Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 139.1-16; Ez 37.1-14; At 2.1-21; Jo 15.26-27;16.4b-15 – Pentecostes B 2015
O Espírito Santo convence da
verdade
v. 8: “Quando ele
vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”.
Vivemos em um mundo
relativista. Tudo é relativo, inclusive a verdade. O que você entende por
verdade pode ser bem diferente do que eu entendo, mas mesmo assim a gente pode
conviver numa boa. Ou, quem sabe, podemos até misturar as nossas verdades e
chegar a um consenso, afinal, tudo é relativo, tudo é duvidoso, ninguém pode
ter certeza daquilo que crê.
Por isso chama a
atenção no texto do evangelho de hoje que Jesus chama o Espírito Santo de
Espírito da verdade. E já que ele é o Espírito da verdade, ele viria (e vem)
para anunciar a verdade. Só que não é uma verdade, é a verdade.
No versículo lido há
pouco, Jesus diz assim: “Quando ele vier, convencerá o mundo...”. Quando é que
você precisa convencer alguém de alguma coisa? Normalmente quando a pessoa tem
uma ideia errada sobre aquilo. E esse é o sentido aqui. O Espírito Santo vem
para mostrar que o mundo tem uma ideia errada sobre as coisas de Deus.
E o erro consiste
basicamente em três conceitos: No conceito de pecado, justiça e juízo. E esses
são conceitos básicos para a fé cristã. Se não tivermos clareza sobre essas
coisas provavelmente estaremos caminhando em uma direção que não é nada segura.
Então vamos lá!
Em primeiro lugar, o
Espírito da verdade nos convence do pecado. As pessoas são muito criativas
e conseguem criar inúmeros conceitos sobre o que é pecado. Seja como for, o
conceito mais geral é aquele que se refere às nossas atitudes. A grande maioria
das pessoas entende que sempre que alguém quebra uma lei de Deus ela está
cometendo pecado.
Então, pecadores são
aqueles que cometem pecados. O assassino, o infiel, o ladrão, o mentiroso. Esses
são pecadores. Os outros têm lá seus pecadinhos, mas esses nem contam. O
importante é que todo mundo tem condições de escolher se quer ser uma pessoa
boa ou uma pessoa má. E quando Deus vier para o acerto de contas, é claro que
ele vai levar em conta o número de pecados e o número de boas ações. Certo?
Tudo errado.
Quebrar os mandamentos
de Deus é pecado e todo aquele que se diz cristão deveria fazer de tudo para
guardar esses mandamentos. Infelizmente, o que a gente vê é que muita gente nem
mesmo conhece os mandamentos. Mesmo assim essa é uma visão muito superficial do
pecado. Pecado não é só aquilo que nós fazemos, pecado é o que nós somos.
Quando o pecado entrou
no mundo, ele passou a fazer parte da natureza humana. Todo ser humano, sem
exceção, é completamente pecador porque o pecado faz parte dele. Nossa natureza
é totalmente corrupta. Não existe nada de bom dentro de nós. É só maldade,
pecado e ódio a Deus e ao próximo.
E por causa disso,
tudo o que nós fazemos é pecado. Não só as coisas ruins e maldosas, mas também
as nossas boas obras. Por melhor que seja a aparência das coisas que fazemos,
elas estão contaminadas de pecado. Pense, por exemplo, num daqueles pratos de
encher os olhos, e se eu disser que esse prato está envenenado. O veneno não
aparece, a aparência é boa, mas não serve para nada.
Esse é o conceito de
pecado que levou o grande teólogo Martinho Lutero a dizer que não passava de um
saco de vermes. Esse é o conceito que levou o grande apóstolo Paulo a se considerar
o pior dos pecadores. E essa é a nossa realidade, uma realidade que nós não
conseguimos perceber por nós mesmos, dependemos da ação do Espírito Santo.
E é importante notar
também que Jesus aqui relaciona o pecado com o fato das pessoas não crerem
nele. Em última análise o grande pecado é a incredulidade. A fé em Jesus é o
fator decisivo na nossa relação com Deus. Se não cremos, não importa o quanto
nos esforcemos, não vamos ser aceitos por Deus. Mas se cremos, também não
importa o quanto nos esforcemos porque continuamos a ser o mesmo saco de vermes
de sempre. Só que com uma grande diferença: Agora Deus gosta deste saco de
vermes.
E isso nos leva ao que
vem em segundo lugar: o Espírito da verdade nos convence da justiça. Aqui
a pergunta é: o que é justo quando o assunto é salvação? Será que é justo que
alguém que viveu uma vida toda em pecado e só chegou à fé no final da vida seja
salvo? Bem, se você pensa que alguns anos de vida piedosa não podem compensar
uma vida inteira de maldades, então você também precisa dizer que Jesus cometeu
uma grande injustiça quando salvou o malfeitor que estava ao seu lado na cruz.
O que acontece é que o
nosso conceito de justiça funciona na forma de retribuição. Nunca é justo
ganhar alguma coisa de graça, a não ser que seja um presente. Caso contrário,
se você quer alguma coisa precisa fazer por merecer. Não é de se espantar que
quando se trata de salvação, a pergunta é sempre igual à do jovem rico que foi
falar com Jesus: Mestre, o que eu preciso fazer para ser salvo?
E é aí que o Espírito
Santo entra em cena para nos convencer de que o nosso conceito de justiça está
errado porque a justiça de Deus é bem diferente. Quando Deus encontra o ser
humano caído em pecado, ele não passa a mão na nossa cabeça e diz “não tem
problema”. Tem problema sim! E um problema grave. Tão grave que alguém vai ter
que pagar por isso.
Só que a loucura da
decisão de Deus é que ele escolhe a si mesmo para pagar pelo nosso pecado. Por
amor a nós, Deus abre mão do que tem de mais precioso e envia o seu Filho
unigênito para sofrer e morrer o sofrimento e a morte que nós merecemos para o
perdão dos nossos pecados. E a todos os que creem nisso de todo o coração, Deus
concede o seu perdão, aceita como seus filhos e dá de presente a salvação.
Cristo é a nossa
justiça diante de Deus de modo que não há pecado mais grave do que negar a
graça de Deus em Cristo. E fazemos isso quando não confiamos que a Paixão e
morte de Jesus por nós já pagou toda a nossa dívida e queremos realizar ou
inventar coisas que nós podemos fazer para merecer a vida eterna. Ou, pelo
menos, para ajudar na nossa salvação como se o que Jesus fez não fosse o
suficiente.
Somos completamente
dependentes da ação do Espírito Santo para podermos crer em uma coisa assim
que, do ponto de vista humano, não faz nenhum sentido. Não é à toa que
frequentemente você encontra pessoas que cresceram dentro da igreja, estudaram
as doutrinas bíblicas, dizem crer em Jesus, mas quando a gente pergunta “por
que você tem certeza da salvação?” a resposta normalmente é: porque eu não faço
mal para ninguém, porque eu procuro ser uma pessoa boa e por aí vai. Realmente,
sem o Espírito Santo, nunca poderíamos entender as coisas de Deus.
E em terceiro lugar, o
Espírito da verdade nos convence do juízo. Quando a gente ouve esta
palavra, imediatamente a gente pensa no juízo final. Mas aqui Jesus está
falando de um juízo que já aconteceu. Ele diz: “porque o príncipe deste mundo
já está julgado”. E é claro que Jesus está do diabo.
Quando Jesus
ressuscita dos mortos, ele acaba de uma vez por todas com o poder do diabo. O
diabo não tem mais poder sobre aqueles que creem em Jesus. E se o diabo não tem
mais poder sobre nós, então o pecado também não tem e aqui se cumpre o que o
apóstolo Paulo escreve aos romanos que não há mais condenação para aqueles que
estão em Cristo Jesus.
E agora, livres desses
poderes somos livres para servir ao nosso salvador Jesus Cristo com alegria e
gratidão em nosso coração. – Mas espera aí pastor, você acabou de dizer que eu
preciso fazer nada! Sim, eu disse que você não precisa fazer nada, não que você
não vai fazer nada.
Para a nossa salvação,
o que precisava ser feito Jesus já fez. E ele fez tudo de forma tão perfeita
que a nós basta simplesmente crer no perdão que ele conquistou por nós. Mas o
fato de que um dia nós seremos julgados, o fato de Deus ter nos ensinado a sua
vontade na Bíblia, o fato de que Deus tem propósitos para nós cristãos, tudo
isso mostra que a fé em Jesus não pode ficar ociosa. Além do mais, quão
ingratos e egoístas nós seríamos se não quiséssemos servir àquele que morreu
por nós e nos deu gratuitamente a salvação. De modo que onde habita o Espírito
Santo, ali a fé não fica de braços cruzados.
Vivemos num mundo relativista
onde a verdade é constantemente questionada. O que fazer? O caminho parece ser
este: Nas coisas deste mundo, nas opiniões sobre política, futebol,
administração se o outro quiser pensar diferente não tem problema. Nós mesmos
podemos estar constantemente aprendendo uns com os outros ou misturando as “verdades”.
Mas quando se trata da nossa salvação só existe uma verdade que é aquela
revelada pelo Espírito Santo ao nosso coração que Jesus é o único e suficiente
salvador. Desta verdade nós podemos ter certeza. Que o Espírito Santo nos
mantenha nesta verdade. Amém.
Oração:
Onipotente
Deus, Pai misericordioso, que criaste a tudo e a todos de forma tão
maravilhosa. O teu povo canta louvores a ti. Louvores que brotam de corações
agradecidos pela salvação que vem de ti. Enviaste teu Filho ao mundo para fazer
o que nós não poderíamos fazer. Nele, trouxeste salvação a todos os que creem
no perdão dos pecados. Envia teu santo Espírito sobre a tua Igreja na terra
para que cada cristão alcance o pleno conhecimento do teu amor e misericórdia e
sinta desejo e alegria de servir ao salvador Jesus Cristo em casa, na igreja e
na sociedade. Que cada um, conforme a sua vocação e dons graciosamente
recebidos, possa se colocar ao dispor daquele que por todos nós morreu e
ressuscitou. Assim, que o teu nome seja honrado, engrandecido e proclamado sob
a reta orientação do Espírito da verdade. Em
nome daquele que é a nossa justiça diante de ti, Jesus Cristo, nosso amado
salvador. Amém.