Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 46; Ap 14.6-7; Rm
3.19-28; Jo 8.31-36 – Reforma 2014
A verdade que nos torna livres
v. 32: “E conhecereis
a verdade, e a verdade vos libertará”.
Neste culto festivo,
quando comemoramos os 497 anos da Reforma Luterana firmada por Martinho Lutero
em 31 de outubro de 1517, é evidente que não poderíamos deixar de lembra-lo.
Por outro lado, também não podemos falar só de Lutero e deixar de lado a
Palavra de Deus.
E foi tentando unir as
duas coisas que eu lembrei deste livrinho escrito por Martinho Lutero. O título
é “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”. E antes de qualquer coisa, é importante
que a gente entenda porque tem esse título.
A ideia de Lutero vem daquele
episódio do Antigo Testamento onde o povo de Judá foi atacado pelos babilônicos
e foi levado como escravo para a Babilônia. Com isso os judeus, que antes eram
livres na terra de Canaã passaram a ser escravos. A sua situação era de
cativeiro. E daí o título que Lutero escolhe para este seu livro: “Do Cativeiro
Babilônico da Igreja”.
Mas neste livro Lutero
não quer falar da história do cativeiro babilônico, e sim, lembrando aquele
episódio, falar contra alguns abusos que vinham acontecendo dentro da Igreja da
sua época que estavam aprisionando, escravizando o coração, a mente e a
consciência das pessoas.
Lutero aponta para
várias coisas que precisavam ser reformadas, como também o faz em outros
livros. E dentre estas tantas coisas hoje nós queremos pensar especialmente sobre
três que estão sempre muito próximas de nós: o Batismo, a Santa Ceia e o culto
público.
Em primeiro lugar, o
batismo chegou ao ponto de ser visto e realizado como sendo nada mais do que um
costume da Igreja. As pessoas nem sabiam mais ao certo porque levavam as
crianças para serem batizadas.
E aí entra o primeiro
cativeiro, a primeira forma de colocar um jugo sobre as pessoas: o batismo não
era entendido como algo que nos liga a Deus, mas que nos liga à igreja. Para
que por causa da igreja, através da igreja nós tenhamos acesso a Deus. Em
outras palavras, o intermediário entre o homem e Deus já não é Cristo, mas a
igreja.
Hoje, em muitas
realidades, a coisa não é muito diferente. O batismo continua sendo realizado.
Pais continuam levando seus recém-nascidos à pia batismal. E que bom! Que
continuem levando. Mas melhor ainda seria se as pessoas realmente soubessem o
que elas estão fazendo ao levar uma criança para ser batizada.
E neste ponto Lutero
começa muito bem. Ele diz que em primeiro lugar nós devemos olhar para a
promessa divina que está por trás do batismo: “Quem crer e for batizado será
salvo”. (Está lá no finalzinho de Marcos) O batismo traz salvação. O batismo traz
vida eterna.
E se o batismo concede
salvação, é evidente que muita coisa vem junto. É como se fosse um pacote onde
nós recebemos, já antes do céu, o perdão, a fé e a adoção como filhos de Deus.
No batismo Deus nos
leva para dentro da sua casa. Fazemos parte da sua família e isso nos garante
que estaremos sempre com ele. Conforme Jesus diz no texto de hoje: o escravo
não fica para sempre em casa, mas o filho sim. Porque o filho nunca deixa de
ser filho.
E a prova de que tudo
isso é verdade, Lutero diz que é a nossa vida. Se existe luta contra o pecado,
contra o velho homem, a nossa própria natureza pecaminosa, isso tudo é porque
no batismo fomos feitos uma nova criatura que agora vive não para si mesmo, mas
para o seu redentor.
É isso que diz o
apóstolo Paulo em Rm 6.4, que no batismo a maldade humana é afogada pela água e
passamos a ser nova criatura: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo
batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”.
E Lutero diz ainda o
seguinte: “Por isso compreenderás que tudo o que fizermos nessa vida para
servir à mortificação da carne e à vivificação do espírito diz respeito ao
Batismo”. Um único e simples ato, o batismo, nos livra do poder da morte, do
pecado e do diabo.
O segundo cativeiro
nós temos na Santa Ceia, quando as pessoas entendiam que elas precisavam da
permissão da igreja para participar da Santa Ceia. Então eu preciso primeiro me
confessar ao padre para que ele faça uma ou mais orações e isso me habilite a
tomar a Santa Ceia.
Vamos entender bem
isso. Não que tenha algo de errado em confessar ao nosso pastor aquilo que nos
pesa no coração. E com certeza se as pessoas desabafassem mais, sofreriam
menos. Mas o ponto é o seguinte: não é o pastor quem nos permite ou nos proíbe
o participar da Santa Ceia. E sim a nossa fé e a nossa consciência diante de
Deus.
Outra coisa
interessante também é que nos dias de Lutero apenas a hóstia era distribuída
aos fiéis. E a justificativa se resumia a uma frase simples: onde há corpo, há
sangue. Infelizmente, a razão parecia ser outra: a Igreja havia se corrompido
de tal forma que tinha se tornado uma máquina de acumular dinheiro. E não dar
vinho aos fiéis também era uma forma de economizar.
Da mesma forma como
quanto ao batismo, certas coisas não mudaram. Ainda hoje, em muitas igrejas, os
comungantes recebem apenas o pão. Em outras, a Santa Ceia não acontece em todos
os cultos. Mas a pergunta que fica é: Na Santa Ceia, eu preciso tomar o vinho, ou
a hóstia já é o suficiente?
“Onde há corpo, há
sangue”. Sim, é verdade. Tanto é que um doente ou alguém que toma remédio e não
pode ingerir bebida alcoólica pode participar da Santa Ceia, mas vai comer só o
pão e não vai ser menos fortalecido por causa disto. No entanto, será que não
devemos levar em conta o modo como Jesus instituiu a Santa Ceia? A forma como ele
realizou a primeira Santa Ceia?
Claro que sim! Jesus
não disse apenas “tomai e comei, isto é o meu corpo” ou “tomai e bebei, isto é
o meu sangue”, mas as duas coisas. O corpo que sofreu e morreu em lugar dos
pecadores. O sangue suado no Getsêmani, vertido na cruz do Calvário em lugar
dos pecadores. É isto que Cristo oferece na Santa Ceia.
Na Santa Ceia nós
literalmente comemos, mastigamos e degustamos o sabor do perdão e do amor de
Deus. Na Santa Ceia Deus nos serve com um banquete espiritual que nos prepara
para o grande banquete que dele receberemos no céu.
Por isso as palavras
da nossa liturgia que seguem após a Santa Ceia são as do cântico de Simeão:
“Senhor, agora despedes em paz o teu servo... porque os meus olhos já viram a
tua salvação”. Isso não significa que depois da Santa Ceia eu já posso ir
embora, mas muito mais do que isso, eu posso morrer em paz, na certeza da
salvação.
Em terceiro lugar, o
culto divino estava sendo negado ao povo de Deus. No tempo de Lutero, se
entendia que o culto é um sacrifício que nós realizamos ao nosso Deus. E mesmo
o culto sendo realizado em latim, e o povo não entendendo nada do que os padres
e bispos falavam, depositavam a confiança da sua salvação no simples fato de irem
à igreja.
Na verdade, isso nem
parece coisa da Idade Média. Quanta gente hoje ainda pensa que o culto é um
sacrifício a Deus. E vão ao culto de má vontade porque pensam que estão só
cumprindo com uma obrigação. Há também os que vão no culto, mas não participam
efetivamente nos hinos, nas orações. Refletindo, prestando à atenção.
E não raramente se
ouve dizer: ah! Mas eu faço a minha parte. Eu vou no culto, eu faço a minha
oferta. E caem no grande pecado de depositarem nas suas ações a certeza da sua
salvação. Conforme diz Lutero: “O que devem receber como benefício, ofereceram
a Deus”. Como se o culto fosse uma obra humana. E, assim, mesmo livres, escravizam
a si mesmos.
O culto não é um
sacrifício. O sacrifício que era necessário já foi realizado. Cristo se fez
sacrifício por nós. E o culto é o momento em que Deus vem até nós e nos supre
com todas as bênçãos, dádivas e dons que o sacrifício de Cristo nos concede.
O cristão não precisa
carregar em seus ombros o peso de leis e mandamentos porque toda a Lei e todos
os mandamentos Jesus cumpriu em nosso lugar. Não somos mais cativos, não somos
escravos do poder que o pecado, a morte e o diabo tinham sobre nós.
Agora somos livres e
nesta liberdade podemos servir ao nosso Deus com o coração, a mente e a
consciência tranquilos de que Deus já nos amou em Cristo e nos aceita mesmo na
nossa imperfeição. E, principalmente, somos livres para receber de Deus tudo
aquilo que ele nos oferece. Porque conhecemos a Cristo, ele que é a verdade que
nos liberta. Amém.
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