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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mensagem 2º dom. de Páscoa A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 148 – 2º dom. de Páscoa A 2014
Deus nos convida ao louvor
v. 14: “Ele exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, povo que lhe é chegado. Aleluia!”
Uma das músicas que nós luteranos já cantamos muito e ainda cantamos é aquela que diz assim: “Cantar, louvar, todos juntos ao Senhor; cantar, louvar, ao nosso salvador”. Com certeza todos conhecem. E, muito provavelmente, todos já cantamos essa música.
Mas, afinal de contas, o cantar, o louvar são coisas que fazem parte da vida cristã? E será que o louvor é uma coisa que pertence a todos ou que é restrito a alguns poucos que têm o dom da música mais desenvolvido? São essas as perguntas que nós queremos responder nessa mensagem.
O salmo 148 faz parte de um conjunto de salmos que vai do 146 ao 150. Portanto, o salmo 148 é o salmo central deste conjunto. E em todos esses salmos o que mais chama a atenção, sem dúvida é o convite ao louvor estendido pelo rei Davi que várias vezes repete o mesmo imperativo: Louvai! Louvai a Deus!
E o salmo 148 também é o texto que melhor mostra quem Deus convida para o louvor. Vamos relembrar? Ali diz: Anjos, sol, lua, estrelas, céus, águas, abismos, fogo, saraiva, neve, vapor, ventos, montes, outeiros, árvores, feras, gados, répteis, voláteis, reis, príncipes, rapazes, donzelas, velhos e crianças.
Em outras palavras: toda a criação é chamada a louvar a Deus porque Deus é o Criador de todas as coisas. Todos os astros do universo e suas características, os animais e todos os seres humanos da alta ou baixa sociedade, de idade mais ou menos avançada. Todos são chamados a louvar o Deus Criador.
E a razão porque nós louvamos a Deus o próprio autor do salmo, na sua vida, nos mostra. Davi, quando pecou, sentiu na sua vida a desgraça que o pecado lhe trouxe. E a dor do arrependimento era tanta que ele foi parar no fundo do poço.
Mas foi no fundo do poço que ele encontrou Deus. Quando nada era maior do que a tristeza e o arrependimento, Deus lhe mostrou algo maior ainda. Maior, inclusive, do que o seu pecado: Davi recebeu o perdão de Deus. E ali ele conheceu um Deus de amor e misericórdia que tem compaixão do pecador e que está sempre disposto a perdoar.
A alegria de ter um Deus assim, automaticamente, leva a uma vida de louvor e gratidão. Não tem como ser diferente. Por isso o louvor a Deus nunca parte de nós. Se parte de nós é falso. E se louvamos visando que isso nos faça bem, então a motivação está errada. O louvor a Deus sempre parte dele mesmo quando ele desce até o fundo do poço para anunciar o seu perdão e, assim, nos dá a alegria da salvação. E essa alegria, como algo que quer explodir dentro de nós, explode no canto, no louvor e na gratidão.
Por isso já no Sl 146, o salmista diz: “Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver”. Mas Davi não quer cantar sozinho. Deus não quer ser louvado por um só, mas por toda a criação. E no 147 Deus também convida a nós quando diz: “Louvai ao Senhor, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus; fica-lhe bem o cântico de louvor”.
Ou, como lemos em Cl 3.16: louvem “a Deus, com salmos, e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração”. O cristão louva porque ele tem gratidão no seu coração. Ele sente a necessidade, o desejo de cantar a bondade de Deus em tudo aquilo que Deus fez e faz por ele.
Quando o louvor é motivado pelo amor de Deus, como sinal e resposta de gratidão é, como foi dito, “bom e amável” tanto para nós que cantamos como diante de Deus que recebe o nosso louvor.
Ah, mas e aquela pessoa que, por algum motivo, não pode cantar, então ela não louva a Deus? Claro que louva, de outras maneiras. Com outros louvores que Deus estimula através dela. Deus nunca pede além do que ele nos permite dar. Por isso a pergunta é outra: E aquele que pode, mas não canta, por que não o faz?
A desculpa mais comum (e também a mais esfarrapada) é aquela: Não sei cantar. Mas gente, a pessoa que diz isso está com uma compreensão errada sobre o louvar a Deus. Como se a igreja fosse um lugar de apresentações, onde um ou outro canta para mostrar que sabe enquanto os outros só assistem. Não é assim. Não pode ser assim.
O canto da Igreja cristã sempre foi e sempre vai ser um canto congregacional. Porque na Igreja ninguém canta para louvar a si próprio, mas todos louvamos para a glória do nosso Deus. Ele que merece todo o louvor.
E Deus não só convida ao louvor toda a sua criação, ele também aceita o nosso louvor da maneira que nós conseguimos. O que é “louvar bem” se o texto de hoje diz que é Deus quem exalta o louvor dos seus santos. Ele faz com que nosso louvor seja agradável diante dele.
Só o que Deus pede é que haja louvor porque ele mesmo nos leva a louvar. E porque Deus aceita o nosso louvor é que queremos fazer o máximo, não o mínimo. Cuidando apenas para ter a certeza de que este louvor é sinal da nossa gratidão.
Toda a criação é chamada a louvar a Deus. Porém, ninguém mais do que o cristão tem mais motivos para louvar a Deus. Porque o cristão é aquele que foi agraciado com o perdão e a salvação em Cristo. O cristão sabe que pode contar com a providência de um Deus que não só criou todas as coisas, como também cuida de tudo. O cristão pode ver na sua vida as grandiosas obras de Deus.
Se isso tudo ainda não nos estimula ao louvor, então nada vai estimular. Por isso, assim como o cristão cultua, oferta, testemunha, ora, e nada disso por obrigação, mas por gratidão, pelo desejo de servir a Deus, assim também ele quer louvar a Deus pelos seus maravilhosos feitos na criação e na sua própria vida.
Claro que o canto não é a única forma de louvor. Nós louvamos a Deus, na verdade, com a nossa vida. Mas dentro dessa vida de louvor, cantar hinos a Deus também sempre fez parte.
E vejam que maravilha o que acontece no culto. Assim como Davi não queria cantar sozinho, nós não cantamos sozinhos. E isso quem nos lembra é o salmo 148 e também a nossa liturgia quando nós cantamos que “com todos os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste, louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre cantando”... E aí vem o canto dos anjos: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos exércitos”.
Dá para imaginar que no culto toda a multidão celestial canta com a gente? Louva com a gente? Todos os anjos e arcanjos; todos aqueles que já partiram, todos os apóstolos e os mártires cantam louvores ao Deus eterno. E como isso nos anima mais ainda.
Se desse para imaginar um pouquinho dessa cena com certeza faltariam pulmões para tanta força com que nós iríamos querer cantar. Ou, como diria Lutero, todos os órgãos do mundo precisariam ser tocados ao mesmo tempo.
“Cantar, louvar, todos juntos ao Senhor” é exatamente o que a Igreja faz. Não tem nada que a gente possa fazer além disso. Lembrando que, até isso, Deus é quem nos move a fazer. E não tem nada que agrade mais a Deus do que um coração agradecido. E melhor ainda é saber que o próprio Deus aceita e exalta o louvor do seu povo – “povo que lhe é chegado. Aleluia!” Amém.

sábado, 19 de abril de 2014

Mensagem Domingo de Páscoa A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Mt 28.1-10 – Domingo de Páscoa A 2014
Jesus garante a salvação
vv. 5-6: “Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito”.
Não quero garantir que foi um fato verídico, mas aquele livro “Catarina, minha querida” conta uma história interessante: Certa vez, Martinho Lutero estava em seu escritório muito triste porque, apesar das suas pregações, as pessoas não queriam levar a sério a Palavra de Deus e corrigir as suas vidas.
Nesse momento, Catarina von Bora, a sua querida, entrou pela porta toda vestida de preto. Então Lutero perguntou: O que é isso? Quem morreu? Ao que ela respondeu: Deus morreu. Como assim? Isso é loucura! É blasfêmia! Nisso Catariana teria dito: Então por que outra razão tu estarias aí lamentando por aqueles que não querem ouvir a Palavra de Deus, enquanto há tantos outros que ouvem e que por esta Palavra serão salvos?
Parece que é isso que estavam pensando também Maria e Maria Madalena naquele domingo quando foram ao sepulcro: Deus morreu. O salvador morreu. Ele que disse ser o Messias agora está morto. Já sem mais esperança, só lhes restava ir ao sepulcro para embalsamar o corpo de Jesus.
Mas algo que elas não esperavam acontece: Um anjo desce dos céus e remove a pedra que estava na entrada do sepulcro. Os guardas, de tanto medo, ficam como que mortos. Porém às mulheres o anjo diz: Não temais. Jesus, que foi crucificado, não está mais aqui. Ele ressuscitou.
Isso tudo não deveria ser surpresa para aquelas mulheres porque Jesus havia prometido a sua ressurreição. A gente sabe que, pelo menos três vezes, Jesus avisou que ele iria morrer e ressuscitar no terceiro dia. Então, onde está o problema? Será que foi falha na comunicação? Não. O problema é que elas não creram.
Por isso vale perguntar: Será que nós, às vezes, também não pensamos que Deus está morto ou vivemos como se ele estivesse? Frente ao pecado, quando não lutamos contra. Ou na dificuldade, quando agimos como se tudo dependesse de nós. Como se estivéssemos sozinhos. Sem Deus.
Nesses e em outros momentos semelhantes é que somos tentados a viver e a crer que Deus está morto. O mundo também questiona: Se Deus estivesse, pelo menos, atento não poderia ter tanta violência, sofrimento, morte. Onde está Deus? Tantos questionamentos que são frutos da incredulidade ou da nossa pequena fé.
Não só as mulheres, os discípulos, mas ainda nós que assim como eles ouvimos e conhecemos o que Jesus ensinou temos dúvidas. Temos medo. E, muitas vezes, agimos como se Jesus não tivesse dito nada e agora estivesse morto, sem poder fazer mais nada por nós.
Por isso a mensagem do texto de hoje está aí para nos fortalecer, para nos animar na fé e na vida. Porque, ao contrário do que as mulheres pensavam, Jesus mais uma vez cumpriu a sua promessa. Ele ressuscitou! Ele vive!
Claro que isso é uma coisa que a gente sabe até por outras passagens da Bíblia, mas aqui fica mais nítida ainda a importância de prestar atenção e levar a sério o que Jesus diz. E assim também, por que não, a Palavra de Deus na sua totalidade.
Pelo menos três vezes Jesus anunciou a sua morte e ressurreição. Também deixou bem claro o propósito da sua vinda ao mundo. Várias e várias vezes ele disse e mostrou que ele e o Pai são um e que, portanto, ele é Deus junto com o Pai.
O que faltou àquelas pessoas certamente não foi conhecimento ou provas da divindade de Jesus. O que faltou foi a fé verdadeira para que elas cressem firmemente na ressurreição de Jesus antes mesmo de ele ressuscitar.
Muitas vezes, o nosso problema é o mesmo. O conhecimento de Jesus e da sua Palavra nós temos e até concordamos com tudo. Porém o que pode faltar é a fé. E quando falta a fé vivemos intranquilos porque também não sabemos como as coisas vão acontecer exatamente.
Por isso, é preciso ouvir com os ouvidos certos: os ouvidos da fé. E esses ouvidos só Deus pode nos dar. Por isso ele diz: a fé vem pelo ouvir da Palavra. Pelo entrar em contato com ela.
Como você avaliaria o nosso ouvir a Palavra? O nosso ouvir Jesus? Será que se Lutero fosse pastor aqui ele também estaria desanimado? Ou ele poderia pregar com alegria sabendo que ali há cristãos que anseiam em conhecer mais e mais a Palavra de Deus?
Para os momentos de dúvida e de medo só Deus na sua Palavra pode nos fortalecer e animar na fé e na vida. Foi a sua palavra que trouxe à existência aquilo que não existia; foi a sua Palavra que foi anunciada ao povo de Israel para o orientar; foi a sua Palavra que os profetas anunciaram e também os evangelistas e apóstolos.
E lembremos que Deus sempre cumpre as suas promessas. Ele nunca deixou uma “falhazinha” sequer. De modo que em momento algum nós temos motivos para duvidar de Deus no seu cuidado e na sua orientação.
Que bom que Jesus nunca desiste de nós. Assim como ele fez questão de aparecer àquelas pessoas, porque assim elas iriam crer e anunciar a sua ressurreição, assim também Jesus continua vindo a nós nas Escrituras, nos sacramentos e também nos seus anjos e mensageiros.
Sim, Jesus quis aparecer a quem precisava. Mas ele também disse que bem-aventurados são os que não viram e creram. Nós não podemos ver Jesus como aquelas pessoas tiveram o privilégio e a alegria de ver. Mas nós podemos ver de uma maneira melhor ainda: com os olhos certos – os olhos da fé.
Assim Jesus faz de nós anunciadores da sua mensagem, da sua Palavra, junto com os profetas, os evangelistas e apóstolos. Os anjos anunciaram algumas coisas. Mas é a Igreja que Jesus chamou para anunciar a sua ressurreição. A verdadeira mensagem da Páscoa. A grande mensagem da Igreja Cristã.
Nossa tarefa não é fazer com que todos queiram ouvir a Palavra de Deus e amem esta Palavra. Somos apenas mensageiros. Nós só anunciamos.
A morte de Jesus foi o momento decisivo da nossa salvação. Pois foi quando Jesus ofereceu a si próprio como pagamento pela dívida do nosso pecado. E a ressurreição é a prova de que este pagamento foi aceito pelo Pai. A ressurreição foi a última prova (e a decisiva) de que a nossa salvação está garantida.
Pela fé no salvador Jesus Cristo, assim como ele vive, nós também viveremos. Foi isso que ele prometeu. E se ele prometeu, com certeza é assim que vai ser. “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá”.
Jesus não ficou na morte. Ele ressuscitou. Porque Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos. E assim como Jesus guiou as mulheres e os discípulos para onde eles o encontrariam, Jesus continua a nos guiar pelo reto caminho, ao final do qual nós também o encontraremos para a eternidade.
Deus morto? De jeito nenhum! Ele é o Deus vivo. Ele é o Deus de vivos. Por isso nós, que fomos agraciados pela fé, podemos viver felizes, tranquilos, agradecidos. Porque Jesus está com a gente agora e vai estar para todo o sempre. Amém.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Mensagem Sexta-feira Santa A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Jo 19.17-30 – Sexta-feira Santa A 2014
A morte de Jesus consuma a salvação
v. 30: “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito”.
No último domingo – Domingo de Ramos ou Domingo da Paixão – nós refletimos sobre a caminhada de Jesus para a cruz. O momento em que ele foi acusado pelos sacerdotes, pelos anciãos e pelo povo. Lembramos que tudo aquilo Jesus teve de sofrer porque ele havia assumido o nosso lugar, tomando sobre si a nossa culpa, os nossos pecados.
E concluímos com uma pergunta: Que fim levou essa caminhada de Jesus? A resposta é o próprio texto de hoje onde lemos o claro relato da crucificação de Jesus.
Especialmente aqueles que tiveram acesso ao Mensageiro Luterano ano passado, talvez se lembrem do tema do último Congresso Nacional da JELB [Juventude Evangélica Luterana do Brasil], que aconteceu em janeiro de 2013. O tema foi: “Tetélestai: A consumação do amor de Deus”. E todo o Congresso girou em torno desta palavra: Tetélestai.
Mas o que o é Tetélestai? Depois nós vamos falar um pouco mais sobre essa palavra, agora só o que importa é saber que Tetélestai é a penúltima palavra que Jesus disse antes de morrer. Tetélestai significa “está consumado”, “está completo”, “está concluído”. Tetélestai indica a vitória de Jesus.
E sobre o que foi essa vitória? Embora todos nós saibamos a resposta, hoje certamente é um dia que vale relembrar e refletir sobre o que Jesus venceu. Basicamente nós poderíamos dizer que toda a obra de Jesus, desde a sua vinda ao mundo até a sua morte, foi para vencer o pecado. A única razão porque Jesus teve de vir ao mundo é porque o mundo caiu em pecado e por ele estava contaminado, indo rumo à autodestruição.
Assim nós percebemos como o pecado é coisa séria. E como Deus leva a sério a luta contra o pecado. Uma luta que ele mesmo travou. O pecado não é uma coisa qualquer que sobreveio à humanidade. O pecado é um intruso na Criação de Deus. Deus não criou o pecado e ele não quer o pecado porque é isso que nos afasta dele e que ofende a sua santidade. Como escreveu o profeta Isaías: Os nossos pecados nos separam de Deus. E não só separam como ainda conduzem à morte e à condenação.
Por isso a vitória sobre o pecado sempre implicou em derramamento de sangue. E isso explica os tantos sacrifícios do Antigo Testamento. Porque o ser humano não tem forças contra o pecado. Muito pelo contrário, quando o pecado entrou no mundo passou a fazer parte da nossa natureza de forma que nós agora amamos o pecado. Nós somos perdidamente apaixonados por quebrar os mandamentos de Deus.
O povo de Israel oferecia sacrifícios, holocaustos, ofertas voluntárias, ofertas pela culpa, ofertas pelo pecado porque o ser humano, como tal, não tem o que oferecer a Deus em paga pelo pecado. Ele precisa de um substituto. Ele precisa de alguém que faça isso no lugar dele.
Deus sempre soube disso. E Deus quis ser o nosso substituto. Na pessoa do seu Filho Jesus Cristo ele tomou sobre si todos os pecados da humanidade e pagou por eles com o seu próprio sangue. Sangue puro, inocente. Por isso na nossa liturgia nós imploramos pelo perdão de Deus por causa da santa, inocente e amarga paixão e morte de seu amado Filho Jesus Cristo.
Nada é pelo nosso merecimento ou dignidade porque em nós não há mérito ou dignidade. E é essa consciência, esse reconhecimento da nossa completa indignidade que nos permite enxergar como é grande o amor do nosso Deus.
Deus não quer empecilhos que nos afastem dele. Mas já que havia, ele se propôs a tirar do caminho esses empecilhos. A misericórdia de Deus o levou a se banhar no sangue e no pecado com o único propósito de que nós não tivéssemos de sofrer as consequências do pecado que é a ira de Deus. Porque maior do que a ira de Deus é a sua misericórdia. É o amor que Deus tem pelo pecador que o leva a ser injusto consigo mesmo, entregando à morte o inocente, para que nós, apesar dos nossos pecados tivéssemos, em Cristo, a justiça de Deus e a vida eterna.
E se Jesus tomou sobre si todos os pecados, isso significa que Jesus também tomou sobre si todas as consequências do pecado. Como lemos em Isaías, ele tomou sobre si toda doença, toda enfermidade, dor, a angústia, o sofrimento, o desespero da humanidade. De modo que só em Jesus nós encontramos aquele que conhece a nossa dor, que participa do nosso sofrimento e no qual nós temos a força para enfrentar esses momentos da nossa vida.
Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Por isso nós lemos em Apocalipse: Quem são esses que serão salvos? São os que tiveram os seus pecados lavados no sangue do Cordeiro de Deus.
E pela sua vitória sobre o pecado, Jesus venceu também os outros dois inimigos: a morte e o diabo. A morte que entrou no mundo como castigo pelo pecado. Como Deus avisou antes da Queda; como o apóstolo Paulo escreveu em Romanos.
Porém também a morte Jesus carregou, a enfrentou e venceu da forma mais contraditória possível: morrendo. Quando Jesus enfrenta a morte cara a cara ele mostra que tem o poder de ser vitorioso sobre ela. E assim Jesus nos livrou também do poder da morte. Agora o apóstolo Paulo pergunta: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
Também foi na morte que Jesus venceu o diabo, nos comprando com o seu santo e precioso sangue para que sejamos só dele e, assim, possamos viver novamente em obediência a Deus.
O pastor Rudi Zimmer, que palestrou naquele Congresso mencionado anteriormente, disse assim: “Qual era a intenção do diabo? Tudo o que o diabo queria, em todas as suas artimanhas, era impedir que Jesus consumasse a vitória sobre o pecado, a morte e ele próprio. Para isso, o diabo usou a mesma tática que utilizou com Adão e Eva: o caminho da exaltação. Quando lhes sugeriu que seriam ‘como Deus’, os olhos deles brilharam e eles comeram da fruta. Portanto, o diabo só poderia ser derrotado pelo caminho [contrário] da humilhação, da total obediência a Deus... E foi esse o caminho que Jesus escolheu andar, até o final”.
Normalmente vemos a Sexta-feira Santa como um dia de tristeza; um dia de lamentação. E é compreensível já que lembramos da morte do Filho de Deus. E mais do que isso, a razão da sua morte, que foi por causa dos nossos pecados.
Porém, Tetélestai não foi um grito de terror. Acabou! Não tem mais jeito! Não há esperança! Pelo contrário: Acabou! Está consumado! Tudo está completado! Não falta nada! A salvação está consumada na morte de Jesus de uma vez por todas!
Agora sim, vale a pena, também, ir um pouco mais fundo na palavra Tetélestai. Essa palavra se encontra no texto de modo a nos indicar que a morte de Jesus não foi simplesmente uma coisa que aconteceu no passado, mas uma coisa que aconteceu no passado e que tem uma repercussão por toda a eternidade.
Portanto, vejam que, em tudo, até na palavra que Jesus escolheu, ele queria garantir, certificar que tudo o que era necessário para a nossa salvação estava completo na sua morte.
A obra de Jesus foi completa. Foi perfeita. Por isso Deus não pede mais sacrifícios. Jesus já fez tudo. Ele foi o sacrifício de uma vez por todas. Com sua morte, Jesus conquistou a paz com Deus e a vida eterna. Não foi consumado. Está consumado! Amém.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mensagem Domingo da Paixão A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Mt 27.11-32 – Domingo da Paixão A 2014
O justo pelo injusto
v. 26: “Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser crucificado”.
Você já foi acusado injustamente? Já teve de pagar por algo que você não fez? Talvez isso, de uma ou de outra forma já tenha acontecido com todos nós. Quantas vezes alguém acaba sofrendo ou tendo de pagar por algo que não lhe cabe? Um apronta, mas é outro quem leva a culpa.
Na verdade, nesse tipo de coisa o ser humano já nasce com o título de mestre. A coisa mais fácil é notar como as crianças custam a admitir o que fizeram de errado. Sempre tentando empurrar a culpa para cima de outro. E se voltarmos à nossa infância vamos perceber a mesma atitude.
É o que nós vimos também no capítulo 27 de Mateus. E não numa coisa de criança, mas em uma decisão judicial. E aqui, mais uma vez, o culpado fica livre e o inocente é condenado.
Esse tipo de injustiça é uma das coisas mais comuns sobre a face da terra porque ninguém quer se dispor a assumir a própria culpa. Ninguém quer ter o mínimo esforço nem mesmo de reconhecer que errou. Muito menos de admitir.
E como essa atitude egoísta pode implodir uma amizade, pode implodir um casamento. Porque ninguém quer dar o braço a torcer. Cada qual só pensa em defender o seu ponto de vista e lutar para que o outro também enxergue as coisas como ele enxerga. Não há um colocar-se no lugar do outro. Não há um assumir o lugar do outro.
No final, a própria família acaba virando um “cada um por si e Deus por todos”. Porque ali não se pratica o perdão, a compreensão, o bom senso. E dessa forma, todos bem sabem que a coisa só pode ir de mal a pior.
E se, muitas vezes, não conseguimos ou não queremos assumir a nossa própria culpa, que dirá, então, assumir a culpa de outrem. Colocar-se no lugar de outra pessoa e, se necessário, pagar por algo que não fizemos em defesa do nome e da integridade daquela pessoa.
O Antigo Testamento mostra que essa atitude é coisa velha. Para falar a verdade, muito velha. Se quisermos chegar na origem desse egoísmo precisamos voltar até Adão e Eva e perceber como já lá, no paraíso, cada um passava a culpa adiante. Adão pôs a culpa na mulher, a mulher na serpente e ambos em Deus.
Assim vemos que a causa de tudo isso é o pecado que está dentro de todos nós. O pecado que me leva a fazer tudo o que vem na cabeça, sem medir as consequências, mas depois não querer assumir nem um dos meus erros. E quando não há como negar, então logo tentamos inventar uma desculpa para justificar o que fizemos. – Tá, é verdade, eu fiz tal coisa. Mas foi por causa disso e daquilo e por aí vai.
Enquanto isso o que Deus espera de nós é exatamente o contrário. Na sua Palavra, Deus nos ensina a viver em comunhão, se preocupando com o bem de todos; o auxílio mútuo: que cada cristão seja um refúgio e fortaleza do outro; Deus nos ensina a levar as cargas uns dos outros, ajudando, animando e orando por eles.
Por isso uma igreja que leva a sério a Palavra de Deus se reflete, em primeiro lugar, em uma vida congregacional ativa. Porque viver em congregação, como igreja, vai muito além de estar filiado a uma igreja. Tem a ver com reuniões, encontros, visitas, como formas pelas quais mostramos que somos cristãos não individuais, mas congregacionais, como Deus quer, e que nos preocupamos tanto com o nosso próprio crescimento espiritual como com o bem-estar dos nossos irmãos na fé.
E, assim, viver como admoesta a Palavra de Deus: em amor fraternal, em amor verdadeiro. Até o ponto de, caso necessário, e se parecer a melhor escolha, assumir a culpa para livrar de mais uma acusação aquela pessoa que talvez já esteja carregando um fardo maior do que ela consegue suportar.
Isso também é tomar da cruz. Não estamos aqui para apontar e divulgar pecados. Estamos aqui para encobrir e perdoar.
E não só podemos como precisamos agir assim. Importando-se uns com os outros e fazendo o que estiver ao nosso alcance pelo bem e pela honra de cada um.
E isso certamente não acontece espalhando os erros e os pecados de determinada pessoa. Mas, bem o contrário, encobrindo ao máximo e arguindo aquela pessoa para que corrija a sua vida, tenha uma vida cristã e dê bom exemplo aos demais.
Pois é o que Deus faz com a gente. Nós conhecemos o Sl 32 que diz: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. E também em Mt 18, Jesus diz: “Se teu irmão pecar, vai argui-lo entre ti e ele só”.
Portanto, a atitude cristã, nesse sentido, envolve três coisas. Primeiro, aprender a perdoar. Segundo, encobrir o pecado para proteger o nome e a honra da pessoa. E em terceiro lugar, ajudar a pessoa a corrigir a sua vida pecaminosa para que o pecado não a leve para longe de Deus e até mesmo à condenação.
E queremos fazer assim porque queremos seguir o exemplo do nosso salvador Jesus Cristo. Ele, que sempre buscou em primeiro lugar o perdão e a salvação das pessoas. Que direito nós temos de agir diferente de Jesus se ele, que é santo, não desprezou os pecadores?
E essa é a grande mensagem da Palavra de Deus: Que Jesus vem ao encontro do pecador, perdoa os seus pecados e o orienta em uma nova vida. Foi o que ele fez com todos nós e é por isso que nós estamos aqui como congregação, como filhos de Deus que querem louvar a Deus pela sua misericórdia.
Como poderia ser diferente? Como poderíamos deixar de dedicar nossas vidas a Jesus, se o texto de hoje nos compara com Barrabás? Você e eu, cada um individualmente é aquele por quem Jesus assumiu o lugar. Por quem Jesus se entregou à morte, sem dizer uma palavra, para que fôssemos libertados dos nossos pecados e da culpa que tantas vezes carregamos.
Somos nós que merecemos a condenação por causa dos nossos pecados. Mas Jesus assumiu o nosso lugar, a nossa culpa, a nossa dívida. E não por obrigação ou como que por armação. Mas de forma espontânea, movido unicamente pelo amor que Deus tem por cada um nós.
Agora, livres do peso do pecado e da culpa, queremos fazer como Simão e carregar cada qual a sua cruz com o mesmo entusiasmo do apóstolo Paulo que diz: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele”.
Ter de sofrer e pagar por algo que não fez pode ser injusto. Mas é uma das virtudes mais belas na vida do cristão. E Jesus é o nosso exemplo por excelência. Ele que assumiu o nosso lugar, tomou sobre si os nossos pecados e os carregou até a morte.
Por isso Jesus não quer ser só um exemplo de vida. Ele quer, antes de qualquer coisa, ser o nosso salvador e nos confortar com a certeza do perdão e da salvação que ele nos conquistou.
E como isso aconteceu? Isso já é assunto para o nosso próximo encontro. Até lá, que Deus nos abençoe com a certeza do perdão e da salvação que nós temos em Jesus. Amém.