Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl
119.1-8; Dt 6.1-9; Hb 9.11-22; Mc
12.28-37 – 23º dom. após Pentecostes B 2015
Cumprindo a Lei no amor de
Cristo
v. 30: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”.
De uns tempos para cá, temos lido muito por aí
aquela frase que diz: Família: quem ama, cuida! Claro que esta afirmação tem
como primeiro objetivo fazer as pessoas refletirem sobre o quanto têm dedicado
tempo à sua família. Mas ela também reflete uma verdade extremamente importante
e que muito facilmente é esquecida mesmo por cristãos: que o amor não é apenas
um sentimento inerte. O amor, por sua própria essência, leva à ação. Por isso
“quem ama, cuida”.
O que é interessante nesse texto de Marcos é que
Jesus une o amor ao cumprimento da Lei. Talvez até mais do que isso: que o amor
é o cumprimento da Lei. Só que, nesse caso, a pergunta que fica é: o amor me
leva para o céu? Em que sentido o amor é o cumprimento da Lei?
É muito interessante isso que Jesus faz aqui. O
escriba chega e pergunta a Jesus qual é o principal dos mandamentos. E, como
bons luteranos, a resposta que a gente espera é: Eu sou o Senhor teu Deus; não
terás outros deuses diante de mim. Que é uma citação quase direta de Êx 20 ou
de Dt 5.
No entanto, o que Jesus faz é uma citação de Dt 6.
Ele nem mesmo cita um dos mandamentos. Se fosse alguém outro (um fariseu, quem
sabe) talvez já teria dito: Mas esse mestre não sabe de nada. Eu pergunto sobre
um dos mandamentos e ele nem mesmo cita um deles.
Mas aquele escriba parece um homem inteligente.
Alguém que provavelmente não leu as Escrituras já cheio de pressupostos e
opiniões, mas deixando a Bíblia falar. E imediatamente ele entende o porquê da
resposta de Jesus.
E o que Jesus quer mostrar é que todos os
mandamentos e mesmo toda a lei podem ser resumidos um só mandamento: Amarás o
Senhor teu Deus.
Os fariseus (assim como muitos hoje) se
contentavam com um mero cumprimento exterior dos mandamentos divinos. Jesus
está interessado em algo mais profundo, verdadeiro, sincero. Algo que brota e
cresce já dentro, no coração, e que, por causa disso, faça parte de toda a
nossa vida.
Quando é que um cristão realmente se dedica em
conhecer e cumprir os mandamentos de Deus? Só quando ele ama a Deus de todo o
coração. E esse amor não é algo que pode brotar naturalmente em nós, de nós
mesmos, mas que vem junto com a fé e o Espírito Santo como a maior dádiva que
recebemos de Deus.
Porque é muito fácil dizer da boca para fora que é
cristão e que ama a Deus. Mas quantos dos que dizem isso realmente colocam o
reino de Deus em primeiro lugar na sua vida? É um cumprimento farisaico da lei.
Uma fé de fachada só para agradar aos olhos de um ou outro, mas sempre que possível
faz totalmente o contrário do que ele mesmo professa ser correto e verdadeiro.
A seriedade com que encaramos a vontade de Deus vai
se refletir em nossas vidas refletindo, assim, a fé que há em nosso coração. Se
a fé é verdadeira, a vida cristã é inevitável. Onde quer que exista verdadeiro
amor a Deus, ali a fé não fica ociosa.
E Jesus vai mais longe ainda – aliás, de
propósito. Porque o escriba tinha perguntado só qual é o principal dos
mandamentos. E Jesus diz qual é o principal e o segundo mais importante para
mostrar que um não existe sem o outro. Quem diz amar a Deus precisa mostrar
isso mediante ao amor ao próximo.
O apóstolo João foi bem claro quando disse: Como alguém
pode dizer que ama a Deus, a quem não vê, se nem mesmo ama o seu próximo que
está bem do seu lado? E o que é esse amor ao próximo se não o resumo da segunda
taboa da lei?
Então nós percebemos que Jesus não está de jeito
nenhum fugindo dos mandamentos ou dando algum mandamento novo. Ele só abrange o
nosso entendimento para lembrarmos que o amor é a base para o cumprimento de
qualquer mandamento. Só vai fazer a vontade de Deus aquele que tem amor.
Mas essa é a lei. E a lei sempre acusa porque ela
escancara os nossos pecados e expõe diante de Deus e o mundo que somos cristãos
pobres e miseráveis espiritualmente. Que mesmo nos esforçando, não conseguimos
guardar perfeitamente nem um dos dez mandamentos.
E isso tem que ser assim. Por isso, por mais que
doa, por mais que incomode, nunca podemos fechar os ouvidos para a Lei de Deus.
Porque ao mesmo tempo em que ela nos ensina o caminho correto no qual devemos
persistir a cada novo dia, também nos livra da tentação de pensar que merecemos
a salvação mediante o nosso cumprir dos mandamentos.
Por isso Jesus até parece irônico quando o escriba
demonstra que ele tinha entendido perfeitamente que o amor a Deus e ao próximo
vale muito mais do que qualquer sacrifício ou obra. E aí Jesus diz: É, não estás
longe do reino de Deus.
Isso não é ironia nem sarcasmo. Há alguns dias
lemos a passagem do rico que procurava cumprir os mandamentos de Deus e Jesus
disse a ele: Só falta uma coisa. Aqui também Jesus está dizendo ao escriba:
Você não está longe do reino de Deus, mas ainda falta uma coisa.
E essa uma coisa que falta é enxergar que Jesus é
o Cristo. É crer que esse Jesus é o próprio Filho eterno de Deus que veio para
pagar o altíssimo preço dos nossos pecados. É crer de todo o coração que nele
nós temos completa remissão dos nossos pecados não pelas nossas obras, mas
mediante fé.
Ali, em Jesus, está a prova concreta e visível do
amor de Deus pela humanidade. É desse amor vem que vem a nossa salvação. E é
nesse amor que somos fortalecidos e equipados para perdoar o faltoso e amar até
os nossos inimigos.
Nesse amor existe interesse pela vontade de Deus.
E, movidos pelo santo Espírito de Deus, queremos amar cada vez mais a Deus e
também ao próximo.
Claro que, apesar da fé, nosso cumprimento da Lei
continua falho e extremamente imperfeito. A diferença é que agora nós temos
alguém que nos defende. Jesus Cristo nos cobre com a sua justiça e perfeição de
modo que Deus agora aceita as nossas obras e toda a nossa vida apesar dos
nossos muitos pecados.
É nesse sentido que o amor é o cumprimento da Lei.
Por Deus nos ter amado tanto é que agora, mediante a fé, também podemos amá-lo
e amar ao nosso próximo. E, assim, amando a Deus acima de todas as coisas e ao
nosso próximo como a nós mesmos, cumprimos todos os mandamentos. Não que nós
tenhamos capacidade para isso; não que o nosso amor seja grande o suficiente
para amar assim como deveríamos; mas porque Jesus já cumpriu toda a Lei em
nosso lugar.
É só assim que você vai entender textos como “o
amor cobre multidão de pecados”, “de sorte que o cumprimento da lei é o amor”
ou mesmo “o amor é o vínculo da perfeição” que não é nada mais do que dizer: o
amor é a única virtude que pode unir perfeitamente todos os seres humanos.
Se hoje podemos amar e cuidar daqueles que Deus
coloca ao nosso redor é que ele mesmo, em seu infinito amor, nos ensinou o que
é amar quando entregou o seu Filho por nós. Por isso João também diz: “Nós
amamos porque ele nos amou primeiro”. Afinal de contas, quem ama, cuida! Amém.