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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Mensagem 15º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 146; Is 35.4-7a; Tg 2.1-10,14-18; Mc 7.31-37 – 15º dom. após Pentecostes B 2015
Fé: o maior milagre
v. 37: “E ficavam muitíssimo admirados, dizendo: Tudo ele tem feito bem, e os surdos faz ouvir e os mudos falar”. [Tradução própria]
Qual é o maior milagre que você já presenciou? A sobrevivência de um bebê prematuro que tinha mínimas chances de sobreviver? A cura quase inexplicável de uma poderosa doença? O consolo de alguém que parecia inconsolável? O ar que respiramos? Sim, Deus continua realizando milagres em nossas vidas ou bem diante de nós como ele sempre tem feito. Algumas vezes percebemos esses milagres, outras não.
No final de Marcos 7 nós temos o relato de um dos tantos milagres que Jesus realizou enquanto estava no mundo. Aqui, no caso, a cura de um homem surdo e que tinha algum tipo de dificuldade para articular as palavras. Se era gago, fanho ou se tinha a língua presa, isso não sabemos. Mas também não é o que importa.
Seja como for, a questão é: Por que Jesus realizava aqueles milagres? É muito bonito quando lemos os evangelhos perceber o cuidado e o carinho que Jesus tinha pelas pessoas. Como ele sempre estava atento às necessidades das pessoas e frequentemente fazia alguma coisa por elas.
É uma pena que, neste ponto, muitos não entenderam o motivo daqueles milagres. Um exemplo dessa má compreensão é olhar para esses milagres e pensar que, desde que a pessoa tenha muita fé, qualquer doença pode ser curada imediatamente. Uma outra aplicação errada é ver que também os apóstolos realizaram curas e expeliram demônios e, portanto, que eu ou você também tenhamos poder para fazer o mesmo desde que invoquemos o nome de Jesus.
E é comum em nossos dias igrejas que atraem fiéis mediante a propaganda ou promessa de curas, milagres, prosperidade, sucesso profissional e por aí vai. Verdadeiros mercados religiosos disfarçados de igreja que abusam do nome de Deus para tirar o restante do que as pessoas têm em troca de promessas vazias que nunca serão cumpridas.
E tamanha é a exigência e o peso colocado sobre as pessoas que, não raramente, elas voltam para casa se culpando como se o fato de que suas orações não foram atendidas foi porque tiveram pouca fé ou porque não ofertaram o suficiente para aquela igreja.
Nós lemos hoje no Salmo e em Isaías duas das muitas passagens do Antigo Testamento que falam de milagres. E em todas estas passagens nós temos a promessa divina do envio do salvador. As Escrituras dizem que quando o salvador fosse enviado as pessoas veriam milagres nunca vistos anteriormente.
Portanto, em primeiro lugar, Jesus realiza curas e milagres para cumprir o que fora prometido nas Escrituras; em segundo, para mostrar que ele, sim, ele mesmo, era o Messias; e “de quebra” ainda nos mostra que Deus não é alguém alheio ao sofrimento humano, às nossas necessidades, mas que ele olha com carinho e sempre está presente com aquele que sofre.
É justamente aquela visão de que Jesus era um curandeiro ou que Deus é obrigado a fazer a vontade daquele que crê que Jesus queria evitar. É por isso que tantas vezes ele disse que ninguém dissesse nada sobre os milagres que ele tinha realizado. Mas ninguém “deu bola” para isso e quanto mais Jesus mandava eles ficarem quietos, mais eles falavam.
Quem sabe a gente devia tomar isso como exemplo e mudar a nossa estratégia missionária. Talvez, em vez de dizer “anunciemos Jesus” deveríamos dizer “não anuncie a palavra de Deus”, “não permita que as pessoas conheçam desse tesouro, deixe ele bem guardado”. Vai que, assim, a gente conversa mais sobre Jesus, convida mais as pessoas para as atividades da nossa congregação?
Brincadeiras à parte, verdade é que o excesso de cobrança produz o resultado contrário. Tudo bem que, no caso do texto, as pessoas não obedeceram a Jesus porque não eram seus discípulos, só iam atrás dele por causa dos milagres. Mas na nossa vida, a questão do equilíbrio entre cobrança e estímulo é extremamente importante.
Você sabia que, psicologicamente, a repreensão pesa muito mais do que o incentivo? Se a gente fosse colocar na balança, para cada vez que uma criança recebe uma repreensão por algo de errado que fez, ela deveria receber cinco elogios por aquelas coisas que ela fez corretamente.
Por isso, pais, não pensem que educar é só apontar os erros, mas especialmente os acertos. Educar é sentar junto, conversar, ensinar, abrir a Bíblia e, claro, dar o exemplo. Porque chega um momento em que não adianta mais dizer ao filho que ele não deve ou não pode fazer tal coisa. E nesse momento o adolescente já precisa ter aprendido a vontade de Deus, ter sido conscientizado das consequências de suas atitudes e ver nos pais o exemplo do que é certo e benéfico.
Já aquele pai que nunca tira tempo para o filho não deveria esperar grande coisa de volta. Não que exista uma fórmula para que os filhos sejam perfeitos e nunca errem. Eles vão errar, vão sofrer com suas más escolhas, mas aqueles que lá na infância aprenderam o caminho certo, um dia voltam.
Bom, que fique isso como reflexão. Mas vamos agora voltar ao fato histórico do texto: Jesus toca os ouvidos e a língua daquele homem e ora para que eles sejam abertos. E logo ele já podia ouvir e falar desembaraçadamente.
A questão é: Se Jesus não nos deixou poder para realizar curas e também ensinou que Deus está acima de nós e que ele não tem de fazer exatamente o que nós pedimos, qual é o valor de um texto como esse? De que adianta para mim e para você saber que há dois mil anos Jesus curou um homem perto do mar da Galileia?
Quando lemos a Bíblia – aliás, não leiam a Bíblia! Nunca leiam a Bíblia! – precisamos olhar não para o que nós queremos ver, mas para o que Jesus quer nos mostrar. E Jesus sempre quer nos mostrar algo vai muito além do que os nossos olhos alcançam.
Com suas mãos Jesus destampou os ouvidos do surdo e com a saliva da sua língua desembaraçou a língua dele. Assim também Jesus abre nossos ouvidos para ouvirmos a Palavra de Deus não como um livro qualquer e desembaraça nossa língua para anunciarmos esta mesma Palavra de Deus.
Assim como Martinho Lutero escreveu sobre esse texto que “apenas esses dois órgãos estabelecem uma diferença entre cristãos e não cristãos: o cristão fala e ouve de forma diferente e sua língua exalta a graça de Deus e prega o Senhor Jesus Cristo, declarando que somente ele é o salvador. O mundo não faz nada disso”.
O que Jesus quer mesmo é abrir nossos ouvidos e bocas para que não só ouçamos a sua palavra, mas a amemos de todo o coração e a anunciemos às pessoas tanto em forma de palavra, como em forma de ações.
No livro de Tiago lemos hoje que a fé cristã, a fé verdadeira não é uma coisa morta que só fala de si mesma. Fé cristã é aquela que busca conhecer a vontade de Deus e depois pratica esta vontade no seu dia-a-dia.
Assim como Jesus não só anunciava o reino de Deus, mas também olhava para as necessidades das pessoas, assim também nós, como pequenos cristos no mundo, somos chamados a viver a nossa fé anunciando a salvação e olhando com amor para aqueles que precisam de nós.
Qual é o maior milagre que você já presenciou? Não há dúvida para o cristão de que o maior milagre é o dom da fé. Porque é esta fé que nos permite enxergar em Jesus o nosso salvador, confiar que nele nós temos a completa remissão dos nossos pecados e que nos leva a vivermos cristãmente, segundo a vontade do nosso Deus e Pai. Amém.
E a paz de Deus que excede todo entendimento, guarde nossos corações e mentes em Cristo Jesus para a vida eterna. Amém.

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