Igreja Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl
119.57-64; Is 44.6-8; Rm 8.18-27; Mt
13.24-30,36-43 – 6º dom. após Pentecostes A 2014
Deus conhece quem somos
v. 30: “Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo
da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes
para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro”.
Todo início de ano (pelo menos era assim), o Seminário Concórdia distribui um pequeno
livreto chamado “quem é quem”. Nesse livreto tem uma foto 3X4 e o nome de todos
os alunos, professores e funcionários do Seminário para que todos possam saber quem é quem.
Já pensaram se Deus tivesse um livreto desses? Como seria? Ou quem sabe ele já tenha?
O texto do evangelho para este 6º domingo após Pentecostes
conta a parábola do joio. Ou, como normalmente se diz: “do joio e do trigo”. Uma
das parábolas mais conhecidas, lembradas e contadas na Igreja e também fora.
Tanto é que volta e meia se ouve alguém dizer “é preciso separar o joio do
trigo”.
Assim como no Seminário Concórdia, essa parábola também tem
muitos “personagens”. Um “quem é quem” seria, no mínimo, interessante. E Jesus
faz isso. A partir do versículo 36 Jesus faz um quem é quem da parábola quando
diz exatamente o que cada coisa ou pessoa significa.
E a partir disso nós podemos pensar em algumas coisas. Em
primeiro lugar, quando olhamos para essa parábola e também ao nosso redor, fica
claro que o que Jesus diz aqui retrata exatamente a realidade que nos cerca.
Temos o campo, o trigo e o joio.
O campo que é o mundo onde vivemos, cujo Senhor é Deus; o
trigo que é o que brota de boa semente lançada pelo próprio Jesus, ou seja, a
Igreja Cristã; e o joio que é o que brota de semente ruim lançada pelo próprio satanás.
O joio e o trigo, descrentes e cristãos convivem juntos em um
mesmo campo. E, por vezes, mal dá para perceber a diferença entre um e outro a
não ser, é claro, quando a igreja se reúne no templo e, assim, dá testemunho público
da sua fé cristã.
Assim é com o joio e o trigo, embora não sejam a mesma coisa,
têm uma certa semelhança. E vocês sabem que essa semelhança pode até ser
perigosa. Porque se por descuido ou pressa o agricultor arrancar um pouquinho
de joio, desse inço, e processar junto com o trigo já vai comprometer toda a
qualidade do produto final. É mais ou menos o que Jesus diz sobre tomar cuidado
com o fermento dos fariseus.
Portanto, é de extrema importância que a gente reconheça que
existe o joio e o trigo e que cada um seja aquilo para o que foi designado. Se
fomos chamados para ser boa semente, sejamos boa semente. Vivamos como trigo e não
como joio. Em outras palavras, sejamos úteis com os nossos dons, com o nosso
viver, conforme a nossa vocação. Porque o joio, afinal de contas, só serve para
atrapalhar.
E de que maneira o joio atrapalha? Bom, assim como todo inço
ou mato indesejável o maior problema do joio é que ele acaba por impedir o
crescimento do trigo. Primeiro porque rouba os seus nutrientes por estar ali
tão perto e depois não deixa que o trigo se espalhe pelo campo. Afinal, o joio
já está ocupando uma grande parte.
É isso o que o mundo procura fazer com a Igreja. Primeiro rouba
nossos nutrientes quando lança diante de nós inúmeros atrativos que nos fazem
descuidar do nosso próprio crescimento espiritual. Tanto no conhecimento da
Palavra de Deus, como na fé e na comunhão.
E também rejeita e repreende quando a Igreja anuncia a
mensagem da salvação em Jesus. E, como não bastasse, ainda divulga a cada dia
novas doutrinas, novos pensamentos, filosofias que desviam as pessoas e acabam
transformando até trigo em joio. E, dessa maneira, impedem o crescimento, a
expansão da Igreja de Cristo.
O que fazer diante dessa realidade? Nada de mais! Continuar a
ser trigo. Viver como trigo. Buscar força em Deus, confiar em Deus e continuar
espalhando a mensagem de Cristo. Nada além do que nós já procuramos fazer.
Até porque não há mais o que nós possamos fazer. Não cabe a
nós a conversão das pessoas. Não cabe a nós transformar corações. Transformar
joio em trigo. Nós fazemos o que está ao nosso alcance, com a ajuda de Deus. E
Deus faz aquilo que só ele pode fazer: espalhar o trigo e faze-lo crescer.
Também tem um outro ponto importante aqui. Pela maneira como
Jesus conta a parábola, ele dá a entender que mesmo dentro da Igreja não é só
trigo que é semeado. Mas também ali o inimigo planta o seu joio.
E se já é difícil diferenciar o joio do trigo no campo
aberto, aqui dentro fica mais difícil ainda. Porque no campo aberto, muito joio
não tem vergonha de dizer que é joio nem de viver como tal. Já na Igreja, o
inimigo é mais cauteloso.
Quem é o joio na Igreja? O joio na Igreja são os hipócritas.
Exteriormente extremamente semelhantes ao trigo, mas por dentro são
completamente diferentes. Não existe ali uma fé sincera nem boas intenções.
Muitas vezes, são pessoas que participam das atividades da igreja, assumem
cargos, ajudam com ofertas e trabalho. Mas, ao mesmo tempo, destroem a igreja
com fofocas, intrigas, discussões, partidarismos e por aí vai.
Por causa do que fazem publicamente parecem estar ajudando e
até ganham a confiança das pessoas. Mas por baixo dos panos as coisas são bem
diferentes. E por essas pessoas, o diabo consegue atrapalhar o crescimento da
Igreja dentro da própria Igreja.
O que fazer diante dessa realidade não é diferente do que
fazemos lá fora: Anunciamos a Palavra de Deus e oramos para que essa Palavra
alcance o coração dessas pessoas e as faça perceber o mal que estão fazendo e,
então, mudarem suas atitudes.
Não temos o direito nem a capacidade de separar o joio do
trigo. Afinal, no fundo somos todos joio por causa da nossa natureza
pecaminosa. Se podemos agora ser e viver como trigo é porque a Palavra de Deus
já alcançou o nosso coração e nos transformou, fez de nós uma nova criatura que
agora procura em tudo viver segundo a vontade de Deus.
Mas cuidado aqui! De maneira alguma podemos descuidar da fé como
se agora estivéssemos no controle da situação. Vale a pena lembrar o que Martinho
Lutero disse: “O seguinte também é um ponto que é destacado na parábola que
temos diante de nós, a saber, que o diabo se apossa dos corações que não
prestam atenção à Palavra, e, assim, dia após dia, são mais distanciados dela,
e permitem que o diabo os guie e dirija, segundo bem lhe aprouver, a tudo o que
é pecado e vergonha”.
E assim como precisamos nos entregar aos cuidados de Deus,
reconhecendo nossas fraquezas, também precisamos confiar nele como aquele que
cuida da sua seara. Deus pode até permitir que o joio cresça junto para que ele
também tenha a oportunidade de vir a ser trigo.
Porém, mesmo que isso não aconteça, mesmo que o joio e o
trigo estejam tão próximos e sejam tão semelhantes, Deus sabe exatamente quem é
joio e quem é trigo. Sim, Deus também tem o seu “quem é quem”. E isso significa
que ninguém vai ser arrancado e lançado no lugar errado. O joio vai para onde
merece; o trigo para onde não merece. Pois não merecemos nada, é Deus quem nos
dá gratuitamente a salvação.
Nosso conforto também vem das últimas palavras de Jesus aqui.
Chegará o dia em que o joio e o trigo serão completamente separados. O
descrente e o hipócrita serão lançados na fornalha. Mas nós, que pela fé somos
trigo, seremos recolhidos para junto do Senhor da seara.
O hipócrita deve temer aquele dia e se arrepender. O cristão,
porém, não precisa ter medo porque confia que Deus sabe muito bem quem é joio e
quem é trigo. E naquele dia também nós vamos ver quem é quem diante de Deus.
Amém.
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