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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mensagem 15º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 27.1-9; Is 55.6-9; Fp 1.12-14,19-30; Mt 20.1-16 – 15º dom. após Pentecostes A 2014
Deus retribui consoante a sua Graça
v. 4: “Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo”.
Muitos países no mundo têm uma distribuição de renda considerada desigual. O Brasil, neste ranking, fica em, no máximo, terceiro lugar. Naturalmente que, em realidades assim, uns acabam passando mais dificuldades do que outros. E quando alguém quer alguma coisa, normalmente é preciso se esforçar mais do que o normal.
Para muitos, essa desigualdade acaba sendo algo justo. Afinal, quem se esforça mais merece receber mais. Já para outros essa lógica não funciona.
Mas o que nós queremos agora não é resolver essa questão. O que acontece é que, na parábola de hoje, nós temos um problema com a distribuição de renda. Na hora do acerto de contas, uns viram justiça, outros, injustiça.
Mas antes de entrarmos no texto, é importante que nós levemos em conta o contexto em que Jesus conta essa parábola. No capítulo anterior, o 19, Jesus teve aquela conversa com o jovem rico. E a gente sabe que essa conversa acabou mal para aquele jovem. E quando ele saiu triste dali, Jesus falou do perigo das riquezas, porque as pessoas se agarram tanto no que têm que esquecem do reino de Deus. E aí Jesus vai dizer que, por essa razão, é muito difícil um rico entrar no céu.
Bom, quando ele diz isso, os discípulos quase têm um “treco”. – Se um rico pode não entrar no céu, então quem vai entrar? E a resposta de Jesus é: Para os homens, rico ou pobre, é impossível entrar no céu; mas para Deus tudo é possível.
Só que Pedro, parece que não entendeu o recado. E aí ele comete um erro gravíssimo ao pensar que entrar no céu tem a ver ou até depende daquilo que nós fazemos. Ele olha para ele mesmo, olha para os discípulos e faz uma pergunta a Jesus: E nós que deixamos tudo para trás para te seguir, o que será de nós?
É nesse contexto que Jesus conta a parábola dos trabalhadores da vinha, onde ele fala de um homem que precisava de gente para trabalhar na sua vinha. Saindo cedo, ele encontrou alguns homens e combinou com eles o pagamento de um denário – pagamento normal daquela época.
Três horas depois, lá pelas nove da manhã, ele já sai de novo e vai até a praça da cidade, onde encontra alguns homens desocupados e os manda trabalhar na vinha também prometendo um valor justo. E assim o dono da vinha saiu de novo ao meio-dia, às três da tarde e ainda às cinco da tarde, faltando apenas uma hora para encerrar o expediente.
O que também é importante para nós, aqui, é onde o dono da vinha vai procurar pessoas e quem ele contrata. Quanto ao lugar, o texto diz que ele ia na praça. E quanto aos trabalhadores, se dividirmos os trabalhadores em classes, aqueles que se encontravam lá, com certeza eram os da classe mais baixa. Não no sentido de que eram homens maus. Mas o que acontece é o seguinte: muita gente tinha um trabalho fixo e chegavam a ganhar muito dinheiro. Os publicanos, por exemplo. Outros eram diaristas e recebiam só nos dias que trabalhavam. Mas normalmente eles conseguiam trabalhar quase todos os dias. Até aí nós temos pessoas com alguma dignidade, digamos assim. Já os que ficavam na praça, eram pessoas que não tinham opção. Não tinham méritos. Eles dependiam exclusivamente que alguém os contratasse.
Assim também Cristo, quando vai buscar trabalhadores para a sua vinha, não escolhe de acordo com as qualidades que eles têm. Ele não olha se fala bem, se tem desenvoltura, se tem muitos dons, se tem grande conhecimento. Ele escolhe quem ele quer. E depois ele prepara e ensina esses trabalhadores.
É só olhar para os discípulos. Jesus escolheu doze homens que não sabiam fazer nada além do seu próprio trabalho. Se um empresário fosse julgar a escolha de Jesus, com certeza ele diria que Jesus escolheu das piores opções que tinha. Homens incultos, sem conhecimento. Só que isso para Jesus não era problema.
Justamente os trabalhadores que Jesus não quer são aqueles que confiam em si próprios. Na sua desenvoltura, nos seus dons, no seu conhecimento, nas suas posses, nos seus méritos. Jesus quer gente disposta a aprender com ele. Por isso ninguém que foi chamado por Jesus pode dizer que não pode trabalhar na sua vinha.
E tem muita gente que faz isso. A pessoa que olha só para o que os outros fazem e acaba se sentido inútil, incapaz de ajudar. Quando o correto é que ela simplesmente olhe para o que Deus espera que seja feito e então reflita: O que eu posso fazer para também contribuir na vinha do Senhor? Essa é a pergunta que precisamos fazer.
Depois do trabalho, chegando a hora do acerto de contas, o dono da vinha manda chamar os trabalhadores. É hora da distribuição de renda. A expectativa, com certeza, era grande para saber o que cada um iria receber. Afinal, alguns trabalharam doze horas, outros, nove, outros seis, outros três e alguns, ainda, uma hora.
A expectativa ficou maior ainda quando começaram o pagamento pelos últimos que receberam um denário cada. – Bom, então o que nós vamos receber? Um denário por hora, quem sabe. Nas palavras de Pedro, a pergunta seria: O que será de nós?
No entanto, à medida em que os pagamentos eram feitos, eles perceberam que todos estavam recebendo o mesmo salário. E é claro que, com isso, alguns já começaram a reclamar: Isto não é justo! Nós trabalhamos mais, merecemos mais!
É muito triste quando isso acontece dentro da igreja também. Quando aqueles que, por maior oportunidade ou vontade de trabalhar, olham para os demais de cima para baixo. Como se fossem melhores. Como se merecessem mais do que eles. Ai de Deus se colocar uma cruz sobre mim e não colocar sobre eles. Olha tudo que eu faço. Por outro lado, o que eles fazem?
Claro que não é certo estar dentro da vinha e continuar como se estivesse no banco da praça. Aquela pessoa que apenas se filia a uma igreja, mas não participa, não oferta, não testemunha. Mesmo assim, aqueles que têm mais oportunidade e desejo de servir a Deus, deveriam simplesmente agradecer a Deus pelo privilégio de fazer parte da sua vinha e pelo desejo de trabalhar nela.
E com esse mesmo espírito é que devemos agir com aqueles que chegam depois. Não vamos ser indiferentes ou nos sentirmos melhores, vamos acolhê-los na alegria de Deus ter trazido mais trabalhadores para a sua vinha.
Por isso essa parábola é o mais puro Evangelho. Aqui todos são consolados. Os que chegaram antes, pelo privilégio de poder servir a Deus por mais tempo; e os que chegaram depois, pelo privilégio de Deus não os ter deixado no banco da praça, mas tê-los chamado e ainda dado a eles a mesma graça da salvação.
Percebem o que Jesus faz aqui? Parece que ele traz Pedro para dentro da parábola – tanto que em determinado momento da parábola o dono da vinha fala diretamente a um dos trabalhadores – e responde à sua pergunta com a própria parábola. E assim faz ele perceber que entrar no céu não tem nada a ver com o nosso trabalho. Primeiro Deus nos chama, ali já entramos no seu Reino. Depois nós vamos trabalhar. Afinal, serviço é o que não falta.
Mas ainda antes de ser lugar de trabalho, a vinha do Senhor é lugar de acolhimento. É para onde Deus nos chama. É onde ele nos acolhe. É onde ele espera que nós acolhamos uns aos outros.
E, voltando àquela questão sobre distribuição de renda, independentemente do que pensamos sobre isso, o que consideramos justo ou não, no reino dos céus a coisa funciona assim – e isso nós precisamos ter bem claro: Deus é bom! Ele veio até nós e nos chamou e porque ele é bom e, nesse chamado, ele quer dar a todos a mesma graça da salvação. Amém.

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