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sábado, 7 de novembro de 2015

Mensagem 24º dom. após Pentecostes B 2015



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 146; 1Rs 17.8-16; Hb 9.24-28; Mc 12.38-44 – 24º dom. após Pentecostes B 2015
Conhecimento que leva à salvação
Hoje é um dia de alegria para esta congregação e paróquia. É o dia em que mais seis adolescentes, que concluíram o seu ensino confirmatório, vão receber o certificado de Confirmação numa cerimônia que não é nada menos do que a reafirmação da promessa batismal de renunciar as obras do diabo, ser fiel a Deus e, como resultado disso, servir na sua Igreja.
Mas até que ponto o conhecimento bíblico e doutrinário é necessário para que professemos publicamente a nossa fé? Será que existe um mínimo que todo cristão deveria saber para se dizer cristão?
Se olharmos só para o texto de hoje pode até parecer que o conhecimento não é importante; que o importante é a fé. Jesus está advertindo as pessoas justamente quanto aos escribas que, como a gente sabe, eram os responsáveis pelo ensino das Escrituras ao povo judeu.
E Jesus até chega a dizer “cuidado com esse pessoal”. Para ficar mais compreensível ainda: Se fosse hoje, Jesus estaria dizendo assim: cuidado com os pastores. E aí se alguém for precipitado em suas conclusões, é capaz de concluir que Deus não gosta de pessoas que tenham grande conhecimento bíblico, mas de pessoas que, mesmo na sua ignorância, tenham uma fé simples, humildade e sincera.
Só que tem um problema: Ninguém pode crer naquilo que não conhece. Podemos até crer em coisas que nunca vimos ou que nunca aconteceram, como a ressurreição de Cristo ou o Juízo Final. Mas jamais poderemos crer naquilo de que nunca tomamos conhecimento.
Por isso o conhecimento bíblico faz parte da fé salvadora. É possível ter a fé salvadora sem conhecer toda a Escritura? Claro que é. Mas se a gente pudesse se contentar com um conhecimento mínimo da palavra de Deus, nem os profetas, nem os apóstolos e nem o próprio Jesus teriam nos advertido a estudar as Escrituras. No entanto, todos esses deixaram claro isso é da vontade de Deus.
O fato de que o conhecimento bíblico é necessário para a fé fica claro quando Paulo diz assim: A fé vem pela mensagem da palavra de Deus. E porque Deus age por meio da sua Palavra, à medida que crescemos no conhecimento desta Palavra, cresce também a fé que vai se fortalecendo na confiança em Deus.
A advertência que Jesus faz em relação aos escribas não é porque eles conheciam as Escrituras. Isso não faz nenhum sentido. Jesus disse o que disse por outras duas razões. Primeira: Porque mesmo sendo mestres da lei, os professores do povo, isso não significa que eles tinham razão em tudo. Por isso sempre é importante filtrar o que a gente ouve sobre a Bíblia; e esse filtro é a própria Bíblia. E segunda: Os escribas nem sempre colocavam em prática o que liam nas Escrituras.
Jesus diz que eles andavam pelas ruas de talar, sempre queriam sentar nos lugares de honra em algum evento e se sentiam o máximo quando as pessoas saudavam eles nas praças com grande respeito e reverência. Só que nem mesmo se importavam com aqueles que passavam necessidade.
Por isso lá na instrução de confirmandos, quando a gente estuda e até memoriza os dez mandamentos, a gente também estuda o significado de cada um deles. E como é que Martinho Lutero explicou o terceiro mandamento? Ele disse assim: “Devemos temer e amar a Deus e, portanto, não desprezar a pregação e a sua Palavra; mas devemos considera-la santa, gostar de a ouvir e estudar”.
Isso não vale só até o dia da Confirmação. É a vontade de Deus para todos os cristãos como disse o próprio Jesus em Jo 5.39: “Examinai as Escrituras”. E aqui, lembrando as palavras do pastor John Piper da Igreja Batista nos EUA, podemos dizer que examinar não é “lamber esse pirulito a cada três dias”, é, de fato, amar esta Palavra e viver de acordo com ela.
Com isso a gente percebe que muitas pessoas formam um conceito errado quando o assunto é conhecimento bíblico. Vamos colocar em palavras práticas esse conceito: Quem estuda medicina? O médico. Quem estuda a mente humana? O psicólogo. Quem precisa estudar sobre finanças? O contador. Logo, quem precisa estudar a Bíblia? O pastor.
Claro que tanto o pastor como o teólogo precisa estudar a Bíblia. Com certeza Deus quer que cada um se aprofunde na sua área de conhecimento para que, assim, possa ajudar melhor as outras pessoas. Ou alguém gostaria de sair com o carro estragado da oficina porque o mecânico não sabe qual é o problema?
Só que quando falamos da Bíblia, não estamos falando de um livro qualquer que transmite um conhecimento qualquer. Sobre outros assuntos é bom que haja aqueles que chamamos de “detentores do conhecimento”, não para se vangloriarem disso, mas para ensinar os outros.
Agora, quando o assunto é salvação, Deus quer que todos sejam detentores desse conhecimento. Deus quer que todos conheçam esta salvação e a conheçam da melhor maneira possível tanto o benefício dos outros como para o próprio benefício.
Sobre o próprio benefício, já falamos: o fortalecimento da fé, a certeza do perdão dos pecados, a alegria e motivação para servir no reino de Deus. E sobre o benefício alheio, basta lembrar que Deus quer a salvação de todos e que é para anunciar esta salvação que ele nos coloca no mundo.
Só que assim como não podemos crer naquilo que não conhecemos, também não conseguiremos falar do que não conhecemos. Tem gente que recebe o certificado de Confirmação como se tivesse recebendo um título de doutor em Teologia porque nunca mais abre a Bíblia e muito menos o catecismo como se já tivesse aprendido tudo o que precisava.
E, por falar em continuar estudando, isso tudo faz lembrar o dia em que a turma de 2007 do Seminário Concórdia – da qual eu faço parte – recebeu o seu diploma de bacharel em Teologia. A certo momento, um dos professores disse aos formandos: Agora vocês estão prontos... prontos para começar a estudar.
O mesmo vale para estes confirmandos que hoje recebem o seu certificado como também para todos nós que já o recebemos ou àqueles que, já adultos, fizeram sua Profissão de fé.
Na primeira instrução que recebemos aprendemos de tudo um pouco e saímos dali sabendo quase nada. Essa gurizada passou quase dois anos estudando o catecismo e mais algumas doutrinas importantes. Se eles não continuarem estudando, isso tudo não vai ter valido muita coisa.
Por isso, como pastor desta congregação, o meu apelo é aos pais – a todos os pais: Sejam exemplo de cristãos que amam a palavra de Deus. Não deixem de lê-la e estuda-la junto com seus filhos, como Deus ordena em Dt 6: Estas palavras estarão no teu coração e tu as inculcarás a teus filhos.
Lembre também de sempre começar a leitura bíblica pedindo a iluminação do Espírito Santo porque é dele que vem a compreensão correta da Palavra de Deus. E depois, nas orações comuns, pedir sua orientação para que este conhecimento não seja conhecimento vazio e sem sentido, mas conhecimento que é vivido.
E lembremos sempre: Ler a Bíblia não é obrigação do cristão. Ler a Bíblia é um privilégio que nós temos porque é onde o próprio Deus fala tudo aquilo que precisamos saber para termos uma vida digna e correta e para alcançarmos a vida eterna mediante Jesus Cristo, nosso salvador.
E, assim, que todos os nossos dias sejam uma reafirmação da promessa batismal, pela renúncia ao pecado e ao diabo e pela oração de que possamos ser úteis onde vivemos servindo a Deus, estudando e anunciado a sua Palavra. Amém.

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