Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 19; Êx 20.1-17; 1Co 1.18-31; Jo 2.13-22 – 3º dom. na Quaresma B 2015
Jesus purifica nossa vida
v. 15-16: “Então ele
fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas
e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam
pelo chão. E disse aos que vendiam pombas: – Tirem tudo isto daqui! Parem de
fazer da casa do meu Pai um mercado!”
O amor de Jesus pelos
seus discípulos é algo que nos deixa impressionados. Quantas vezes nós já vimos
a paciência, o cuidado, a preocupação que Jesus tinha com eles? E não só com os
discípulos. Também naquela situação em que Jesus subiu num barco e foi para
outro lugar para ficar um pouco sozinho, mas quando ia chegando do outro lado
viu a mesma multidão o esperando. E Marcos escreve que Jesus viu aquelas pessoas
como ovelhas sem pastor, se compadeceu delas e, mesmo querendo ficar sozinho,
colocou as necessidades da multidão em primeiro lugar.
No entanto, o texto de
hoje nos apresenta um Jesus diferente. Um Jesus que toma um chicote na mão, sai
derrubando tudo e expulsando as pessoas – da onde, ainda por cima? – do templo!
Alguém até poderia pensar que esse não é o Jesus que a gente conhece. Mas se
tem uma coisa que nós precisamos aprender (se é que já não aprendemos) é que
Jesus não traz só o amor e a graça de Deus, ele também traz o juízo e a ira de
Deus.
Nesse caso, os motivos
da ira de Jesus nos saltam aos olhos. Não é preciso ler nem duas vezes o texto
para entender essa atitude de Jesus. O templo, que veio a substituir o
tabernáculo, tinha o objetivo de ser um lugar de culto e adoração. E não uma
casa de câmbio e venda de mercadorias.
Com essas atitudes
eles estavam profanando a Casa de Deus. Num lugar onde deveria ter o máximo de
silêncio e o mínimo de movimentação para que os fieis pudessem render culto, se
encontrava aquela bagunça de um mercado público. A gente até pode imaginar um
reclamando que a moeda estava gasta, outro que o preço das ovelhas era muito
alto, alguém gritando para fazer propaganda do seu produto. Transformando o
lugar mais próprio para culto no lugar mais impróprio para culto.
Nós sabemos muito bem
que igreja não é lugar de bagunça. Tanto é que às vezes a gente até ouve um pai
ou uma mãe dizendo para o filho “não corre na igreja”. Porque se trata da Casa
de Deus. É lugar de respeito e reverência.
A Bíblia nos dá, entre
outras, duas orientações impactantes com respeito à igreja e, mais
especificamente, ao culto. A primeira vem do próprio Salomão, que construiu o
primeiro templo. Ele diz que quando você for ao templo vá pronto para ouvir e
obedecer a Deus. E a segunda do apóstolo Paulo que recomenda que tudo seja
feito com ordem e decência.
Alguns vão usar esse
texto de João para dizer que na igreja não pode ter bazar, que as Servas não
podem fazer cucas, mas não é nada disso. Essas coisas, em si, (claro, sempre
feitas de forma pensada e com bom senso), não têm nada de mau desde que não
atrapalhem ou interfiram no culto de Deus e na adoração do seu povo. Por
exemplo, no momento em que o dinheiro das cucas for usado como substituto às
ofertas do povo de Deus, aí a fábrica vai ter de fechar as portas. Até lá,
Jesus não vai fazer nenhum chicote.
O problema naquela
situação, como já falamos, é que aquela algazarra no templo de Jerusalém
tornava impossível um culto sincero e verdadeiro que agradasse a Deus. Para não
falarmos muito sobre isso, porque o texto traz vários detalhes, vamos só falar
um pouco sobre os animais que estavam sendo vendidos ali para sacrifício.
Como muitos judeus
vinham de muito longe para celebrar as festas do seu povo no templo de
Jerusalém, tinham de levar seu animal para sacrifício por todo o percurso. Com
a venda dos animais no pátio do templo, a coisa ficava muito mais prática. Só
que ao mesmo tempo fazia perder todo o sentido da oferta.
A oferta agradável a
Deus é aquela que Deus dá através do trabalho e que é oferecida pelo fiel com
gratidão no coração e o reconhecimento sincero de que aquilo veio de Deus. A
oferta só faz sentido quando a levamos de casa, daquilo que veio do suor do
rosto, e não uma coisa que a gente compra lá no templo e deixa por lá mesmo.
Aí, claro, Jesus precisa tomar uma atitude.
E aqui, se olharmos
para Jesus apenas como um homem temente a Deus, nós não vamos ver mais do que a
sua indignação. Mas se olharmos para ele como o que ele é, o próprio Deus,
então nós vamos ver ali a ira de Deus. E o que atrai a ira de Deus é a
irreverência no culto e na adoração.
Hoje nós lemos os Dez
Mandamentos, onde Deus nos dá as coordenadas para que a nossa vida seja feliz e
também agradável a ele. E num desses mandamentos Deus pede que nós
santifiquemos o dia do descanso. Naturalmente, sendo o dia do descanso, Deus
espera que nós o santifiquemos com culto e adoração.
É claro que o fato de
ir à igreja não santifica nada e não serve para nada. O importante é o que
acontece na igreja e como nós aproveitamos e nos portamos no culto. Imaginem
uma pessoa que não se prepara para o culto, não faz nem mesmo uma oração antes
do culto. Não presta a atenção em muitas coisas. Não participa efetivamente do
culto. Está na igreja só com o corpo, porque a mente e o espírito estão longe.
Que utilidade pode ter o culto para alguém assim?
Isso é santificar o
dia do descanso? Isso é valorizar a Palavra de Deus e a Santa Ceia? A única
coisa que alguém pode conseguir assim é fazer abaixar o ponteiro do
combustível. E o que é pior, não só o tanque do carro esvazia, mas a própria
pessoa volta para casa vazia.
Também sobre a Santa
Ceia Paulo escreveu sobre a importância de estar dignamente preparado. Porque
se uma pessoa não tem nem mesmo a intenção de usar do perdão recebido para
corrigir os seus pecados participa da Santa Ceia não para salvação, mas para
condenação. Em vez de receber a Santa Ceia para benefício, acaba se tornando
réu do corpo e do sangue de Cristo.
Por que não sentar
quando faltam 5 minutos para o início do culto e fazer uma oração pedindo pelo
menos isso: Bondoso Deus, perdoa os meus pecados para que, de coração limpo, eu
possa render culto e participar da Santa Ceia de consciência tranquila. Dá-me
sabedoria e concentração para entender a tua Palavra a fim de que eu possa
coloca-la em prática no meu dia-a-dia. – É difícil?
Isso nos faz deixar
para lá a algazarra e a bagunça da nossa vida, dos nossos problemas, das contas
que ainda não foram pagas, das provas que vem pela frente; da fechada no
trânsito, dos problemas no trabalho. Porque é só assim, deixando o mundo lá de
fora lá fora, que nós vamos poder aproveitar essa oportunidade tão gostosa que
Deus nos dá a cada domingo de podermos celebrar e antecipar um pouquinho da
salvação que nos aguarda na eternidade.
Em tudo isso, só temos
motivos para dar graças a Deus porque Jesus não purificou só o templo, mas
também a nossa vida por meio da sua morte e ressurreição. Assim como ele virou
as mesas dos cambistas, assim também Jesus virou a mesa da nossa relação com
Deus. Se antes, pelo nosso pecado, estávamos sob a ira de Deus, agora, pela fé
em Jesus, estamos sob a graça de Deus.
E, como se isso ainda
não fosse o suficiente, Deus ainda age em nós pelo seu Espírito Santo e ele
mesmo faz de toda a nossa vida um culto de gratidão a Deus por tudo o que ele
fez e faz por nós e ainda vai fazer.
Com a morte e a
ressurreição de Jesus, agora existe um novo santuário. Não é preciso ir até
Jerusalém para estar na presença de Deus e oferecer sacrifícios. Jesus é o
santuário onde, pela fé, nós estamos sempre na presença e na companhia de Deus
e Deus, por meio de Cristo, enxerga toda a nossa vida como um sacrifício que
lhe é agradável.
Não é preciso ir à
Jerusalém porque Jerusalém já veio até nós, no sentido de que em qualquer lugar
onde o Evangelho é anunciado em sua pureza e clareza os cristãos podem se
reunir para relembrar a morte e ressurreição de Jesus em nosso favor, e em resposta
adorarmos a Deus atentando à sua Palavra, no cantar dos hinos, nas ofertas e
nas orações.
Com tudo isso que Deus
fez e faz por nós, só pode haver um resultado: Os que ainda assim continuarem
nos seus pecados, irreverentes na presença de Deus, vão ter em Jesus um juiz. E
pelo texto de hoje já dá para ter uma ideia de como é ter Jesus como juiz.
Mas aqueles que foram
tocados pela ação do Espírito Santo, crendo em Jesus e tendo o desejo de viver
essa fé, vão ter em Jesus aquele mesmo amigo amoroso que os apóstolos e aquela
multidão tiveram: O Jesus companheiro, que nos coloca sempre em primeiro lugar
na sua agenda. O Jesus salvador que nos guia em meio às dificuldades deste
mundo para o culto sem fim na presença gloriosa de Deus. A gente só fica com
uma pulga atrás da orelha: se o culto aqui já é bom, imaginem no céu. Amém.
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