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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Mensagem 19º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 96; Is 45.1-7; 1Ts 1.1-10; Mt 22.15-22 – 19º dom. após Pentecostes A 2014
Bons cristãos e bons cidadãos
v. 21: “Então, lhes disse: Dai a César o que e de César e a Deus o que é de Deus”.
Um dos assuntos que sempre está na boca do povo e que sempre gera muita discussão é a política. Ainda mais agora em época de eleição. Cada um defendendo o seu partido, o seu candidato. E os próprios partidos também, em autodefesa, muitas vezes usam da arma do ataque procurando falhas nos outros partidos e candidatos.
Nada disso é novidade na história. O texto de hoje nos reporta a uma situação bem semelhante a essa: Uma questão política que incomodava muita gente; partidos defendendo o seu posicionamento e Jesus ali no meio.
Nós temos acompanhado nos últimos cultos quatro parábolas que Jesus contou na presença das autoridades religiosas de Jerusalém. Como essas parábolas foram praticamente uma indireta (senão uma direta) aos fariseus, os anciãos, os sacerdotes, enfim, eles se retiraram de perto de Jesus para pensar em algum jeito de, pelo menos, encontrar um motivo para acusar Jesus de alguma coisa.
O texto começa assim, dizendo que os fariseus se reuniram para pensar em como surpreenderiam Jesus. Interessante que essa palavra “surpreender” tem a ideia de armar uma armadilha. O que nos mostra exatamente o que eles queriam: esquematizar uma armadilha para pegar Jesus, mesmo que fosse em uma palavra. Mais ou menos assim: se Jesus dissesse “mas” em vez de “porém”, por mais que seja a mesma coisa, para os fariseus já seria motivo de acusação.
Mas antes de irmos adiante no texto (e para entendermos ele bem) precisamos entender o quadro político e religioso que estava por trás disso tudo. A situação era a seguinte: Toda aquela região da Palestina – e isso, claro, inclui Jerusalém, onde moravam os judeus – estava sendo governada pelo Império Romano que havia conquistado aquela região.
O lado bom era que os romanos realmente investiam nas cidades que eles conquistavam com estradas, praças, estabelecimentos e assim por diante. Por outro lado, para que tudo isso fosse possível, eles precisavam de dinheiro. E esse dinheiro vinha de impostos: Impostos da comida, Impostos da propriedade, impostos, impostos, impostos. Portanto, não muito diferente da realidade em que vivemos.
E isso, naturalmente, gerava divisões no povo. Os fariseus, por exemplo, como parte do povo judeu, se sentiam invadidos e não se sentiam à vontade em pagar impostos a um invasor. E do outro lado, estavam os herodianos que, como o próprio título sugere, apoiavam o Império Romano.
Agora podemos seguir com o texto e nos depararmos com um absurdo: fariseus e herodianos juntos vão falar com Jesus. De início, nós é que ficamos surpreendidos com a notícia. Mas daqui há pouco tudo vai ficar claro.
Eles chegam a Jesus, enchem Jesus de elogios, mas logo vem a pergunta que eles tanto planejaram: O que você pensa a respeito disso: “É lícito pagar tributo a César ou não”?
A armadilha, aparentemente perfeita, estava armada. Se Jesus dissesse que era certo pagar impostos aos romanos, ele teria problema com os fariseus; se dissesse que não era certo pagar impostos aos romanos, ele teria problema com os herodianos. Em outras palavras, qualquer que fosse a resposta de Jesus, ele seria levado a julgamento.
Talvez muitos de nós, como cristãos, já tenhamos nos encontrado em uma situação semelhante à de Jesus. Por exemplo, quando a sociedade ou o Estado defendem certas coisas que a Igreja reprova. E podemos até mesmo ser tentados a questionar o ensino da Igreja e a própria Palavra de Deus pelo fato de tantas pessoas estarem pensando ou agindo de forma diferente do que nós aprendemos.
O que fazer diante dessas situações? Vamos ver o que Jesus fez naquela situação: Depois de lembrar os fariseus e os herodianos que eles são uns hipócritas, Jesus pede que eles tragam uma moeda. E eles trazem um denário – uma moeda de prata com a efígie do imperador romano.
E, com isso, Jesus responde a pergunta deles: “Dai a César o que e de César e a Deus o que é de Deus”.
Alguém até poderia dizer que Jesus ficou com medo e, por isso, não defendeu nem um nem outro. Mas na verdade Jesus fica em cima do muro nem tanto para se livrar da armadilha, e sim porque essa é a coisa certa a ser feita.
Jesus nos faz lembrar que nós temos tanto responsabilidades diante do Estado como diante de Deus. Jesus nos lembra da nossa dupla cidadania: A cidadania brasileira por nascimento e a cidadania cristã pela imigração do batismo. Como cidadãos brasileiros estamos subordinados às autoridades que Deus instituiu e colocou sobre nós.
Isso não significa que esses cargos de autoridade vão ser sempre ocupados por pessoas justas. O que acontece (e isso a gente não pode esquecer) é que Deus os colocou lá. E se não estão fazendo aquilo para o que foram eleitos, é com Deus que eles vão fazer o acerto de contas.
A nós, como cidadãos e, especialmente, como cidadãos cristãos cabe orar por eles e fazer o que está ao nosso alcance pelo bem da sociedade. Começando pelo anúncio da palavra de Deus.
Diante de tanta corrupção, é muito comum a gente ouvir alguém dizendo assim: Se fosse eu, eu não seria corrupto. Só que esse tipo de frase nos faz lembrar dum outro texto bíblico que diz assim: Foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei.
Muitas vezes a pessoa tem a cara-de-pau de roubar vinte centavos no troco da padaria, quem disse que se ela tivesse a chance de desviar alguns milhões para a sua conta bancária, ela não faria? Todos nós somos corruptos por natureza. E se não fosse Deus habitar em nós e lutar contra o nosso pecado nós só saberíamos proceder de forma corrupta – em tudo o que nós fazemos!
Por isso, na nossa dupla cidadania, deveríamos reclamar menos e fazer mais. Começando pelo anúncio da palavra de Deus. Porque só Deus pode lutar contra a corrupção do nosso pecado. Se queremos uma sociedade mais justa, precisamos de uma sociedade cristã.
E, para isso, qual vai ser o nosso partido? Onde nós vamos trabalhar? O nosso partido não deve ser de levantar bandeira e defender interesses. Mas precisa ser aquele do qual o apóstolo Paulo falou em Filipenses – aliás, texto que nós lemos há pouco tempo: O partido de Cristo.
É a ele que nós servimos. E para isso não precisamos procurar nem apontar as falhas de ninguém. É a sua mensagem (de Cristo) e as suas obras que nós queremos que as pessoas conheçam. Nas urnas, não sabemos quem elas vão eleger. Mas, no seu coração, elas precisam ter eleito Jesus como o Rei dos reis.
E naquelas questões onde o Estado e a Igreja estão num cabo de guerra, precisamos lembrar do que diz o livro de Atos: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens. Não demos ouvidos ao que tantos e tantos partidos estão defendendo por aí a partir dos seus próprios interesses. Nós somos do partido de Cristo.
E por fazermos parte desse partido é que podemos dar a César o que é de César, vivendo e servindo como bons cidadãos; e dar a Deus o que é de Deus, vivendo e servindo como bons cristãos. Amém.

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