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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Mensagem culto comemorativo da Reforma Luterana



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 46; Ap 14.6-7; Rm 3.19-28; Jo 8.31-36 – Reforma 2014
A verdade que nos torna livres
v. 32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Neste culto festivo, quando comemoramos os 497 anos da Reforma Luterana firmada por Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517, é evidente que não poderíamos deixar de lembra-lo. Por outro lado, também não podemos falar só de Lutero e deixar de lado a Palavra de Deus.
E foi tentando unir as duas coisas que eu lembrei deste livrinho escrito por Martinho Lutero. O título é “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”. E antes de qualquer coisa, é importante que a gente entenda porque tem esse título.
A ideia de Lutero vem daquele episódio do Antigo Testamento onde o povo de Judá foi atacado pelos babilônicos e foi levado como escravo para a Babilônia. Com isso os judeus, que antes eram livres na terra de Canaã passaram a ser escravos. A sua situação era de cativeiro. E daí o título que Lutero escolhe para este seu livro: “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”.
Mas neste livro Lutero não quer falar da história do cativeiro babilônico, e sim, lembrando aquele episódio, falar contra alguns abusos que vinham acontecendo dentro da Igreja da sua época que estavam aprisionando, escravizando o coração, a mente e a consciência das pessoas.
Lutero aponta para várias coisas que precisavam ser reformadas, como também o faz em outros livros. E dentre estas tantas coisas hoje nós queremos pensar especialmente sobre três que estão sempre muito próximas de nós: o Batismo, a Santa Ceia e o culto público.
Em primeiro lugar, o batismo chegou ao ponto de ser visto e realizado como sendo nada mais do que um costume da Igreja. As pessoas nem sabiam mais ao certo porque levavam as crianças para serem batizadas.
E aí entra o primeiro cativeiro, a primeira forma de colocar um jugo sobre as pessoas: o batismo não era entendido como algo que nos liga a Deus, mas que nos liga à igreja. Para que por causa da igreja, através da igreja nós tenhamos acesso a Deus. Em outras palavras, o intermediário entre o homem e Deus já não é Cristo, mas a igreja.
Hoje, em muitas realidades, a coisa não é muito diferente. O batismo continua sendo realizado. Pais continuam levando seus recém-nascidos à pia batismal. E que bom! Que continuem levando. Mas melhor ainda seria se as pessoas realmente soubessem o que elas estão fazendo ao levar uma criança para ser batizada.
E neste ponto Lutero começa muito bem. Ele diz que em primeiro lugar nós devemos olhar para a promessa divina que está por trás do batismo: “Quem crer e for batizado será salvo”. (Está lá no finalzinho de Marcos) O batismo traz salvação. O batismo traz vida eterna.
E se o batismo concede salvação, é evidente que muita coisa vem junto. É como se fosse um pacote onde nós recebemos, já antes do céu, o perdão, a fé e a adoção como filhos de Deus.
No batismo Deus nos leva para dentro da sua casa. Fazemos parte da sua família e isso nos garante que estaremos sempre com ele. Conforme Jesus diz no texto de hoje: o escravo não fica para sempre em casa, mas o filho sim. Porque o filho nunca deixa de ser filho.
E a prova de que tudo isso é verdade, Lutero diz que é a nossa vida. Se existe luta contra o pecado, contra o velho homem, a nossa própria natureza pecaminosa, isso tudo é porque no batismo fomos feitos uma nova criatura que agora vive não para si mesmo, mas para o seu redentor.
É isso que diz o apóstolo Paulo em Rm 6.4, que no batismo a maldade humana é afogada pela água e passamos a ser nova criatura: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”.
E Lutero diz ainda o seguinte: “Por isso compreenderás que tudo o que fizermos nessa vida para servir à mortificação da carne e à vivificação do espírito diz respeito ao Batismo”. Um único e simples ato, o batismo, nos livra do poder da morte, do pecado e do diabo.
O segundo cativeiro nós temos na Santa Ceia, quando as pessoas entendiam que elas precisavam da permissão da igreja para participar da Santa Ceia. Então eu preciso primeiro me confessar ao padre para que ele faça uma ou mais orações e isso me habilite a tomar a Santa Ceia.
Vamos entender bem isso. Não que tenha algo de errado em confessar ao nosso pastor aquilo que nos pesa no coração. E com certeza se as pessoas desabafassem mais, sofreriam menos. Mas o ponto é o seguinte: não é o pastor quem nos permite ou nos proíbe o participar da Santa Ceia. E sim a nossa fé e a nossa consciência diante de Deus.
Outra coisa interessante também é que nos dias de Lutero apenas a hóstia era distribuída aos fiéis. E a justificativa se resumia a uma frase simples: onde há corpo, há sangue. Infelizmente, a razão parecia ser outra: a Igreja havia se corrompido de tal forma que tinha se tornado uma máquina de acumular dinheiro. E não dar vinho aos fiéis também era uma forma de economizar.
Da mesma forma como quanto ao batismo, certas coisas não mudaram. Ainda hoje, em muitas igrejas, os comungantes recebem apenas o pão. Em outras, a Santa Ceia não acontece em todos os cultos. Mas a pergunta que fica é: Na Santa Ceia, eu preciso tomar o vinho, ou a hóstia já é o suficiente?
“Onde há corpo, há sangue”. Sim, é verdade. Tanto é que um doente ou alguém que toma remédio e não pode ingerir bebida alcoólica pode participar da Santa Ceia, mas vai comer só o pão e não vai ser menos fortalecido por causa disto. No entanto, será que não devemos levar em conta o modo como Jesus instituiu a Santa Ceia? A forma como ele realizou a primeira Santa Ceia?
Claro que sim! Jesus não disse apenas “tomai e comei, isto é o meu corpo” ou “tomai e bebei, isto é o meu sangue”, mas as duas coisas. O corpo que sofreu e morreu em lugar dos pecadores. O sangue suado no Getsêmani, vertido na cruz do Calvário em lugar dos pecadores. É isto que Cristo oferece na Santa Ceia.
Na Santa Ceia nós literalmente comemos, mastigamos e degustamos o sabor do perdão e do amor de Deus. Na Santa Ceia Deus nos serve com um banquete espiritual que nos prepara para o grande banquete que dele receberemos no céu.
Por isso as palavras da nossa liturgia que seguem após a Santa Ceia são as do cântico de Simeão: “Senhor, agora despedes em paz o teu servo... porque os meus olhos já viram a tua salvação”. Isso não significa que depois da Santa Ceia eu já posso ir embora, mas muito mais do que isso, eu posso morrer em paz, na certeza da salvação.
Em terceiro lugar, o culto divino estava sendo negado ao povo de Deus. No tempo de Lutero, se entendia que o culto é um sacrifício que nós realizamos ao nosso Deus. E mesmo o culto sendo realizado em latim, e o povo não entendendo nada do que os padres e bispos falavam, depositavam a confiança da sua salvação no simples fato de irem à igreja.
Na verdade, isso nem parece coisa da Idade Média. Quanta gente hoje ainda pensa que o culto é um sacrifício a Deus. E vão ao culto de má vontade porque pensam que estão só cumprindo com uma obrigação. Há também os que vão no culto, mas não participam efetivamente nos hinos, nas orações. Refletindo, prestando à atenção.
E não raramente se ouve dizer: ah! Mas eu faço a minha parte. Eu vou no culto, eu faço a minha oferta. E caem no grande pecado de depositarem nas suas ações a certeza da sua salvação. Conforme diz Lutero: “O que devem receber como benefício, ofereceram a Deus”. Como se o culto fosse uma obra humana. E, assim, mesmo livres, escravizam a si mesmos.
O culto não é um sacrifício. O sacrifício que era necessário já foi realizado. Cristo se fez sacrifício por nós. E o culto é o momento em que Deus vem até nós e nos supre com todas as bênçãos, dádivas e dons que o sacrifício de Cristo nos concede.
O cristão não precisa carregar em seus ombros o peso de leis e mandamentos porque toda a Lei e todos os mandamentos Jesus cumpriu em nosso lugar. Não somos mais cativos, não somos escravos do poder que o pecado, a morte e o diabo tinham sobre nós.
Agora somos livres e nesta liberdade podemos servir ao nosso Deus com o coração, a mente e a consciência tranquilos de que Deus já nos amou em Cristo e nos aceita mesmo na nossa imperfeição. E, principalmente, somos livres para receber de Deus tudo aquilo que ele nos oferece. Porque conhecemos a Cristo, ele que é a verdade que nos liberta. Amém.

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