Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 29; Gn 1.1-5; Rm 6.1-11; Mc 1.4-11 – Batismo do Senhor B 2015
Jesus assume o nosso lugar
v.
9: “Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia e por João foi batizado no
rio Jordão”.
Você
já ficou surpreso com a presença de alguém em algum lugar? Aquela situação quando
a gente olha e diz assim: Nossa, você por aqui! Garanto que todos já
tiveram uma experiência como essa. Uma grande surpresa seria, por exemplo, uma
fila de mendigos aguardando para receber uma refeição e no meio deles se
encontrasse um milionário.
Algo
muito semelhante é o que nós encontramos no começo do evangelho de Marcos: Uma
multidão de pecadores aguardando para receber o batismo de João a fim de serem
perdoados dos seus pecados. E no meio daquela multidão de mendigos aparece o
milionário: Jesus. O próprio Filho de Deus, santo, sem pecado algum, sem nada
do que se arrepender e ele chega até João e pede para ser batizado.
Nós
até podemos imaginar a cena, mas, a princípio, pode ser que não entendamos. O
que quer dizer essa atitude de Jesus? Se aquele era um batismo de
arrependimento para perdão dos pecados – e era mesmo – por que Jesus fez
questão de ser batizado? O que isso significa para nós?
No
Antigo Testamento, como lei cerimonial, eram comuns os banhos os lavagens de
purificação quando a pessoa se encontrava imunda por algum pecado ou alguma
outra razão cerimonial.
Com
João Batista, provavelmente, se dá início uma outra maneira de purificação:
pelo batismo como nós o conhecemos hoje. Então, se antes era comum muitas
lavagens purificadoras, agora, pelo batismo que Jesus ordenou, uma só lavagem é
necessária. Tanto é que Paulo escreveu: Uma só fé, um só batismo.
Seja
como for, tanto nas lavagens de purificação como no batismo de João, o
propósito de Deus sempre foi o mesmo: Garantir às pessoas que os seus pecados
foram lavados. Para que elas pudessem, na lembrança do seu batismo, renovar a
confiança de que também o seu coração foi limpo pelo perdão de Deus. Como diz o
salmista: Lava-me, e ficarei mais alvo que a neve.
Ok,
isso tudo diz muito sobre o nosso batismo, mas não diz nada a respeito do
batismo de Jesus. Afinal, como já sabemos, purificação espiritual e perdão de
Deus é coisa que ele não precisava. Por que, então, Jesus foi batizado?
O
batismo de Jesus marca o início do seu ministério. É quando ele oficialmente
começa a divulgar a mensagem do reino de Deus e preparar discípulos para também
anunciar esta mensagem. Portanto, esse também é o momento em que Jesus se
coloca no nosso lugar para realizar a obra da salvação em nosso favor.
É
ali que Jesus assume a nossa condição de pecadores. Ele faz isso quando toma
sobre si os pecados da humanidade e os carrega sozinho até a cruz. Porque Jesus
assumiu o nosso lugar, ele também sofreu a ira de Deus que nós merecemos por
nenhuma outra razão senão esta: Para que a ira de Deus se desviasse de nós e
nós, então, pudéssemos ser vistos e aceitos por Deus como seu povo santo e
fiel.
Jesus
não foi exatamente um milionário em meio a mendigos. Muito mais do que isso,
ele tomou sobre si a nossa miséria e nos enriqueceu com a sua justiça e santidade.
Enquanto aquelas pessoas recebiam perdão com o seu batismo, Jesus recebia
pecados. É como se aquela água, usada para lavar os pecados da multidão fosse
toda derramada de volta, mas não sobre as pessoas, e sim sobre Jesus.
A
razão porque Jesus foi batizado de forma alguma era porque ele precisava de
alguma coisa. Mas porque nós precisávamos de um salvador. Todo ser humano
precisa de alguém que derrame sobre si os seus pecados e viva uma vida em
perfeita santidade diante de Deus, pagando o seu pecado com o próprio sangue.
Nenhum
ser humano é capaz de fazer isso, mas Jesus o fez por toda a humanidade. Por
isso ninguém mais precisa seguir essa ou aquela lei, fazer isso ou aquilo,
realizar esse ou aquele tipo de sacrifício para alcançar a salvação. Só há um
sacrifício e obra que é aceito por Deus: a vida, obra, morte e ressurreição do
seu Filho Jesus Cristo. E isso ele o fez não para si mesmo, mas por nós, em
nosso lugar, a nosso favor.
Todo
aquele que crê verdadeiramente nisso tem exatamente o que o batismo vem trazer:
o perdão de Deus e a fé que leva para o céu. Esta não é uma simples fé em Deus,
é não duvidar de modo algum que a obra de Cristo foi tão perfeita e completa
que nada mais é necessário senão crer em Jesus como nosso único e suficiente
salvador.
Tudo
bem – alguém pode questionar – mas se agora não estamos mais debaixo da Lei e
sim da graça de Deus, então não precisamos mais levar em conta os mandamentos
de Deus? Pois é justamente o contrário!
O
texto de Romanos que nós lemos hoje diz que, pelo batismo, nós morremos para o
pecado e ressurgimos para uma nova vida em Cristo Jesus. E nessa nova vida que
Deus nos dá no batismo o Espírito Santo trava uma guerra contra o pecado e nos
move com todas as forças a fazer a vontade de Deus.
Por
isso todo cristão se encontra nessa nova vida. E porque somos guiados pelo
próprio Espírito Santo, cumprir os mandamentos de Deus e fazer a sua vontade
não é um peso, não é ruim, mas um privilégio, uma alegria. Pelo batismo e pela
fé incorporamos as palavras do Sl 119: Eu amo a Lei do Senhor, nela medito e me
entristeço por aqueles que não a cumprem.
E
é isso que nós chamamos “batismo na vida diária”. Ou seja, vivemos um diário e
constante arrependimento, onde afogamos o velho homem, o pecado, aquilo que nos
afasta de Deus, e tornamos a ressurgir, pelo perdão de Deus, um novo homem,
alguém cujo prazer é fazer a vontade de Deus.
Assim
como o batismo de Jesus marcou o início da sua caminhada, assim também, para a
maioria de nós, o batismo marca o início da nossa caminhada. E assim como foi a
jornada de Jesus, a nossa também não é fácil. A cada novo dia surgem velhas ou
novas tentações que deixam o velho homem todo assanhado para sair nadando de
novo.
São
momentos onde não podemos fraquejar e deixar que o pecado da nossa natureza
fale mais alto. Mas também não é hora de bancar o herói e tentar mostrar que
somos fortes. Pelo contrário, é hora de dobrar os joelhos e pedir que novamente
o Espírito Santo nos dê forças para enfrentar mais uma situação.
É
hora de olhar para trás, para o batismo, e lembrar que lá fomos feitos filhos
de Deus e, portanto, cabe a nós viver como filhos de Deus. E como disse Lutero,
o batismo é um barco que nunca afunda. Nós, às vezes, pulamos fora desse barco.
No entanto, quem continua dentro vai estar sempre seguro.
Que
grande maravilha é olhar para o nosso batismo e poder enxergar ali, num ato tão
simples, Deus agindo para garantir o perdão dos nossos pecados, uma nova vida
pelo Espírito Santo e a certeza da vida eterna. Mais confortador ainda só pode
ser olhar para o batismo de Jesus e lembrar que tudo o que era necessário para
a nossa salvação, ele o fez por amor a nós.
Se
temos que nos surpreender com o lugar onde alguém está, é com a gente mesmo. E
dizer: Nossa, eu estou no reino de Deus! Não fiz nada para estar aqui, mas
Jesus fez por mim tudo o que era necessário. No seu batismo, os céus se abriram
e Deus o chamou de Filho amado. No nosso batismo, Deus também abre os céus para
nos receber como seus filhos amados. E nessa fé batismal, um dia os céus também
vão se abrir para que lá nós possamos entrar e estar com Jesus. Amém.
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