Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 90.1-12; Sf 1.7-16; 1Ts 5.1-11; Mt 25.14-30 – 23º dom. após Pentecostes A
2014
Deus
nos faz seus administradores
v. 14: “Pois será como um homem que, ausentando-se
do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens”.
“Com tudo o que somos e temos a ti nos sagramos,
Senhor”. O hino escolhido para ser o hino oficial da Liga de Servas Luteranas
do Brasil traz palavras muito bonitas. Transmite o desejo de pessoas perdoadas,
agraciadas, redimidas de servir a Deus com tudo o que são e com tudo o que têm.
Assim também, na parábola dos talentos que Jesus
conta, ele fala de servos que se dedicaram completamente à tarefa de servir ao
seu senhor. Cada um, agradecido pela oportunidade, trabalhou com daquilo que
havia recebido do seu patrão. Mas um deles simplesmente não fez nada, o que nos
leva a perguntar: Por que ele enterrou o seu talento? E qual era a motivação
dos outros dois para se empenharem tanto?
Quando nós estudamos o 1º Artigo do Credo
Apostólico, uma das primeiras coisas que nós aprendemos é que Deus é o Criador
e o mantenedor de todas as coisas. Deus não apenas criou o mundo e o universo e
depois foi embora, deixando tudo por nossa conta. Mas também é dele que vem,
todos os dias, o nosso sustento e todo o necessário para o corpo e para a alma.
Por mais que o ser humano tenha a tendência
arrogante de dizer que tudo vem do seu esforço, do seu trabalho e, por isso,
naturalmente, não é grato a Deus por nada, a verdade é que, em última análise,
tudo vem de Deus. Porque se temos qualquer saúde, habilidade, disposição,
inteligência, que nos permitem levantar de manha e realizar os nossos afazeres
é porque Deus nos tem abençoado com tudo isso.
E é isso que precisamos ter claro em nossa mente se
queremos compreender a parábola dos talentos. Aquele senhor que confia os seus
bens aos seus servos não é nada mais, nada menos do que Deus colocando aos
nossos cuidados aquilo que é dele. “Tudo o que somos e temos” não é algo que
nós conquistamos, mas é graça de Deus.
E Deus distribui daquilo que é dele conforme a sua
sabedoria. O texto diz “conforme a capacidade de cada um”, mas isso não quer
dizer que uns merecem mais do que outros. A questão é que Deus planeja para
cada um de nós planos diferentes. Ele precisa de nós exatamente como somos e
com o que temos para que possamos servi-lo da melhor maneira possível.
De forma que, mesmo aquele que tem menos pode se
alegrar em Deus porque o pouco que tem já é graça. Aliás, ter pouco ou ter
muito, são características que nós atribuímos. Diante de Deus ninguém tem nada
porque tudo é dele.
E parece que Jesus falar de talentos nessa parábola
é muito sugestivo. Porque o talento é uma moeda extremamente valiosa. Aquele
que tem um talento já tem muito mais do que precisa.
Com isso Jesus mostra que Deus não é Deus de
miséria. Ele sempre nos dá tudo o que precisamos e até mais. Nós é que, no
nosso egoísmo e ganância, preferimos sempre olhar para aquilo que ainda não
temos. E em vez de usar dos nossos talentos no reino de Deus, muitas vezes
preferimos enterrá-los com medo de perder alguma coisa.
Mas a que se refere esses talentos? O que são os
talentos que Deus distribui, que ele nos confia? Absolutamente tudo o que somos
e temos! Tudo o que somos: corpo, alma, caráter, razão. Tudo o que temos: dons,
bens, dinheiro, tempo, família. E não nos esqueçamos – nós, que somos Igreja: O
Evangelho também está nas nossas mãos.
De tudo somos administradores, não donos. Isso não
quer dizer que Deus não está mais cuidando de nós. Deus está sempre do nosso
lado. Mesmo assim, ele nos deu uma certa liberdade. E nessa liberdade é que
nós, muitas vezes, enterramos os nossos talentos como se fossem nossos e não de
Deus. Como se não tivéssemos, um dia, de prestar contas de como administramos tudo
o que Deus nos deu.
Que bom que, assim como Deus cuida de nós, ele
também nos move pelo seu Espírito Santo a sermos bons administradores. Deus
opera na nossa vida uma vida que seja agradável a ele.
E por essa ação contínua do Espírito Santo, é que
somos movidos a cuidar de tudo o que somos e temos. E, com gratidão em nossos
corações, dedicar, oferecer voluntariamente toda a nossa vida e o nosso coração
ao nosso Deus.
É por isso que o patrão não dá nenhuma recomendação
aos seus servos. Deus não quer que nós o sirvamos mecanicamente. Simplesmente
fazendo isso ou aquilo. Jesus diz que Deus confia a nós os seus bens. É como se
ele dissesse: Vocês são os servos em quem eu confio. Eu posso até me ausentar
porque eu sei que vocês vão ser responsáveis. Vão ser bons administradores.
A nós cabe refletir: Como tem sido ou está sendo
nossa administração? Temos sido agradecidos e usados nossos talentos no reino
de Deus ou só no nosso próprio reino?
Infelizmente aqui, como em outras parábolas, nós nos
deparamos com a ingenuidade de Deus. Deparamo-nos com um Deus que nos ama de
tal maneira que espera de nós alguma resposta.
Precisamos estar cientes de que temos inimigos que
querem de todas as formas impedir o nosso trabalho no reino de Deus: o diabo, o
mundo e nós mesmos. Mas também cientes de que a fé no salvador Jesus Cristo não
é coisa morta e que Deus Espírito Santo luta contra os nossos inimigos e nos
leva a sermos bons administradores.
É assim que entendemos a diferença entre os dois
servos e o último. Os dois primeiros são aqueles que tem fé e que pela fé
conhecem a Deus. Quando recebem os seus talentos, sequer questionam o que é
para fazer com aquilo. Simplesmente cuidam, administram sabendo que depois vão
devolver a quem pertence.
O terceiro servo é que aquele que não crê. E por não
crer não conhece a Deus. Vê Deus como um juiz severo, que ceifa onde não colheu
e ajunta onde não espalhou. E, como consequência, não usa os seus talentos no
reino de Deus. Guarda para si mesmo.
Em outras palavras, cada um tem Deus como o enxerga.
Aquele que vê Deus como juiz vai ter em Deus um juiz. Só que o Deus juiz
ninguém pode desejar. Porque ele não aceita desculpas pelas nossas falhas. Mas
só condena os nossos erros.
Por outro lado, aquele que enxerga um Deus amoroso
tem nele um Deus de amor. Um Deus que conhece as nossas falhas e os nossos
pecados e mesmo assim nos ama.
O servo desse Deus sabe que já tem uma recompensa
guardada. Ele não trabalha para ver se conquista alguma coisa de Deus. Nós não
trabalhamos por isso. Nós, que conhecemos esse Deus de amor e misericórdia,
sabemos que esse mundo, essa vida não é o fim em si. E se, mesmo assim, Deus já
nos abençoa tanto, o que podemos esperar do que virá depois?
Que honra, que privilégio Deus nos dá de sermos seus
administradores. De podermos usar daquilo que nós somos e temos no reino de
Deus, para os planos de Deus. Sabendo que Deus não exige além do que ele nos
permite dar. Mas atua em nós para que possamos cuidar de nós mesmos, do nosso próximo
e da Criação até o dia em que ele nos chamar para as alegrias eternas. E é
exatamente isso que nos motiva e nos alegra para servirmos ao nosso Deus “com
tudo o que somos e temos”. Amém.
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