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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Mensagem 18º dom. após Pentecostes B 2015


Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína

Pr. Edenilson Gass

Sl 104.27-35; Nm 11.4-6,10-16,24-29; Tg 5.7-20; Mc 9.38-50 – 18º dom. após Pentecostes B 2015

É preciso manter o foco

v. 50b: “Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros”.
“Foco”! Eis aí uma palavra bastante relevante para os dias em que vivemos. Aqui não estamos falando do foco da câmara fotográfica que precisa ser regulado se você quiser uma foto de qualidade – embora esta também poderia ser uma comparação possível – mas do foco no sentido de alvo, objetivo, onde você quer chegar. As empresas de todos os portes, desde que sejam empresas sérias e que queiram ir adiante, estimulam seus funcionários a manterem o foco, ou seja, a se lembrarem constantemente qual é o objetivo da empresa para que, assim, ser perder o foco, ela possa alcançar as suas metas.
E na Igreja, será que o tal do “foco” também é necessário? Você tem claro em mente qual é o objetivo da Igreja Cristã na terra? Afinal de contas, quem não sabe onde quer chegar nunca chega a lugar nenhum.
Hoje o texto de Marcos nos convida a ajustarmos o foco da nossa vida cristã. Esse é um daqueles textos de onde o pastor pode extrair quatro, cinco sermões diferentes. Mas parece que vale mais a pena acompanhar todo o desenvolvimento do texto, até para que a gente possa entender a relação entre os diferentes assuntos.
Tudo começa quando João fala para Jesus que um homem andava expelindo demônios por aquela região. E, como não era alguém que, pelo menos, seguia Jesus, os discípulos o proibiram porque imaginaram que ele não tinha o direito de fazer isso sem ser um discípulo de Jesus.
Não é possível saber se eles estavam dizendo isso como se tivessem feito grande coisa ou se, simplesmente, estavam relatando a situação. De qualquer forma, a resposta de Jesus nos chama a atenção: Não o proíbam. E eu vou dar duas razões para isso: Primeiro, porque se alguém hoje me anuncia, não vai amanhã estar falando mal de mim. E segundo, se ele não é contra nós, então ele até nos ajuda.
Essa primeira parte nos faz refletir sobre o seguinte: Será que a atitude dos discípulos não reflete um pouco a nossa atitude em relação aos de fora? Quantas vezes nós olhamos para os que são de fora e, em vez de tentarmos trazê-los para dentro do nosso grupo, nos fechamos mais ainda e ficamos de longe a julgar e a criticar?
Por isso o que Jesus ensina aqui é muito importante. Ele está dizendo assim: Paróquia Luterana de Juína, vocês estão vendo como tantas igrejas falam um monte de bobagem e enganam pessoas em meu nome? É triste que seja assim. Mas deixem que seja. Porque, pelo menos, de uma ou de outra forma o meu nome está sendo anunciado.
Também o apóstolo Paulo disse isso: Pelo menos o Evangelho está sendo anunciado.  Se tiverem a oportunidade de conversar com alguém e expor a verdade de que a salvação já foi conquistada por Cristo e que já podemos viver esta salvação mediante a fé, então falem. Não percam a oportunidade. Mas não vão lá levantar bandeira contra essa ou aquela igreja porque pode ser que, no meio de muitos erros, alguém leve para casa simplesmente que Jesus morreu por ela. E essa pessoa encontrou a salvação.
E Jesus vai além para mostrar que não só luteranos vão para o céu: Se alguém vos der um copo de água porque vocês são meus, esse não é contra nós e também ele receberá o seu galardão.
Agora é que a coisa parece complicar, porque parece que Jesus, do nada, muda de assunto. Mas não é nada disso. Na sequência, Jesus só dá um exemplo no outro extremo da coisa. Ele mostra que o contrário também é verdade. Assim como cada um receberá a sua recompensa mesmo por coisas tão simples como dar um copo de água, assim também aquele que levar alguém a cometer pecado receberá a sua recompensa.
Ele diz: “Quem fizer tropeçar a um destes pequeninos” – e os “pequeninos” são os cristãos, não só as crianças como a gente costuma pensar – melhor seria para ele uma morte trágica do que ter de acertar as contas com Deus.
Então aqui nós vemos como é grande a nossa responsabilidade em relação ao ensino e ao testemunho cristão. Alguém até pode pensar: Não, mas isso é fácil. Eu não digo para ninguém cometer pecados. Mas vejamos o seguinte: Dizer para uma pessoa fazer alguma coisa que vai contra os mandamentos de Deus não é a única forma de fazer alguém pecar. Se as minhas atitudes não condizem com a vontade de Deus, a tendência daqueles que convivem comigo ou que me observam é fazer a mesma coisa.
E é por isso que Jesus vai dizer “se a tua mão te faz tropeçar, corta-a”. Ou seja, se alguma coisa te afasta do caminho certo, por mais valioso que seja, arranca isso da tua vida. Não só porque você mesmo pode perder a salvação, mas também aqueles que estão à sua volta podem se escandalizar.
Aliás, qual é o pecado que nos vem à mente quando lemos na Bíblia sobre escandalizar ou tropeçar – como aparece no texto de hoje? A apostasia. O cair da fé. Desviar-se do caminho de Deus até ao ponto de abandonar a fé e a confiança em Jesus.
E é muito interessante perceber como Jesus chega nesse ponto. Ele começa falando lá daquele homem que foi repreendido pelos discípulos; depois ele faz uma transição para qualquer um (não importa quem) que der um copo de água ou que fizer alguém tropeçar; e depois ele começa a dizer: se a tua mão... se o teu pé... se o teu olho te faz tropeçar.
Parece que a intenção de Jesus é tirar o foco daquele homem e colocar sobre os discípulos. É como se ele estivesse dizendo aos discípulos e a nós: Antes de vocês se preocuparem com o que os outros estão fazendo, reflitam sobre o que vocês estão fazendo. Como anda a vossa vida cristã? A vossa luta contra o pecado? O vosso testemunho diante das pessoas?
– Vocês repreenderam aquele homem só porque não era um dos nossos. Só que vocês não levaram em conta que, pelo menos, ele está anunciando o meu nome (em palavras e ações).
E a gente percebe ainda no texto que Jesus usa o mesmo verbo (tropeçar, escandalizar) quando ele faz aquela suposição (“quem fizer tropeçar”) e quando ele fala diretamente aos discípulos (“se a tua mão te faz tropeçar”). A gente sabe que essa é uma palavra muito forte. E com certeza Jesus está querendo, no mínimo, dar o alerta: se vocês não se cuidarem, derem ocasião ao pecado, se afastarem de Deus, vocês mesmos é que daqui a pouco vão estar numa situação difícil.
Por isso o recado final de Jesus não podia ser diferente, lembrando o modo de vida que precisamos ter: “Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros”. Sejam como o sal que tempera e deixa tudo mais gostoso: Busquem a paz entre vocês. Não fiquem ressaltando as diferenças, os problemas; não percam tempo julgando e acusando os outros. Gastem essa energia toda buscando a paz e temperando a vida do seu semelhante.
Aliás, Jesus diz mais do que “sejam sal”. Ele diz “vocês são o sal da terra”. Isso porque não depende de nós o poder e não vem de nós o poder para temperar o mundo com a vontade de Deus. Somos sal porque o Espírito Santo reside em nós e muda o nosso foco.
Muda o nosso foco natural de nos fecharmos no nosso grupinho, de procurarmos só satisfazer nossas vontades para um foco cristão. De modo que nosso objetivo precisa ser acolher e integrar os de fora, levar a todos a palavra de Deus e viver essa Palavra testemunhando que somos discípulos de Jesus.
O foco é importante em qualquer tipo de empreendimento, de projeto. E na Igreja não é diferente. Somos orientados pelo santo Espírito de Deus a concentrarmos nossos esforços no bom testemunho. Como disse Jesus: Pelos seus frutos vocês serão conhecidos.
Esse é foco de Deus: Levar a salvação a toda criatura. Se agora vivemos esta salvação, temperando o mundo com a palavra de Deus é porque esta Palavra já alcançou o nosso coração. E tendo sido o foco da ação de Deus, podemos olhar para o nosso próximo como o foco da nossa ação. E podemos estar sempre certos da companhia do Espírito Santo a nos ajudar e nos orientar todos os dias da nossa vida. Amém.

sábado, 19 de setembro de 2015

Mensagem 17º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 54; Jr 11.18-20; Tg 3.13-4.10; Mc 9.30-37 – 17º dom. após Pentecostes B 2015
Humildade ao exemplo de Cristo
v. 35: “E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos”.
Permitam-me começar fazendo uma pergunta simples: Você é uma pessoa humilde? Por incrível que pareça, por mais que esta seja uma pergunta simples, pode ser que você responda errado. Para acertar a resposta, primeiro precisamos definir o que é humilde, humildade.
No nosso português do dia-a-dia muitas vezes usamos essa palavra com mais de um significado. Por vezes dizemos que uma pessoa é humilde porque ela é simples ou porque não tem estudo; outras vezes chamamos de humilde alguém que possui baixas condições financeiras; outras vezes ainda por ser uma pessoa que não reconhece ou não coloca em prática as suas habilidades. Confundimos humildade com pobreza, modéstia, vergonha quando não até com baixa autoestima.
O texto do evangelho nos dá uma boa lição de humildade e está dividido em dois momentos, como vocês puderam ver na leitura. No primeiro momento Jesus anuncia pela segunda vez sua morte e ressurreição e no segundo momento aquela questão dos apóstolos sobre quem seria o maior no reinado do Messias. O que uma coisa tem a ver com a outra é o que a gente quer descobrir. Por enquanto, vamos ficar com a questão dos apóstolos.
Naquele momento, eles já haviam partido para Cafarnaum e chagaram a uma casa. Como durante todo o caminho os discípulos vinham cochichando alguma coisa, quando chegaram lá Jesus pergunta: O que é que vocês estavam discutindo pelo caminho?
Ninguém responde. Que nem criança que, quando sabe que tal coisa é errado, vai lá e faz escondido. Mas quando os pais descobrem fica com tanta vergonha que não quer nem falar sobre o que aconteceu.
Mas Jesus, por sua onisciência, sabia muito bem que a discussão era sobre quem era o maior. Maior em que sentido o texto não explica. Mateus até acrescenta “maior no reino dos céus”.
Ao que tudo indica, os apóstolos ainda não tinham conseguido tirar o véu do ensinamento judaico sobre o Messias. Aguardavam um Messias que tomaria assento em um troco e reinaria com a paz e a justiça do rei Davi. E é claro que um rei não governa sozinho. Existe toda uma hierarquia que constitui o quadro completo. E nessa hierarquia quem será que iria ocupar o lugar mais alto? Ainda mais considerando que há poucos dias Jesus subiu a um monte e levou só o Pedro, o Tiago e o João.
Dá até para tentar imaginar a conversa deles: – O maior deve ser o Pedro. Ele fala bobagem de vez em quando, mas pelo menos ele tem coragem. – Não. O maior é o João. O João é o cara do amor. É o discípulo amado de Jesus.
Mas Jesus acaba logo com essa ladainha toda. Ele chama os doze, senta com eles e diz: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos”.
E com isso Jesus não está querendo dizer nada do tipo: Olha, cuidado! Se vocês continuarem tentando ser os primeiros, vão acabar sendo os últimos e vão ter que servir os outros (em tom de ameaça, como se servir fosse um castigo). Muito pelo contrário, o que Jesus está dizendo é que o primeiro, o maior é justamente aquele que se coloca por último. É aquilo que o teólogo Paul Kretzmann chamou de “o grande paradoxo do reino de Deus” onde o maior é o menor e o menor é o maior.
No reino dos céus – e esse é o Reino do Messias – a hierarquia é invertida. Enquanto nós temos o costume de olhar de cima para baixo aqueles que servem e supervalorizar os grandes e poderosos, no reino de Deus grande é o que serve e pequeno é o que só espera ser servido.
Podemos facilmente ser tentados a pensar que o grande na igreja é aquele que não falta um culto, cuja oferta é maior. Pode ser que esse também seja grande. Mas a regra geral que Jesus dá é que grande é aquele que serve ao seu próximo em amor. Independentemente se dentro ou fora da igreja.
Com esse ensinamento Jesus nos ensina a ser cristãos. Que viver a fé cristã e carregar a sua cruz também envolve um certo sacrifício do tempo para o serviço do reino de Deus. Se uma pessoa entende que pelo fato de participar dos cultos e fazer a sua oferta, fica descompromissada das demais atividades, do testemunho e do amor ao próximo, assumindo a postura de quem é grande, por isso só se constitui o menor e o último no reino de Deus.
Com isso Jesus ensina também qual é a humildade que ele deseja em nós como seus discípulos: É o ato de se colocar debaixo do nosso próximo. Assumir de propósito uma posição de inferioridade em relação ao outro mesmo que diante de Deus sejamos todos iguais.
Essa é a verdadeira humildade: servir sem distinção. Não importa se o cara é um grande amigo aqui da igreja ou se é um desconhecido que trabalha no supermercado. O tratamento deve ser o mesmo. O interesse deve ser o mesmo.
Por que vocês acham que Jesus, neste momento, toma uma criança nos braços e diz que os discípulos devem recebê-la em seu nome? Justamente porque a criança, naquele contexto, era alguém excluída. Alguém que era considerada inferior aos demais. E o mesmo Jesus diz aos seus discípulos de todos os tempos e idades: Se do seu ponto de vista alguém parece inferior, é especialmente a este que você deve servir.
Além disso, quem é que gosta de uma pessoa orgulhosa? Considerar-se melhor ou mais importante do que os outros é a pior coisa que tem. A pessoa estraga todos os seus relacionamentos na família, no trabalho, na igreja ou em qualquer outro lugar. Nem Deus gosta do orgulhoso. E isso nós lemos em Tiago que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Só não vamos fazer confusão e pensar que Jesus está usando uma criança como exemplo de humildade. Ah, a criança sim é humilde. Em primeiro lugar: não é coisa nenhuma. A criança adora se colocar como “o maior” e nós fazemos bem quando, nessas horas, fazemos ela se sentir “o menor”. No nosso português do dia-a-dia isso se chama “cortar as asinhas” e não faz mal para ninguém. Só ajuda.
E, em segundo lugar: Exemplo da verdadeira humildade nós temos em Jesus. Ele realmente se humilhou abandonando a glória dos céus para vir a este mundo cheio de pecado e de maldade. Ele que não veio para ser servido, mas para servir. Ele que, sendo o Filho de Deus, não tinha onde reclinar a cabeça. E tudo isso para o benefício alheio: para o nosso benefício.
E agora nós podemos ligar os dois momentos do texto sem nenhum problema. Porque o ponto alto da obra de Jesus foi exatamente se entregar por nós na cruz. Jesus chegou ao ponto de dar a vida em lugar da nossa vida. Ele morreu para que nós pudéssemos ter vida, e vida eterna.
E é daí que precisa vir a nossa motivação para o serviço em amor e humildade no reino do Messias. Não queremos fazer coisas grandiosas para sermos vistos e lembrados. Mas queremos, seguindo o exemplo do nosso salvador, assumir a forma de servo para servir sem distinção no amor e no temor do nosso salvador Jesus Cristo. Amém.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

I Encontro da ETE

A Educação Teológica por Extensão (ETE), oferecida pelo Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, tem como objetivo preparar os membros da igreja, em especial seus líderes, para conduzir as atividades de uma congregação com mais segurança e conhecimento. O programa é subdividido em seis módulos, onde o aluno pode se desenvolver constantemente.
Mais ou menos pela metade do ano passado, a CEL Cristo de Juína deu início a uma turma de três alunos da ETE. Atualmente contamos com dois alunos devidamente matriculados no Seminário, porém a participação nas aulas tem sido de três a quatro pessoas, o que é extremamente satisfatório. Neste momento, a turma está prestes a concluir o módulo 1, mas já podemos ver alguns frutos.
Domingo, dia 13/09/2015, tivemos após o culto uma pequena programação organizada pelos participantes da ETE, cujo objetivo era refletir sobre a vida cristã em congregação e sua tarefa de anunciar o Evangelho. Todos os membros tiveram participação respondendo em uma folha as seguintes questões:
1) O que é uma congregação?
2) O que uma congregação faz?
3) Qual o seu papel na sua congregação?
A seguir as respostas foram comparadas a versículos bíblicos que tratam sobre o assunto.
Abaixo, algumas fotos do encontro.




sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mensagem 16º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 116.1-9; Is 50.4-10; Tg 3.1-12; Mc 9.14-29 – 16º dom. após Pentecostes B 2015
Em Jesus podemos confiar plenamente
v. 22b-23: “Mas, se tu podes alguma cousa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê”.
Quem que seja realmente cristão nunca sentiu altos e baixos na sua fé? Se não todos nós, provavelmente a maioria já deve ter passado por esta experiência: Num dia nossa fé está lá em cima; sentimo-nos seguros e confiantes para o que der e vier; de uma ou de outra forma o que queremos é servir a Deus. Noutro dia, nossa fé está lá em baixo; qualquer problema nos deixa extremamente preocupados e nosso ânimo para servir a Deus já não é mais o mesmo.
O evangelho de hoje mostra bem essa realidade. Aqui, podemos até perceber que essa oscilação da fé pode acontecer mesmo em questão de minutos.
Vamos ao texto: o fato histórico é mais uma cura. Desta vez de uma criança possuída por um espírito maligno que a impedia de ouvir e falar além de convulsionar a criança de tal maneira que parecia que ela ia rasgar. Jogava ela no fogo ou na água, fazia com que rilhasse os dentes. E isso tudo não uma, nem duas, mas várias vezes desde os seus primeiros anos de vida.
Dá para imaginar o desespero daquele pai? Vendo o próprio filho numa situação como essa não sei quantas vezes e não podendo fazer nada por ele.
E esse desespero aparece tão logo Jesus chega, vê os seus discípulos discutindo com os escribas, e pergunta: O que vocês estão discutindo com eles? Antes de os escribas dizerem alguma coisa ou antes mesmo dos próprios apóstolos falarem aquele pai toma a frente e começa a explicar a situação. Ele precisa ser visto por Jesus. Ele não vê a hora de Jesus fazer alguma coisa pelo seu filho.
E é aí que a gente começa a perceber o sobe-desce da gangorra da fé. Primeiro ele diz: “trouxe-te o meu filho”. Era a Jesus que ele buscava. (fé lá em cima) Mas como Jesus não estava, quem sabe os seus representantes podiam resolver o problema. E ele apela para os apóstolos (fé lá em baixo). Mas agora Jesus está aí. Ele sim vai fazer alguma coisa. (fé lá em cima) Só que depois de algumas palavras duras de Jesus, ele já não tem a mesma certeza (e a fé vai lá para baixo de novo).
Será que não é assim que fazemos ou, pelo menos, somos tentados a fazer? Em vista dos problemas que nos atingem, no nosso desespero, buscamos a Jesus. Mas se por acaso ele “não estiver presente” começamos a buscar auxílio em outros lugares, coisas ou pessoas?
Na nossa mania de querer as coisas sempre do nosso jeito e no nosso tempo, se Deus não tomar logo uma atitude em nosso favor, já começamos a pensar que ele não está nem aí e passamos a buscar ajuda em qualquer coisa que esteja mais próxima.
Pois que este texto nos sirva de lição: Quanto mais aquele homem se afastava de Jesus, nos vales da sua fé, tanto maior era o seu desespero. E isso é visível no texto. Ninguém está inventando nada. É só ler o texto com atenção que dá até para visualizar aquele pai desesperado e agora, ainda por cima, decepcionado.
Por isso nos obstáculos da vida, sejam eles quais forem, precisamos confiar em Jesus e continuar confiando. Precisamos diariamente colocar diante de Deus aquilo que nos aflige, que nos desespera e buscar nele sempre de novo a força e a sabedoria para seguir em frente.
De nada vai adiantar buscar a solução dos nossos problemas em outro lugar. Recorremos ao conselho de amigos. Não que seja errado. Mas é preciso sempre estar ciente de que pessoas são falhas. E seus conselhos podem até mesmo ser contrários à vontade de Deus. Ou então buscamos socorro em nós mesmos. E essa é uma das nossas grandes tentações: Pensar que estamos sozinhos e lutar sozinhos.
No entanto, Deus está sempre presente. Ele também envia os seus anjos para nos proteger. E como se não fosse mais do que o suficiente, ainda nos dá família, pessoas de confiança e uma grande família, que é a igreja, com as quais podemos compartilhar o que nos pesa no coração e, assim, levando as cargas uns dos outros, sentirmos o alívio da presença e da ajuda de Deus.
Aliás, percebam aqui a atitude incomum de Jesus quando o pai do menino disse que os apóstolos não conseguiram realizar o exorcismo: Jesus fala duro com eles. – Gente incrédula, até quando eu vou ter que aguentar vocês?
O que os apóstolos conseguiram foi uma coisa difícil de conseguir com Jesus: acabar com a sua paciência. E o que tira a paciência de Jesus? A nossa falta de fé; a nossa desconfiança; a nossa teimosia em tentar resolver nossos problemas sozinhos.
Deus está aí a todo momento dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. E nós perdemos a chance de sermos aliviados tentando resolver tudo sozinhos.
Foi por isso que os apóstolos levaram aquela bronca. Eles tentaram expulsar o espírito imundo por suas próprias forças em vez de pedir o auxílio de Deus. Como a gente sabe isso? É só olhar para o final do episódio quando eles chegam em casa e perguntam para Jesus porque não conseguiram. E Jesus simplesmente responde: Vocês nem mesmo fizeram oração.
É só assim que podemos entender quando Tiago diz “resisti ao diabo e ele fugirá de vós”. Resisti na fé. Na confiança de que Deus é maior e que Deus tem poder para nos livrar do pecado, das tentações e do poder do diabo. Não é de nós que o diabo foge. Não é a nós que ele obedece. Mas àquele que, pela fé, habita em nós.
Além disso, a gente pode perceber – e isso é uma coisa bem interessante – que Jesus não prenuncia nenhum castigo, nenhuma ameaça como consequência da falta de fé. Não colocar diante de Deus em oração aquilo que nos desespera nem buscar orientação na sua Palavra já é o nosso castigo. Porque perdemos a chance de enfrentar com Deus aquilo que estamos enfrentando sozinhos.
De onde mais pode vir tanto desespero, ansiedade e preocupação senão da nossa falta de fé? Da nossa confiança tão frágil e vacilante no cuidado de Deus?
Não que essas coisas não aconteçam com o cristão, mas elas não podem tomar conta. Para quem está em Cristo o sofrimento não tem o poder de comandar a sua vida. Porque a fé verdadeira, a fé que se agarra em Jesus sabe muito bem que mesmo na dor e no sofrimento, Deus está presente como um pai que ao ver o filho sofrer, sofre junto e faz o que estiver ao seu alcance por ele.
Por isso quando o menino estava rolando no chão, espumando e se contorcendo, e Jesus continua a conversar com o pai, nada disso significa que Jesus era indiferente ao sofrimento do pai ou do filho, mas ele queria mostrar que, antes de qualquer coisa, a fé precisava estar no lugar certo. O mais importante para Jesus não é o tamanho da fé, mas a qualidade desta fé. E a única qualidade certa é confiar em Jesus e só nele como o nosso Deus justo e bom de quem devemos sempre esperar o melhor.
E é isso que nos traz conforto diante da constante oscilação da nossa fé: Saber que Deus não olha o tamanho ou a força da fé, mas para onde ela se direciona. A importância de fortalecer a fé mediante oração, leitura bíblica e Santa Ceia é para que não vacilemos nem percamos o alvo da fé que é Jesus.
A sua fé oscila? Não se preocupe, isso é normal. O que não pode oscilar é o cuidado com esta fé; o seu constante fortalecimento pelos meios que Deus nos deu para isso e a constante prática desta fé no nosso dia-a-dia. Para que tanta preocupação, estresse, ansiedade? Isso tudo pode resolver alguma coisa? Não. Mas Jesus nos convida a nos refugiarmos nele confiantes de que ele sempre está do nosso lado e que, se estamos com Jesus, então não falta mais nada. Na alegria ou na dificuldade, confiemos sempre em Jesus e busquemos a ele, porque nele nós podemos confiar. Amém.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Mensagem 15º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 146; Is 35.4-7a; Tg 2.1-10,14-18; Mc 7.31-37 – 15º dom. após Pentecostes B 2015
Fé: o maior milagre
v. 37: “E ficavam muitíssimo admirados, dizendo: Tudo ele tem feito bem, e os surdos faz ouvir e os mudos falar”. [Tradução própria]
Qual é o maior milagre que você já presenciou? A sobrevivência de um bebê prematuro que tinha mínimas chances de sobreviver? A cura quase inexplicável de uma poderosa doença? O consolo de alguém que parecia inconsolável? O ar que respiramos? Sim, Deus continua realizando milagres em nossas vidas ou bem diante de nós como ele sempre tem feito. Algumas vezes percebemos esses milagres, outras não.
No final de Marcos 7 nós temos o relato de um dos tantos milagres que Jesus realizou enquanto estava no mundo. Aqui, no caso, a cura de um homem surdo e que tinha algum tipo de dificuldade para articular as palavras. Se era gago, fanho ou se tinha a língua presa, isso não sabemos. Mas também não é o que importa.
Seja como for, a questão é: Por que Jesus realizava aqueles milagres? É muito bonito quando lemos os evangelhos perceber o cuidado e o carinho que Jesus tinha pelas pessoas. Como ele sempre estava atento às necessidades das pessoas e frequentemente fazia alguma coisa por elas.
É uma pena que, neste ponto, muitos não entenderam o motivo daqueles milagres. Um exemplo dessa má compreensão é olhar para esses milagres e pensar que, desde que a pessoa tenha muita fé, qualquer doença pode ser curada imediatamente. Uma outra aplicação errada é ver que também os apóstolos realizaram curas e expeliram demônios e, portanto, que eu ou você também tenhamos poder para fazer o mesmo desde que invoquemos o nome de Jesus.
E é comum em nossos dias igrejas que atraem fiéis mediante a propaganda ou promessa de curas, milagres, prosperidade, sucesso profissional e por aí vai. Verdadeiros mercados religiosos disfarçados de igreja que abusam do nome de Deus para tirar o restante do que as pessoas têm em troca de promessas vazias que nunca serão cumpridas.
E tamanha é a exigência e o peso colocado sobre as pessoas que, não raramente, elas voltam para casa se culpando como se o fato de que suas orações não foram atendidas foi porque tiveram pouca fé ou porque não ofertaram o suficiente para aquela igreja.
Nós lemos hoje no Salmo e em Isaías duas das muitas passagens do Antigo Testamento que falam de milagres. E em todas estas passagens nós temos a promessa divina do envio do salvador. As Escrituras dizem que quando o salvador fosse enviado as pessoas veriam milagres nunca vistos anteriormente.
Portanto, em primeiro lugar, Jesus realiza curas e milagres para cumprir o que fora prometido nas Escrituras; em segundo, para mostrar que ele, sim, ele mesmo, era o Messias; e “de quebra” ainda nos mostra que Deus não é alguém alheio ao sofrimento humano, às nossas necessidades, mas que ele olha com carinho e sempre está presente com aquele que sofre.
É justamente aquela visão de que Jesus era um curandeiro ou que Deus é obrigado a fazer a vontade daquele que crê que Jesus queria evitar. É por isso que tantas vezes ele disse que ninguém dissesse nada sobre os milagres que ele tinha realizado. Mas ninguém “deu bola” para isso e quanto mais Jesus mandava eles ficarem quietos, mais eles falavam.
Quem sabe a gente devia tomar isso como exemplo e mudar a nossa estratégia missionária. Talvez, em vez de dizer “anunciemos Jesus” deveríamos dizer “não anuncie a palavra de Deus”, “não permita que as pessoas conheçam desse tesouro, deixe ele bem guardado”. Vai que, assim, a gente conversa mais sobre Jesus, convida mais as pessoas para as atividades da nossa congregação?
Brincadeiras à parte, verdade é que o excesso de cobrança produz o resultado contrário. Tudo bem que, no caso do texto, as pessoas não obedeceram a Jesus porque não eram seus discípulos, só iam atrás dele por causa dos milagres. Mas na nossa vida, a questão do equilíbrio entre cobrança e estímulo é extremamente importante.
Você sabia que, psicologicamente, a repreensão pesa muito mais do que o incentivo? Se a gente fosse colocar na balança, para cada vez que uma criança recebe uma repreensão por algo de errado que fez, ela deveria receber cinco elogios por aquelas coisas que ela fez corretamente.
Por isso, pais, não pensem que educar é só apontar os erros, mas especialmente os acertos. Educar é sentar junto, conversar, ensinar, abrir a Bíblia e, claro, dar o exemplo. Porque chega um momento em que não adianta mais dizer ao filho que ele não deve ou não pode fazer tal coisa. E nesse momento o adolescente já precisa ter aprendido a vontade de Deus, ter sido conscientizado das consequências de suas atitudes e ver nos pais o exemplo do que é certo e benéfico.
Já aquele pai que nunca tira tempo para o filho não deveria esperar grande coisa de volta. Não que exista uma fórmula para que os filhos sejam perfeitos e nunca errem. Eles vão errar, vão sofrer com suas más escolhas, mas aqueles que lá na infância aprenderam o caminho certo, um dia voltam.
Bom, que fique isso como reflexão. Mas vamos agora voltar ao fato histórico do texto: Jesus toca os ouvidos e a língua daquele homem e ora para que eles sejam abertos. E logo ele já podia ouvir e falar desembaraçadamente.
A questão é: Se Jesus não nos deixou poder para realizar curas e também ensinou que Deus está acima de nós e que ele não tem de fazer exatamente o que nós pedimos, qual é o valor de um texto como esse? De que adianta para mim e para você saber que há dois mil anos Jesus curou um homem perto do mar da Galileia?
Quando lemos a Bíblia – aliás, não leiam a Bíblia! Nunca leiam a Bíblia! – precisamos olhar não para o que nós queremos ver, mas para o que Jesus quer nos mostrar. E Jesus sempre quer nos mostrar algo vai muito além do que os nossos olhos alcançam.
Com suas mãos Jesus destampou os ouvidos do surdo e com a saliva da sua língua desembaraçou a língua dele. Assim também Jesus abre nossos ouvidos para ouvirmos a Palavra de Deus não como um livro qualquer e desembaraça nossa língua para anunciarmos esta mesma Palavra de Deus.
Assim como Martinho Lutero escreveu sobre esse texto que “apenas esses dois órgãos estabelecem uma diferença entre cristãos e não cristãos: o cristão fala e ouve de forma diferente e sua língua exalta a graça de Deus e prega o Senhor Jesus Cristo, declarando que somente ele é o salvador. O mundo não faz nada disso”.
O que Jesus quer mesmo é abrir nossos ouvidos e bocas para que não só ouçamos a sua palavra, mas a amemos de todo o coração e a anunciemos às pessoas tanto em forma de palavra, como em forma de ações.
No livro de Tiago lemos hoje que a fé cristã, a fé verdadeira não é uma coisa morta que só fala de si mesma. Fé cristã é aquela que busca conhecer a vontade de Deus e depois pratica esta vontade no seu dia-a-dia.
Assim como Jesus não só anunciava o reino de Deus, mas também olhava para as necessidades das pessoas, assim também nós, como pequenos cristos no mundo, somos chamados a viver a nossa fé anunciando a salvação e olhando com amor para aqueles que precisam de nós.
Qual é o maior milagre que você já presenciou? Não há dúvida para o cristão de que o maior milagre é o dom da fé. Porque é esta fé que nos permite enxergar em Jesus o nosso salvador, confiar que nele nós temos a completa remissão dos nossos pecados e que nos leva a vivermos cristãmente, segundo a vontade do nosso Deus e Pai. Amém.
E a paz de Deus que excede todo entendimento, guarde nossos corações e mentes em Cristo Jesus para a vida eterna. Amém.