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quinta-feira, 5 de março de 2015

Mensagem 2º dom. na Quaresma B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 22.23-31; Gn 17.1-7,15-16; Rm 5.1-11; Mc 8.27-38 – 2º dom. na Quaresma B 2015
Nós cremos na salvação que vem da cruz
v. 34: “Então, convocando a multidão e juntamente os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.
É muito comum a gente ouvir por aí aquela expressão que diz: “tenha fé!”. E que normalmente vem acompanhada com alguma frase. “Tenha fé que tudo vai dar certo”; “tenha fé que você vai conseguir”. Ou mesmo em alguns contextos religiosos a gente ouve algo como “você não ganhou um aumento porque não teve fé”. Mas será que esse é o tipo de fé que a Bíblia nos apresenta? No que você crê? Qual é o objeto da sua fé (para onde ela se direciona)? Que diferença isso faz na sua vida? O texto do evangelho de hoje é que vai nos dar as respostas.
Mas antes da gente entrar no texto do evangelho, como vocês já sabem, as leituras escolhidas para cada domingo sempre procuram ter uma relação entre elas. Um certo ponto, um assunto em comum. E as leituras de hoje não são exceção.
Aliás, aproveitando o assunto das leituras, vale a pena lembrar que essa é uma das razões porque é importante a gente ler o texto e não só ouvir o leitor. Porque quando a gente olha só para a Bíblia, a gente se concentra e também entende melhor o texto. Agora, quando a gente fica olhando para o nada, é muito fácil perder a concentração. E aí quando a gente vai embora, mal lembra qual foi o assunto do culto.
Bem, dado o conselho, podemos voltar aos textos e procurar o assunto central deles. Primeiro o salmo: O Sl 22 pinta um quadro nosso no qual somos encontramos como pobres e oprimidos espiritualmente. No entanto, pobres e oprimidos que louvam porque Deus nos livra dessa pobreza espiritual.
Assim também em Gênesis lemos que a aliança de Deus com Abraão não dependeu em nada de Abraão, mas completamente de Deus. Romanos diz o mesmo, só que em linguagem do Novo Testamento: Deus nos deu a fé para que pudéssemos crer que pela morte de Jesus nós temos vida eterna.
Percebemos claramente que o ponto aqui é a predisposição de Deus em nos salvar. Deus é quem dá o primeiro passo em nossa direção e também é ele que, depois de nos dar a fé, também nos sustenta nessa fé. Não há nada que possamos fazer pela nossa salvação. É graça de Deus.
Mas o que o evangelho diz sobre isso? Jesus falou da morte, falou da cruz, falou da vida, mas nada sobre fé.
Lembremos que o texto começa com a famosa de confissão de Pedro. Jesus ia com os discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe e, no caminho, ele pergunta: Quem o povo diz que eu sou? E os discípulos respondem de acordo: João Batista, Elias, um dos profetas.
E imediatamente Jesus faz a mesma pergunta para eles: E vós, quem dizeis que eu sou? E Pedro responde: Tu és o Cristo.
A diferença nas respostas é muito maior do que parece à primeira vista. Enquanto o povo tenta dar nomes para Jesus, pensando até mesmo que um profeta pudesse ter voltado para finalmente estabelecer um reinado de paz e justiça, conforme era a esperança do povo judeu, Pedro dá um título para Jesus.
Ele não diz: - Ah, que pergunta! Tu és Jesus! Ele diz: Tu és o Cristo, o Messias. Em outras palavras, aquele que Deus prometeu enviar para salvar o seu povo. Como é que Pedro poderia saber isso se Jesus ainda não tinha dito? Mais uma vez nós podemos ver que é só pela ação do próprio Deus que nós podemos crer e confessar que Jesus é o Cristo.
Conforme o evangelho de Mateus, Jesus foi até mais longe quando disse: Bem-aventurado és, Pedro, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, isso não veio de ti, mas o Pai que está nos céus é quem te revelou.
Isso mostra que só entende a obra de Jesus aquele que nele crê. E a partir da confissão de Pedro, Jesus começa a falar sobre a verdadeira obra do Messias. Nós vimos há pouco que os judeus tinham uma visão errada sobre a realeza e o reinado do Messias. E essa era a expectativa dos discípulos também – de alguém que se assentaria num trono para governar o seu povo. No entanto, Jesus se apresenta como um Deus que morre numa cruz.
O que Jesus quer ensinar aos discípulos e a todos nós é que não é possível entender o verdadeiro messianismo, ou seja, a obra do Messias, sem o seu sofrimento, morte e ressurreição. Há um caminho para conquistar a salvação ao mundo. E a cruz, inevitavelmente, faz parte desse caminho.
É por isso que, mais adiante, Jesus vai dizer que quem quiser ser seu discípulo, que não procure um discipulado fácil, acomodado, onde eu vou no culto domingo e, pronto, já fiz a minha parte. Mas que tome a sua cruz e siga a Jesus todos os dias, venha o que viver.
É por isso que o diabo parece tão bonzinho às vezes. Quantas vezes ele tentou desviar Jesus do caminho da cruz. Falamos semana passada que Jesus foi tentado até por seus discípulos, este é o texto. Pedro, não falando só por ele, mas representando o grupo, reprova a Jesus: Não faz uma coisa dessas; não vai para a cruz.
Então nós percebemos que além do diabo colocar tentações na nossa vida, nós mesmos já temos uma tendência natural de escolher o caminho mais fácil, mais agradável. Quantas vezes já inventamos desculpas para não fazer a vontade de Deus? – Ah, é por causa disso ou por causa daquilo. Mas a verdade é que nós naturalmente fugimos da cruz.
Por nós mesmos, como disse Jesus, não conseguimos cogitar das coisas de Deus, só das coisas dos homens. Não conseguimos enxergar que a salvação vem pela morte do Filho de Deus. Automaticamente isso implica que no nosso viver cristão também haverá cruzes. Também haverá dificuldades.
Por isso Jesus agora convoca as multidões. A sua mensagem é para crentes e descrentes. Para todos aqueles que pensam em ser discípulos de Jesus. E ele diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, toma a sua cruz e siga-me”.
Negar a si mesmo nada mais é do que negar a nossa tendência natural de alcançar a salvação por nossos próprios méritos. É saber que não é fazendo uma boa ação aqui e outra ali que nós vamos para o céu, mas que a salvação é um presente de Deus que ele nos dá pela fé no Cristo crucificado.
Só que, enquanto estamos no mundo, estamos sempre sujeitos a cair desta fé, a buscar outros caminhos de salvação, a fugir da cruz e, assim, até mesmo de perder a salvação. Por isso é preciso também tomar a cruz. Encarar as dificuldades de viver a fé cristã no mundo (tentações, perseguições) e, então, seguir Jesus e confessar que ele é o Cristo.
Essa é a fé que a Bíblia nos apresenta. Não é uma simples espécie de pensamento positivo, onde tudo vai bem desde que se tenha fé. Também não é confiar que Deus vai nos abençoar com prosperidade nesta vida. Isso até pode acontecer, conforme a vontade de Deus.
Mas fé verdadeira é saber que Deus nos amou tanto que enviou o seu Filho justo e santo para morrer por nós pecadores. É ter a plena certeza de que se podemos enfrentar as tantas cruzes da vida é porque Deus não nos abandona nunca. Jesus não carregou só a sua cruz, mas a nossa também. Ter essa fé é dizer junto com o apóstolo Paulo: Se temos de enfrentar muitas tribulações, então enfrentemos; porque em meio a tantas tribulações, o que realmente importa é entrar no reino de Deus.
Essa é a fé que Deus nos deu. Tudo aquilo que pode nos afastar dessa fé precisa ser descartado. E devemos louvar a Deus em gratidão e orar para que ele não permita, de forma alguma, que deixemos de crer e confessar que Jesus é o Cristo.
No que nós cremos? – Que a salvação vem pela fé em Jesus. Qual é o objeto da nossa fé? – A cruz de Cristo. Que diferença isso faz na nossa vida? – Agora podemos servir a Deus e viver certos da vida eterna. Amém.

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