Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 25.1-10; Gn 22.1-18; Tg
1.12-18; Mc 1.9-15 – 1º dom. na Quaresma
B 2015
Deus nos chama ao arrependimento
e fé
v. 15: “O tempo está
cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”.
Sem dúvida um dos
piores sentimentos que alguém possa sentir é a dor de não ser perdoado. Você já
passou por isso? Já fez algum mal, depois se arrependeu, pediu desculpas, mas a
outra pessoa não quis perdoar? Algumas vezes, dependendo da situação, o perdão
pode demorar um pouco, mas vem. O problema é quando temos de conviver com
aquele sentimento de culpa como se para aquilo que fizemos não tivesse perdão.
Há alguns dias nós
refletimos sobre o batismo de Jesus – o mesmo texto que lemos hoje, com a
diferença de que só fomos até o versículo 11. Ali lembramos que o batismo de
Jesus marcou o início do seu ministério. Foi quando ele tomou sobre si os
nossos pecados e deu início a uma caminhada que só terminaria na cruz,
conquistando, assim, o perdão de Deus para os nossos pecados.
Naquele episódio,
conforme o relato de Marcos, os céus se rasgaram, o Espírito Santo desceu sobre
Jesus, e ouviu-se a voz de Deus que dizia: “Tu és o meu Filho amado, em ti me
comprazo”.
É a maneira de Deus
dizer que, na obra de Jesus por nós, Deus assina embaixo. “Em ti me comprazo”.
É como se o Pai estivesse dizendo: Meu Filho, eu aprovo o que Tu estás a fazer.
É algo que me dá muita alegria.
Então, tendo Deus
aprovado o ministério que Jesus estava iniciando, imediatamente o guiou para o
deserto onde foi tentado por Satanás. Nenhum dos três Evangelhos que relatam a
tentação de Jesus deixa dúvida de que Jesus ser tentado pelo diabo fazia parte
do plano de Deus.
E assim como Jesus foi
tentado, nós também o somos. E, por mais que queiramos fazer a vontade de Deus,
se olharmos com sinceridade, honestidade e humildade para a nossa vida, vamos
perceber o quanto nós quebramos os mandamentos de Deus. Pecamos contra Deus,
pecamos contra o nosso próximo, pecamos até contra nós mesmos.
Se Deus esperasse de
nós uma vida santificada a tal ponto de merecermos a salvação, simplesmente estaríamos
todos perdidos. Romanos é muito claro: Todos pecaram e carecem da glória de
Deus.
A boa notícia é que
Jesus foi tentado por causa das nossas tentações. Com a gritante diferença de
que onde nós caímos, ele venceu, e venceu por nós.
Percebamos que Marcos,
nesse texto, se refere ao diabo como Satanás. Lembrando justamente o que o
diabo é: um adversário. O diabo é inimigo de Jesus. E se é inimigo de Jesus,
também é inimigo do cristão, porque o cristão é um só com Jesus. Ele tentou
Jesus procurando, com isso, acabar com a obra da salvação. Como não conseguiu,
agora procura, com suas tantas tentações, pelo menos desviar alguns cristãos do
caminho da salvação. E muitas vezes consegue.
Marcos diz ainda que
Jesus “estava com as feras” quando foi tentado. O que são essas feras?
Literalmente, são animais que nós também chamamos de feras: animais selvagens.
É bem possível que num deserto como onde ele estava houvessem animais desse
tipo.
Só que mais do que
isso, em sentido figurado, a palavra era usada para falar de algum tipo de
monstro. E nada impede que Marcos quisesse que seus leitores vissem aqui os
dois sentidos da palavra. Nós não temos como responder a essa questão. A única
coisa que podemos dizer com certeza é que Jesus foi tentado da forma mais
difícil e cruel possível.
Nós somos tentados
durante uma semana depois de termos recebido a Santa Ceia – e ainda assim
pecamos. Jesus foi tentado num deserto, sem nada, com fome, sede, sozinho, sob
o perigo de animais selvagens. Foi também tentado por seus próprios discípulos
a abandonar o caminho da cruz. Foi tentado pelos fariseus. Foi tentado pelo seu
sofrimento no Getsêmani. Foi desamparado pelo Pai no momento mais decisivo da
sua missão. E não tem nada disso que ele não tenha feito por amor a nós.
É da tentação de Jesus
que vem a certeza de que os nossos pecados foram perdoados pelo Pai. Se podemos
viver – e, de fato, vivemos – sem duvidar do perdão de Deus é porque Jesus
venceu o pecado por nós. Onde nós caímos, Jesus se manteve firme para nos
colocar de pé.
Porém o texto também
diz que os anjos serviam Jesus. Esse “serviço” pode acontecer de várias
maneiras. E uma delas é com o cuidado. Jesus foi tentado de uma maneira
inimaginável. Mas, em cada momento, ele podia contar com o cuidado de Deus.
Assim também na nossa
vida, nas nossas tentações, no nosso sofrimento, nós não podemos duvidar de que
Deus cuida de nós. Deus inverte a ordem dos papeis e vem para nos servir. Ele
envia seus anjos para nos proteger. Para nos ajudar nas tentações e também nas
provações. Nós não temos forças para lutar contra elas. Mas é ali que a força
divina se manifesta a todos nós.
Na sequência, Marcos
diz que, quando Jesus voltou para a Galileia – isso já depois de João Batista
ter sido preso – anunciava o evangelho de Deus dizendo: “O tempo está cumprido,
e o reino de Deus está próximo”.
Esse “anúncio” ou
“pregação”, como aparece no texto, normalmente aparece no Novo Testamento relacionada
a uma ação salvadora de Deus. O evangelho que Jesus anuncia é “de Deus” porque
é dele que vem a salvação. Ele traz salvação ao mundo quando envia o seu
próprio Filho para morrer pelo mundo.
O evangelho, a ação
salvadora de Deus que é anunciada por todo cristão é aquela de João, que a
gente sabe até de cor: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna”. (Jo 3.16)
Deus poupou o filho de
Abraão, um homem pecador como a gente, porém não poupou o seu próprio Filho.
Essa foi a maneira que Deus escolheu para mostrar como é grande o seu amor por
nós. Essa é a mensagem que precisa tocar o nosso coração. Como lemos no Sl 25,
o desejo do cristão é fazer a vontade de Deus; mas Tiago lembra que só vence a
provação aquele que está unido com Cristo pela fé.
Por isso a nossa vida
acaba por ser um reflexo da nossa união com Cristo. Se existe luta contra o
pecado e confiança no perdão de Deus, isso não quer dizer que nós cremos, mas
apesar disso somos tentados. Se existem as tentações é justamente porque
estamos unidos com Cristo e já temos a salvação.
O diabo não se
preocupa tanto com aqueles que já são dele. Com aqueles que não creem, que não
se arrependem, que vivem em pecado, que zombam de Deus e riem dos seus
mandamentos. Ele está preocupado é em derrubar aqueles que estão de pé, aqueles
por quem Jesus venceu.
Por fim, temos a
mensagem conclusiva de Jesus: “Arrependei-vos e crede no evangelho”. Ou, para
nós que já cremos: Continuem a se arrepender para que possam continuar crendo.
Um dos significados de
“arrepender-se” é o que nós costumamos chamar de contrição: Sentir remorso pelo
pecado cometido. É claro que, pela certeza do perdão de Deus, Jesus não quer
que vivamos angustiados e tristes por causa dos pecados que cometemos. Mas
reconhecer os pecados e perceber que, com eles, nós ofendemos o amor de Deus,
isso é necessário.
Os de coração duro não
sentem pesar pelos seus pecados ou nem mesmo enxergam que cometem pecados.
Esses não se arrependem e não podem crer verdadeiramente em Jesus. Afinal, quem
precisa de médico é o doente. Esse busca pelo médico porque sabe que está
doente e não pode se curar sozinho.
É assim que o cristão
fiel busca a Cristo porque sabe que é pecador, mas ao mesmo tempo confia que
Jesus pode e quer perdoar os nossos pecados e nos dar a chance de recomeçar a
vida cristã. Uma vida formada de constante arrependimento e confiança no perdão
de Deus.
Só quem realmente
enxerga a gravidade dos seus pecados (não só reconhece que é pecador) vai crer
no Evangelho. Ou seja, vai crer em Jesus e entregar-se a ele como seu Salvador.
E, assim, buscar nele o perdão e a salvação.
A vitória de Jesus
sobre o pecado nos dá a certeza de que os nossos pecados foram perdoados por
Deus. Por isso é natural que o cristão sinta tristeza pelos seus pecados e
queira mudar de vida. Mesmo assim, nenhum cristão precisa conviver com o peso e
a dor da culpa porque, em Jesus, nós já fomos perdoados.
Mesmo que muitos, no
seu egoísmo e orgulho, se recusem a perdoar, se nos encontramos arrependidos,
temos garantido o perdão mais importante de todos: o perdão de Deus. O perdão
que nos dá a chance de recomeçar. Por esse perdão, nós podemos alegremente
dedicar nossa vida ao Senhor e viver na plena certeza da vida eterna. Amém.
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