Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 22.23-31; Gn 17.1-7,15-16; Rm
5.1-11; Mc 8.27-38 – 2º dom. na Quaresma
B 2015
Nós cremos na salvação que vem
da cruz
v.
34: “Então, convocando a multidão e juntamente os discípulos, disse-lhes: Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.
É
muito comum a gente ouvir por aí aquela expressão que diz: “tenha fé!”. E que
normalmente vem acompanhada com alguma frase. “Tenha fé que tudo vai dar
certo”; “tenha fé que você vai conseguir”. Ou mesmo em alguns contextos
religiosos a gente ouve algo como “você não ganhou um aumento porque não teve
fé”. Mas será que esse é o tipo de fé que a Bíblia nos apresenta? No que você
crê? Qual é o objeto da sua fé (para onde ela se direciona)? Que diferença isso
faz na sua vida? O texto do evangelho de hoje é que vai nos dar as respostas.
Mas
antes da gente entrar no texto do evangelho, como vocês já sabem, as leituras
escolhidas para cada domingo sempre procuram ter uma relação entre elas. Um
certo ponto, um assunto em comum. E as leituras de hoje não são exceção.
Aliás,
aproveitando o assunto das leituras, vale a pena lembrar que essa é uma das
razões porque é importante a gente ler o texto e não só ouvir o leitor. Porque
quando a gente olha só para a Bíblia, a gente se concentra e também entende
melhor o texto. Agora, quando a gente fica olhando para o nada, é muito fácil
perder a concentração. E aí quando a gente vai embora, mal lembra qual foi o
assunto do culto.
Bem,
dado o conselho, podemos voltar aos textos e procurar o assunto central deles.
Primeiro o salmo: O Sl 22 pinta um quadro nosso no qual somos encontramos como
pobres e oprimidos espiritualmente. No entanto, pobres e oprimidos que louvam
porque Deus nos livra dessa pobreza espiritual.
Assim
também em Gênesis lemos que a aliança de Deus com Abraão não dependeu em nada
de Abraão, mas completamente de Deus. Romanos diz o mesmo, só que em linguagem
do Novo Testamento: Deus nos deu a fé para que pudéssemos crer que pela morte
de Jesus nós temos vida eterna.
Percebemos
claramente que o ponto aqui é a predisposição de Deus em nos salvar. Deus é
quem dá o primeiro passo em nossa direção e também é ele que, depois de nos dar
a fé, também nos sustenta nessa fé. Não há nada que possamos fazer pela nossa
salvação. É graça de Deus.
Mas
o que o evangelho diz sobre isso? Jesus falou da morte, falou da cruz, falou da
vida, mas nada sobre fé.
Lembremos
que o texto começa com a famosa de confissão de Pedro. Jesus ia com os
discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe e, no caminho, ele pergunta:
Quem o povo diz que eu sou? E os discípulos respondem de acordo: João Batista,
Elias, um dos profetas.
E
imediatamente Jesus faz a mesma pergunta para eles: E vós, quem dizeis que eu
sou? E Pedro responde: Tu és o Cristo.
A
diferença nas respostas é muito maior do que parece à primeira vista. Enquanto
o povo tenta dar nomes para Jesus, pensando até mesmo que um profeta pudesse
ter voltado para finalmente estabelecer um reinado de paz e justiça, conforme
era a esperança do povo judeu, Pedro dá um título para Jesus.
Ele
não diz: - Ah, que pergunta! Tu és Jesus! Ele diz: Tu és o Cristo, o Messias.
Em outras palavras, aquele que Deus prometeu enviar para salvar o seu povo.
Como é que Pedro poderia saber isso se Jesus ainda não tinha dito? Mais uma vez
nós podemos ver que é só pela ação do próprio Deus que nós podemos crer e confessar
que Jesus é o Cristo.
Conforme
o evangelho de Mateus, Jesus foi até mais longe quando disse: Bem-aventurado
és, Pedro, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, isso não veio
de ti, mas o Pai que está nos céus é quem te revelou.
Isso
mostra que só entende a obra de Jesus aquele que nele crê. E a partir da
confissão de Pedro, Jesus começa a falar sobre a verdadeira obra do Messias.
Nós vimos há pouco que os judeus tinham uma visão errada sobre a realeza e o
reinado do Messias. E essa era a expectativa dos discípulos também – de alguém
que se assentaria num trono para governar o seu povo. No entanto, Jesus se
apresenta como um Deus que morre numa cruz.
O
que Jesus quer ensinar aos discípulos e a todos nós é que não é possível
entender o verdadeiro messianismo, ou seja, a obra do Messias, sem o seu
sofrimento, morte e ressurreição. Há um caminho para conquistar a salvação ao
mundo. E a cruz, inevitavelmente, faz parte desse caminho.
É
por isso que, mais adiante, Jesus vai dizer que quem quiser ser seu discípulo,
que não procure um discipulado fácil, acomodado, onde eu vou no culto domingo
e, pronto, já fiz a minha parte. Mas que tome a sua cruz e siga a Jesus todos
os dias, venha o que viver.
É
por isso que o diabo parece tão bonzinho às vezes. Quantas vezes ele tentou
desviar Jesus do caminho da cruz. Falamos semana passada que Jesus foi tentado
até por seus discípulos, este é o texto. Pedro, não falando só por ele, mas
representando o grupo, reprova a Jesus: Não faz uma coisa dessas; não vai para
a cruz.
Então
nós percebemos que além do diabo colocar tentações na nossa vida, nós mesmos já
temos uma tendência natural de escolher o caminho mais fácil, mais agradável.
Quantas vezes já inventamos desculpas para não fazer a vontade de Deus? – Ah, é
por causa disso ou por causa daquilo. Mas a verdade é que nós naturalmente fugimos
da cruz.
Por
nós mesmos, como disse Jesus, não conseguimos cogitar das coisas de Deus, só
das coisas dos homens. Não conseguimos enxergar que a salvação vem pela morte
do Filho de Deus. Automaticamente isso implica que no nosso viver cristão também
haverá cruzes. Também haverá dificuldades.
Por
isso Jesus agora convoca as multidões. A sua mensagem é para crentes e
descrentes. Para todos aqueles que pensam em ser discípulos de Jesus. E ele
diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, toma a sua cruz e
siga-me”.
Negar
a si mesmo nada mais é do que negar a nossa tendência natural de alcançar a
salvação por nossos próprios méritos. É saber que não é fazendo uma boa ação
aqui e outra ali que nós vamos para o céu, mas que a salvação é um presente de
Deus que ele nos dá pela fé no Cristo crucificado.
Só
que, enquanto estamos no mundo, estamos sempre sujeitos a cair desta fé, a
buscar outros caminhos de salvação, a fugir da cruz e, assim, até mesmo de
perder a salvação. Por isso é preciso também tomar a cruz. Encarar as
dificuldades de viver a fé cristã no mundo (tentações, perseguições) e, então,
seguir Jesus e confessar que ele é o Cristo.
Essa
é a fé que a Bíblia nos apresenta. Não é uma simples espécie de pensamento
positivo, onde tudo vai bem desde que se tenha fé. Também não é confiar que
Deus vai nos abençoar com prosperidade nesta vida. Isso até pode acontecer,
conforme a vontade de Deus.
Mas
fé verdadeira é saber que Deus nos amou tanto que enviou o seu Filho justo e
santo para morrer por nós pecadores. É ter a plena certeza de que se podemos
enfrentar as tantas cruzes da vida é porque Deus não nos abandona nunca. Jesus
não carregou só a sua cruz, mas a nossa também. Ter essa fé é dizer junto com o
apóstolo Paulo: Se temos de enfrentar muitas tribulações, então enfrentemos;
porque em meio a tantas tribulações, o que realmente importa é entrar no reino
de Deus.
Essa
é a fé que Deus nos deu. Tudo aquilo que pode nos afastar dessa fé precisa ser
descartado. E devemos louvar a Deus em gratidão e orar para que ele não
permita, de forma alguma, que deixemos de crer e confessar que Jesus é o
Cristo.
No
que nós cremos? – Que a salvação vem pela fé em Jesus. Qual é o objeto da nossa
fé? – A cruz de Cristo. Que diferença isso faz na nossa vida? – Agora podemos servir
a Deus e viver certos da vida eterna. Amém.
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