Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 107.1-9; Nm 21.4-9; Ef 2.1-10;
Jo 3.14-21 – 4º dom. na Quaresma B 2015
Salvos pelo amor de Deus
v. 16: “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Se nós fôssemos
definir o período da Quaresma em uma palavra mais típica da culinária, essa
palavra com certeza seria agridoce. Porque ao mesmo tempo em que ela carrega o
teor azedo da Paixão e morte de Jesus, também traz a mensagem do mais doce
evangelho de que toda essa obra de Jesus visava a nossa salvação.
São essas as duas
mensagens que aparecem nos textos para este 4º domingo na Quaresma,
especialmente no evangelho e, sem dúvida, a segunda é a que ganha maior
destaque. E para entendermos mais facilmente o que Jesus está dizendo, nós
vamos mudar um pouco a ordem do texto, começando pelo fim, depois voltando ao começo
e terminando no meio.
Mais ao final do
texto, ali nos versículos 19, 20 e 21, Jesus fala da luz. Que Deus enviou a sua
luz ao mundo, mas o mundo amou mais as trevas do que a luz. É bom começar por
aqui porque nessas palavras Jesus mostra a condição do ser humano diante de
Deus.
Amar as trevas mais do
que a luz não é nada mais do que amar o mundo e o pecado mais do que Deus e as
coisas de Deus. E todos nós, por natureza, somos pecadores, e por isso, só
temos capacidade para amar o pecado. Por natureza nós odiamos a luz.
Pode até parecer um
absurdo que alguém prefira andar na escuridão e não na luz. Porém, por mais que
isso seja repetido tantas vezes e de tantas maneiras na Escritura Sagrada,
ainda há quem se diga cristão e não pense assim. E porque Deus age nele e faz
de sua vida uma vida boa e digna, ele acha que naturalmente é uma pessoa boa e
digna. Como se nele existisse a capacidade de buscar a Deus e fazer o bem.
E qual é a
consequência mais trágica desse pensamento? As pessoas começam a pensar que
serem salvas, receberem o favor de Deus, serem aceitas por Deus depende do que
elas fazem ou deixar de fazer. Senão completamente, pelo menos em parte. E
buscam a salvação em si mesmas, nas suas próprias ações, como se, dessa
maneira, pudessem fazer por merecer a pátria celeste.
Faz sentido? Claro que
faz. Faz todo o sentido. Se eu fizer alguma coisa, eu mereço uma recompensa. Só
que essa não foi a maneira que Deus escolheu para salvar a humanidade. E nós
não temos o direito de inventar nossos próprios caminhos de salvação.
Na verdade,
considerando essa triste realidade do ser humano, em que ele nasce pecador e
não pode buscar a Deus nem se salvar do seu pecado, a coisa nem poderia ser
diferente. Ou Deus providencia um meio de salvação e ele mesmo a realiza, ou
ninguém pode ter qualquer esperança.
E Deus, sem nenhuma
necessidade da sua parte e nenhum merecimento da nossa parte, providenciou
salvação, planejou como tudo iria acontecer, colocou em prática e a realizou
completamente. Deus escolheu ele mesmo sofrer o nosso castigo para que nós
pudéssemos receber de graça a vida eterna.
Foi que Jesus disse a
Nicodemos no início do nosso texto lembrando aquela situação do povo de Israel
no deserto. O povo duvidou do cuidado de Deus e, pela sua incredulidade, foi castigado
com serpentes que picaram e mataram a muitos. Ali também é Deus quem
providencia salvação. Ele pede que Moisés faça uma serpente de bronze e a
levante, e todos os que olharem para ela serão curados do veneno. Não é preciso
fazer nada a não ser confiar.
O mesmo Deus fez, não
só por Israel, mas por toda a humanidade ao enviar o seu Filho unigênito ao
mundo para ser levantado na cruz. E todo aquele que, sofrendo pelo veneno do
pecado e não podendo fazer nada por si mesmo, pode receber a cura de graça. Basta
olhar para a cruz de Cristo e confiar que dele vem o perdão e a salvação.
Tudo isso é obra de
Deus por nós. Por isso Jesus disse: assim, é necessário que o Filho do homem
seja crucificado, para que – e esse “para que” indica a finalidade, o objetivo da
morte de Cristo – todo o que nele crê tenha a vida eterna.
Assim nós vemos que
tudo o que Deus faz é por nós, para a nossa salvação, para que nós possamos
estar perto dele. Se a gente perguntasse “o que Deus ganhou com a morte do seu
Filho”, a resposta mais espontânea seria: Nada. Nós ganhamos tudo, mas e Deus?
O que acontece é, para
Deus, nós somos o seu grande tesouro. Não porque somos bons, porque
naturalmente não o somos; não pelo que fizemos ou deixamos de fazer; não pela
nossa nacionalidade, pobreza, riqueza, sabedoria. Mas porque ele nos amou mesmo
com todos os nossos pecados. E, no seu amor, nos elegeu para a salvação.
Por isso não tem como
falar do amor de Deus sem olhar para cruz do nosso salvador Jesus Cristo. Paulo
disse que Deus mostrou o seu amor por nós pelo fato de ter nos amado quando
ainda éramos pecadores. E João escreve que Deus manifestou o seu amor pelo
mundo ao enviar o seu Filho ao mundo para morrer pelo mundo. E chega ao ponto
máximo de dizer que “Deus é amor”.
O amor faz parte da essência
de Deus. Deus nos amou porque o amor faz parte dele. E é com esse amor que ele
amou ao mundo tanto a ponto de dar tudo o que tinha, o seu Filho, para que todo
o que nele crê não receba o merecido castigo da condenação, mas tenha a vida
eterna.
A salvação, diferente
do que Nicodemus pensava, não é fruto das nossas ações. A salvação é fruto do
amor de Deus. E Jesus não deixa qualquer dúvida do que é necessário para obter
essa salvação: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado”.
A fé é o meio pelo
qual os méritos que só Cristo tem são atribuídos a nós. É pela fé em Jesus que
Deus nos vê, apesar de imperfeitos e pecadores, como justos e santos. E por ela
passamos a ser co-herdeiros com Cristo da vida eterna.
E o que é ter fé? O
que é crer em Jesus senão confiar que tudo o que ele fez foi em meu lugar, em
teu lugar? Confiar que agora, quem nele deposita a esperança da salvação, já
vive na luz. E se podemos realizar as obras de Deus e torna-las manifestas é
porque pela fé em Jesus, não só nós estamos nele, mas ele está em nós e age em
nós para vivermos como filhos da luz.
A fé que Deus nos dá é
fé de confiança. Fé que confia no cuidado de Deus mesmo em meio aos desertos da
vida e espera de Deus todo o bem mesmo na aflição. Porque aquele que não poupou
o seu próprio Filho, antes, o entregou por nós, não nos dará junto com ele
todas as coisas?
Por isso, a Quaresma
sempre vai ter esse sabor agridoce. O azedo de saber que aquilo que para nós é
de graça, para Deus custou muito caro. Mas ele não quer que vivamos tristes por
causa disso. Porque tudo isso ele mesmo fez justamente pela nossa salvação. E
essa é a mais doce mensagem: O evangelho do perdão e do amor de Deus que quer
levar pecadores para o céu. Somos salvos pelo amor de Deus. Amém.