Igreja Evangélica
Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 27.1-9; Is 55.6-9; Fp 1.12-14,19-30; Mt 20.1-16 – 15º dom. após Pentecostes A 2014
Deus retribui
consoante a sua Graça
v. 4: “Ide vós também para a vinha, e vos
darei o que for justo”.
Muitos países no mundo têm uma
distribuição de renda considerada desigual. O Brasil, neste ranking, fica em, no máximo, terceiro
lugar. Naturalmente que, em realidades assim, uns acabam passando mais
dificuldades do que outros. E quando alguém quer alguma coisa, normalmente é
preciso se esforçar mais do que o normal.
Para muitos, essa desigualdade acaba
sendo algo justo. Afinal, quem se esforça mais merece receber mais. Já para
outros essa lógica não funciona.
Mas o que nós queremos agora não é
resolver essa questão. O que acontece é que, na parábola de hoje, nós temos um
problema com a distribuição de renda. Na hora do acerto de contas, uns viram
justiça, outros, injustiça.
Mas antes de entrarmos no texto, é
importante que nós levemos em conta o contexto em que Jesus conta essa
parábola. No capítulo anterior, o 19, Jesus teve aquela conversa com o jovem
rico. E a gente sabe que essa conversa acabou mal para aquele jovem. E quando
ele saiu triste dali, Jesus falou do perigo das riquezas, porque as pessoas se agarram
tanto no que têm que esquecem do reino de Deus. E aí Jesus vai dizer que, por
essa razão, é muito difícil um rico entrar no céu.
Bom, quando ele diz isso, os discípulos
quase têm um “treco”. – Se um rico pode não entrar no céu, então quem vai entrar?
E a resposta de Jesus é: Para os homens, rico ou pobre, é impossível entrar no
céu; mas para Deus tudo é possível.
Só que Pedro, parece que não entendeu o
recado. E aí ele comete um erro gravíssimo ao pensar que entrar no céu tem a
ver ou até depende daquilo que nós fazemos. Ele olha para ele mesmo, olha para
os discípulos e faz uma pergunta a Jesus: E nós que deixamos tudo para trás
para te seguir, o que será de nós?
É nesse contexto que Jesus conta a
parábola dos trabalhadores da vinha, onde ele fala de um homem que precisava de
gente para trabalhar na sua vinha. Saindo cedo, ele encontrou alguns homens e
combinou com eles o pagamento de um denário – pagamento normal daquela época.
Três horas depois, lá pelas nove da
manhã, ele já sai de novo e vai até a praça da cidade, onde encontra alguns
homens desocupados e os manda trabalhar na vinha também prometendo um valor
justo. E assim o dono da vinha saiu de novo ao meio-dia, às três da tarde e
ainda às cinco da tarde, faltando apenas uma hora para encerrar o expediente.
O que também é importante para nós, aqui,
é onde o dono da vinha vai procurar pessoas e quem ele contrata. Quanto ao
lugar, o texto diz que ele ia na praça. E quanto aos trabalhadores, se
dividirmos os trabalhadores em classes, aqueles que se encontravam lá, com
certeza eram os da classe mais baixa. Não no sentido de que eram homens maus.
Mas o que acontece é o seguinte: muita gente tinha um trabalho fixo e chegavam
a ganhar muito dinheiro. Os publicanos, por exemplo. Outros eram diaristas e
recebiam só nos dias que trabalhavam. Mas normalmente eles conseguiam trabalhar
quase todos os dias. Até aí nós temos pessoas com alguma dignidade, digamos
assim. Já os que ficavam na praça, eram pessoas que não tinham opção. Não tinham
méritos. Eles dependiam exclusivamente que alguém os contratasse.
Assim também Cristo, quando vai buscar
trabalhadores para a sua vinha, não escolhe de acordo com as qualidades que
eles têm. Ele não olha se fala bem, se tem desenvoltura, se tem muitos dons, se
tem grande conhecimento. Ele escolhe quem ele quer. E depois ele prepara e
ensina esses trabalhadores.
É só olhar para os discípulos. Jesus
escolheu doze homens que não sabiam fazer nada além do seu próprio trabalho. Se
um empresário fosse julgar a escolha de Jesus, com certeza ele diria que Jesus escolheu
das piores opções que tinha. Homens incultos, sem conhecimento. Só que isso
para Jesus não era problema.
Justamente os trabalhadores que Jesus não
quer são aqueles que confiam em si próprios. Na sua desenvoltura, nos seus
dons, no seu conhecimento, nas suas posses, nos seus méritos. Jesus quer gente
disposta a aprender com ele. Por isso ninguém que foi chamado por Jesus pode
dizer que não pode trabalhar na sua vinha.
E tem muita gente que faz isso. A pessoa
que olha só para o que os outros fazem e acaba se sentido inútil, incapaz de
ajudar. Quando o correto é que ela simplesmente olhe para o que Deus espera que
seja feito e então reflita: O que eu posso fazer para também contribuir na
vinha do Senhor? Essa é a pergunta que precisamos fazer.
Depois do trabalho, chegando a hora do
acerto de contas, o dono da vinha manda chamar os trabalhadores. É hora da
distribuição de renda. A expectativa, com certeza, era grande para saber o que
cada um iria receber. Afinal, alguns trabalharam doze horas, outros, nove,
outros seis, outros três e alguns, ainda, uma hora.
A expectativa ficou maior ainda quando
começaram o pagamento pelos últimos que receberam um denário cada. – Bom, então
o que nós vamos receber? Um denário por hora, quem sabe. Nas palavras de Pedro,
a pergunta seria: O que será de nós?
No entanto, à medida em que os pagamentos
eram feitos, eles perceberam que todos estavam recebendo o mesmo salário. E é
claro que, com isso, alguns já começaram a reclamar: Isto não é justo! Nós
trabalhamos mais, merecemos mais!
É muito triste quando isso acontece
dentro da igreja também. Quando aqueles que, por maior oportunidade ou vontade
de trabalhar, olham para os demais de cima para baixo. Como se fossem melhores.
Como se merecessem mais do que eles. Ai de Deus se colocar uma cruz sobre mim e
não colocar sobre eles. Olha tudo que eu faço. Por outro lado, o que eles
fazem?
Claro que não é certo estar dentro da
vinha e continuar como se estivesse no banco da praça. Aquela pessoa que apenas
se filia a uma igreja, mas não participa, não oferta, não testemunha. Mesmo
assim, aqueles que têm mais oportunidade e desejo de servir a Deus, deveriam
simplesmente agradecer a Deus pelo privilégio de fazer parte da sua vinha e
pelo desejo de trabalhar nela.
E com esse mesmo espírito é que devemos
agir com aqueles que chegam depois. Não vamos ser indiferentes ou nos sentirmos
melhores, vamos acolhê-los na alegria de Deus ter trazido mais trabalhadores
para a sua vinha.
Por isso essa parábola é o mais puro
Evangelho. Aqui todos são consolados. Os que chegaram antes, pelo privilégio de
poder servir a Deus por mais tempo; e os que chegaram depois, pelo privilégio
de Deus não os ter deixado no banco da praça, mas tê-los chamado e ainda dado a
eles a mesma graça da salvação.
Percebem o que Jesus faz aqui? Parece que
ele traz Pedro para dentro da parábola – tanto que em determinado momento da
parábola o dono da vinha fala diretamente a um dos trabalhadores – e responde à
sua pergunta com a própria parábola. E assim faz ele perceber que entrar no céu
não tem nada a ver com o nosso trabalho. Primeiro Deus nos chama, ali já
entramos no seu Reino. Depois nós vamos trabalhar. Afinal, serviço é o que não
falta.
Mas ainda antes de ser lugar de trabalho,
a vinha do Senhor é lugar de acolhimento. É para onde Deus nos chama. É onde
ele nos acolhe. É onde ele espera que nós acolhamos uns aos outros.
E, voltando àquela questão sobre
distribuição de renda, independentemente do que pensamos sobre isso, o que
consideramos justo ou não, no reino dos céus a coisa funciona assim – e isso
nós precisamos ter bem claro: Deus é bom! Ele veio até nós e nos chamou e
porque ele é bom e, nesse chamado, ele quer dar a todos a mesma graça da salvação.
Amém.
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