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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mensagem 9º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 145.10-21; Êx 16.2-15; Ef 4.1-16; Jo 6.22-35 – 9º dom. após Pentecostes B 2015
Jesus, o pão que sustenta para a vida eterna
v. 35: “Disse-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida. O que vem a mim de modo algum terá fome, e o que crê em mim jamais terá sede”.
O que você precisa para viver? Para algumas pessoas, tendo o alimento diário, vestimenta e abrigo não precisam de mais nada. Outras acrescentariam a família nesta lista. E ainda há muitos outros que parecem estar sempre na busca de mais alguma coisa. Se já têm comida, querem variedades; se já tem vestimenta, querem roupas novas; se já tem dinheiro, querem mais dinheiro. Mas o que é realmente necessário para a nossa vida?
O texto de hoje relata o que aconteceu logo depois do milagre da multiplicação sobre o qual falamos semana passada. Essa relação entre os dois textos nos ajuda a entender por que aquela multidão queria tanto ver Jesus de novo. Com certeza esperavam ver mais algum milagre e, de preferência, um milagre que fosse para o benefício deles, como foi a multiplicação.
Com um pouco de insistência encontraram Jesus na cidade de Cafarnaum e, tentando dar início a um diálogo, logo lhe perguntaram: “Mestre, quando chegaste aqui”? A primeira surpresa do texto talvez esteja aqui. Se vocês acompanharam a leitura devem ter percebido que Jesus não responde a pergunta deles.
Eles perguntam sobre quando Jesus chegou em Cafarnaum; Jesus responde dizendo: “Vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes”. É como se Jesus estivesse dizendo: “Não me venham com papo furado. Vocês cometeram um grande erro, vocês estão em perigo, mas não sabem disso”.
E qual foi o grande erro que eles cometeram? O mesmo erro que todo ser humano comete até que seja tocado pelo Espírito Santo: Eles não creram. Viram com seus olhos o milagre da multiplicação, mas eram cegos espiritualmente. Viram que, graças a Jesus, tiveram muitos pães para comer. Mas não conseguiram ver que Jesus era o pão da vida.
Assim também muitos se perdem considerando as bênçãos de Deus mais importantes do que o próprio Deus. Como alguém que se apaixona por uma obra de arte, mas não valoriza o artesão, assim muitos gastam suas vidas querendo sempre mais daquilo que há no mundo, mas se esquecem daquele que é o Doador de todas as coisas.
Por isso a advertência que Jesus deu àquelas pessoas também vale para todos nós: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna”. Enquanto não interiorizarmos isso ao mais profundo da nossa mente e do nosso coração não poderemos ser felizes nem viver cristãmente.
Se há pessoas que, incansavelmente, trabalham em busca de poder, dinheiro, bens materiais é porque elas ainda não descobriram o que realmente é necessário para viver. Vivem no engano de pensar que se tiverem mais dinheiro, mais posses serão mais felizes. Porém usam seu carro novo por uma ou duas semanas e já são novamente tomados por aquela sensação de vazio que parece que nunca vai ser preenchido. E aí começam de novo o ciclo porque aquilo que adquiriram até agora já não dá mais prazer.
Além disso, são todos traidores. E quem sabe nós também façamos parte deste grupo que trai a sua qualidade de vida, os preciosos momentos com a família, as noites de sono. Queremos sempre mais das coisas do mundo que não conseguimos enxergar as bênçãos que Deus já nos deu e que não precisamos mais do que isso.
Essas palavras alcançaram os corações daqueles judeus. E querendo entender isso melhor eles perguntaram: “que faremos para realizar as obras de Deus”? E de novo Jesus não responde. Jesus não responde por que de novo eles fizeram a pergunta errada que partiu de um pressuposto errado.
Como bons judeus, a lógica deles era a seguinte: existe uma tal de vida eterna que está em Deus, algo precisa ser feito para que essa vida eterna seja nossa, logo, se fizermos a vontade de Deus, ele vai nos dar a vida eterna. Portanto: “que faremos para realizar as obras de Deus”?
E Jesus responde: Vocês ainda não entenderam nada. Não são as obras de vocês que contam, mas a obra de Deus. E a obra incansável de Deus é abrir os seus corações para que vocês creiam em Jesus como seu salvador e coloquem diante dele todas as suas necessidades.
E o mesmo ele diz a nós: De nada adianta vocês se fartarem e se esbanjarem com as bênçãos que eu derramo sobre vocês se não buscarem a mim em primeiro lugar. Se não enxergarem que eu sou o pão da vida, o pão que subsiste para a vida eterna, que leva para a vida eterna.
Portanto, o que cabe a nós agora? A nós que fomos agraciados pela fé em Jesus e a certeza da salvação: Cabe a nós vivermos esta fé e fazermos o que estiver ao nosso alcance para não cairmos desta fé. Lembre que você não escolheu crer em Jesus. E se um dia caísse da fé também não poderia escolher voltar atrás.
Por isso não podemos fazer de conta que a coisa não é séria e vivermos uma vida que não é guiada pelos mandamentos de Deus nem procura servir a Deus. E Deus também escolheu meios pelos quais ele mesmo nos sustenta e fortalece a fé. E esses meios são a sua Palavra, que encontramos na Bíblia, a batismo e a Santa Ceia.
A ordem de Jesus, “trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna”, mostra que nisso não podemos ser levianos. Buscar a Jesus envolve trabalho, determinação, compromisso.
Vida cristã não é participar de um ou outro culto e para por aí. Temos tido bastante tempo para trabalhar pelas bênçãos, mas quanto tempo temos dedicado ao Doador de todas as bênçãos?
Alimentamo-nos pelo menos três vezes por dia com o alimento físico para o sustento do nosso corpo. Mas quantas vezes nos alimentamos do alimento espiritual, a Palavra de Deus, que é boa tanto para o corpo como para a alma?
Jesus já tinha dito quando foi tentado no deserto: “Não só de pão viverá o homem”. Claro que Jesus não está cometendo o absurdo de dizer que o alimento físico não é importante ou que aquele que se alimenta da Bíblia não precisa comer nem beber. O que ele está dizendo é que viver é muito mais do que simplesmente ter comida.
Jesus está dizendo assim: O pão que vocês comem aqui os sustenta para esta vida. Mas esta vida não é tudo. Já quem comer do meu corpo e beber do meu sangue viverá para sempre porque eu sou o pão da vida.
Interessante também que em várias línguas – e em português não é diferente – a palavra “pão” tem um sentido bastante amplo. “Pão” representa aquilo que é básico, essencial, aquilo sem o que não podemos viver. E é nessa linha que Jesus aproveita para dizer: Eu sou o pão de que vocês precisam. Eu sou o básico, o essencial, o que é realmente necessário para que vocês tenham vida, e vida em abundância.
“O que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Quem crê em Jesus e vive esta fé no seu dia-a-dia será plenamente satisfeito. A promessa de Jesus não falha: Mesmo que vocês venham a passar fome e sede, se estiverem em mim se sentirão os mais ricos e fartos do mundo. Porque a esperança que vocês têm vai muito além desta vida; é para a vida eterna.
O que é realmente necessário para a nossa vida? Semana passada falamos do tão importante pão de cada dia pelo qual devemos dar graças a Deus. Porém Deus nos oferece um pão que alimenta mais ainda. Para vivermos neste mundo, basta o pão de cada dia. Mas para a vida verdadeira, a vida eterna precisamos do pão que desce do céu. Precisamos constantemente e tão-somente de Jesus. Amém.

domingo, 19 de julho de 2015

Mensagem 8º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 23; Jr 23.1-6; Ef 2.11-22; Mc 6.30-44 – 8º dom. após Pentecostes B 2015
Jesus ensina a dar graças
v. 41: “Tomando ele os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou; e, partindo os pães, deu-os aos discípulos para que os distribuíssem; e por todos repartiu também os dois peixes”.
Sempre que alguém faz alguma coisa por nós, temos já por hábito e educação agradecer. Pedimos as horas e depois dizemos “obrigado”. Pedimos um favor e então dizemos “quando precisar de alguma coisa, pode contar comigo”. São hábitos e práticas tão comuns, tão simples, mas que ao mesmo tempo nos permitem viver bem em nossa sociedade, especialmente com aqueles que são mais próximos, pois assim construímos uma realidade onde um ajuda o outro e, assim, podemos tanto nos sentir amparados pelos outros como também realizados por estarmos ajudando alguém.
Do versículo destacado há pouco, quero ainda fazer mais um destaque das palavras “erguendo os olhos ao céu”. Aqui percebemos que o próprio Jesus deu graças, agradeceu ao Pai celeste pelo alimento que estava em suas mãos. Assim como ele fez na instituição da Santa Ceia. E até hoje nós dizemos que ele, “tendo dado graças, o partiu e o deu aos seus discípulos”.
Imediatamente percebemos que, para Jesus, o dar graças sempre vem primeiro. Ele primeiro deu graças, só depois deu aos discípulos. E assim também aqui onde ele realiza a primeira multiplicação de pães e peixes. Ele ergue os olhos ao céu e o evangelista João acrescenta “tendo dado graças”.
Talvez pareça até desnecessário dizer que todo cristão deveria agir da mesma forma. Dar graças. Agradecer a Deus por tudo o que ele nos concede todos os dias. E, portanto, agradecer todos os dias.
E outra coisa que muitas vezes passa despercebida neste texto, mas que é muito importante para a nossa reflexão – e quem sabe até para mudarmos algumas atitudes – é o fato de que Jesus manda que os discípulos recolham o que sobrou. E aí nós lemos que eles recolheram doze cestos cheios de pão e de peixe.
Por que Jesus tem essas atitudes? Por que ele agradece pelo alimento e não desperdiça as sobras, mas manda recolher? Porque Jesus reconhece aquilo como bênção de Deus. Jesus sabe muito bem que tudo o que nós possuímos, e de forma especial aquilo que possuímos para nossa sobrevivência, é fruto do amor de Deus que sempre nos supre com todo o necessário para o corpo e a alma.
Por isso cabe perguntar também: Será que sempre temos isso bem claro na nossa mente? Que atitudes de gratidão nós temos demonstrado diante de Deus? Um bom começo pode ser seguir o exemplo de Jesus: orar antes de cada refeição agradecendo pelo alimento. Talvez não que vamos orar a cada vez que a gente comer uma bala. Mas se “não temos tempo” para agradecer pelo alimento pelo menos três vezes por dia, nas principais refeições, isso no mínimo significa que, do nosso ponto de vista, Deus não precisa ser louvado pelo que nós possuímos.
Além disso, essa questão do tempo nem explica nada porque a oração da mesa é a oração mais comum no meio luterano e é uma oração tão curtinha: “Vem, Senhor Jesus, sê o nosso convidado e tudo o que nos dás nos seja abençoado”. E mesmo que alguém não conheça essa oração, pode muito bem fazer alguma outra. Ou pelo menos fazer como Martinho Lutero nos ensina no catecismo: “Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os viventes”. Isso não leva nem quinze segundos.
Portanto, se reconhecemos, como a Bíblia ensina, que tudo o que somos e possuímos não é nosso, nem nos pertence e nada merecemos, mas é puramente fruto da graça de Deus, então a gratidão precisa vir como uma consequência. Claro que, sim, Deus pode nos dar essas mediante o nosso trabalho, mas ainda assim é dele. É o Criador cuidando da sua Criação.
E aqui mais uma vez vale a pena lembrar do que aprendemos no catecismo sobre o Deus Criador: que tudo isso ele faz unicamente por sua paterna bondade e misericórdia sem nenhum mérito ou dignidade da nossa parte.
Então será que nós realmente temos a opção de não agradecer? Que direito nós temos de nos sentarmos à mesa e sairmos comendo como descrentes que não conhecem a Deus, nem o temem, nem o amam? Deus não obriga a gratidão. Até porque se a minha oferta, a minha oração acontece por constrangimento, já não existe gratidão. Por outro lado, para quem enxerga na sua vida as bênçãos de Deus, os gestos, as atitudes de gratidão surgem espontaneamente.
E Deus nos criou justamente para que vivamos para o seu louvor e glória. E fazemos isso quando vivemos a nossa vida comum com gratidão em nosso coração. Porque isso nos estimula e nos move a dar graças a Deus por todos os seus benefícios e, como consequência, a nos esforçarmos ao máximo para viver uma vida agradável a ele.
Por isso dar graças a Deus é o mínimo que se pode esperar de alguém que se diz cristão. Porque se o Espírito Santo o chamou para junto de Deus pela fé em Jesus e o fez reconhecer que ele não passa de uma criatura de Deus que, em tudo, depende do seu Criador, tanto para a salvação como para as suas necessidades corporais, então naturalmente que ele vai agradecer a Deus por sua vida, por sua família, por fazer parte de uma igreja cristã e, claro, pelo pão de cada dia.
Claro, apesar de que, na teoria nós ensinamos e assim cremos, que todo cristão tem no coração o desejo de servir a Deus e de ser-lhe grato, não podemos ignorar que ainda somos pecadores. A fé em Jesus não elimina ou diminui o problema do nosso pecado. E o pecado em nós sempre vai nos tentar a esquecer que tudo vem de Deus e, como consequência, vivermos sem sermos agradecidos. Isso nos leva, como cristãos, a entrarmos na luta contra o pecado.
É bem provável que fomos bem educados e já tenhamos desenvolvido o hábito de retribuir os que nos fazem o bem com gestos de gratidão. E como a gente sabe, isso é muito bom. Mas é um hábito que também precisamos desenvolver diante de Deus. Ou seja, buscar cada vez mais uma vida santificada.
Só para dar alguns exemplos, vamos colocar isso em termos práticos: Se você não ora espontaneamente, comece a orar por responsabilidade; se você não se interessa pela Palavra de Deus, leia-a por autodisciplina; se você não sente fome nem sede da Santa Ceia e por isso não tem valorizado os cultos, participe dos cultos com mais seriedade lembrando que é mandamento de Deus.
Não que essas atitudes em si vão fazer alguma diferença, mas o fato de nós vivermos uma vida de oração, leitura bíblica e comunhão vai fazer com que cada vez mais nos reconheçamos como filhos de Deus que são diariamente abençoados por ele e, por esse reconhecimento, nos dedicarmos a servir a Deus com gratidão em nossos corações.
Por isso podemos dizer que o cristão louva, o cristão oferta, o cristão ora, o cristão agradece. Porque assim como agradecemos e até nos dispomos a ajudar aqueles que nos fazem o bem, assim também queremos agradecer e servir àquele que faz tudo por nós.
Em Jesus temos nosso grande exemplo: Se ele que era o próprio Deus, tantas vezes reconheceu o quanto dependia do Pai e deu graças por isso, com certeza é isso que devemos fazer também; nós, que em tudo carecemos da graça e do cuidado de Deus.
Sejamos nós também cristãos que erguem os olhos ao céu e dão graças a Deus. Sempre movidos pela lembrança de tudo o que o nosso bondoso Deus nos concede por sua graça todos os dias. E não só a vida eterna por causa de Cristo (que é o mais importante), mas também do tão importante pão de cada dia, que é tudo o que precisamos para viver enquanto estamos no mundo. Amém.