Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl
67; Is 56.1,6-8; Rm 11.13-15,28-32; Mt
15.21-28 – 10º dom. após Pentecostes A 2014
Deus nos congrega à sua misericórdia
v. 22a: “E eis que uma mulher cananeia, que daquelas regiões viera,
clamava: Tenha misericórdia de mim, Senhor Filho de Davi!”
Você já teve um pedido negado? É chato, não é? Muitas vezes,
alguma coisa que a gente queria muito, mas ter aquilo não depende de nós,
precisamos pedir para alguém outro. E esse pedido pode ser negado. Com certeza,
se pensarmos mais sobre isso vamos lembrar de algumas situações da nossa
infância quando vivíamos pedindo coisas aos nossos pais. E tinha vezes que o
não era não; outras vezes, se você insistisse um pouco, pode ser que até
conseguia alguma coisa.
Algo semelhante é o que acontece aqui. Uma mulher cananeia,
daquelas regiões de Tiro e Sidom, cidades que costeavam o Mar Mediterrâneo mais
ao sul, veio ao encontro de Jesus para pedir uma coisa que ela não podia fazer.
Mas ela tinha plena certeza de que Jesus podia.
Esse texto é bastante lembrado pelo exemplo de fé e de
persistência daquela mulher. Apesar da indiferença com que Jesus a trata, ela
não desiste de pedir que ele a ajude.
Só que olhando assim, uma pergunta fica sem resposta: Qual é
a relação desse texto com os outros textos deste 10º domingo após Pentecostes?
Se a gente recapitular, vamos ver que no salmo 67, o salmista
pede pela bênção de Deus. Aí até pode ter uma certa semelhança. Mas em Isaías
nós lemos que Deus traz a salvação a todos os povos e pela fé congrega pessoas
à sua Igreja. Romanos segue nessa mesma linha: Por natureza, nós estamos
perdidos; mas Deus vem e nos leva para perto dele.
Pra gente entender melhor, vale a pena lembrar uma
característica muito forte dos fenícios, onde aquela mulher se inclui: Eles não
adoravam ao Deus verdadeiro, eles adoravam a vários deuses e o principal deles
era Baal. Ou seja, a última coisa que se esperaria de um fenício era recorrer a
Jesus em busca de socorro.
Portanto, o importante nesse texto não é a mulher, como nós
costumamos pensar, mas o que Deus está fazendo com ela. Antes de ser um exemplo
de fé, aquela mulher é um exemplo de que Deus cumpre as suas promessas e que
ele, pelo seu Espírito Santo, reúne e congrega para si pessoas de todos os
cantos do mundo.
De certa forma esse é um texto missionário. Porque, como
sempre, Jesus não vai para uma cidade porque decidiu no par ou ímpar. E nesse
caso ele foi para Tiro sabendo que lá essa mulher o ia encontrar. Em outras
palavras, antes da mulher ir até Jesus, ele já tinha ido ao encontro dela.
O mesmo Jesus espera de nós, como seus discípulos,
seguidores: Que por onde andarmos aproveitemos as oportunidades de testemunhar
dele, seja em palavra, seja em ação. E não fazer como os apóstolos queriam: Ih,
manda essa mulher embora. Afinal, é mais cômodo não se preocupar com a
necessidade ou o sofrimento das pessoas. Não é o que Jesus faz. Ele ignora os
discípulos e começa a falar com a mulher.
Deus, que quer trazer essas pessoas para junto de si, coloca
essas oportunidades em nossa vida. E, muitas vezes, deixamos passar. Agimos
como os discípulos e não como Jesus. Mas é o exemplo de Jesus que nós
precisamos seguir.
Passar adiante o Informativo do mês passado para que outra
pessoa também possa ler a mensagem. Citar um versículo bíblico para alguém que
está um pouco abatido. Viver uma vida correta, de acordo com os mandamentos de
Deus. Testemunhar nem sempre é tão difícil. Muitas vezes, basta querer e
aproveitar as oportunidades.
Um exemplo bastante prático disso é o que lemos em Atos: Que
os apóstolos simplesmente faziam o seu trabalho e Deus ia dia após dia
acrescentando aqueles que iam sendo salvos.
Nós não podemos criar a fé em ninguém – nem em nós mesmos.
Podemos até constranger alguém para participar da igreja. Mas isso não
significa muita coisa. Já naqueles que Deus congrega ele cria a fé verdadeira.
E é essa fé que se reflete na mulher cananeia. E por essa fé ela pode e quer ir
ao encontro de Jesus.
Com sua filha possuída por um demônio, aquela mãe, sem poder
fazer nada, em um desespero total, já chega a Jesus pedindo por misericórdia. E
a reação de Jesus é, no mínimo, contrária ao que se esperava dele. Jesus parece
indiferente. De começo não fala nada. É quando os discípulos pedem que Jesus
mande aquela mulher embora.
No entanto, aproveitando o desprezo dos discípulos, Jesus
mostra que ele não está indiferente, embora diga algo não muito consolador:
“Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. É como se ele
dissesse: Você não é israelita; você não é do povo de Deus. Portanto, não posso
fazer nada por você.
Bom, não é bem o que ela queria ouvir, mas já é uma resposta.
Então, com toda a humildade, ela se prostra diante de Jesus e tenta mais uma
vez: “Senhor, socorre-me!”.
Nesse momento Jesus vai ainda mais longe e diz que “não é bom
tomar o pão dos filhos e lança-lo aos cachorrinhos”. Aqui Jesus encarna um
perfeito judeu. Os judeus, como uma forma de desprezo a quem não era israelita,
costumavam chamar os gentios de cães. E Jesus não poupa essa palavra aqui. Se
ele estava falando com tom de ironia ou não a gente não sabe, o fato é que, de
qualquer forma, essas não são palavras fáceis de ouvir.
Mas é interessante notar que, apesar das palavras, Jesus não
encerra o assunto. Ele quer que ela continue insistindo. O que nos mostra que,
no fundo, Jesus está dizendo mais sim do que não.
E é aí que mais uma vez a mulher insiste, talvez em sua
última tentativa: “Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que
caem da mesa dos seus donos”.
Nas três situações, embora com palavras diferentes, essa
mulher só pede por uma coisa: pela misericórdia de Jesus. Ela pede por
misericórdia porque reconhece que, se dependesse dela, ela não receberia nada
de Jesus. Mas ela confia na misericórdia de Jesus e confia que, por essa
misericórdia, Jesus poderia atender ao seu pedido.
E se tem uma coisa que Deus atende é oração de mãe. Não são
poucos os exemplos bíblicos e na história que comprovam isso. É o caso de Ana,
em 1Samuel, que não podia ter filhos. E, derramando lágrimas no templo, orou
com toda a confiança. E Deus a concedeu não um, mas vários filhos. Sendo que o
primeiro, o seu primogênito, foi Samuel, que veio a se tornar um grande profeta
de Deus.
Também no século 4º, o que hoje é conhecido como o grande
teólogo Agostinho, chamado até de santo Agostinho, na sua juventude era um
devasso. Só se envolvia com farra e prostitutas. Sua mãe, católica, sem
conseguir fazer nada, se colocava de joelhos e orava todos os dias por aquele
que veio a ser um grande cristão.
O que essas mães e tantas outras pessoas, cujas orações foram
atendidas, tinham em comum? A fé humilde e sincera de reconhecer que não
mereciam nada de Deus. Mas, com persistência, confiaram na misericórdia de
Deus. Fé essa que Deus quer gerar em nossos corações.
Porque se isso está escrito é para mostrar até que ponto Deus
pode fortalecer a nossa fé. Até ao ponto de que, quando oramos, e Deus parece
indiferente, ainda assim continuamos orando com toda a confiança. E,
persistentemente, continuar pedindo.
Com certeza, também temos pedidos negados por Jesus. Foram
negados até agora por razões que Deus sabe muito bem por que. Mas quem conhece
daqui para frente? Por isso, continuemos confiando na sua misericórdia. Amém.
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