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domingo, 14 de setembro de 2014

Mensagem 14º dom. após Pentecostes A 2014

Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 103.1-12; Gn 50.15-21; Rm 14.1-12; Mt 18.21-35 – 14º dom. após Pentecostes A 2014
O reflexo do perdão divino
v. 27: “E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida”.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Assim Jesus nos ensina a orar no Pai Nosso. Naturalmente, tem gente que não gosta muito desta petição. Outros simplesmente a recitam da boca para fora, sem qualquer reflexão sobre o que estão dizendo. Mas também há aqueles que fazem esta petição a Deus do fundo do coração, refletindo em cada palavra, desejando sinceramente que assim aconteça.
Por que isso é assim? Isso é assim porque as pessoas entendem o perdão de formas diferentes. A parábola do credor incompassivo mostra isso. E por entenderem o perdão de formas diferentes, também agem, vivem de maneiras diferentes.
Jesus já vinha falando sobre o perdão, como vimos na semana passada no início do capítulo 18. Graças a Pedro, Jesus fala mais um pouquinho. Só para relembrar, Jesus falava sobre como devemos agir diante de alguém que peca contra nós. Que devemos falar com essa pessoa para ver se ela se arrepende. E para isso é claro que primeiro precisamos perdoar aquela pessoa.
E aí Pedro faz uma pergunta a Jesus: Quantas vezes devo perdoar alguém? A pergunta já vem até com uma sugestão de resposta: sete vezes?
Uma das coisas que mais chama a atenção aqui, quando Jesus fala do perdão, são os exageros que ele faz. Por isso quando Pedro sugere sete vezes, já imaginando ser este um número generoso, Jesus responde: setenta e sete vezes.
Claro que com isso Jesus não está querendo definir um número de vezes que devemos perdoar alguém e, passando disso, então não há mais perdão. Jesus simplesmente aproveita a sugestão de Pedro, “sete vezes”, e coloca um “setenta vezes” na frente. Evidentemente para mostrar que não há limites para o perdão. E para exemplificar isso, Jesus conta uma parábola.
Certo rei resolveu fazer um acerto de contas com os seus súditos e chamou um deles que lhe devia dez mil talentos. Aqui temos mais um exagero de Jesus. Para vocês terem uma ideia, um talento equivale a seis mil dias de trabalho. A dívida daquele homem era de dez mil talentos.
O que Jesus queria mostrar com isso? Com certeza ele queria mostrar que nem que aquele homem trabalhasse a vida toda, ainda assim não conseguiria pagar a sua dívida. A sua dívida era simplesmente impagável. Não havia nada que ele pudesse fazer para pagar o que devia ao seu rei.
Ao rei só restava duas saídas: condenar o homem – o que, aliás, parece mais justo, afinal, se ele está em dívida a culpa é dele – ou perdoar toda aquela dívida e fazer de conta que aquele homem não devia mais nada. E aí vem a grande surpresa da história: o rei, contra todas as expectativas, escolhe a segunda opção.
Queridos irmãos em Cristo, a primeira coisa para entendermos a grandiosidade e a maravilha do perdão é reconhecermos que esta é a nossa situação diante de Deus: Nós temos uma dívida com ele; uma dívida impagável; uma dívida que nem trabalhando a vida toda não conseguiríamos pagar.
Você pode viver dentro da igreja, ofertar tudo o que tem, fazer promessas, fazer jejum, subir escada de joelhos. Nada disso vai pagar nem ajudar a pagar a sua dívida. A sua dívida, como de todos nós, é impagável. A nós só resta uma saída que em nada depende de nós: que Deus seja gracioso e perdoe, esqueça a nossa dívida.
Que bom que o nosso Deus é gracioso. E, apesar de não merecermos nada além da condenação, ele perdoa as nossas dívidas. E junto com o perdão também nos dá a salvação. Ele próprio, em Cristo, pagou a nossa dívida. Quando conseguimos enxergar isso, só assim é que conseguimos entender a grandiosidade e a maravilha que é o perdão.
Quando reconhecemos que não merecemos nada de Deus e Deus, de graça, nos dá tudo o que ele pode dar – a vida eterna com ele no céu – então entendemos o que é o perdão. E na alegria desse perdão recebido, passamos a viver o perdão e perdoar os nossos devedores.
Mas olhando para a parábola, parece que as coisas nem sempre são assim. Aquele homem perdoado, ao encontrar na rua um conservo que lhe devia cem denários – o que equivale a cem dias de trabalho – o lança na cadeia por não pagar a sua dívida.
Aqui Jesus mostra muito bem o que é o ser humano ou mesmo o cristão que não entendeu o perdão. Ele quer o perdão de Deus e implora por esse perdão, mas na hora de perdoar o seu próximo, aí não. Ser perdoado é bom, perdoar já é outra história.
Na verdade, nós só podemos viver em dois caminhos: o do Evangelho, da graça, do perdão; ou da Lei, da dívida, da cobrança. E da maneira como vivemos, assim também Deus lida com a gente. Aquele que entendeu o perdão, conhece o Evangelho, vive o perdão e Deus o tratará com perdão; enquanto aquele que não entendeu o perdão, vive na Lei e Deus lidará com ele no sistema da cobrança.
Em outras palavras, a nossa vida de perdão apenas reflete o que entendemos do perdão de Deus. O mal daquele homem foi sair da presença do rei como se a sua dívida não fosse tão grande assim. Como se o rei não tivesse feito grande coisa em perdoar a sua dívida. E, por isso, não procedeu da mesma maneira com o seu conservo.
No entanto, a parábola não acaba aí. Sabendo da atitude daquele súdito, o rei manda chama-lo de novo. Como assim? Eu te perdoo uma dívida impagável e tu não perdoas uma dívida tão pequena? Já que aquele homem queria viver no sistema da cobrança, o rei tratou com ele no sistema da cobrança e a consequência é que o homem foi condenado.
E aí Jesus faz a conclusão: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada uma seu irmão”.
Muitas vezes nós é que tornamos grande a dívida do nosso próximo. Fazemos isso quando olhamos mais para a dívida dele do que para a nossa e esquecemos que a nossa dívida é infinitamente maior.
Pode até ser que essa dívida seja mesmo grande, mas nenhuma dívida chega perto daquilo que nós devemos a Deus. Por isso para perdoar pecados, primeiro precisamos reconhecer o nosso pecado.
O que Jesus ensina nesta parábola, na verdade é muito claro: Se Deus perdoa o imperdoável, o impagável, então nós não temos escolha. Nós não temos o direito de escolher entre perdoar ou não perdoar. O reflexo natural do perdão é o perdão.
Além disso, não perdoar é a pior coisa que alguém pode fazer. Não adianta nada, não resolve o problema e a pessoa ainda fica se corroendo por dentro, se maltratando por uma coisa que já foi.
Não perdoar é uma coisa tão idiota que alguém já disse o seguinte: Não perdoar é o mesmo que tomar veneno e esperar que o outro morra. Você não perdoa só para ver o outro sofrer, quando na verdade o outro não está nem aí para você e você é quem fica sofrendo à toa.
Use do perdão de Deus. Perdoe! E faça isso sempre lembrando do que Deus fez por nós. De que dívida Deus nos perdoou sem pedir nada em troca e sem guardar ressentimentos. Essa é a grande mensagem desse texto: De um Deus que perdoa multidão de pecados. E por mais que o nosso perdoar não seja perfeito, em Cristo Deus aceita o nosso perdoar. Porque em Cristo todo perdão sempre é completo.
É por essa razão que todos nós podemos orar com humildade, sinceridade e confiança: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Amém.

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