Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 62; Jn 3.1-5,10; 1Co 7.29-35;
Mc 1.14-20 – 3º dom. após Epifania B
2015
A nossa vocação
v. 17: “Disse-lhes
Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”.
Qual é a sua vocação?
Entre os assuntos que a humanidade mais gosta de abordar, talvez a vocação seja
um deles, especialmente no âmbito acadêmico. Várias universidades até fornecem
cursos ou, pelo menos, algumas aulas visando ajudar o futuro aluno a descobrir
a sua vocação.
A partir daí nós já
podemos perceber que muitos relacionam vocação com trabalho. Vocação é
trabalhar no que se gosta. Já outros são indiferentes a essa questão. Para esse
grupo, a tal da vocação é coisa que não faz nenhum sentido.
O que a Bíblia diz
sobre isso? Será que o texto de hoje pode nos ensinar alguma coisa a respeito
da vocação?
Independente do que
cada um de nós entende por isso, para entendermos o que a Bíblia diz sobre vocação
precisamos primeiro recapitular alguns fatos. A Bíblia deixa claro que, por nós
mesmos, não temos a mínima capacidade de ir a Deus e de servi-lo. “Todos
pecaram e carecem da glória de Deus”.
Deus, por meio da sua
Palavra e dos santos sacramentos, muda essa realidade quando vem a nós e nos dá
a fé e agora renova diariamente a nossa vida pelo seu perdão e pela ação
contínua do seu Espírito Santo. E essa renovação acontece de tal maneira que já
não vivemos mais para o pecado ou para nós mesmos, mas para Deus.
Portanto, de acordo
com a Palavra de Deus, vocação é isso: Viver uma vida agradável a Deus. A
vocação do cristão, independente da sua idade, personalidade, grau acadêmico,
profissão, situação financeira, classe social, enfim, em detrimento de todas
essas coisas, é essa: Crer em Jesus, seguir o seu exemplo e os seus
ensinamentos.
Evidentemente que nós,
que nascemos pecadores, não nascemos prontos para exercer uma vocação tão
sublime como essa. Somos chamados a viver essa vocação no nosso batismo. No
entanto, o batismo é só o começo de um processo que dura a vida toda. O milagre
que Deus faz no batismo é o de nos trazer para dentro da sua Igreja. Não é um
milagre que nos deixa completamente preparados para exercer um discipulado
perfeito.
Não é à toa que Jesus diz
que para fazer de alguém seu discípulo é preciso batizar e ensinar. E foi o que
ele fez com aqueles que chamou. Foram três anos de aulas teóricas e práticas. E
com certeza se Jesus tivesse ficado mais com eles teria continuado ensinando. E
os discípulos, com certeza, depois continuaram aprendendo pelo estudo das
Escrituras e pelas experiências do dia-a-dia.
E com a gente não tem
por que ser diferente. Se ainda estamos vivos, isso significa que ainda estamos
nesse processo de aprendizado e aperfeiçoamento. Aprendizado porque o próprio
Jesus nos recomendou estudar as Escrituras; e aperfeiçoamento porque de nada
adianta conhecer a vontade de Deus se não a colocarmos em prática.
De nada adianta saber
que Deus espera que nós nos amemos uns aos outros e nem mesmo orarmos uns pelos
outros. No entanto, isso tudo faz parte de um processo que é o que nós chamamos
“santificação”. Ninguém é santo e nem vai ser. Mas, como disse o apóstolo
Paulo, se estou caminhando rumo à perfeição e santidade dos céus, nada mais
correto do que me esforçar por uma vida santificada. Um viver de acordo com a
vontade do nosso Deus. E essa vontade nós só conhecemos pela sua Palavra.
Jesus ensinou a
Palavra de Deus aos seus discípulos tanto falando como vivendo. E qual era o
propósito de Jesus? Que os discípulos pudessem fazer o mesmo depois. Que eles
também anunciassem a Palavra de Deus às pessoas tanto falando como vivendo.
Interessante que
quando Jesus, no texto que nós lemos hoje, chama os irmãos André e Pedro, que
eram pescadores, ele diz que faria deles “pescadores de homens”. Assim também,
com certeza Jesus chamou o publicano Mateus não para coletar impostos das
pessoas e esvaziar os seus bolsos, mas para coletar um pouco das suas angústias
e aliviar o peso dos seus corações.
E hoje podemos dizer
que Jesus continua fazendo o mesmo. Ele chama o empresário para administrar os
negócios de Deus; chama o mecânico para consertar o relacionamento das pessoas
com Deus; chama o médico para anunciar a cura do nosso pecado, que é o amor de
Deus pela humanidade.
Quanta gente sente
desejo de servir a Deus, mas se sente incapaz porque não tem isso ou aquilo,
porque não tem esse dom, aquela habilidade? Deus não precisa de nós diferentes,
mas exatamente da maneira como ele nos criou.
Será que tinha gente
mais simples na Palestina do que aqueles pescadores? E Jesus, pelo ensino e
pelo exemplo, fez deles o que eles vieram a ser.
Talvez dizer que Deus
precisa de nós pode ser mal compreendido. Então, vamos dizer isso de outra
forma: Deus quer nos usar como seus instrumentos para realizar a sua missão e
as suas obras aqui no mundo.
Deus quer nos usar com
o nosso andar esquisito, com o nosso sotaque, com as nossas limitações porque
ele nos fez assim. É claro que quando percebemos que alguma coisa em nós pode
estar atrapalhando o anúncio do Evangelho, vamos orar e tentar mudar isso.
E aí temos o grande
consolo de Deus quando falamos em viver a nossa vocação: É Deus quem nos
aperfeiçoa. Jonas também se sentia incapaz. Tentou fugir da sua responsabilidade.
E hoje nós lemos que grande obra Deus realizou por meio dele, salvando uma
cidade inteira.
Por isso não
precisamos fugir daquilo que Deus espera de nós como se não tivéssemos
capacidade para isso. De fato, nós não temos essa capacidade, mas a “nossa
suficiência vem de Deus”.
Não precisamos esperar
que um peixe nos engula e nos vomite diante do nosso dever. Aliás, é melhor não
esperar. Podemos viver a nossa vocação de anunciar o Evangelho com firmeza e
alegria porque Deus está com a gente. O que Deus disse a Josué ele também diz a
nós: Não temas, porque eu estou contigo.
Por isso a nossa
vocação é exercida quando abraçamos a causa de anunciar o Evangelho. E fazemos
isso fazendo bem aquilo para o que fomos chamados. Aprendemos isso na Tábua dos
deveres (no Catecismo). O que Deus espera de mim como pai ou mãe, filho ou filha,
patrão ou empregado, pastor ou membro da congregação?
Ali vivemos nossa
vocação. Ali fazemos o que Deus espera de nós. Sendo bons pais que se dedicam
ao ensino e bom exemplo aos filhos. Sendo filhos que cumprem o quarto
mandamento, honrando, amando e obedecendo aos pais. Sendo um patrão atencioso,
um emprego honesto. De modo que, naquilo que fazemos, lá onde vivemos e
convivemos, o amor de Deus seja refletido nas nossas palavras e ações.
Nenhum cristão precisa
fazer um curso ou um teste vocacional para saber o que Deus espera dele. Se
alguém perguntar “qual é a sua vocação”, nós podemos dizer sem medo de errar:
Viver a vida que Deus me deu, com aquilo que ele me deu, do jeito que ele me
fez para anunciar a sua Palavra em palavras e ações. E eu tenho plena certeza
de que tudo isso vem de Deus que deseja a minha salvação e de todas as pessoas.
Amém.
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