Igreja Evangélica
Luterana Cristo – Juína
Pr. Edenilson Gass
Sl 14; Is 29.1-11; Ef 5.22-33; Mc 7.1-13 – 13º dom. após Pentecostes B 2015
Vida cristã só acontece em Cristo
v. 9: “E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o
preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição”.
Desde cedo aprendemos com nossos pais e superiores a
importância de lavar as mãos antes das refeições. – Você acariciou o cachorro,
vai lavar as mãos antes de comer. – Se você não lavar as mãos, você vai ingerir
bactérias que vão lhe fazer mal e trazer doenças. E, assim, por mais que,
quando criança, a gente não entenda isso muito bem, acabamos nos acostumando e
lavar as mãos se torna um hábito para a vida toda.
Interessante que, exatamente isso, foi o que deu início a
mais uma discussão de Jesus com os religiosos fariseus. Jesus tinha ido para
Genesaré depois de uma semana corrida e tumultuada e alguns fariseus de
Jerusalém também foram para lá. Quando chegaram viram que os discípulos de
Jesus estavam comendo pão sem terem lavado as mãos e imediatamente foram tirar
satisfação com Jesus.
E aí a gente passa os olhos por cima do texto e logo conclui
que os fariseus estavam preocupados com a higiene daquelas pessoas. Mas lendo
com atenção a gente percebe que não é nada disso. Para eles, mais do que um ato
de higiene, lavar as mãos era um ritual de purificação cerimonial. De modo que,
de jeito nenhum, eles comeriam alguma coisa sem primeiro lavar as mãos.
Bom, se para os fariseus isso já era motivo o suficiente
para comprar briga com Jesus e os seus discípulos, para Jesus, o questionamento
deles já era o suficiente para entrar na briga. E como os fariseus conheciam
bem as Escrituras, Jesus começa falando de algo que eles conhecem e cita a
passagem de Is 29.13, que diz: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são
preceitos de homens”.
Mas, afinal, por que Jesus cita esta passagem para eles se
todas estas leis cerimoniais estão, de fato, prescritas no Antigo Testamento?
Afinal, Jesus era o Filho de Deus ou um revolucionário que queria mudar tudo
sem nenhuma reflexão, sem qualquer consideração com o Antigo Testamento?
O que acontece é que o problema não está nas leis que Deus
deu ao seu povo, mas no uso que os fariseus faziam dela. Passaram a considerar
estas leis cerimoniais mais importantes até do que os Dez Mandamentos. E como
se não bastasse, ainda tentaram melhorar aquelas leis, estabelecendo até, por
exemplo, a maneira que as pessoas deviam lavar as mãos e exigiam isso das
pessoas como se, apenas dessa maneira, Deus fosse se agradar delas.
Isso até nos faz lembrar da França, no século dezoito,
quando os banhos eram extremamente raros. Então quando chegava o dia do banho,
eles enchiam uma banheira e o dono da casa tinha a honra de ser o primeiro.
Depois (na mesma água) os outros iam tomando banho por ordem de idade, de modo
que os bebês eram os últimos. A essa altura, a água já estava tão suja que era,
literalmente, possível perder um bebê lá dentro. E, segundo reza a lenda, daí
veio a expressão: Não jogue o bebê fora junto com a água suja.
Parece que é mais ou menos isso o que os judeus e,
especialmente, os fariseus fizeram com as leis de Deus: Colocaram tanto da sua própria
sujeira na banheira da sua constituição legal que acabaram jogando fora o que
era o mais importante: O verdadeiro temor a Deus e o cuidado para com o
próximo.
Jesus até usa um exemplo do que eles ensinavam para
mostrar o quanto tinham se afastado da Lei de Deus: A situação era tão séria
que se um filho tinha algo com que pudesse ajudar os seus pais, mas dissesse
que aquilo seria usado como oferta ou que foi dedicado a Deus, então ficava
descompromissado de ajudar dos pais. E os fariseus olhavam isso e diziam: Este
aprendeu a lição.
Na sua compreensão das Escrituras, servir a Deus e servir
às pessoas eram coisas diferentes. E como servir a Deus é mais importante, se
alguém realizasse certas cerimônias ou fizesse regularmente a sua oferta, não
tinha mais a responsabilidade nem mesmo de cuidar dos próprios familiares.
E hoje em dia tem muito mais gente que pensa dessa forma
do que nós podemos imaginar. Pessoas que, em detrimento dos Dez Mandamentos,
não honram os pais, não ajudam ninguém, julgam, ofendem, fofocam, cobiçam. Mas
porque participam dos cultos e fazem a sua oferta, então acham que está tudo
bem.
Pois se é assim que agimos, então também a nós Jesus precisa
dizer: Hipócritas. Vocês fazem de conta que são uma coisa quando, na verdade,
são bem outra. Pois não se enganem pensando que Deus não vê todas as coisas e
que, no dia do juízo, não terão de prestas contas dos seus atos. Porque se
alguém se diz cristão, que viva como cristão.
A fé em Jesus nos tira da escravidão do pecado e nos torna
livres para servir a Deus. Mas esta fé não nos dá a liberdade de optarmos
observar apenas alguns dos mandamentos de Deus. Você vê gente que se gaba de
ajudar as pessoas, mas que não diz uma frase sem usar o nome de Deus – e esse
uso é em vão. Ou seja, guarda o quinto mandamento, mas não se importa em pecar
contra o segundo. Como se um fosse mais importante do que o outro. Ou como se a
gente pudesse compensar alguns pecados com alguns acertos.
Não é assim que a coisa funciona. Quando Jesus acusa os
fariseus que serem tão rigorosos em relação às leis do Antigo Testamento, ele
não está dizendo que estas leis não têm mais valor ou importância. Jesus só
quer nos fazer entender a verdadeira razão das leis de Deus.
Às vezes a gente ouve alguém dizendo assim: Se vira, eu
não sou seu empregado. É sim! Pela lei do amor e os Dez Mandamentos somos todos
empregados uns dos outros. Servimos a Deus quando servimos ao nosso próximo
conforme os dons e as condições que dele recebemos.
Diferente do que os fariseus ensinavam, as leis de Deus
não servem para nos aproximar de Deus ou para conquistarmos a salvação, mas
para vivermos em paz com Deus e com as pessoas. A Bíblia diz que a Lei de Deus
é santa, justa e boa. Mas em nenhum momento ela diz que salva.
Jesus foi o único que cumpriu toda a Lei de Deus
perfeitamente e, ainda assim, morreu condenado como se fosse o pior dos
pecadores. E isso tudo ele o fez em nosso lugar para que, por causa dele,
mediante a fé nele como nosso salvador, fôssemos justificados e aceitos por
Deus e, assim, tivéssemos a salvação.
E a obra de Jesus foi tão perfeita e completa que nada
ficou para trás. Nenhuma obra, lei ou cerimônia pode fazer diferença na nossa
relação com Deus ou interferir na nossa salvação porque, em Cristo, já fomos
feitos filhos de Deus e recebemos a salvação.
Agora, como uma maneira de expressar a nossa gratidão a
Deus e viver esta salvação como filhos amados de Deus, queremos nos esforçar
para guardar todos os seus mandamentos. E, assim, dar um bom testemunho de fé e
de vida e, na medida do possível, levar desta salvação a quem ainda não a
conhece.
Lavar as mãos é importante. Mas, com certeza, mais
importante ainda é ter o coração limpo pelo sangue de Cristo. Porque é este
lavar que perdoa os nossos pecados e nos concede sempre uma nova oportunidade
para revisarmos as nossas atitudes e a nossa vida e, assim, vivermos uma vida
agradável a Deus com muita gratidão e na certeza da salvação. E isso, assim
como lavar as mãos, se torna um hábito para toda a vida. Amém.
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