Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl
54; Jr 11.18-20; Tg 3.13-4.10; Mc
9.30-37 – 17º dom. após Pentecostes B 2015
Humildade ao
exemplo de Cristo
v. 35: “E ele,
assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será
o último e servo de todos”.
Permitam-me começar
fazendo uma pergunta simples: Você é uma pessoa humilde? Por incrível que
pareça, por mais que esta seja uma pergunta simples, pode ser que você responda
errado. Para acertar a resposta, primeiro precisamos definir o que é humilde,
humildade.
No nosso português do
dia-a-dia muitas vezes usamos essa palavra com mais de um significado. Por
vezes dizemos que uma pessoa é humilde porque ela é simples ou porque não tem
estudo; outras vezes chamamos de humilde alguém que possui baixas condições
financeiras; outras vezes ainda por ser uma pessoa que não reconhece ou não
coloca em prática as suas habilidades. Confundimos humildade com pobreza,
modéstia, vergonha quando não até com baixa autoestima.
O texto do evangelho
nos dá uma boa lição de humildade e está dividido em dois momentos, como vocês
puderam ver na leitura. No primeiro momento Jesus anuncia pela segunda vez sua
morte e ressurreição e no segundo momento aquela questão dos apóstolos sobre
quem seria o maior no reinado do Messias. O que uma coisa tem a ver com a outra
é o que a gente quer descobrir. Por enquanto, vamos ficar com a questão dos
apóstolos.
Naquele momento, eles já
haviam partido para Cafarnaum e chagaram a uma casa. Como durante todo o
caminho os discípulos vinham cochichando alguma coisa, quando chegaram lá Jesus
pergunta: O que é que vocês estavam discutindo pelo caminho?
Ninguém responde. Que
nem criança que, quando sabe que tal coisa é errado, vai lá e faz escondido. Mas
quando os pais descobrem fica com tanta vergonha que não quer nem falar sobre o
que aconteceu.
Mas Jesus, por sua
onisciência, sabia muito bem que a discussão era sobre quem era o maior. Maior
em que sentido o texto não explica. Mateus até acrescenta “maior no reino dos
céus”.
Ao que tudo indica, os
apóstolos ainda não tinham conseguido tirar o véu do ensinamento judaico sobre
o Messias. Aguardavam um Messias que tomaria assento em um troco e reinaria com
a paz e a justiça do rei Davi. E é claro que um rei não governa sozinho. Existe
toda uma hierarquia que constitui o quadro completo. E nessa hierarquia quem
será que iria ocupar o lugar mais alto? Ainda mais considerando que há poucos
dias Jesus subiu a um monte e levou só o Pedro, o Tiago e o João.
Dá até para tentar imaginar
a conversa deles: – O maior deve ser o Pedro. Ele fala bobagem de vez em quando,
mas pelo menos ele tem coragem. – Não. O maior é o João. O João é o cara do
amor. É o discípulo amado de Jesus.
Mas Jesus acaba logo com
essa ladainha toda. Ele chama os doze, senta com eles e diz: “Se alguém quer
ser o primeiro, será o último e servo de todos”.
E com isso Jesus não
está querendo dizer nada do tipo: Olha, cuidado! Se vocês continuarem tentando
ser os primeiros, vão acabar sendo os últimos e vão ter que servir os outros
(em tom de ameaça, como se servir fosse um castigo). Muito pelo contrário, o
que Jesus está dizendo é que o primeiro, o maior é justamente aquele que se
coloca por último. É aquilo que o teólogo Paul Kretzmann chamou de “o grande
paradoxo do reino de Deus” onde o maior é o menor e o menor é o maior.
No reino dos céus – e esse
é o Reino do Messias – a hierarquia é invertida. Enquanto nós temos o costume
de olhar de cima para baixo aqueles que servem e supervalorizar os grandes e
poderosos, no reino de Deus grande é o que serve e pequeno é o que só espera
ser servido.
Podemos facilmente ser
tentados a pensar que o grande na igreja é aquele que não falta um culto, cuja
oferta é maior. Pode ser que esse também seja grande. Mas a regra geral que
Jesus dá é que grande é aquele que serve ao seu próximo em amor. Independentemente
se dentro ou fora da igreja.
Com esse ensinamento
Jesus nos ensina a ser cristãos. Que viver a fé cristã e carregar a sua cruz
também envolve um certo sacrifício do tempo para o serviço do reino de Deus. Se
uma pessoa entende que pelo fato de participar dos cultos e fazer a sua oferta,
fica descompromissada das demais atividades, do testemunho e do amor ao
próximo, assumindo a postura de quem é grande, por isso só se constitui o menor
e o último no reino de Deus.
Com isso Jesus ensina também
qual é a humildade que ele deseja em nós como seus discípulos: É o ato de se
colocar debaixo do nosso próximo. Assumir de propósito uma posição de
inferioridade em relação ao outro mesmo que diante de Deus sejamos todos
iguais.
Essa é a verdadeira
humildade: servir sem distinção. Não importa se o cara é um grande amigo aqui
da igreja ou se é um desconhecido que trabalha no supermercado. O tratamento
deve ser o mesmo. O interesse deve ser o mesmo.
Por que vocês acham
que Jesus, neste momento, toma uma criança nos braços e diz que os discípulos devem
recebê-la em seu nome? Justamente porque a criança, naquele contexto, era
alguém excluída. Alguém que era considerada inferior aos demais. E o mesmo
Jesus diz aos seus discípulos de todos os tempos e idades: Se do seu ponto de
vista alguém parece inferior, é especialmente a este que você deve servir.
Além disso, quem é que
gosta de uma pessoa orgulhosa? Considerar-se melhor ou mais importante do que
os outros é a pior coisa que tem. A pessoa estraga todos os seus
relacionamentos na família, no trabalho, na igreja ou em qualquer outro lugar.
Nem Deus gosta do orgulhoso. E isso nós lemos em Tiago que “Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Só não vamos fazer
confusão e pensar que Jesus está usando uma criança como exemplo de humildade.
Ah, a criança sim é humilde. Em primeiro lugar: não é coisa nenhuma. A criança
adora se colocar como “o maior” e nós fazemos bem quando, nessas horas, fazemos
ela se sentir “o menor”. No nosso português do dia-a-dia isso se chama “cortar
as asinhas” e não faz mal para ninguém. Só ajuda.
E, em segundo lugar:
Exemplo da verdadeira humildade nós temos em Jesus. Ele realmente se humilhou
abandonando a glória dos céus para vir a este mundo cheio de pecado e de
maldade. Ele que não veio para ser servido, mas para servir. Ele que, sendo o
Filho de Deus, não tinha onde reclinar a cabeça. E tudo isso para o benefício
alheio: para o nosso benefício.
E agora nós podemos
ligar os dois momentos do texto sem nenhum problema. Porque o ponto alto da
obra de Jesus foi exatamente se entregar por nós na cruz. Jesus chegou ao ponto
de dar a vida em lugar da nossa vida. Ele morreu para que nós pudéssemos ter
vida, e vida eterna.
E é daí que precisa
vir a nossa motivação para o serviço em amor e humildade no reino do Messias. Não
queremos fazer coisas grandiosas para sermos vistos e lembrados. Mas queremos,
seguindo o exemplo do nosso salvador, assumir a forma de servo para servir sem
distinção no amor e no temor do nosso salvador Jesus Cristo. Amém.
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