Igreja
Evangélica Luterana Cristo – Juína
Pr.
Edenilson Gass
Sl 23; Jr 23.1-6; Ef 2.11-22; Mc 6.30-44 – 8º dom. após Pentecostes B
2015
Jesus ensina a dar graças
v.
41: “Tomando ele os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os
abençoou; e, partindo os pães, deu-os aos discípulos para que os distribuíssem;
e por todos repartiu também os dois peixes”.
Sempre
que alguém faz alguma coisa por nós, temos já por hábito e educação agradecer.
Pedimos as horas e depois dizemos “obrigado”. Pedimos um favor e então dizemos
“quando precisar de alguma coisa, pode contar comigo”. São hábitos e práticas
tão comuns, tão simples, mas que ao mesmo tempo nos permitem viver bem em nossa
sociedade, especialmente com aqueles que são mais próximos, pois assim construímos
uma realidade onde um ajuda o outro e, assim, podemos tanto nos sentir
amparados pelos outros como também realizados por estarmos ajudando alguém.
Do
versículo destacado há pouco, quero ainda fazer mais um destaque das palavras
“erguendo os olhos ao céu”. Aqui percebemos que o próprio Jesus deu graças,
agradeceu ao Pai celeste pelo alimento que estava em suas mãos. Assim como ele
fez na instituição da Santa Ceia. E até hoje nós dizemos que ele, “tendo dado
graças, o partiu e o deu aos seus discípulos”.
Imediatamente
percebemos que, para Jesus, o dar graças sempre vem primeiro. Ele primeiro deu
graças, só depois deu aos discípulos. E assim também aqui onde ele realiza a
primeira multiplicação de pães e peixes. Ele ergue os olhos ao céu e o
evangelista João acrescenta “tendo dado graças”.
Talvez
pareça até desnecessário dizer que todo cristão deveria agir da mesma forma.
Dar graças. Agradecer a Deus por tudo o que ele nos concede todos os dias. E,
portanto, agradecer todos os dias.
E
outra coisa que muitas vezes passa despercebida neste texto, mas que é muito
importante para a nossa reflexão – e quem sabe até para mudarmos algumas
atitudes – é o fato de que Jesus manda que os discípulos recolham o que sobrou.
E aí nós lemos que eles recolheram doze cestos cheios de pão e de peixe.
Por
que Jesus tem essas atitudes? Por que ele agradece pelo alimento e não
desperdiça as sobras, mas manda recolher? Porque Jesus reconhece aquilo como
bênção de Deus. Jesus sabe muito bem que tudo o que nós possuímos, e de forma
especial aquilo que possuímos para nossa sobrevivência, é fruto do amor de Deus
que sempre nos supre com todo o necessário para o corpo e a alma.
Por
isso cabe perguntar também: Será que sempre temos isso bem claro na nossa
mente? Que atitudes de gratidão nós temos demonstrado diante de Deus? Um bom
começo pode ser seguir o exemplo de Jesus: orar antes de cada refeição
agradecendo pelo alimento. Talvez não que vamos orar a cada vez que a gente
comer uma bala. Mas se “não temos tempo” para agradecer pelo alimento pelo
menos três vezes por dia, nas principais refeições, isso no mínimo significa
que, do nosso ponto de vista, Deus não precisa ser louvado pelo que nós
possuímos.
Além
disso, essa questão do tempo nem explica nada porque a oração da mesa é a oração
mais comum no meio luterano e é uma oração tão curtinha: “Vem, Senhor Jesus, sê
o nosso convidado e tudo o que nos dás nos seja abençoado”. E mesmo que alguém
não conheça essa oração, pode muito bem fazer alguma outra. Ou pelo menos fazer
como Martinho Lutero nos ensina no catecismo: “Os olhos de todos esperam em ti,
e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a tua mão e satisfazes os
desejos de todos os viventes”. Isso não leva nem quinze segundos.
Portanto,
se reconhecemos, como a Bíblia ensina, que tudo o que somos e possuímos não é
nosso, nem nos pertence e nada merecemos, mas é puramente fruto da graça de
Deus, então a gratidão precisa vir como uma consequência. Claro que, sim, Deus
pode nos dar essas mediante o nosso trabalho, mas ainda assim é dele. É
o Criador cuidando da sua Criação.
E
aqui mais uma vez vale a pena lembrar do que aprendemos no catecismo sobre o
Deus Criador: que tudo isso ele faz unicamente por sua paterna bondade e
misericórdia sem nenhum mérito ou dignidade da nossa parte.
Então
será que nós realmente temos a opção de não agradecer? Que direito nós temos de
nos sentarmos à mesa e sairmos comendo como descrentes que não conhecem a Deus,
nem o temem, nem o amam? Deus não obriga a gratidão. Até porque se a minha oferta,
a minha oração acontece por constrangimento, já não existe gratidão. Por outro
lado, para quem enxerga na sua vida as bênçãos de Deus, os gestos, as atitudes
de gratidão surgem espontaneamente.
E
Deus nos criou justamente para que vivamos para o seu louvor e glória. E
fazemos isso quando vivemos a nossa vida comum com gratidão em nosso coração.
Porque isso nos estimula e nos move a dar graças a Deus por todos os seus
benefícios e, como consequência, a nos esforçarmos ao máximo para viver uma
vida agradável a ele.
Por
isso dar graças a Deus é o mínimo que se pode esperar de alguém que se diz
cristão. Porque se o Espírito Santo o chamou para junto de Deus pela fé em
Jesus e o fez reconhecer que ele não passa de uma criatura de Deus que, em
tudo, depende do seu Criador, tanto para a salvação como para as suas
necessidades corporais, então naturalmente que ele vai agradecer a Deus por sua
vida, por sua família, por fazer parte de uma igreja cristã e, claro, pelo pão
de cada dia.
Claro,
apesar de que, na teoria nós ensinamos e assim cremos, que todo cristão tem no
coração o desejo de servir a Deus e de ser-lhe grato, não podemos ignorar que
ainda somos pecadores. A fé em Jesus não elimina ou diminui o problema do nosso
pecado. E o pecado em nós sempre vai nos tentar a esquecer que tudo vem de Deus
e, como consequência, vivermos sem sermos agradecidos. Isso nos leva, como
cristãos, a entrarmos na luta contra o pecado.
É
bem provável que fomos bem educados e já tenhamos desenvolvido o hábito de
retribuir os que nos fazem o bem com gestos de gratidão. E como a gente sabe,
isso é muito bom. Mas é um hábito que também precisamos desenvolver diante de
Deus. Ou seja, buscar cada vez mais uma vida santificada.
Só
para dar alguns exemplos, vamos colocar isso em termos práticos: Se você não
ora espontaneamente, comece a orar por responsabilidade; se você não se
interessa pela Palavra de Deus, leia-a por autodisciplina; se você não sente
fome nem sede da Santa Ceia e por isso não tem valorizado os cultos, participe
dos cultos com mais seriedade lembrando que é mandamento de Deus.
Não
que essas atitudes em si vão fazer alguma diferença, mas o fato de nós vivermos
uma vida de oração, leitura bíblica e comunhão vai fazer com que cada vez mais
nos reconheçamos como filhos de Deus que são diariamente abençoados por ele e,
por esse reconhecimento, nos dedicarmos a servir a Deus com gratidão em nossos
corações.
Por
isso podemos dizer que o cristão louva, o cristão oferta, o cristão ora, o
cristão agradece. Porque assim como agradecemos e até nos dispomos a ajudar
aqueles que nos fazem o bem, assim também queremos agradecer e servir àquele
que faz tudo por nós.
Em
Jesus temos nosso grande exemplo: Se ele que era o próprio Deus, tantas vezes
reconheceu o quanto dependia do Pai e deu graças por isso, com certeza é isso
que devemos fazer também; nós, que em tudo carecemos da graça e do cuidado de
Deus.
Sejamos
nós também cristãos que erguem os olhos ao céu e dão graças a Deus. Sempre movidos
pela lembrança de tudo o que o nosso bondoso Deus nos concede por sua graça
todos os dias. E não só a vida eterna por causa de Cristo (que é o mais
importante), mas também do tão importante pão de cada dia, que é tudo o que
precisamos para viver enquanto estamos no mundo. Amém.
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