Igreja Evangélica Luterana
Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 90.12-17; Am 5.6-7,10-15;
Hb 3.12-19; Mc 10.17-22 – 20º dom. após
Pentecostes B 2015
Só em Jesus temos vida eterna
v. 21: “E Jesus, fitando-o,
o amou e disse: Só uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos
pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me”.
“Que farei para ser
salvo”? Esta foi a pergunta que o carcereiro de Filipos fez ao apóstolo Paulo,
conforme o relato de At 16. Esta também é a pergunta de milhares de cristãos ao
redor do mundo que acertadamente se preocupam com o destino do seu corpo e
alma. Assim como aquele carcereiro, muitos, diante do terror da morte, querem
saber como alcançar a vida.
Essa também foi a
pergunta daquele homem que foi se encontrar com Jesus conforme lemos hoje no
evangelho de Marcos. E, a partir deste texto, essa é a pergunta que também nós
queremos responder. Afinal, também nós queremos ir para o céu.
O relato do jovem
rico (embora tudo indique que ele não era tão jovem assim) tem várias
características interessantes e uma delas aparece logo no início. O texto diz
que quando ele chega, ele se ajoelha diante de Jesus. Mesmo sendo um homem
importante, um líder judeu, ele não lida de igual para igual com Jesus. Ele se
mostra inferior a Jesus e ainda o chama de bom mestre.
E essas são
atitudes que ele mantém até o final. Então, se você é um daqueles que aprendeu
a olhar para o jovem rico como alguém arrogante, que se achava o bom, talvez
esteja na hora de rever alguns conceitos. E aí vem a tal pergunta: “Bom Mestre,
que farei para herdar a vida eterna”?
Antes de a gente
ver qual foi a resposta de Jesus (como se a gente já não soubesse!) nós percebemos
que tem uma contradição nessa pergunta. “Que farei para herdar a vida
eterna”? Como assim “que farei”? Se é uma herança, então não tem que fazer
nada, é só esperar!
A não ser que ele
estava dizendo “herdar” no sentido de conquistar. Mas parece que não é isso. A
impressão que dá é a seguinte: Como um homem instruído, ele conhecia as
Escrituras e com certeza sabia das tantas promessas do Antigo Testamento sobre
a vinda do Messias e a salvação.
É como se lá no
fundo algo dissesse que a salvação é uma herança. Que a salvação já está
preparada. Que não falta nada. Mas ao mesmo tempo essa certeza, essa crença não
podia emergir porque estava soterrada pelo ensinamento que tinha recebido. Uma
fé que não podia aparecer porque conflitava diretamente com tudo aquilo que,
desde a infância, tinha aprendido de que a salvação precisa ser conquistada.
E quem alcança esse
estágio da vida espiritual e religiosa confiando em si mesmo, nas suas obras,
nas leis que cumpre, nas cerimônias que guarda, só pode ter dois finais. Um é o
da hipocrisia: Quando a pessoa acha mesmo que é digna de receber a vida eterna
por causa daquelas coisas que faz ou deixa de fazer. Cristo é colocado de lado
ou, no máximo, é alguém que ajuda na salvação. Mas ter a salvação é um mérito
de quem faz por merecer. O outro final é o do desespero: Quando a pessoa já fez
tudo aquilo que pensava ser necessário para receber a salvação, mas ainda não
encontrou a paz com Deus. É o momento em que a pessoa entra no desespero de se
perguntar constantemente: Será que eu já fiz o suficiente pela minha salvação?
Já parou para
pensar que coisa terrível é viver com essa dúvida? Quanta gente ao nosso redor
será que não vive nesse mesmo desespero! Fazer de tudo pelo reino de Deus e,
ainda assim, não sentir a paz de Deus, não se sentir amado por Deus, não sentir
o consolo e a alegria da salvação.
É a essas pessoas
que Jesus nos envia para anunciar o Evangelho. Não que não devemos anunciar a
todos sempre que houver possibilidade. Mas a mensagem precisa ser adequada a
quem a recebe. Ao hipócrita, que está seguro em si mesmo, a pergunta a ser
feita é: E onde fica Cristo nessa história toda? Paulo diz que se a salvação
depende de nós, então Cristo morreu em vão. Além do mais, a Bíblia diz que
todos pecaram e só merecem a condenação. Será que nós podemos mesmo ser tão
bons assim para mudar essa situação?
Já ao aflito e
desesperado, que sofre porque teme a Deus, mas não sente o amor de Deus, a esse
é preciso dizer com todas as letras que Deus já nos amou desde antes da
fundação do mundo. Que Deus nos ama mesmo com o nosso pecado porque a salvação
vem de Cristo e ele lava o nosso coração todos os dias.
Com aquele homem,
como Jesus sabia que ele firmava sua esperança nos mandamentos, Jesus nem
exatamente dá um resposta, ele só faz uma afirmação: Você conhece os
mandamentos. E como era isso mesmo que ele esperava ouvir de Jesus, não se
espanta, não reclama, não muda de assunto, simplesmente concorda: Sim, eu
conheço os mandamentos. E não só conheço, mas também vivo de acordo com eles.
O que imediatamente
a gente percebe quando lê esse texto é que Jesus só cita os mandamentos da
segunda taboa da Lei. Isso por uma razão nem tão difícil de entender: São os
mandamentos que se referem à nossa relação com o nosso próximo. São mandamentos
que qualquer pessoa pode cumprir, mesmo que imperfeitamente. E são mandamentos
que são fáceis de analisar se estamos cumprindo ou não.
Dessa maneira Jesus
conseguiu estender mais um pouco a conversa porque ele sabia que aquele homem
era realmente uma pessoa temente a Deus. Alguém que realmente valorizava os
mandamentos de Deus e se esforçava para os cumprir. Só que cumprir a maioria
dos mandamentos parece que não era o suficiente. Ainda estava faltando alguma
coisa. E era bem essa a preocupação daquele homem.
E como Jesus
encerra a conversa? – Bom, então só falta uma coisa: Se desfaça de tudo o que
você tem em benefício dos pobres e depois me siga.
O que acontece aqui
também não é difícil perceber. Como ele perguntou a Jesus o que precisava ser
feito para ter a vida eterna, Jesus disse o que precisava ser feito. Em outras
palavras: Se é lei que você quer, é lei que você vai ter. Se é possível guardar
essa lei toda, aí já é outra história.
A questão é que,
como já foi dito, os mandamentos da segunda taboa qualquer pessoa tem
capacidade de guardar uma boa parte – claro, desde que os leve a sério. Mas os
mandamentos da primeira taboa – não falar o nome de Deus à toa, amar a Palavra
de Deus e querer saber mais sobre ela, temer e amar a Deus acima de todas as
coisas – esses são mandamentos que só podem ser cumpridos pela fé. A rigor, a
única coisa que importava de tudo o que Jesus disse era apenas uma palavra:
Segue-me.
O que Jesus quis
mostrar àquele jovem é que ninguém alcança a salvação pela Lei. Em primeiro lugar
porque ninguém consegue. Além de cometermos pecados, já nascemos pecadores. E
em segundo lugar, porque não foi esse o caminho que Deus escolheu para salvar a
humanidade.
Mas se é assim a
coisa, então quem pode ficar tranquilo? Ora, aquele que crê em Jesus. Aquele
que, em vista dos seus muitos pecados, se agarra em Jesus na certeza de que ele
morreu pelos nossos pecados e assim já conquistou por nós o perdão de Deus, a
paz com Deus, o amor de Deus e a certeza da vida eterna.
Por isso, quando
você também se perguntar “que farei para ser salvo?” lembre do seguinte: A Lei
de Deus é importante porque nos ensina a fazer a sua vontade. Além de apontar
as nossas falhas, mas isso também é bom. Quem não enxerga os seus pecados nunca
vai entender o chamado para seguir Jesus. Jesus não mostra que somos pecadores
para o nosso desespero, mas porque ele quer que busquemos nele o perdão dos
pecados, a verdadeira vida cristã e a esperança da salvação. E tudo isso Jesus
nos dá gratuitamente mediante a fé e a confiança de que nele nós temos a
salvação. Amém.
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