Igreja Evangélica
Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Mt 27.11-32 – Domingo
da Paixão A 2014
O justo pelo injusto
v. 26: “Então, Pilatos
lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser
crucificado”.
Você já foi acusado injustamente?
Já teve de pagar por algo que você não fez? Talvez isso, de uma ou de outra
forma já tenha acontecido com todos nós. Quantas vezes alguém acaba sofrendo ou
tendo de pagar por algo que não lhe cabe? Um apronta, mas é outro quem leva a
culpa.
Na verdade, nesse tipo
de coisa o ser humano já nasce com o título de mestre. A coisa mais fácil é
notar como as crianças custam a admitir o que fizeram de errado. Sempre
tentando empurrar a culpa para cima de outro. E se voltarmos à nossa infância
vamos perceber a mesma atitude.
É o que nós vimos
também no capítulo 27 de Mateus. E não numa coisa de criança, mas em uma
decisão judicial. E aqui, mais uma vez, o culpado fica livre e o inocente é
condenado.
Esse tipo de injustiça
é uma das coisas mais comuns sobre a face da terra porque ninguém quer se
dispor a assumir a própria culpa. Ninguém quer ter o mínimo esforço nem mesmo
de reconhecer que errou. Muito menos de admitir.
E como essa atitude
egoísta pode implodir uma amizade, pode implodir um casamento. Porque ninguém
quer dar o braço a torcer. Cada qual só pensa em defender o seu ponto de vista
e lutar para que o outro também enxergue as coisas como ele enxerga. Não há um
colocar-se no lugar do outro. Não há um assumir o lugar do outro.
No final, a própria
família acaba virando um “cada um por si e Deus por todos”. Porque ali não se
pratica o perdão, a compreensão, o bom senso. E dessa forma, todos bem sabem
que a coisa só pode ir de mal a pior.
E se, muitas vezes,
não conseguimos ou não queremos assumir a nossa própria culpa, que dirá, então,
assumir a culpa de outrem. Colocar-se no lugar de outra pessoa e, se
necessário, pagar por algo que não fizemos em defesa do nome e da integridade daquela
pessoa.
O Antigo Testamento
mostra que essa atitude é coisa velha. Para falar a verdade, muito velha. Se
quisermos chegar na origem desse egoísmo precisamos voltar até Adão e Eva e
perceber como já lá, no paraíso, cada um passava a culpa adiante. Adão pôs a
culpa na mulher, a mulher na serpente e ambos em Deus.
Assim vemos que a
causa de tudo isso é o pecado que está dentro de todos nós. O pecado que me
leva a fazer tudo o que vem na cabeça, sem medir as consequências, mas depois não
querer assumir nem um dos meus erros. E quando não há como negar, então logo
tentamos inventar uma desculpa para justificar o que fizemos. – Tá, é verdade,
eu fiz tal coisa. Mas foi por causa disso e daquilo e por aí vai.
Enquanto isso o que
Deus espera de nós é exatamente o contrário. Na sua Palavra, Deus nos ensina a
viver em comunhão, se preocupando com o bem de todos; o auxílio mútuo: que cada
cristão seja um refúgio e fortaleza do outro; Deus nos ensina a levar as cargas
uns dos outros, ajudando, animando e orando por eles.
Por isso uma igreja
que leva a sério a Palavra de Deus se reflete, em primeiro lugar, em uma vida
congregacional ativa. Porque viver em congregação, como igreja, vai muito além de
estar filiado a uma igreja. Tem a ver com reuniões, encontros, visitas, como
formas pelas quais mostramos que somos cristãos não individuais, mas congregacionais,
como Deus quer, e que nos preocupamos tanto com o nosso próprio crescimento
espiritual como com o bem-estar dos nossos irmãos na fé.
E, assim, viver como
admoesta a Palavra de Deus: em amor fraternal, em amor verdadeiro. Até o ponto
de, caso necessário, e se parecer a melhor escolha, assumir a culpa para livrar
de mais uma acusação aquela pessoa que talvez já esteja carregando um fardo
maior do que ela consegue suportar.
Isso também é tomar da
cruz. Não estamos aqui para apontar e divulgar pecados. Estamos aqui para
encobrir e perdoar.
E não só podemos como precisamos
agir assim. Importando-se uns com os outros e fazendo o que estiver ao nosso
alcance pelo bem e pela honra de cada um.
E isso certamente não
acontece espalhando os erros e os pecados de determinada pessoa. Mas, bem o
contrário, encobrindo ao máximo e arguindo aquela pessoa para que corrija a sua
vida, tenha uma vida cristã e dê bom exemplo aos demais.
Pois é o que Deus faz
com a gente. Nós conhecemos o Sl 32 que diz: “Bem-aventurado aquele cuja
iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. E também em Mt 18, Jesus diz: “Se
teu irmão pecar, vai argui-lo entre ti e ele só”.
Portanto, a atitude
cristã, nesse sentido, envolve três coisas. Primeiro, aprender a perdoar. Segundo,
encobrir o pecado para proteger o nome e a honra da pessoa. E em terceiro
lugar, ajudar a pessoa a corrigir a sua vida pecaminosa para que o pecado não a
leve para longe de Deus e até mesmo à condenação.
E queremos fazer assim
porque queremos seguir o exemplo do nosso salvador Jesus Cristo. Ele, que
sempre buscou em primeiro lugar o perdão e a salvação das pessoas. Que direito
nós temos de agir diferente de Jesus se ele, que é santo, não desprezou os
pecadores?
E essa é a grande
mensagem da Palavra de Deus: Que Jesus vem ao encontro do pecador, perdoa os
seus pecados e o orienta em uma nova vida. Foi o que ele fez com todos nós e é
por isso que nós estamos aqui como congregação, como filhos de Deus que querem
louvar a Deus pela sua misericórdia.
Como poderia ser
diferente? Como poderíamos deixar de dedicar nossas vidas a Jesus, se o texto
de hoje nos compara com Barrabás? Você e eu, cada um individualmente é aquele
por quem Jesus assumiu o lugar. Por quem Jesus se entregou à morte, sem dizer
uma palavra, para que fôssemos libertados dos nossos pecados e da culpa que
tantas vezes carregamos.
Somos nós que
merecemos a condenação por causa dos nossos pecados. Mas Jesus assumiu o nosso
lugar, a nossa culpa, a nossa dívida. E não por obrigação ou como que por
armação. Mas de forma espontânea, movido unicamente pelo amor que Deus tem por
cada um nós.
Agora, livres do peso
do pecado e da culpa, queremos fazer como Simão e carregar cada qual a sua cruz
com o mesmo entusiasmo do apóstolo Paulo que diz: “Porque vos foi concedida a
graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele”.
Ter de sofrer e pagar
por algo que não fez pode ser injusto. Mas é uma das virtudes mais belas na
vida do cristão. E Jesus é o nosso exemplo por excelência. Ele que assumiu o
nosso lugar, tomou sobre si os nossos pecados e os carregou até a morte.
Por isso Jesus não
quer ser só um exemplo de vida. Ele quer, antes de qualquer coisa, ser o nosso
salvador e nos confortar com a certeza do perdão e da salvação que ele nos
conquistou.
E como isso aconteceu?
Isso já é assunto para o nosso próximo encontro. Até lá, que Deus nos abençoe
com a certeza do perdão e da salvação que nós temos em Jesus. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário