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sexta-feira, 20 de março de 2015

Mensagem 4º dom. na Quaresma B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 107.1-9; Nm 21.4-9; Ef 2.1-10; Jo 3.14-21 – 4º dom. na Quaresma B 2015
Salvos pelo amor de Deus
v. 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Se nós fôssemos definir o período da Quaresma em uma palavra mais típica da culinária, essa palavra com certeza seria agridoce. Porque ao mesmo tempo em que ela carrega o teor azedo da Paixão e morte de Jesus, também traz a mensagem do mais doce evangelho de que toda essa obra de Jesus visava a nossa salvação.
São essas as duas mensagens que aparecem nos textos para este 4º domingo na Quaresma, especialmente no evangelho e, sem dúvida, a segunda é a que ganha maior destaque. E para entendermos mais facilmente o que Jesus está dizendo, nós vamos mudar um pouco a ordem do texto, começando pelo fim, depois voltando ao começo e terminando no meio.
Mais ao final do texto, ali nos versículos 19, 20 e 21, Jesus fala da luz. Que Deus enviou a sua luz ao mundo, mas o mundo amou mais as trevas do que a luz. É bom começar por aqui porque nessas palavras Jesus mostra a condição do ser humano diante de Deus.
Amar as trevas mais do que a luz não é nada mais do que amar o mundo e o pecado mais do que Deus e as coisas de Deus. E todos nós, por natureza, somos pecadores, e por isso, só temos capacidade para amar o pecado. Por natureza nós odiamos a luz.
Pode até parecer um absurdo que alguém prefira andar na escuridão e não na luz. Porém, por mais que isso seja repetido tantas vezes e de tantas maneiras na Escritura Sagrada, ainda há quem se diga cristão e não pense assim. E porque Deus age nele e faz de sua vida uma vida boa e digna, ele acha que naturalmente é uma pessoa boa e digna. Como se nele existisse a capacidade de buscar a Deus e fazer o bem.
E qual é a consequência mais trágica desse pensamento? As pessoas começam a pensar que serem salvas, receberem o favor de Deus, serem aceitas por Deus depende do que elas fazem ou deixar de fazer. Senão completamente, pelo menos em parte. E buscam a salvação em si mesmas, nas suas próprias ações, como se, dessa maneira, pudessem fazer por merecer a pátria celeste.
Faz sentido? Claro que faz. Faz todo o sentido. Se eu fizer alguma coisa, eu mereço uma recompensa. Só que essa não foi a maneira que Deus escolheu para salvar a humanidade. E nós não temos o direito de inventar nossos próprios caminhos de salvação.
Na verdade, considerando essa triste realidade do ser humano, em que ele nasce pecador e não pode buscar a Deus nem se salvar do seu pecado, a coisa nem poderia ser diferente. Ou Deus providencia um meio de salvação e ele mesmo a realiza, ou ninguém pode ter qualquer esperança.
E Deus, sem nenhuma necessidade da sua parte e nenhum merecimento da nossa parte, providenciou salvação, planejou como tudo iria acontecer, colocou em prática e a realizou completamente. Deus escolheu ele mesmo sofrer o nosso castigo para que nós pudéssemos receber de graça a vida eterna.
Foi que Jesus disse a Nicodemos no início do nosso texto lembrando aquela situação do povo de Israel no deserto. O povo duvidou do cuidado de Deus e, pela sua incredulidade, foi castigado com serpentes que picaram e mataram a muitos. Ali também é Deus quem providencia salvação. Ele pede que Moisés faça uma serpente de bronze e a levante, e todos os que olharem para ela serão curados do veneno. Não é preciso fazer nada a não ser confiar.
O mesmo Deus fez, não só por Israel, mas por toda a humanidade ao enviar o seu Filho unigênito ao mundo para ser levantado na cruz. E todo aquele que, sofrendo pelo veneno do pecado e não podendo fazer nada por si mesmo, pode receber a cura de graça. Basta olhar para a cruz de Cristo e confiar que dele vem o perdão e a salvação.
Tudo isso é obra de Deus por nós. Por isso Jesus disse: assim, é necessário que o Filho do homem seja crucificado, para que – e esse “para que” indica a finalidade, o objetivo da morte de Cristo – todo o que nele crê tenha a vida eterna.
Assim nós vemos que tudo o que Deus faz é por nós, para a nossa salvação, para que nós possamos estar perto dele. Se a gente perguntasse “o que Deus ganhou com a morte do seu Filho”, a resposta mais espontânea seria: Nada. Nós ganhamos tudo, mas e Deus?
O que acontece é, para Deus, nós somos o seu grande tesouro. Não porque somos bons, porque naturalmente não o somos; não pelo que fizemos ou deixamos de fazer; não pela nossa nacionalidade, pobreza, riqueza, sabedoria. Mas porque ele nos amou mesmo com todos os nossos pecados. E, no seu amor, nos elegeu para a salvação.
Por isso não tem como falar do amor de Deus sem olhar para cruz do nosso salvador Jesus Cristo. Paulo disse que Deus mostrou o seu amor por nós pelo fato de ter nos amado quando ainda éramos pecadores. E João escreve que Deus manifestou o seu amor pelo mundo ao enviar o seu Filho ao mundo para morrer pelo mundo. E chega ao ponto máximo de dizer que “Deus é amor”.
O amor faz parte da essência de Deus. Deus nos amou porque o amor faz parte dele. E é com esse amor que ele amou ao mundo tanto a ponto de dar tudo o que tinha, o seu Filho, para que todo o que nele crê não receba o merecido castigo da condenação, mas tenha a vida eterna.
A salvação, diferente do que Nicodemus pensava, não é fruto das nossas ações. A salvação é fruto do amor de Deus. E Jesus não deixa qualquer dúvida do que é necessário para obter essa salvação: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado”.
A fé é o meio pelo qual os méritos que só Cristo tem são atribuídos a nós. É pela fé em Jesus que Deus nos vê, apesar de imperfeitos e pecadores, como justos e santos. E por ela passamos a ser co-herdeiros com Cristo da vida eterna.
E o que é ter fé? O que é crer em Jesus senão confiar que tudo o que ele fez foi em meu lugar, em teu lugar? Confiar que agora, quem nele deposita a esperança da salvação, já vive na luz. E se podemos realizar as obras de Deus e torna-las manifestas é porque pela fé em Jesus, não só nós estamos nele, mas ele está em nós e age em nós para vivermos como filhos da luz.
A fé que Deus nos dá é fé de confiança. Fé que confia no cuidado de Deus mesmo em meio aos desertos da vida e espera de Deus todo o bem mesmo na aflição. Porque aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, o entregou por nós, não nos dará junto com ele todas as coisas?
Por isso, a Quaresma sempre vai ter esse sabor agridoce. O azedo de saber que aquilo que para nós é de graça, para Deus custou muito caro. Mas ele não quer que vivamos tristes por causa disso. Porque tudo isso ele mesmo fez justamente pela nossa salvação. E essa é a mais doce mensagem: O evangelho do perdão e do amor de Deus que quer levar pecadores para o céu. Somos salvos pelo amor de Deus. Amém.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Mensagem 3º dom. na Quaresma B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 19; Êx 20.1-17; 1Co 1.18-31; Jo 2.13-22 – 3º dom. na Quaresma B 2015
Jesus purifica nossa vida
v. 15-16: “Então ele fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão. E disse aos que vendiam pombas: – Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!”
O amor de Jesus pelos seus discípulos é algo que nos deixa impressionados. Quantas vezes nós já vimos a paciência, o cuidado, a preocupação que Jesus tinha com eles? E não só com os discípulos. Também naquela situação em que Jesus subiu num barco e foi para outro lugar para ficar um pouco sozinho, mas quando ia chegando do outro lado viu a mesma multidão o esperando. E Marcos escreve que Jesus viu aquelas pessoas como ovelhas sem pastor, se compadeceu delas e, mesmo querendo ficar sozinho, colocou as necessidades da multidão em primeiro lugar.
No entanto, o texto de hoje nos apresenta um Jesus diferente. Um Jesus que toma um chicote na mão, sai derrubando tudo e expulsando as pessoas – da onde, ainda por cima? – do templo! Alguém até poderia pensar que esse não é o Jesus que a gente conhece. Mas se tem uma coisa que nós precisamos aprender (se é que já não aprendemos) é que Jesus não traz só o amor e a graça de Deus, ele também traz o juízo e a ira de Deus.
Nesse caso, os motivos da ira de Jesus nos saltam aos olhos. Não é preciso ler nem duas vezes o texto para entender essa atitude de Jesus. O templo, que veio a substituir o tabernáculo, tinha o objetivo de ser um lugar de culto e adoração. E não uma casa de câmbio e venda de mercadorias.
Com essas atitudes eles estavam profanando a Casa de Deus. Num lugar onde deveria ter o máximo de silêncio e o mínimo de movimentação para que os fieis pudessem render culto, se encontrava aquela bagunça de um mercado público. A gente até pode imaginar um reclamando que a moeda estava gasta, outro que o preço das ovelhas era muito alto, alguém gritando para fazer propaganda do seu produto. Transformando o lugar mais próprio para culto no lugar mais impróprio para culto.
Nós sabemos muito bem que igreja não é lugar de bagunça. Tanto é que às vezes a gente até ouve um pai ou uma mãe dizendo para o filho “não corre na igreja”. Porque se trata da Casa de Deus. É lugar de respeito e reverência.
A Bíblia nos dá, entre outras, duas orientações impactantes com respeito à igreja e, mais especificamente, ao culto. A primeira vem do próprio Salomão, que construiu o primeiro templo. Ele diz que quando você for ao templo vá pronto para ouvir e obedecer a Deus. E a segunda do apóstolo Paulo que recomenda que tudo seja feito com ordem e decência.
Alguns vão usar esse texto de João para dizer que na igreja não pode ter bazar, que as Servas não podem fazer cucas, mas não é nada disso. Essas coisas, em si, (claro, sempre feitas de forma pensada e com bom senso), não têm nada de mau desde que não atrapalhem ou interfiram no culto de Deus e na adoração do seu povo. Por exemplo, no momento em que o dinheiro das cucas for usado como substituto às ofertas do povo de Deus, aí a fábrica vai ter de fechar as portas. Até lá, Jesus não vai fazer nenhum chicote.
O problema naquela situação, como já falamos, é que aquela algazarra no templo de Jerusalém tornava impossível um culto sincero e verdadeiro que agradasse a Deus. Para não falarmos muito sobre isso, porque o texto traz vários detalhes, vamos só falar um pouco sobre os animais que estavam sendo vendidos ali para sacrifício.
Como muitos judeus vinham de muito longe para celebrar as festas do seu povo no templo de Jerusalém, tinham de levar seu animal para sacrifício por todo o percurso. Com a venda dos animais no pátio do templo, a coisa ficava muito mais prática. Só que ao mesmo tempo fazia perder todo o sentido da oferta.
A oferta agradável a Deus é aquela que Deus dá através do trabalho e que é oferecida pelo fiel com gratidão no coração e o reconhecimento sincero de que aquilo veio de Deus. A oferta só faz sentido quando a levamos de casa, daquilo que veio do suor do rosto, e não uma coisa que a gente compra lá no templo e deixa por lá mesmo. Aí, claro, Jesus precisa tomar uma atitude.
E aqui, se olharmos para Jesus apenas como um homem temente a Deus, nós não vamos ver mais do que a sua indignação. Mas se olharmos para ele como o que ele é, o próprio Deus, então nós vamos ver ali a ira de Deus. E o que atrai a ira de Deus é a irreverência no culto e na adoração.
Hoje nós lemos os Dez Mandamentos, onde Deus nos dá as coordenadas para que a nossa vida seja feliz e também agradável a ele. E num desses mandamentos Deus pede que nós santifiquemos o dia do descanso. Naturalmente, sendo o dia do descanso, Deus espera que nós o santifiquemos com culto e adoração.
É claro que o fato de ir à igreja não santifica nada e não serve para nada. O importante é o que acontece na igreja e como nós aproveitamos e nos portamos no culto. Imaginem uma pessoa que não se prepara para o culto, não faz nem mesmo uma oração antes do culto. Não presta a atenção em muitas coisas. Não participa efetivamente do culto. Está na igreja só com o corpo, porque a mente e o espírito estão longe. Que utilidade pode ter o culto para alguém assim?
Isso é santificar o dia do descanso? Isso é valorizar a Palavra de Deus e a Santa Ceia? A única coisa que alguém pode conseguir assim é fazer abaixar o ponteiro do combustível. E o que é pior, não só o tanque do carro esvazia, mas a própria pessoa volta para casa vazia.
Também sobre a Santa Ceia Paulo escreveu sobre a importância de estar dignamente preparado. Porque se uma pessoa não tem nem mesmo a intenção de usar do perdão recebido para corrigir os seus pecados participa da Santa Ceia não para salvação, mas para condenação. Em vez de receber a Santa Ceia para benefício, acaba se tornando réu do corpo e do sangue de Cristo.
Por que não sentar quando faltam 5 minutos para o início do culto e fazer uma oração pedindo pelo menos isso: Bondoso Deus, perdoa os meus pecados para que, de coração limpo, eu possa render culto e participar da Santa Ceia de consciência tranquila. Dá-me sabedoria e concentração para entender a tua Palavra a fim de que eu possa coloca-la em prática no meu dia-a-dia. – É difícil?
Isso nos faz deixar para lá a algazarra e a bagunça da nossa vida, dos nossos problemas, das contas que ainda não foram pagas, das provas que vem pela frente; da fechada no trânsito, dos problemas no trabalho. Porque é só assim, deixando o mundo lá de fora lá fora, que nós vamos poder aproveitar essa oportunidade tão gostosa que Deus nos dá a cada domingo de podermos celebrar e antecipar um pouquinho da salvação que nos aguarda na eternidade.
Em tudo isso, só temos motivos para dar graças a Deus porque Jesus não purificou só o templo, mas também a nossa vida por meio da sua morte e ressurreição. Assim como ele virou as mesas dos cambistas, assim também Jesus virou a mesa da nossa relação com Deus. Se antes, pelo nosso pecado, estávamos sob a ira de Deus, agora, pela fé em Jesus, estamos sob a graça de Deus.
E, como se isso ainda não fosse o suficiente, Deus ainda age em nós pelo seu Espírito Santo e ele mesmo faz de toda a nossa vida um culto de gratidão a Deus por tudo o que ele fez e faz por nós e ainda vai fazer.
Com a morte e a ressurreição de Jesus, agora existe um novo santuário. Não é preciso ir até Jerusalém para estar na presença de Deus e oferecer sacrifícios. Jesus é o santuário onde, pela fé, nós estamos sempre na presença e na companhia de Deus e Deus, por meio de Cristo, enxerga toda a nossa vida como um sacrifício que lhe é agradável.
Não é preciso ir à Jerusalém porque Jerusalém já veio até nós, no sentido de que em qualquer lugar onde o Evangelho é anunciado em sua pureza e clareza os cristãos podem se reunir para relembrar a morte e ressurreição de Jesus em nosso favor, e em resposta adorarmos a Deus atentando à sua Palavra, no cantar dos hinos, nas ofertas e nas orações.
Com tudo isso que Deus fez e faz por nós, só pode haver um resultado: Os que ainda assim continuarem nos seus pecados, irreverentes na presença de Deus, vão ter em Jesus um juiz. E pelo texto de hoje já dá para ter uma ideia de como é ter Jesus como juiz.
Mas aqueles que foram tocados pela ação do Espírito Santo, crendo em Jesus e tendo o desejo de viver essa fé, vão ter em Jesus aquele mesmo amigo amoroso que os apóstolos e aquela multidão tiveram: O Jesus companheiro, que nos coloca sempre em primeiro lugar na sua agenda. O Jesus salvador que nos guia em meio às dificuldades deste mundo para o culto sem fim na presença gloriosa de Deus. A gente só fica com uma pulga atrás da orelha: se o culto aqui já é bom, imaginem no céu. Amém.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Mensagem 2º dom. na Quaresma B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 22.23-31; Gn 17.1-7,15-16; Rm 5.1-11; Mc 8.27-38 – 2º dom. na Quaresma B 2015
Nós cremos na salvação que vem da cruz
v. 34: “Então, convocando a multidão e juntamente os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.
É muito comum a gente ouvir por aí aquela expressão que diz: “tenha fé!”. E que normalmente vem acompanhada com alguma frase. “Tenha fé que tudo vai dar certo”; “tenha fé que você vai conseguir”. Ou mesmo em alguns contextos religiosos a gente ouve algo como “você não ganhou um aumento porque não teve fé”. Mas será que esse é o tipo de fé que a Bíblia nos apresenta? No que você crê? Qual é o objeto da sua fé (para onde ela se direciona)? Que diferença isso faz na sua vida? O texto do evangelho de hoje é que vai nos dar as respostas.
Mas antes da gente entrar no texto do evangelho, como vocês já sabem, as leituras escolhidas para cada domingo sempre procuram ter uma relação entre elas. Um certo ponto, um assunto em comum. E as leituras de hoje não são exceção.
Aliás, aproveitando o assunto das leituras, vale a pena lembrar que essa é uma das razões porque é importante a gente ler o texto e não só ouvir o leitor. Porque quando a gente olha só para a Bíblia, a gente se concentra e também entende melhor o texto. Agora, quando a gente fica olhando para o nada, é muito fácil perder a concentração. E aí quando a gente vai embora, mal lembra qual foi o assunto do culto.
Bem, dado o conselho, podemos voltar aos textos e procurar o assunto central deles. Primeiro o salmo: O Sl 22 pinta um quadro nosso no qual somos encontramos como pobres e oprimidos espiritualmente. No entanto, pobres e oprimidos que louvam porque Deus nos livra dessa pobreza espiritual.
Assim também em Gênesis lemos que a aliança de Deus com Abraão não dependeu em nada de Abraão, mas completamente de Deus. Romanos diz o mesmo, só que em linguagem do Novo Testamento: Deus nos deu a fé para que pudéssemos crer que pela morte de Jesus nós temos vida eterna.
Percebemos claramente que o ponto aqui é a predisposição de Deus em nos salvar. Deus é quem dá o primeiro passo em nossa direção e também é ele que, depois de nos dar a fé, também nos sustenta nessa fé. Não há nada que possamos fazer pela nossa salvação. É graça de Deus.
Mas o que o evangelho diz sobre isso? Jesus falou da morte, falou da cruz, falou da vida, mas nada sobre fé.
Lembremos que o texto começa com a famosa de confissão de Pedro. Jesus ia com os discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe e, no caminho, ele pergunta: Quem o povo diz que eu sou? E os discípulos respondem de acordo: João Batista, Elias, um dos profetas.
E imediatamente Jesus faz a mesma pergunta para eles: E vós, quem dizeis que eu sou? E Pedro responde: Tu és o Cristo.
A diferença nas respostas é muito maior do que parece à primeira vista. Enquanto o povo tenta dar nomes para Jesus, pensando até mesmo que um profeta pudesse ter voltado para finalmente estabelecer um reinado de paz e justiça, conforme era a esperança do povo judeu, Pedro dá um título para Jesus.
Ele não diz: - Ah, que pergunta! Tu és Jesus! Ele diz: Tu és o Cristo, o Messias. Em outras palavras, aquele que Deus prometeu enviar para salvar o seu povo. Como é que Pedro poderia saber isso se Jesus ainda não tinha dito? Mais uma vez nós podemos ver que é só pela ação do próprio Deus que nós podemos crer e confessar que Jesus é o Cristo.
Conforme o evangelho de Mateus, Jesus foi até mais longe quando disse: Bem-aventurado és, Pedro, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, isso não veio de ti, mas o Pai que está nos céus é quem te revelou.
Isso mostra que só entende a obra de Jesus aquele que nele crê. E a partir da confissão de Pedro, Jesus começa a falar sobre a verdadeira obra do Messias. Nós vimos há pouco que os judeus tinham uma visão errada sobre a realeza e o reinado do Messias. E essa era a expectativa dos discípulos também – de alguém que se assentaria num trono para governar o seu povo. No entanto, Jesus se apresenta como um Deus que morre numa cruz.
O que Jesus quer ensinar aos discípulos e a todos nós é que não é possível entender o verdadeiro messianismo, ou seja, a obra do Messias, sem o seu sofrimento, morte e ressurreição. Há um caminho para conquistar a salvação ao mundo. E a cruz, inevitavelmente, faz parte desse caminho.
É por isso que, mais adiante, Jesus vai dizer que quem quiser ser seu discípulo, que não procure um discipulado fácil, acomodado, onde eu vou no culto domingo e, pronto, já fiz a minha parte. Mas que tome a sua cruz e siga a Jesus todos os dias, venha o que viver.
É por isso que o diabo parece tão bonzinho às vezes. Quantas vezes ele tentou desviar Jesus do caminho da cruz. Falamos semana passada que Jesus foi tentado até por seus discípulos, este é o texto. Pedro, não falando só por ele, mas representando o grupo, reprova a Jesus: Não faz uma coisa dessas; não vai para a cruz.
Então nós percebemos que além do diabo colocar tentações na nossa vida, nós mesmos já temos uma tendência natural de escolher o caminho mais fácil, mais agradável. Quantas vezes já inventamos desculpas para não fazer a vontade de Deus? – Ah, é por causa disso ou por causa daquilo. Mas a verdade é que nós naturalmente fugimos da cruz.
Por nós mesmos, como disse Jesus, não conseguimos cogitar das coisas de Deus, só das coisas dos homens. Não conseguimos enxergar que a salvação vem pela morte do Filho de Deus. Automaticamente isso implica que no nosso viver cristão também haverá cruzes. Também haverá dificuldades.
Por isso Jesus agora convoca as multidões. A sua mensagem é para crentes e descrentes. Para todos aqueles que pensam em ser discípulos de Jesus. E ele diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, toma a sua cruz e siga-me”.
Negar a si mesmo nada mais é do que negar a nossa tendência natural de alcançar a salvação por nossos próprios méritos. É saber que não é fazendo uma boa ação aqui e outra ali que nós vamos para o céu, mas que a salvação é um presente de Deus que ele nos dá pela fé no Cristo crucificado.
Só que, enquanto estamos no mundo, estamos sempre sujeitos a cair desta fé, a buscar outros caminhos de salvação, a fugir da cruz e, assim, até mesmo de perder a salvação. Por isso é preciso também tomar a cruz. Encarar as dificuldades de viver a fé cristã no mundo (tentações, perseguições) e, então, seguir Jesus e confessar que ele é o Cristo.
Essa é a fé que a Bíblia nos apresenta. Não é uma simples espécie de pensamento positivo, onde tudo vai bem desde que se tenha fé. Também não é confiar que Deus vai nos abençoar com prosperidade nesta vida. Isso até pode acontecer, conforme a vontade de Deus.
Mas fé verdadeira é saber que Deus nos amou tanto que enviou o seu Filho justo e santo para morrer por nós pecadores. É ter a plena certeza de que se podemos enfrentar as tantas cruzes da vida é porque Deus não nos abandona nunca. Jesus não carregou só a sua cruz, mas a nossa também. Ter essa fé é dizer junto com o apóstolo Paulo: Se temos de enfrentar muitas tribulações, então enfrentemos; porque em meio a tantas tribulações, o que realmente importa é entrar no reino de Deus.
Essa é a fé que Deus nos deu. Tudo aquilo que pode nos afastar dessa fé precisa ser descartado. E devemos louvar a Deus em gratidão e orar para que ele não permita, de forma alguma, que deixemos de crer e confessar que Jesus é o Cristo.
No que nós cremos? – Que a salvação vem pela fé em Jesus. Qual é o objeto da nossa fé? – A cruz de Cristo. Que diferença isso faz na nossa vida? – Agora podemos servir a Deus e viver certos da vida eterna. Amém.