chegar.
E aí você vê um monte de gente que, enquanto houver força e dinheiro, vive com toda a confiança, inclusive brincando de ser o autor da própria vida. Mas quando isso vai embora, quando o dinheiro acaba e a saúde se esvai, o medo e o desespero tomam conta.
Planejar, administrar e até mesmo ter um certo nível de preocupação com a vida demonstra responsabilidade. E isso é importante. Mas também é importante estar ciente do que diz o livro de Provérbios: o homem até pode fazer os seus planos, mas Deus é quem dá a última palavra.
E a última palavra de Deus sempre é a melhor. Porque Deus não só tem todo o poder como também conhece todas as coisas. Ele sabe do que nós precisamos. E a fé verdadeira é quando confiamos que, em Jesus, Deus está continuamente lutando pelo nosso bem e pela nossa salvação mesmo quando tudo aquilo que nós vemos ou enfrentamos diz o contrário.
É a única fé que traz conforto àquele que sofre. A única certeza que nos faz seguir em frente com alegria e confiança porque sabemos que o Rei do mundo está a nosso favor. Aquele por meio de quem todas as coisas foram feitas é o nosso pastor, advogado, salvador e rei.
Será que pode ter coisa melhor do que ser súdito deste rei? Ter um rei significa estar sob a proteção de alguém. E nessa vida de tantos inimigos que nos trazem a dúvida e o sofrimento, nós temos que saber que tem alguém que nos defende, que nos protege. Sim, Jesus subiu aos céus para mostrar que tudo isso é verdade, mas a sua promessa continua válida: Eis que estarei convosco todos os dias.
A questão que fica é: Por que ainda temos que enfrentar as dificuldades desta vida se Jesus já fez tudo pela nossa salvação e nós cremos nisso? Porque nós somos suas testemunhas. E estamos aí para anunciar e viver o Evangelho.
Nós podemos lembrar aqui o tão conhecido episódio da transfiguração de Jesus em que Jesus manifesta a sua glória e Pedro, sentindo aquele gostinho do céu, já queria armar tendas e ficar por lá mesmo. Mas o que Jesus disse? Não. E por que não? Porque ainda há muito trabalho a ser feito.
Jesus veio ao mundo por nós pecadores e só subiu aos céus quando estava com a missão cumprida. Assim também nós subiremos aos céus para estar com Jesus, mas só partiremos quando nossa missão estiver cumprida. Alguns vão antes, outros depois, mas o importante é que, se aqui seguimos o caminho da fé, depois vamos estar no reino de Jesus.
Então, será que os discípulos entraram em férias na ascensão de Jesus? Talvez uns dez dias, não mais do que isso. Porque quando o Espírito Santo vem habitar em nós, nem a gente faz questão de muita folga no reino de Deus. Mas isso já é assunto para o domingo que vem.
O que precisamos lembrar é que a Ascensão é uma festa tão importante quanto a Páscoa e o Pentecostes. É a despedida de Jesus? Ele subiu para preparar um lugar para nós? Tudo isso é bíblico e é verdade. Mas a grande mensagem é de que Jesus, o Deus Todo-poderoso, é Rei sobre todas as coisas. E, de forma especial, ele é o nosso Rei a quem nós servimos e onde nos refugiamos diante dos inimigos.
A Ascensão não pode passar despercebida por nós cristãos. Porque é quando lembramos da grandiosidade, da majestade e da soberania do nosso Senhor e salvador Jesus Cristo que, assim como foi assunto ao céu, virá a julgar os vivos e os mortos, cujo reino não terá fim. Amém.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mensagem 6º domingo de Páscoa B 2015




Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína

Pr. Edenilson Gass

Sl 98; At 10.34-48; 1Jo 5.1-8; Jo 15.9-17 – 6º domingo de Páscoa B 2015

O amor de Cristo na vida em comunhão

v. 12: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”.
Quando o Seminário Concórdia completou cem anos em 2003, no culto festivo, o professor Vilson Scholz disse o seguinte: De todas as aulas ministradas no Seminário Concórdia, há um assunto que não é trabalhado em nenhuma disciplina de forma específica, mas que, ao mesmo tempo, é trabalhado em todas as aulas todos os dias. E este assunto é o amor de Cristo.
No texto do evangelho deste dia, o próprio salvador Jesus Cristo é quem fala do amor. E o que ele diz é basicamente isto: Eu escolhi vocês, eu amei vocês. Portanto, se vocês são meus discípulos, devem fazer o que eu mando. E o que eu mando é que vocês amem uns aos outros.
Para que a gente possa entender isso direito, é necessário que a gente olhe com atenção para o nosso texto que traz alguns detalhes importantes. E também precisamos definir bem o que é o amor.
Vamos começar por aqui mesmo. O que é o amor? Muitas pessoas têm uma visão muito restrita do amor como aquele sentimento que existe entre marido e mulher. Duas pessoas que se apaixonaram e por causa do amor que foi surgindo, decidiram se unir em casamento.
Mas se esse fosse o único jeito de amar, então Jesus não poderia estar pedindo o que ele está pedindo. O que acontece é que o amor que deve existir entre os cristãos não é amor que leva necessariamente ao casamento, mas aquele amor que os apóstolos chamaram de “amor fraternal”.
É o amor que nos leva a enxergar as outras pessoas que participam da igreja não como estranhos, nem mesmo como conhecidos, mas como irmãos, membros da nossa própria família, unidos a nós pela fé e o amor de Cristo. Pessoas que são responsáveis por nós e por quem nós somos responsáveis.
Depois nós vamos voltar a esta questão para ver quais são as consequências práticas deste amor. O que acontece quando o amor de Cristo se encontra no nosso coração. Mas no momento é importante que a gente reflita sobre algumas coisas que a gente pode perceber no texto.
Em primeiro lugar, Jesus não está dizendo isso abertamente para todos; ele está falando com os discípulos. Ou seja, quando nós olhamos o mundo ao nosso redor, e vemos tanta violência, desonestidade, mentiras, abusos e tantas outras coisas desse tipo, não é nada mais do que o reflexo do pecado original que faz parte de todos nós.
Não é de se esperar que aquele que não crê em Cristo tenha amor pelo seu próximo e busque o bem dele. Quando isso acontece é porque Deus mesmo luta contra todas as forças relutantes ao bem – que é o nosso pecado – e, assim, evita que o ser humano crie um caos mundial.
Mas quando se trata de cristãos, a coisa precisa ser diferente. O cristão é movido pelos mandamentos de Deus e o desejo de Deus para a prática e a busca do bem. E isso só pode acontecer quando existe o amor de Cristo no coração.
O amor de Cristo, que o levou a abandonar a sua glória e vir ao mundo para ser condenado à morte como o pior dos pecadores para a nossa salvação, é este amor que agora habita em nosso coração e nos permite olhar para as pessoas à nossa volta como criaturas de Deus e filhos de Deus e, por isso, desejar a elas todo o bem e fazer o que estiver ao nosso alcance para que elas também conheçam o amor de Cristo e também sejam salvas.
Percebemos, assim, que amor cristão e o discipulado são mutuamente dependentes. Em outras palavras, a vida cristã de dedicação a Deus, à igreja, à família e ao semelhante só existe porque Deus nos escolheu em Cristo para vivermos uma vida cristã. E o combustível dessa dedicação é o amor de Cristo.
Podemos dizer tranquilamente que é uma relação de causa e efeito. A causa é que Cristo derramou o seu amor em nosso coração e o efeito ou a consequência disso é que agora nós também podemos e até devemos amar o nosso próximo, independente de quem ele seja.
Quem parece que entendeu bem essa relação foi o Dr. Leon Morris e eu gostaria de citar duas frases do seu livro Teologia do Novo Testamento. Assim ele diz: “O que é maravilhoso no amor de Deus é que ele é derramado sobre quem não tem méritos e não o merece. E é um amor que custou caro”. O que o Dr. Morris quer deixar bem claro é que não devemos olhar para o amor de Deus pela humanidade como um amor que é condicional como o nosso é.
Nós, seres humanos, pecadores, até podemos ter amor pelo nosso cônjuge, pelos nossos filhos e até alguns amigos. Mas o nosso jeito é de amar é sempre condicional. Nós amamos pessoas específicas ou que nós escolhemos ou que nos trazem algum benefício.
O amor de Deus é completamente incondicional. Como escreveu o apóstolo Paulo, Deus nos amou quando ainda éramos pecadores, ou seja, quando estávamos afundados até à cabeça na lama do nosso pecado. Completamente sujos e imundos sem uma única coisa boa que apresentar diante dele.
E um amor tão grande e sem igual como esse, quando entendido não só pela mente, mas também pelo coração, muda radicalmente o nosso ser. E de pecadores que não podiam amar, agora somos pecadores que não só querem amar, mas buscam junto a Deus que o amor faça parte de toda a nossa vida.
Por isso, um pouco mais adiante, o Dr. Morris diz assim: “Se realmente amamos a Cristo, desejaremos fazer as coisas que lhe agradam, enquanto, se regularmente descartamos suas instruções, a autenticidade do nosso amor é colocada em dúvida”.
A questão é que o amor de Cristo sempre anda acompanhado de ações. Como Jesus está ordenando a nós, como seus discípulos, que nos amemos uns aos outros, então podemos dizer que é esse amor que faz com que seja tão bom quando a gente pode se reunir aqui na igreja e nos faça vir para cá. É esse amor que nos leva a orar pelos irmãos da nossa congregação, paróquia, distrito e mesmo em nível nacional. É esse amor que nos motiva a servir na igreja de uma ou de outra forma, conforme as suas necessidades e as capacidades que Deus dá a cada um.
Hoje mesmo, até podemos lembrar de um amor que pode nos servir de grande exemplo para a nossa vida cristã: o amor de mãe. Desculpem vocês que são pais, mas nós homens nunca vamos entender o que é o amor de mãe. O próprio Deus que se apresenta como Pai em toda a Escritura, quando no livro de Isaías ele diz que vai cuidar do seu povo, ele diz: Assim como uma mãe consola o seu filho, eu vos consolarei.
É amor que se doa completamente. Amor que subsiste por si mesmo. Até porque, pensando de forma lógica, filhos só são para dar gastos e dor de cabeça. Mas nada disso importa porque o amor é maior do que qualquer uma dessas coisas. O quanto uma mãe puder fazer pelo seu filho, ela vai fazer. Imaginem, então, o quanto Deus nos ama e o quanto de amor ele quer derramar no nosso coração para que possamos verdadeiramente amar uns aos outros.
Assim como é no Seminário, na nossa vida cristã também. O amor de Cristo não é uma coisa que a gente aprende e coloca em prática em momentos específicos, mas todos os dias em todos os momentos, buscando servir a Deus servindo ao nosso próximo, seja em casa, na sociedade ou na igreja.
E sempre lembrando que tudo isso só tem valor porque brota do amor de Cristo que foi derramado em nosso coração. E é por isso que Jesus pode dizer: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Amém.

Oração:
Amado Pai, que movido por teu infinito amor providenciaste em Cristo a salvação da humanidade. Nossos corações irrompem em júbilo e alegria porque nos elegeste para viver o teu amor em nossa vida. Que o cálice do amor transborde entre os cristãos em atitudes de companheirismo, preocupação, auxílio mútuo e orações. Preenche diariamente o nosso ser com o amor de Cristo para que possamos amar não só de língua e de palavra, mas de fato e de verdade. Seja este amor o combustível para uma vida cristã de constante dedicação ao ti no amor àqueles que Tu colocas ao nosso redor. Agradecemos-te e louvamos-te por todas as mães cristãs que tanto se esmeraram e se esmeram em ensinar aos filhos o amor de Cristo em suas palavras e ações. | Também lembramos com carinho aquelas mães que já não se encontram mais entre nós. Aqui lembramos de forma especial a família do pastor Paulo Frederico Flor, cuja querida esposa fora levada esta semana para estar contigo na glória. Conforta o pastor Paulo, também como os filhos enlutados e demais familiares e amigos. Vivamos nós também com fé, amor e santificação, preparando-nos para o nosso encontro contigo quando e onde desfrutaremos a plenitude do teu amor. Em nome e por amor do nosso Senhor e salvador Jesus Cristo. Amém.