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sábado, 19 de setembro de 2015

Mensagem 17º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 54; Jr 11.18-20; Tg 3.13-4.10; Mc 9.30-37 – 17º dom. após Pentecostes B 2015
Humildade ao exemplo de Cristo
v. 35: “E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos”.
Permitam-me começar fazendo uma pergunta simples: Você é uma pessoa humilde? Por incrível que pareça, por mais que esta seja uma pergunta simples, pode ser que você responda errado. Para acertar a resposta, primeiro precisamos definir o que é humilde, humildade.
No nosso português do dia-a-dia muitas vezes usamos essa palavra com mais de um significado. Por vezes dizemos que uma pessoa é humilde porque ela é simples ou porque não tem estudo; outras vezes chamamos de humilde alguém que possui baixas condições financeiras; outras vezes ainda por ser uma pessoa que não reconhece ou não coloca em prática as suas habilidades. Confundimos humildade com pobreza, modéstia, vergonha quando não até com baixa autoestima.
O texto do evangelho nos dá uma boa lição de humildade e está dividido em dois momentos, como vocês puderam ver na leitura. No primeiro momento Jesus anuncia pela segunda vez sua morte e ressurreição e no segundo momento aquela questão dos apóstolos sobre quem seria o maior no reinado do Messias. O que uma coisa tem a ver com a outra é o que a gente quer descobrir. Por enquanto, vamos ficar com a questão dos apóstolos.
Naquele momento, eles já haviam partido para Cafarnaum e chagaram a uma casa. Como durante todo o caminho os discípulos vinham cochichando alguma coisa, quando chegaram lá Jesus pergunta: O que é que vocês estavam discutindo pelo caminho?
Ninguém responde. Que nem criança que, quando sabe que tal coisa é errado, vai lá e faz escondido. Mas quando os pais descobrem fica com tanta vergonha que não quer nem falar sobre o que aconteceu.
Mas Jesus, por sua onisciência, sabia muito bem que a discussão era sobre quem era o maior. Maior em que sentido o texto não explica. Mateus até acrescenta “maior no reino dos céus”.
Ao que tudo indica, os apóstolos ainda não tinham conseguido tirar o véu do ensinamento judaico sobre o Messias. Aguardavam um Messias que tomaria assento em um troco e reinaria com a paz e a justiça do rei Davi. E é claro que um rei não governa sozinho. Existe toda uma hierarquia que constitui o quadro completo. E nessa hierarquia quem será que iria ocupar o lugar mais alto? Ainda mais considerando que há poucos dias Jesus subiu a um monte e levou só o Pedro, o Tiago e o João.
Dá até para tentar imaginar a conversa deles: – O maior deve ser o Pedro. Ele fala bobagem de vez em quando, mas pelo menos ele tem coragem. – Não. O maior é o João. O João é o cara do amor. É o discípulo amado de Jesus.
Mas Jesus acaba logo com essa ladainha toda. Ele chama os doze, senta com eles e diz: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos”.
E com isso Jesus não está querendo dizer nada do tipo: Olha, cuidado! Se vocês continuarem tentando ser os primeiros, vão acabar sendo os últimos e vão ter que servir os outros (em tom de ameaça, como se servir fosse um castigo). Muito pelo contrário, o que Jesus está dizendo é que o primeiro, o maior é justamente aquele que se coloca por último. É aquilo que o teólogo Paul Kretzmann chamou de “o grande paradoxo do reino de Deus” onde o maior é o menor e o menor é o maior.
No reino dos céus – e esse é o Reino do Messias – a hierarquia é invertida. Enquanto nós temos o costume de olhar de cima para baixo aqueles que servem e supervalorizar os grandes e poderosos, no reino de Deus grande é o que serve e pequeno é o que só espera ser servido.
Podemos facilmente ser tentados a pensar que o grande na igreja é aquele que não falta um culto, cuja oferta é maior. Pode ser que esse também seja grande. Mas a regra geral que Jesus dá é que grande é aquele que serve ao seu próximo em amor. Independentemente se dentro ou fora da igreja.
Com esse ensinamento Jesus nos ensina a ser cristãos. Que viver a fé cristã e carregar a sua cruz também envolve um certo sacrifício do tempo para o serviço do reino de Deus. Se uma pessoa entende que pelo fato de participar dos cultos e fazer a sua oferta, fica descompromissada das demais atividades, do testemunho e do amor ao próximo, assumindo a postura de quem é grande, por isso só se constitui o menor e o último no reino de Deus.
Com isso Jesus ensina também qual é a humildade que ele deseja em nós como seus discípulos: É o ato de se colocar debaixo do nosso próximo. Assumir de propósito uma posição de inferioridade em relação ao outro mesmo que diante de Deus sejamos todos iguais.
Essa é a verdadeira humildade: servir sem distinção. Não importa se o cara é um grande amigo aqui da igreja ou se é um desconhecido que trabalha no supermercado. O tratamento deve ser o mesmo. O interesse deve ser o mesmo.
Por que vocês acham que Jesus, neste momento, toma uma criança nos braços e diz que os discípulos devem recebê-la em seu nome? Justamente porque a criança, naquele contexto, era alguém excluída. Alguém que era considerada inferior aos demais. E o mesmo Jesus diz aos seus discípulos de todos os tempos e idades: Se do seu ponto de vista alguém parece inferior, é especialmente a este que você deve servir.
Além disso, quem é que gosta de uma pessoa orgulhosa? Considerar-se melhor ou mais importante do que os outros é a pior coisa que tem. A pessoa estraga todos os seus relacionamentos na família, no trabalho, na igreja ou em qualquer outro lugar. Nem Deus gosta do orgulhoso. E isso nós lemos em Tiago que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Só não vamos fazer confusão e pensar que Jesus está usando uma criança como exemplo de humildade. Ah, a criança sim é humilde. Em primeiro lugar: não é coisa nenhuma. A criança adora se colocar como “o maior” e nós fazemos bem quando, nessas horas, fazemos ela se sentir “o menor”. No nosso português do dia-a-dia isso se chama “cortar as asinhas” e não faz mal para ninguém. Só ajuda.
E, em segundo lugar: Exemplo da verdadeira humildade nós temos em Jesus. Ele realmente se humilhou abandonando a glória dos céus para vir a este mundo cheio de pecado e de maldade. Ele que não veio para ser servido, mas para servir. Ele que, sendo o Filho de Deus, não tinha onde reclinar a cabeça. E tudo isso para o benefício alheio: para o nosso benefício.
E agora nós podemos ligar os dois momentos do texto sem nenhum problema. Porque o ponto alto da obra de Jesus foi exatamente se entregar por nós na cruz. Jesus chegou ao ponto de dar a vida em lugar da nossa vida. Ele morreu para que nós pudéssemos ter vida, e vida eterna.
E é daí que precisa vir a nossa motivação para o serviço em amor e humildade no reino do Messias. Não queremos fazer coisas grandiosas para sermos vistos e lembrados. Mas queremos, seguindo o exemplo do nosso salvador, assumir a forma de servo para servir sem distinção no amor e no temor do nosso salvador Jesus Cristo. Amém.

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