Igreja Evangélica
Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 103.1-12; Gn 50.15-21; Rm 14.1-12; Mt 18.21-35 – 14º dom. após Pentecostes A 2014
O reflexo do perdão
divino
v. 27: “E o senhor daquele servo,
compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida”.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim
como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Assim Jesus nos ensina a orar
no Pai Nosso. Naturalmente, tem gente que não gosta muito desta petição. Outros
simplesmente a recitam da boca para fora, sem qualquer reflexão sobre o que
estão dizendo. Mas também há aqueles que fazem esta petição a Deus do fundo do
coração, refletindo em cada palavra, desejando sinceramente que assim aconteça.
Por que isso é assim? Isso é assim porque
as pessoas entendem o perdão de formas diferentes. A parábola do credor
incompassivo mostra isso. E por entenderem o perdão de formas diferentes,
também agem, vivem de maneiras diferentes.
Jesus já vinha falando sobre o perdão, como
vimos na semana passada no início do capítulo 18. Graças a Pedro, Jesus fala
mais um pouquinho. Só para relembrar, Jesus falava sobre como devemos agir
diante de alguém que peca contra nós. Que devemos falar com essa pessoa para
ver se ela se arrepende. E para isso é claro que primeiro precisamos perdoar
aquela pessoa.
E aí Pedro faz uma pergunta a Jesus:
Quantas vezes devo perdoar alguém? A pergunta já vem até com uma sugestão de
resposta: sete vezes?
Uma das coisas que mais chama a atenção
aqui, quando Jesus fala do perdão, são os exageros que ele faz. Por isso quando
Pedro sugere sete vezes, já imaginando ser este um número generoso, Jesus
responde: setenta e sete vezes.
Claro que com isso Jesus não está
querendo definir um número de vezes que devemos perdoar alguém e, passando
disso, então não há mais perdão. Jesus simplesmente aproveita a sugestão de
Pedro, “sete vezes”, e coloca um “setenta vezes” na frente. Evidentemente para
mostrar que não há limites para o perdão. E para exemplificar isso, Jesus conta
uma parábola.
Certo rei resolveu fazer um acerto de
contas com os seus súditos e chamou um deles que lhe devia dez mil talentos.
Aqui temos mais um exagero de Jesus. Para vocês terem uma ideia, um talento
equivale a seis mil dias de trabalho. A dívida daquele homem era de dez mil
talentos.
O que Jesus queria mostrar com isso? Com
certeza ele queria mostrar que nem que aquele homem trabalhasse a vida toda,
ainda assim não conseguiria pagar a sua dívida. A sua dívida era simplesmente
impagável. Não havia nada que ele pudesse fazer para pagar o que devia ao seu
rei.
Ao rei só restava duas saídas: condenar o
homem – o que, aliás, parece mais justo, afinal, se ele está em dívida a culpa
é dele – ou perdoar toda aquela dívida e fazer de conta que aquele homem não
devia mais nada. E aí vem a grande surpresa da história: o rei, contra todas as
expectativas, escolhe a segunda opção.
Queridos irmãos em Cristo, a primeira
coisa para entendermos a grandiosidade e a maravilha do perdão é reconhecermos
que esta é a nossa situação diante de Deus: Nós temos uma dívida com ele; uma
dívida impagável; uma dívida que nem trabalhando a vida toda não conseguiríamos
pagar.
Você pode viver dentro da igreja, ofertar
tudo o que tem, fazer promessas, fazer jejum, subir escada de joelhos. Nada
disso vai pagar nem ajudar a pagar a sua dívida. A sua dívida, como de todos
nós, é impagável. A nós só resta uma saída que em nada depende de nós: que Deus
seja gracioso e perdoe, esqueça a nossa dívida.
Que bom que o nosso Deus é gracioso. E,
apesar de não merecermos nada além da condenação, ele perdoa as nossas dívidas.
E junto com o perdão também nos dá a salvação. Ele próprio, em Cristo, pagou a
nossa dívida. Quando conseguimos enxergar isso, só assim é que conseguimos
entender a grandiosidade e a maravilha que é o perdão.
Quando reconhecemos que não merecemos
nada de Deus e Deus, de graça, nos dá tudo o que ele pode dar – a vida eterna
com ele no céu – então entendemos o que é o perdão. E na alegria desse perdão
recebido, passamos a viver o perdão e perdoar os nossos devedores.
Mas olhando para a parábola, parece que
as coisas nem sempre são assim. Aquele homem perdoado, ao encontrar na rua um
conservo que lhe devia cem denários – o que equivale a cem dias de trabalho – o
lança na cadeia por não pagar a sua dívida.
Aqui Jesus mostra muito bem o que é o ser
humano ou mesmo o cristão que não entendeu o perdão. Ele quer o perdão de Deus
e implora por esse perdão, mas na hora de perdoar o seu próximo, aí não. Ser
perdoado é bom, perdoar já é outra história.
Na verdade, nós só podemos viver em dois
caminhos: o do Evangelho, da graça, do perdão; ou da Lei, da dívida, da
cobrança. E da maneira como vivemos, assim também Deus lida com a gente. Aquele
que entendeu o perdão, conhece o Evangelho, vive o perdão e Deus o tratará com
perdão; enquanto aquele que não entendeu o perdão, vive na Lei e Deus lidará
com ele no sistema da cobrança.
Em outras palavras, a nossa vida de
perdão apenas reflete o que entendemos do perdão de Deus. O mal daquele homem
foi sair da presença do rei como se a sua dívida não fosse tão grande assim.
Como se o rei não tivesse feito grande coisa em perdoar a sua dívida. E, por
isso, não procedeu da mesma maneira com o seu conservo.
No entanto, a parábola não acaba aí.
Sabendo da atitude daquele súdito, o rei manda chama-lo de novo. Como assim? Eu
te perdoo uma dívida impagável e tu não perdoas uma dívida tão pequena? Já que
aquele homem queria viver no sistema da cobrança, o rei tratou com ele no
sistema da cobrança e a consequência é que o homem foi condenado.
E aí Jesus faz a conclusão: “Assim também
meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada uma seu irmão”.
Muitas vezes nós é que tornamos grande a
dívida do nosso próximo. Fazemos isso quando olhamos mais para a dívida dele do
que para a nossa e esquecemos que a nossa dívida é infinitamente maior.
Pode até ser que essa dívida seja mesmo
grande, mas nenhuma dívida chega perto daquilo que nós devemos a Deus. Por isso
para perdoar pecados, primeiro precisamos reconhecer o nosso pecado.
O que Jesus ensina nesta parábola, na
verdade é muito claro: Se Deus perdoa o imperdoável, o impagável, então nós não
temos escolha. Nós não temos o direito de escolher entre perdoar ou não
perdoar. O reflexo natural do perdão é o perdão.
Além disso, não perdoar é a pior coisa
que alguém pode fazer. Não adianta nada, não resolve o problema e a pessoa
ainda fica se corroendo por dentro, se maltratando por uma coisa que já foi.
Não perdoar é uma coisa tão idiota que
alguém já disse o seguinte: Não perdoar é o mesmo que tomar veneno e esperar
que o outro morra. Você não perdoa só para ver o outro sofrer, quando na
verdade o outro não está nem aí para você e você é quem fica sofrendo à toa.
Use do perdão de Deus. Perdoe! E faça
isso sempre lembrando do que Deus fez por nós. De que dívida Deus nos perdoou
sem pedir nada em troca e sem guardar ressentimentos. Essa é a grande mensagem
desse texto: De um Deus que perdoa multidão de pecados. E por mais que o nosso
perdoar não seja perfeito, em Cristo Deus aceita o nosso perdoar. Porque em
Cristo todo perdão sempre é completo.
É por essa razão que todos nós podemos
orar com humildade, sinceridade e confiança: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como
nós também perdoamos aos nossos devedores”. Amém.
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