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domingo, 7 de setembro de 2014

Mensagem 13º dom. após Pentecostes A 2014



Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 32.1-7; Ez 33.7-9; Rm 13.1-10; Mt 18.1-20 – 13º dom. após Pentecostes A 2014
O perdão divino e sua dimensão
v. 18: “Em verdade vos digo em tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus”.
Na instrução de confirmandos todos aprendemos o chamado Ofício das Chaves. Inclusive um dos textos que estudamos é este que foi destacado. Então aprendemos sobre o anúncio do perdão que acontece a cada culto e que quando o pastor anuncia a absolvição devemos crer no perdão dos pecados como se o próprio Cristo tratasse pessoalmente conosco.
Mas e no dia-a-dia, como nós vivemos o Ofício das Chaves? Para refletir sobre isso, nós vamos trabalhar sobre três questões: Reconhecemos e confiamos no perdão de Deus? A partir desse perdão, procuramos corrigir os nossos erros e pecados? Dispomo-nos também a perdoar aqueles que pecam?
Vamos começar do começo. A primeira coisa de que precisamos estar convictos é que não há nada em nós que nos faça merecer o perdão e o favor de Deus. O perdão não é uma coisa que Deus oferece como recompensa por algo que nós tenhamos feito ou vamos fazer.
O perdão nunca é algo que se barganha. Não é condicional. Não é uma troca. – Eu te perdoo, desde que você faça tal coisa (como nós costumamos fazer). Deus não faz isso. O perdão de Deus é sempre gratuito. Deus nos perdoa por nenhuma outra razão senão porque ele nos ama e quer nos salvar.
E quanto melhor entendermos a profundidade das palavras “eu, pobre e miserável pecador”, tanto melhor vamos enxergar o amor e a misericórdia de Deus quando nos estende o seu perdão. Seja através do pastor, seja através da Palavra ou de um irmão na fé.
E justamente por não depender de nós que Deus nos perdoe é que podemos crer com toda a confiança que Deus nos perdoa todo e qualquer pecado pelo qual estejamos arrependidos. O perdão é promessa de Deus. É dádiva de Deus. E o apóstolo Paulo lembra que onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus.
João também lembra que se dissermos que não temos pecado, somos mentirosos; mas se confessarmos os nossos pecados, Deus sempre estará pronto para nos perdoar. Se, de coração contrito, confessamos os nossos pecados, jamais desconfiemos do perdão de Deus.
Em segundo lugar, o perdão de Deus não é algo que nos mantém frios e indiferentes. O perdão divino é coisa que tem poder, que mexe com o nosso ser e nos move a cada vez mais procurarmos viver como filhos de Deus.
A pessoa que reconhece que não merece o perdão de Deus, mas mesmo assim confia que recebeu esse perdão pela graça de Deus, automaticamente vai procurar corrigir a sua vida pecaminosa. Vai procurar viver de acordo com a vontade de Deus como uma forma de gratidão pelo perdão recebido.
Já a pessoa que se aproveita do perdão para voltar a cometer os mesmos pecados está assinando a sua condenação. Porque isso é um desprezo à obra de Cristo. Jesus tomou sobre si todos os nossos pecados justamente para não vivermos neles. Para que não fôssemos mais escravos do pecado, mas livres para servir a Deus.
Vocês conhecem as epístolas de Pedro onde fala do cão que volta ao próprio vômito e a porca que volta ao lamaçal. Pois assim é o pecador que, tendo recebido o perdão de Deus, volta a se revolver nos seus pecados.
Não estamos aqui dizendo que cristão não peca e que se pecar já está condenado. Não é nada disso. Mas o próprio Deus luta por nós contra o pecado, de maneira que, se propositalmente, insistimos nos nossos pecados, é o mesmo que dizer: Deus, eu não quero o teu perdão. Eu quero viver do meu jeito. E nessa forma de abuso da graça de Deus, muitos rejeitam a graça e caminham para a condenação.
O apóstolo Paulo também lembra: “Aquele que está de pé, veja que não caia”. Se estamos de pé, se ainda cremos, não significa que a luta já terminou. E o diabo, como um “leão que ruge procurando alguém para devorar” está sempre na volta para nos tentar de todas as formas.
Ah, hoje eu não estou a fim de ir ao culto. É sinal de alerta. Como assim o cristão não vai ter vontade de ir à Casa de Deus? O pecado já não me dói tanto no coração, parece até que estou me acostumando com ele. É sinal de alerta. Não sinto necessidade de orar nem fome e sede da Santa Ceia. É sinal de alerta.
Precisamos estar atentos e levar a sério esses e outros sinais e não nos deixarmos vencer por aquilo que, muitas vezes, é mais cômodo. Não simplesmente viver como quer a nossa vontade, mas analisarmos se essa é ou não a vontade de Deus.
Será que Deus quer que recusemos o seu convite ao culto? Será que Deus quer que não lutemos contra os nossos pecados? Ou que não falemos com ele em oração nem recebamos o corpo e sangue de Cristo na Santa Ceia? Com certeza isso não é a vontade Deus.
Por último, nos falta lembrar que o perdão de Deus se reflete na vida do cristão não só na sua melhora de vida, na santificação como vimos agora, mas também no estender o perdão. Aquele que recebeu o perdão de Cristo, reconhecendo quão imerecido foi esse perdão, também estará disposto a perdoar o seu próximo.
Deus dá o seu perdão em tão grande medida que sobra perdão. E já que sobra, nós não guardamos, e sim damos. O cristão perdoado também perdoa. Mesmo que às vezes seja difícil. Mesmo que às vezes demore muito. Mais cedo ou mais tarde, ele vai perdoar.
E perdoar implica duas coisas: Primeiro: esquecer. Nossa mente não vai esquecer o que muitas pessoas fizeram contra nós. Mas vamos pensar assim: Ficou para trás; não importa mais. Dizem que quem vive de passado é museu. Se é assim, tem muito cristão que é museu. Fica guardando mágoas e rancor. Mas não deveria.
Em segundo lugar, perdoar implica esconder. Como assim esconder? O salmista explica: “Bem-aventurado aquele... cujo pecado é coberto”. Ou seja, não é só esquecer, deixar para trás, como também fazer de conta de não aconteceu. Ninguém precisa saber dos pecados que fulano de tal cometeu.
Jesus diz que se alguém pecar, vai e fala com ele, não com os outros. Se não adiantar, então chama uma ou duas pessoas, no máximo três, mas não para oprimir a pessoa e sim para ver se assim ela se arrepende. Se não se arrepender, então diga a mais alguns. Mas, ainda assim, não com a intenção de espalhar o pecado, mas para que a igreja vá ao encontro do pecador procurando que ele se arrependa. E, caso se arrepender, assunto encerrado.
Contudo, precisamos sempre viver o perdão firmados na base, que é o que Deus fez e faz por nós. Antes mesmo de que pudéssemos confiar no perdão de Deus, esse perdão já existia e já era oferecido a nós. Nossa melhora de vida não é algo que parte de nós, mas Deus age em nós pelo seu Espírito Santo e nos faz viver como filhos de Deus. E se podemos perdoar o nosso próximo, é porque Deus já nos perdoou.
E nisso tudo, Deus mostra o seu amor e a sua misericórdia. Ele não deseja a condenação de ninguém e por isso estende a todos o seu perdão. Deus também santifica nossa vida. Não como se ele precisasse das nossas obras, mas para que nós, em uma vida cristã dedicada, não nos desviemos do caminho da salvação.
E, por fim, ele nos leva a perdoar para que, através de nós, as pessoas venham a conhecer o perdão divino. E já não vivam mais nos seus pecados, mas sejam convertidos pela Palavra de Deus e também vivam no caminho que leva ao céu.
O culto, sem dúvida, é um momento todo especial em que recebemos a absolvição do próprio Cristo por meio dos seus representantes. Mas o Ofício das Chaves se vive todos os dias na luta contra o pecado, no perdoar o nosso próximo, e sempre firmados no mais importante: Que Deus, por sua graça e só por ela, já perdoou todos os nossos pecados e nos deu vida e salvação. Pois como já disse Lutero (também no catecismo), onde há remissão dos pecados, há também vida e salvação. Amém.

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